Militares flagrados no doping serão excluídos com cinco meses de atraso
Daniel Brito
Os sargentos Alex Arseno e Uênia Fernandes serão excluídos das Forças Armadas do Brasil nos próximos dias por uso de doping. Eles são ciclistas e integram o programa de alto rendimento da Aeronáutica. Testaram positivo para EPO e, conforme prevê o edital que os selecionou para entrar para a caserna, devem ser desligados da instituição.
Tudo muito bem não fosse pelo fato de que os dois estão sem competir desde janeiro, quando receberam o gancho pelo doping na última instância da corte esportiva brasileira. De lá para cá, mantiveram-se nos quadros da Aeronáutica recebendo religiosamente seus R$ 3.2 mil mensais da União – este é o salário para o atleta-militar do programa de alto rendimento.
São, portanto, cinco meses recebendo sem trabalhar – sim porque eles só estão nas Forças Armadas porque são atletas e deveriam representar a instituição em competições e, quem sabe, chegar até aos Jogos Olímpicos. Suspensos, não podem exercer a atividade para a qual foram admitidos na Aeronáutica.
De onde depreendemos que ainda não chegou ao programa de esportes para atletas olímpicos das Forças Armadas a famosa rigidez na conduta tão respeitada pelos militares.
Basta lembrar do caso do nadador João Gomes Jr., que ficou suspenso por seis meses no início de 2015, mas não foi excluído do programa.
Na semana passada, perguntei à cúpula da CDMB (Comissão Desportiva Militar do Brasil), que participava de audiência pública na comissão de esporte da Câmara dos Deputados, sobre a demora na resolução do caso de Alex Arseno e Uênia Fernandes. O vice-almirante Paulo Martino Zuccaro, recém-empossado no cargo de diretor do departamento de desporto militar, pregou cautela nos julgamentos de caso de doping para “evitar injustiças”.
É que as Forças Armadas promovem outro arbítrio após o atleta-militar ser punido por sua confederação em caso de doping. Ou seja, ele pode ser punido esportivamente, mas na esfera militar ainda existe a possibilidade de se livrar de alguma sanção.
No caso de Alex Arseno, ele admitiu em textão publicado em sua página numa rede social o uso de EPO e anunciou o fim da carreira – ele é reincidente em exames positivo para substâncias proibidas. Ainda assim, ele foi mantido nos quadros da Aeronáutica. Não por muito tempo.
Já Uênia foi campeã na prova de estrada por equipe nos Jogos Mundiais Militares, na Coreia do Sul. A competição foi em outubro do ano passado, um mês após o teste em que foi flagrada com EPO no organismo – o resultado ainda não havia saído. O Brasil deve perder esta medalha de ouro.
O blog foi informado pela assessoria das Forças Armadas na terça-feira e na quinta-feira que os dois devem ser excluídos da corporação “ainda nesta semana”.
A saber se eles terão de devolver os salários que receberam enquanto estiveram impedidos de competir.