Deputado federal, ex-Fifa articula no Congresso por R$ 7 mi para árbitros
Daniel Brito
O gaúcho Evandro Rogério Roman, 42, foi árbitro do quadro da Fifa durante quatro anos, de 2008 a 2012. Desde 1º de fevereiro deste ano, é um dos 30 deputados federais do estado do Paraná, sob a sigla do PSD. Em Brasília, mantém o envolvimento com o futebol e, especialmente, com a arbitragem nacional.
Nesta semana, por exemplo, reuniu-se com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), flamenguista e presidente da Câmara, para tentar colocar em pauta a derrubada do veto da presidente Dilma de um item na MP 671 (Medida Provisória do Futebol, o Profut), que beneficiaria os árbitros do Brasil em cerca de R$ 7 milhões anuais.
A proposta é de autoria de Roman e esse recurso seria proveniente de 0.5% dos direitos de arena, que são pagos na aquisição dos direitos de transmissão de TV. Assim, seriam distribuídos entre os árbitros de acordo com a quantidade de partidas em que participou na temporada em todas as competições nacionais.
Segundo o deputado, esta seria a alternativa para aumentar a qualidade dos árbitros no país. “O árbitro brasileiro vive de pires na mão. É uma vida de pires na mão, porque ele ganha pouco mais de R$ 3 mil por jogo, isso se for um árbitro Fifa. Sabe quanto um árbitro ganha na Alemanha para apitar o campeonato? São R$ 23 mil por partida. Nos Estados Unidos, são R$ 9 mil”, explicou.
Se a articulação política dele obtiver êxito, os árbitros poderão ganhar até R$ 7 mil por jogo, calcula o parlamentar.
O ponto defendido por ele é: enquanto o árbitro brasileiro tiver baixos rendimentos, jamais poderá se dedicar integralmente ao futebol. “Em uma partida de futebol, o único que não é profissional ali é o árbitro. As pessoas pensam que o árbitro é extraterrestre. Passa a vida em Marte, vem para a Terra, apita o jogo, e volta para Marte após o jogo. Não é bem assim, o árbitro é humano”, esclareceu.
Roman x Cruzeiro no Brasileiro de 2009
Ele cita o próprio exemplo para defender sua tese. “Teve um jogo em 2009, Cruzeiro e Palmeiras, no Mineirão. Nossa senhora, errei tudo que tinha que errar na minha carreira ali. Sabe por quê?”, perguntou ao blog. “Porque eu tinha um compromisso profissional em Manaus naquela semana e havia pedido para ficar de fora da escala, mas fui sorteado para aquele jogo. Daí fui selecionado para uma partida que eu não poderia ter ido, porque já tinha meus afazeres fora do futebol. Fui apitar com raiva, sabe quando você não está disposto a fazer algo porque não pode? Mas se eu fosse um árbitro profissional, deixaria as atividades extra-futebol de lado e me dedicaria 100% à arbitragem”, explicou.
De fato, a atuação de Roman foi desastrosa naquela noite de setembro, em Belo Horizonte. Ele deixou de marcar pelo menos dois pênaltis claros em favor do Cruzeiro, que saiu de campo derrotado por 2 a 1. Somou-se ao desempenho em outra partida do Cruzeiro naquele campeonato, contra o São Paulo, no Morumbi, em que Kleber Gladiador, então na equipe mineira, sofreu 14 faltas durante a partida e nenhum são-paulino foi advertido por Roman.
O então presidente do Cruzeiro, o hoje senador pelo PDT Zezé Perrela soltou impropérios contra Roman e o nível da arbitragem no Brasil.
Resultado: Roman foi excluído do Brasileiro de 2009 após a partida contra o Palmeiras. “A punição por aquele jogo em Minas eu realmente mereci”, admite.
Em defesa do silêncio
Roman elogia a qualidade dos árbitros que atuam no Brasileiro deste ano, mas lamenta a falta de horas de voo, o que pode acarretar em erros. “A safra atual é muito boa, muito talentosa, talvez umas das melhores, mas atravessa um momento de ausência de experiência. Aquela pressão do jogo pode fazer um árbitro errar, mas só o tempo dá a capacidade de superar essa pressão”, afirmou.
E comparou: “Para você ver, na Copa de 1978, na Argentina, a transmissão da TV era feita com seis câmeras. Hoje são 28, 30 em qualquer jogo. Além do que, a própria partida ficou mais rápida, os lances. Isso tudo aumenta a possibilidade de erros.”
Ele sugere aos árbitros que cometeram erros neste Brasileiro que mantenham-se em silêncio para evitar aumentar a gritaria geral de dirigentes, torcedores e imprensa. “O silêncio é um amigo que nunca te trai. O árbitro tem que fazer o trabalho dele. Errou hoje? Acontece, na próxima rodada vai la, faz seu trabalho, segue a vida. Porque se tem um meio em que as pessoas são todas honestas, esse meio é a arbitragem. Eu disse isso para o Eduardo Cunha nesta semana”, afirmou.
Reencontro com cartolas no Congresso
Nos corredores do Congresso Nacional, Evandro Rogério Roman já cruzou com diversos cartolas que compõem o parlamento brasileiro. Jovair Arantes (PTB-GO), do Atlético-GO, Rogério Marinho (PSDB-RN), do ABC de Natal, o corintiano Andres Sanchez (PT-SP) e o cruzeirense Zeze Perrela. “Já encontrei e já conversei com todos eles, são todos pessoas evoluídas, por isso estão onde estão, no Congresso Nacional”, elogiou.