Blog do Daniel Brito

Em vez de bolsa atleta, EUA dão emprego em loja a quem tenta vaga no Rio-16

Daniel Brito

Atletas que disputam vaga nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 precisam dividir o tempo entre os treinamentos e o trabalho. Sofrem com a ausência do Estado, estão longe de serem contemplados bolsas e incentivos governamentais, e só conseguem bancar participação em competições graças ao investimento próprio.

O que você leu acima não tem nada a ver com os atletas do Brasil. Não aqui, neste texto.

Esta é a rotina dos atletas olímpicos dos Estados Unidos. Sim, a mais laureada nação na história dos Jogos Olímpicos forma seus atletas e medalhistas com uma rotina de trabalho e treinamento.

Veja o caso, por exemplo, do esgrimista Andras Horaniy, medalhista de ouro no Pan do Rio-2007. Ele vive em Colorado Springs, cidade no Estado do Colorado, sede do grandioso centro de treinamento do USOC (Sigla em inglês para Comitê Olímpico dos Estados Unidos). Ele mora no ct da entidade, mas trabalha 20 horas por semana em uma loja de artigos esportivos.

Dick’s Sporting Goods, não existe no Brasil, mas é uma rede famosa nos Estados Unidos pela diversidade de produtos, já contratou mais de 100 atletas olímpicos em 58 unidades. Eles têm a flexibilidade para mudar horários de tal maneira que não haja interferência no treinamento ou no calendário de competições.

Dura realidade do atleta olímpico

É uma parceria entre o USOC e a empresa, que, por dar emprego aos desportistas, pode carregar a alcunha de ''patrocinadora oficial do esporte olímpico dos Estados Unidos''. Como o comitê americano não recebe dinheiro público e os atletas precisam de dinheiro para se manter e competir, surgiu esta parceria.

“Não acredito que os atletas estão trabalhando para ficar ricos. Competimos no alto rendimento porque é o que gostamos de fazer”, explicou Horaniy ao jornalista Eddiee Pells, da Associetade Press, em artigo publicado no USA Today.

A realidade do esporte olímpico é dura até mesmo para quem está acostumado a ver sua bandeira sob o ponto mais alto do pódio. Por esse motivo, Eddie Pells escreveu em seu artigo: “Para cada Michael Phelps há atletas que precisam trabalhar como entregador de pizza ou assistente de biblioteca”.

Patrocínios do USOC

O mais curioso disso tudo é que o USOC é uma máquina de fazer dinheiro. No ano dos Jogos de Londres-2012, eles embolsaram US$ 46 milhões (R$ 178 milhões na cotação de hoje) só dos patrocinadores. Em setembro, publiquei aqui a campanha para arrecadar até R$ 800 milhões em doações do público para os atletas. Com esse dinheiro, oferecem a melhor estrutura para treinamento e acomodação dos competidores, mas não é afeito a apoiar suas promessas olímpicas com bolsas.

Na lista dos empregados pela Dick's há também paraolímpicos, como Allysa Seely, amputada da perna esquerda, campeã do Mundial de paratriatlo, realizado neste ano, em Chicago. Ela conta que é frequentemente tem de explicar aos rivais de outros países porque tem que trabalhar fora do esporte para se manter competindo. ''Eu tive diversos empregos antes desse [no Dick's], mas sempre foi difícil conciliar com a rotina de treinamentos e compromissos com o esporte'', explicou.

Para a empresa, a parceria também é interessante porque os atletas passam orientações para os consumidores sobre os melhores produtos e a melhor maneira de utilizá-lo.

Não é a primeira vez que o USOC promove uma parceria para empregar seus futuros medalhistas. Durante quase duas décadas diversos atletas serviram aos EUA nos Jogos Olímpicos com os salários que ganhavam da Home Depot, gigante varejista do ramo da construção civil e artigos de decoração. O acordo se encerrou em 2009 e só agora o USOC conseguiu encontrar um novo parceiro.