Blog do Daniel Brito

Joaquim Cruz volta para casa com a tocha e jovens se perguntam: ‘É famoso?’

Daniel Brito

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Estudantes esperam Joaquim Cruz sob o sol seco e forte de Taguatinga (Daniel Brito/UOL)

Joaquim Cruz era esperado por muitas crianças nos canteiros da Avenida Central de Taguatinga. Escolas públicas e particulares desta cidade-satélite de Brasília liberaram os estudantes para ir às ruas para ver o campeão olímpico nascido naquelas cercanias. O comboio atrasou-se em mais de 90 minutos e o público esperou debaixo de sol forte e seco que castigava Taguatinga.

O dono da medalha de ouro nos 800m nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984 conhece bem aquele clima. Foi por ali, em Taguatinga, que ele começou a praticar o atletismo. Não havia pistas decentes à época, ele corria no barro vermelho ou, para refrescar-se, em meio às árvores da Floresta Nacional.

Sempre que perguntava de sua perseverança de manter-se atleta ante tamanhas adversidades que Taguatinga lhe apresentava nos idos de 1970 e 1980, ele respondia: “Perseverante é minha mãe, que deixou o Piauí com seis filhos pequenos para tentar uma vida nova em Brasília”.

Joaquim está radicado nos Estados Unidos há mais de 30 anos, mas nunca deixou Taguatinga para trás. Mantém o Instituto Joaquim Cruz com o programa Rumo ao Pódio Olímpico (voltado para o alto rendimento) e o Clube dos DescalSOS (na área social) em dois centros esportivos do DF.

Veio especialmente de San Diego, Califórnia, onde vive, para ser homenageado com o desfile carregando a tocha olímpica por 200m na entrada de Taguatinga.

Não havia manifestantes contra os Jogos Olímpicos ou o impeachment da presidente Dilma Rousseff, apenas ansiedade nos canteiros taguatinguenses.

Um grupo de jovens garotas de 16 anos, liberadas da aula desta tarde de terça-feira, aguardava a chegada do revezamento na Avenida Central de Taguatinga e se perguntava.

– Será que Gabriel Medina [surfista paulista, campeão do circuito mundial em 2014] vai carregar a tocha em Taguatinga?

Eu estava ao lado das jovens e respondi:

– Não, não é Medina quem conduzirá a tocha aqui. Mas um cara com muito mais história no esporte …
– Quem é?, perguntou uma das adolescentes.
– Joaquim Cruz, anunciei.
Ao que, elas me perguntaram, em uníssono:
– E ele é famoso?

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Em que pese o desconhecimento desse grupo de jovens estudantes, Joaquim Cruz foi ovacionado na entrada de Taguatinga. Ele recebeu a tocha apagada, caminhou um pouco e cumprimentou o público que o chamava pelo nome atrás do cordão de isolamento.

Acendeu a tocha com a ajuda de um grupo de apoio, caminhou com passos rápidos e não se conteve, começou a correr. Um trote leve, um sorriso largo e uma gritaria tremenda ao seu redor.

Um drone, que está proibido pela organização, fez imagens aéreas da passagem de Joaquim pela Avenida Central. Uma aglomeração de fotógrafos e cinegrafistas rompeu o cordão de isolamento dos policiais e rodeou Joaquim. Ele ficou protegido apenas por uma equipe de seguranças vestidos com uniforme da organização do revezamento, que corria ao lado do campeão olímpico.

Após 200m que esgotaram-se em pouco mais de um minuto, o campeão passou o fogo olímpico adiante. Como em uma grande onda, a multidão continuo a correr, deixando o taguatinguense para trás. Ele foi levado por seguranças para um ônibus ao fim do comboio. Falou rapidamente com jornalistas.

– Esse é o momento do esporte, o momento do povo brasileiro. A chama está acessa, disse com sua característica voz calma, e entrou no ônibus, quase que empurrado pelos seguranças.

 

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