Blog do Daniel Brito

Após debandada, brasileira tenta convencer golfistas a disputar a Rio-16

Daniel Brito

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Victoria Lovelady é a 60ª colocada no ranking mundial (divulgação)

No finzinho da tarde de ontem a paulistana Victoria Lovelady,28, recebeu uma mensagem de uma amiga estrangeira. Um dia antes, ela concedera duas entrevistas de estúdio ao canal de TV dos Estados Unidos Golf Channel, da rede NBC. Sempre para tratar do mesmo assunto: a epidemia do vírus zika no Brasil.

Ante a debandada dos melhores golfistas do mundo dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 alegando temer o vírus transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, a comunidade do golfe internacional busca informações concretas sobre os riscos. E Victoria tornou-se referência, uma espécie de porta-voz informal do Rio-16 e defensora do Brasil para quem quer que a procure.

“Muita gente me pergunta muito sobre a situação do zika no Brasil. As jogadoras americanas, da Europa e australianas não estão acostumadas à realidade que a gente que vem de um país tropical”, contou ao blog. “Para todas elas e nas entrevistas ao Golf Channel e outros veículos de imprensa que o Brasil não vai parar por causa do vírus. Claro que todos estamos nos precavendo, mas a vida não para”.

Victoria é número 60 no ranking mundial. Se mantiver esta colocação até 11 de julho, estará garantida nos Jogos Olímpicos. A outra representante do Brasil é Mirian Nagl, 58ª no ranking, já classificada, que até 2013 competia pela Alemanha, país no qual foi criada.

“Se eu fosse uma golfista da Alemanha, da Finlândia ou sei lá, de algum outro país desenvolvido, eu também ficaria com medo. No mês passado, eu estava na Austrália e toda noite saíam notícias sobre o zika no Brasil. A quantidade de notícias da imprensa estrangeira é absurda”, contou.

Já foram 10 desistências de golfistas do torneio masculino, entre os quais o norte-irlandês Rory McIlroy e o número 1 do mundo, o australiano Jason Day. Ainda na quarta-feira, foi a vez da sul-africana Lee-Anne Pace anunciar sua saída do Rio-16 – ela é a primeira mulher a abrir mão da disputa. Os motivos são sempre o zika.

O mais curioso é que a doença pode ser muito mais danosa às mulheres do que aos homens, por causa do risco de microcefalia em bebês recém-nascido e até pela suspeita de que o vírus pode manter-se inoculado no organismo humano por seis meses. Ainda assim, as atletas do golfe com vaga nos Jogos Olímpicos não aderiram ao movimento dos homens.

Victoria Lovelady explica que isso se deve ao fato de as mulheres ainda batalharem para obter mais espaço e reconhecimento no cenário internacional. Basta observar que os grandes torneios do masculino chegam a premiar o campeão com US$ 1.5 milhão (R$ 4.8 milhões), mesmo valor distribuído a todas as participantes de um certame feminino. Para elas, o retorno do golfe ao programa olímpico, que não dá premiação em dinheiro, é parte do processo para valorizar o circuito feminino.

E o Rio-16 está estrategicamente agendado para uma semana entre dois grandes torneios: PGA Championship, em Nova Jersey, no finalzinho de julho, que distribuirá US$ 10 milhões (R$ 33 milhões) em prêmios  e o Deutsch Bank, em Boston, na semana seguinte ao fim dos Jogos Olímpico, que dá US$ 8,5 milhões (R$27 milhões).

“Se a gente comparar que a maioria das mulheres está se dedicando a disputar os Jogos Olímpicos, a gente pode deduzir que os homens estão priorizando os torneios deles em vez de representar o país deles no Rio-16”, raciocinou Victoria. “Esses caras não precisam dos Jogos Olímpicos para serem reconhecidos no mundo do golfe”, completou.