Blog do Daniel Brito

Quando o fator casa mais atrapalha do que ajuda na Rio-2016

Daniel Brito

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Renato Portela, do tiro ao prato: ''Torcida não costuma ajudar'' (arquivo pessoal)

O goiano Renato Portela experimentará duas sensações jamais vividas até o próximo 12 de agosto. A primeira é  a de estrear nesse dia 12 em uma edição dos Jogos Olímpicos aos 53 anos de idade. A segunda: competir diante da torcida, especialmente, da família. Ele será o representante brasileiro na prova de skeet do tiro esportivo na Rio-16, modalidade na qual sagrou-se campeão nacional pela 11ª vez no final de semana que passou.

A idade não representa um problema neste esporte, dado que seis melhores em Londres-2012, três estavam tinham 40 anos ou mais. Atualmente, 20% dos top 30 do ranking mundo estão nesta faixa etária.

Já a presença da família é um obstáculo que Renato e os demais atiradores brasileiros terão de superar. Nenhum deles está acostumado a competir com torcida. O tiro é um esporte solitário e com raro apelo de público. Uma modalidade que tem dificuldades de se popularizar no Brasil, embora tenha sido dela o primeiro pódio olímpico do país na história moderna dos Jogos.

Desde que começou no skeet, há 18 anos, Portela disse que nunca participou de uma competição em que seus familiares estiveram presentes. Mas no Rio-16 não dá para não ir.

Estão com passagens para o Rio e ingressos comprados a mulher, a filha, a sogra, a irmã, duas sobrinhas e um cunhado.
“Não sai da minha memória uma competição que disputei no Peru. Um atirador da casa contava com o apoio da torcida e ele tinha um certo favoritismo na prova. Mas ficou tão nervoso que acabou decepcionando”, rememorou o goiano.

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Portela, 53, começou a praticar tiro ao prato há 18 anos (Arquivo pessoal)

Dirigentes do COB (Comitê Olímpico do Brasil) costumam repetir em entrevistas que competir em casa pode fazer diferença no resultado. A pressão da torcida pode influenciar o julgamento de um árbitro, fazer tremer a perna de um atleta rival ou dar um ânimo no brasileiro que precisa de um pouco mais apoio na hora da decisão.

E o fator psicológico caminha de mãos dadas com a técnica no skeet. Não basta ter reflexo apurado e bom de mira, é preciso ter controle emocional aguçado para obter uma boa performance. Portela prepare-se para os Jogos Olímpicos sem a ajuda de psicólogos. “Estou muito feliz de poder competir diante dos meus familiares, isso é motivo de orgulho para mim. Mas estou interiorizando desde agora que o Rio-16 será em condições bem diferentes das outras competições que já participei. Por isso, estou tranquilo, com os pés no chão, já ciente do que vou encarar”, avisou.

O que é skeet?

Skeet é uma das categorias do tiro esportivo. Nela, o atirador dispara em oito posições, em pratos de até 105g e 109mm de diâmetro. Eles são arremessados ao ar por máquinas situadas em casas altas e baixas e podem atingir uma velocidade de até 90km/h. No evento teste para a Rio-2016, houve uma queixa dos participantes estrangeiros quanto ao material com que foi feito o prato. Segundo o relato de Portela, muitos atiradores reclamaram que por ter sido produzido por um material diferente do habitual muitos deles não quebraram ao impacto da bala.

Uma curiosidade das provas de tiro ao prato é que nenhum dos integrantes da equipe brasileira pertence às Forças Armadas, que prefere investir nos atletas das provas de pistola e carabina.

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Portela é 11 vezes campeão nacional no skeet (Danilo Borges/ME)