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Arquivo : Ádria Santos

Medalhista paraolímpica cega agora se dedica ao pole dance
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Daniel Brito

 

A mineira Ádria Santos escolheu a dança como atividade para substituir o atletismo, esporte do qual se despediu em 2013 com o status de maior medalhista do país em Jogos Paraolímpicos, com 13 pódios em seis participações. Ainda carrega na lembrança a festança que seus avós fizeram no povoado de Lagoa do Bengo, no norte de Minas, para celebrar os 50 anos de casado, e ela ainda era criança.

Hoje, toma aulas semanais de bolero, samba de gafieira, forró, valsa, tango e, desde o começo deste ano, de pole dance. Já tinha ouvido falar, mas não conhecia o pole dance. “Uma amiga me levou e logo no primeiro dia, a professor ficou de cabeça para baixo, achei incrível e quis tentar”, relatou a paratleta.

Caçula de uma família de nove irmãos, Ádria teve astigmatismo, retinose pigmentar, ceratocone e cataratas. Nunca teve mais que 10% da visão, até deixar de enxergar aos 18 anos. Para aprender a técnica do atletismo, utilizou-se do tato apurado. Fosse no contato com o corpo do professor em movimento, ou com a execução assistida pelas mãos do orientador.

E esse processo ela repete agora no pole dance.

“Já fiz todo o curso básico, devo começar em breve no intermediário”, orgulha-se. “A professora é muito boa, sabe como ensinar corretamente. Sabe mexer nos meus braços ou nas minhas pernas para ensinar como devo fazer. Subo sozinha no pole dance, uso aqueles tecidos de circo, mas ainda não aprendi a descer girando no pole. Isso é mais difícil, quem sabe nas próximas aulas?”, pergunta, em tom de desafio.

Fora do Rio-2016
Ádria Rocha Santos, 41, fazia planos de disputar sua sétima edição de Jogos Paraolímpicos no Rio, em 2016. Mas o tempo, que ela já venceu tantas e repetidas vezes no passado, desta vez foi mais forte.

“Fiquei muito triste porque não consegui ir para Londres-2012 devido a uma lesão. E ainda surgiram meninas boas na minha classe e na minha prova, acabei ficando de fora”, explica Ádria.

Ela tentou participar de provas de meio fundo, como os 800m classe T11 (cego total), sem sucesso. Foi quando tomou a decisão de abandonar o atletismo.

Em casa, em Joinville, Santa Catarina, guarda 13 medalhas paraolímpicas, desde Seul-1988 até Pequim-2008. Entre as quais, quatro ouros: nos 100m em Barcelona-1992, Sydney-2000 e Atenas-2004, além dos 200m em Sydney-2000.

Está montando um lugarzinho todo especial para acomodar tanto ouro.

Esporte imita a dança
Ádria largou as competições paraolímpicas em 2013, mas não deixou de experimentar a sensação de ser o centro das atenções, o alvo de todas as lentes. Aconteceu recentemente, durante um festival em que apresentou-se dançando valsa e tango.

“A concentração antes da dança acho que lembra bastante a do esporte, aquela antes do tiro de largada. Mas logo após é uma sensação diferente, um outro tipo de satisfação”, comparou.

Ela entrou em um intensivo de samba e bolero, quer apresentar-se de novo, quem sabe no famoso festival de dança de Joinville.

Mas nesta semana, Ádria teve que perder algumas aulas, por um bom motivo. Ela foi a Natal, promover as Paraolimpíadas Escolares, que estão sendo realizadas na capital do Rio Grande do Norte, com mais de 700 atletas de 24 Estados, do DF e até do Reino Unido.

Ádria também participou de um curso do IPC (Comitê Paraolímpico Internacional) para embaixador do movimento paraolímpico para  ex-atletas.

Desse modo, poderá manter contato com sua primeira paixão, o esporte paraolímpico, e sua mais nova diversão, a dança.


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