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Arquivo : CBV

É grave a crise: esportes olímpicos já perderam R$ 40 milhões de estatais
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Daniel Brito

O esporte olímpico nacional amarga a fuga de capitais de seus maiores mecenas: as empresas estatais. Só de duas grandes patrocinadoras, já há uma queda superior a R$ 40 milhões no investimento nas modalidades, algumas delas responsáveis por ouros do Brasil na Rio-2016.

A renovação de patrocínios do Banco do Brasil e dos Correios com quatro confederações caiu em R$ 40 milhões neste ano em relação ao injetado em contratos anteriores.

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Manoel Luiz, presidente da CBHb, foi reeleito para mais quatro anos, porém com menos recursos dos Correios

Na semana que passou, por exemplo, a CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) viu sua verba dos Correios minguar de R$ 6,3 milhões para R$ 1,6 milhão para 2017 (serão R$ 3.2 milhões por dois anos). Os Correios são o patrocinador mais antigo da modalidade – investem desde 2012.

A empresa também fez um corte drástico na verba para a CBT (Confederação Brasileira de Tênis). Reduziu em 75% o valor do patrocínio e dará somente R$ 4 milhões pelos próximos 24 meses. Para se ter uma ideia, em 2015, um ano antes da Rio-2016, a confederação recebeu R$ 8,6 milhões.

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Jorge Lacerda, do tênis, perdeu 75% do patrocínio dos Correios

Além dos R$ 11 milhões das confederações de handebol e tênis, os Correios, empresa pública que enfrenta grave crise financeira, também fizeram um corte drástico em outra confederação que é um dos carro-chefes do Brasil em competições pan-americanas e olímpicas.

A empresa estatal retirou R$ 13 milhões do novo acordo com a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Até o ano passado, a confederação recebeu R$ 18 milhões em patrocínio dos Correios. Agora, fecharam patrocínio pelos próximos dois anos (2017 e 2018) no valor total de R$ 11,4 milhões, o que dá R$ 5,35 milhões por exercício.

Não perca as contas, já se vão R$ 24 milhões.

Já é um indicativo de que o discurso oficial, segundo o qual os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016 seriam catalisadores do investimento e massificação das mais variadas modalidades esportivas além do futebol, não saiu do papel. Está sendo exatamente o contrário, seis meses após o fim da Rio-16, o apoio ao esporte diminui.

O Banco do Brasil, por exemplo, renovou com a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) por R$ 218 milhões até os Jogos de Tóquio-2020. Dá uma média de R$ 54 milhões anuais. É o maior patrocínio entre confederações e estatais, mas ainda assim representa R$ 16 milhões a menos por ano do que o banco pagava à confederação.  Aí fecha-se a conta dos R$ 40 milhões retirados dos esportes olímpicos neste período pós-Rio-16.

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Pitombo, da CBV: modalidade com dois ouros na Rio-16 ganhará R$ 16 milhões a menos do Banco do Brasil

E olha que a CBV foi responsável por duas das sete medalhas de ouro olímpicas em 2016: vôlei de quadra e vôlei de praia, ambos no masculino. O curioso é que a dupla formada por Bruno Schmidt e Alison, ouro em Copacabana, foi contemplada com um aumento no patrocínio individual do Banco do Brasil. Alison receberá quase R$ 80 mil a mais neste ano, enquanto que Schmidt terá um incremento de 60% nos ganhos advindos do patrocinador.

Sorte diferente teve o iatista Robert Scheidt, dono de dois ouros olímpicos (Atlanta-1996 e Atenas-04). Ainda em 2013, seu acordo com o banco foi superior a R$ 3 milhões pelo ciclo completo da Rio-2016. Dava uma média de R$ 63 mil por mês pelo quadriênio. No início de fevereiro, a instituição financeira renovou por apenas 12 meses no valor de R$ 760 mil e um detalhe: “Patrocínio para o atleta Robert Scheidt e seu parceiro”. Ou seja, isso é tudo o que o banco dará para o velejador e seu parceiro, atualmente Gabriel Borges, que disputam agora a classe 49er.

A Petrobras, outra estatal que investiu forte na preparação para os Jogos de 2016, ainda não divulgou a renovação de seus patrocínios com modalidades olímpicas. A Caixa informou que novos acordos devem ocorrer entre este mês e o próximo. A tendência é de que a queda nos investimentos seja bem superior aos atuais R$ 40 milhões.


Banco turbina patrocínio de dupla do vôlei de praia após ouro na Rio-16
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A dupla de vôlei de praia formada pelo capixaba Alison Cerutti e Bruno Schmidt foi contemplada com um aumento no valor do patrocínio do Banco do Brasil, o maior investidor da modalidade. Os dois vão embolsar ao longo de 2017 pouco mais de R$ 400  mil. É um aumento superior a 40% em relação ao apoio dado pela instituição financeira em 2016, ano dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 18: Gold medalists Alison Cerutti and Bruno Schmidt Oscar of Brazil stand on the podium during the medal ceremony for the Men's Beachvolleyball contest at the Beach Volleyball Arena on Day 13 of the 2016 Rio Olympic Games on August 18, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Quinn Rooney/Getty Images)

Enquanto a CBV amarga corte no patrocínio do BB, Alison (dir.) e Bruno receberam aumento (Quinn Rooney/Getty)

Agora na condição de campeão olímpico, Alison vai receber R$ 282 mil por um contrato de ‘12 meses. Dá uma média de R$ 23,5 mil a cada 30 dias. Em 2016, seu patrocínio girava na casa dos R$ 204 mil. Antes deste aumento, o capixaba era “apenas” medalhista de prata em Londres-2012.

Ele vai ganhar mais que o dobro que seu parceiro, Bruno Schmidt. O atleta nascido em Brasília estreou em Jogos Olímpicos na Rio-16 e até o ano passado seu patrocínio era de R$ 74 mil por ano. Agora, saltou para R$ 118,8 mil por 12 meses. Um salto de 60% nos rendimentos.

O curioso nesta história é que esse o Banco do Brasil também patrocina a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e, a partir de 2017, decidiu cortar em R$ 16 milhões anuais o investimento direto na confederação.


Banco do Brasil corta R$ 16 milhões da CBV em novo acordo de patrocínio
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Daniel Brito

O Banco do Brasil renovou por mais quatro anos o contrato de patrocínio com a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). O vínculo até após os Jogos de Tóquio-2020 terá o valor de R$ 218 milhões para a instituição financeira do governo federal.

Na média, isso representa R$ 54 milhões anuais no caixa da CBV. Ainda é o maior patrocínio do esporte olímpico nacional, porém, a confederação vai amargar uma queda de R$ 16 milhões por exercício em relação ao contrato que se encerra em 2016.

Até então, a parceria custava, em média, R$ 70 milhões ao banco. Em 2015, por exemplo, a CBV faturou R$ 72 milhões em patrocínios. No entanto, registrou um déficit de R$ 23 milhões no exercício. É uma diferença muito grande para o resultado do ano anterior (2014), que terminou superavitário em R$ 2,1 milhões.

O UOL Esporte havia publicado há dois meses que as estatais diminuiriam o investimento em esporte olímpico após o fim do ciclo olímpico do Rio-2016. No início deste mês, a ECT (Emprasa Brasileira de Correios e Telégrafos) renovou com a CBT (Confederação Brasileira de Tênis) por R$ 4 milhões, um valor 75% inferior ao contrato anterior.

Meu colega Guilherme Costa informou em outubro que o Banco do Brasil pagariam R$ 218 milhões à CBV para renovar por mais um ciclo olímpico, A confirmação do acordo saiu ´na edição da terça-feira, 27, do Diário Oficial da União.


Um ano após escândalos de corrupção, CBV registra déficit de R$ 23 milhões
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Daniel Brito

<> at Carioca Arena 1 on June 9, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil.

A CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) registrou um déficit de R$ 23 milhões em 2015, segundo apontou a demonstração de resultado financeiro publicado na página da entidade na internet. É uma diferença muito grande para o resultado do exercício anterior (2014), que terminou superavitário em R$ 2,1 milhões.

Dois fatores contribuíram para tamanha discrepância: a realização das finais do Grand Prix e da Liga Mundial no Brasil no ano passado, ambas no Rio de Janeiro, além do aumento na despesa com pessoal.

O déficit coincide com as alterações na estrutura organizacional às quais a CBV se viu obrigada a implementar para combater a corrupção na entidade, revelada pelo jornalista Lúcio de Castro em uma série de reportagens na ESPN Brasil, em 2014. As providências foram exigidas pelo Banco do Brasil, patrocinador desde o início dos anos 1990 do vôlei brasileiro, e que investe R$ 70 milhões por ano na modalidade.

“As alterações na estrutura organizacional da CBV efetuadas no exercício de 2015 impactaram diretamente nas ações de governança implementadas no exercício, porém este impacto não tem como ser mensurado no resultado de um único exercício. Os resultados poderão ser percebidos nos exercícios futuros”, informou a CBV, em nota via assessoria de imprensa.

Taxas e direitos de transmissão

A confederação aportou R$ 17,4 milhões em despesas operacionais. Dos quais, R$ 6,4 milhões foram para taxas de realização do Grand Prix, em maio, e Liga Mundial, em julho, no Rio, para a FIVB (Federação Internacional de Vôlei), “assim como taxa de liberação de espaço para realização de eventos nacionais devidas aso órgãos governamentais competentes”, acrescentou, em nota explicativa no balanço, a CBV.

Outro gasto que subiu em 2015 foi o de vídeo, som, áudio e comunicação. O desembolso que foi de R$ 1,1 milhão em 2014 saltou para R$ 4,4 milhões no exercício seguinte. “O aumento foi impactado pela aquisição da transmissão dos jogos de quadra e de praia. (…) Cerca de 115 países receberam o sinal dos jogos da Liga Mundial e do Grand Prix”.

Aumento nas gratificações

<> on July 16, 2015 in Rio de Janeiro, Brazil.

As despesas com pessoal chamam a atenção no resultado financeiro da CBV em 2015. Os gastos com salários subiram mais de 60% e bateram na casa dos R$ 9 milhões. Consequentemente, as obrigações trabalhistas acompanharam o salto: a confederação desembolsou mais para o pagamento de 13º salário, férias e, principalmente, gratificações. A entidade teve um dispêndio de R$ 423 mil com gratificações em 2014. Este valor bateu em R$ 1,5 milhão no exercício seguinte.

“Em 2015, a entidade passou a contar com um diretor executivo (CEO), que assumiu o cargo com a missão de adotar práticas responsáveis de governança e alcançar a excelência nos eventos promovidos pela CBV. E com uma gestão cada vez mais atenta e preocupada com os colaboradores, a confederação adotou um plano de cargos e salários, e melhoria nos benefícios (cartão de alimentação, plano de saúde e mental)”, publicou em nota explicativa no próprio balanço a entidade.

Ajuda de custo na Superliga

O balanço da CBV também informou em nota que a entidade distribuiu de novembro de 2015 a maio de 2016 cerca de R$ 1,8 milhão de apoio para custeio de hospedagem dos clubes participantes da Superliga masculina e feminina.

“A CBV viabilizou financeiramente a logística de viagens dos times visitantes, incluindo passagens aéreas, hospedagem, para todas equipes e também para os árbitros, além de custear taxa de arbitragem e fornecer bolas para a competição (no caso da Superliga Masculina, também incluídas alimentação e traslados terrestres).  A CBV paga ainda serviços de estatística, serviços de clipagem de exposição de marcas dos patrocinadores dos clubes e taxas de delegados, além de oferecer o empréstimo de pisos”, acrescentou a confederação, via assessoria de imprensa.

Resultado financeiro
A CBV teve uma receita de R$ 107,3 milhões em 2015, mas suas despesas bateram na casa dos R$ 134,3 milhões. O que aliviou um pouco o déficit foi o resultado financeiro líquido, advindo de aplicações, da ordem de R$ 3,1 milhões. “Para o exercício de 2016, a CBV está prevendo um equilíbrio entre as receitas e despesas. O planejamento estratégico em curso buscará assegurar a solidez financeira nos próximos exercícios”, prevê a confederação, em nota ao blog.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - JULY 19: A general view of the arena during the FIVB World League Group 1 Finals gold medal match between Serbia and France at Maracanazinho on July 19, 2015 in Rio de Janeiro, Brazil. Maracanazinho will host the volleyball competition during the Rio 2016 Olympic Games. (Photo by Matthew Stockman/Getty Images)

(Matthew Stockman/Getty)


Decisão do vôlei às 9h da manhã faz jogadoras acordarem de madrugada
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Daniel Brito

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Walewska criticou o horário: “Não somos consultadas” (Adalberto Marques/Inova Foto/CBV)

A campeã olímpica Natália teve de acordar antes das 6h da manhã para defender o Rexona Ades às 9h no ginásio Nilson Nelson, em Brasília, na final da Superliga 2015/16 contra o Praia Clube, de Uberlândia, Minas Gerais. Por causa da transmissão na TV aberta, o jogo do título do principal campeonato de vôlei do país ocorreu nas primeiras horas deste domingo, 3. Horário cruel para um domingo, ainda mais para as atletas, acostumadas a jogar de tarde ou de noite durante toda a temporada.

“Não é fácil. Acordei 5h50 hoje para despertar, tomar um café forte, para chegar bem às 9h da manhã, a gente não está acostumada a jogar neste horário, são coisas do vôlei”, contou a ponteira, após o jogo em que seu time superou, além do sono da manhã, e o Praia Clube por três sets a um, após duas horas e 16 minutos de embate.

“Mas esse costuma ser o horário da final, então a gente meio que já sabe. Mas é importante comer bem, porque agora já são que horas? Nem sei que horas são, é meio pesado. Eu comi um sanduíche com queijo branco e peito de peru, umas frutas, café, essas coisas”, revelou a jogadora. O ritual deu certo, porque Natália foi eleita a melhor em quadra na decisão deste domingo.

Houve, contudo, quem acordasse cedo há mais dias para não sentir-se mal em quadra. “Eu venho de uma rotina de quatro dias, de acordar às 6h da manhã, que é a hora em que tivemos que acordar hoje. Eu faço um pilates, tenho acordada sozinha, faço há quatro dias, por isso não senti o jogo. Mas à noite eu vou estar quebrada”, contou Walewska, campeã olímpica com a seleção em Pequim-2008, e central do Praia Clube.

Do alto de seus 36 anos e mais de 10 anos de serviços prestados à seleção nacional, Walewska não deixou de se indignar com a situação. “A gente é muito refém da televisão. Ninguém pergunta aos atletas o melhor horário. Dormimos às 21h de ontem, acordamos às 6h da manhã. Jogamos às 9h, muda a rotina toda do atleta. É uma falta de respeito com todos os atletas, tem que ter uma comissão de atletas para rever isso. Nós nunca somos questionados, e isso é sim um protesto” criticou a atleta.


Doping, corrupção, manipulação de resultados…O que fizeram com o esporte?
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Daniel Brito

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Uma determinada empresa de comunicação lançava, em meados de 2008, sua campanha para cobertura jornalística dos Jogos Olímpicos de Pequim. Evento em um restaurante de São Paulo, repleto de ex-atletas, comentaristas e os jornalistas envolvidos naquela operação. Em seu discurso, o mandatário do veículo avisava: “Nós só vamos dar notícias boas, queremos que o esporte sirva para alegrar as pessoas, não queremos saber de notícias ruins”.

Os aplausos que se seguiram abafaram o prejuízo que esse tipo de raciocínio traz não só para o esporte, mas para o jornalismo esportivo. Principalmente porque aquele executivo não era o único a pensar desta maneira.

Hoje, vemos o quão nocivo foi acompanhar esporte só pelas “notícias boas”. Mega esquemas de corrupção, dopagem, manipulação de resultado são descobertos com frequência diária pelos combativos colegas da imprensa europeia e dos Estados Unidos.

O mais recente, você deve se lembrar, foi o de manipulação de resultados (match fixing, em inglês) no tênis. Uma notícia que parece não ter surpreendido aos tenistas, se levarmos em conta a reação dos astros. Federer, por exemplo, disse o óbvio quando colocou o match fixing no mesmo grau de periculosidade que o doping, mas rebateu quase que em tom de desafio: “Gostaria de ouvir os nomes [dos envolvidos]. Foi um jogador? Foi a equipe de apoio? Quem foi? Foi antes? Eram tenistas de simples ou de duplas? Em qual Grand Slam?”.

Bom, a rede de TV britânica BBC anunciou ter um relatório que incrimina pelo menos 16 tenistas, um deles vencedor de Grand Slam.

Já no atletismo, foi revelado, na segunda metade de 2015, o caso de ocultação sistemática de doping envolvendo estrelas da modalidade na Rússia. Eram campeões e campeãs olímpicas, donos de recordes mundiais, gente grande. Caso que só veio à tona porque um partícipe da fraude resolveu abrir o jogo para uma rede de TV na Alemanha. Hoje, vive escondido e com medo em algum lugar da Alemanha, uma vez que o escândalo respinga até no alto escalão do governo russo.

A Rússia, por seu turno, corre o risco de não participar do atletismo nos Jogos do Rio-2016. Até o antigo presidente da IAAF (sigla em inglês para Federação Internacional de Atletismo), o senegalês Lamine Diack, e seu filho, estão envolvidos. Recentemente, a Adidas anunciou a retirada do patrocínio milionário da entidade (cerca de R$ 123,6 milhões).

O mais curioso deste caso é que o delator foi totalmente esquecido pela IAAF. A entidade máxima do atletismo fala em limpar o esporte, promover mudanças no controle de dopagem, punir os culpados. Mas jamais fez menção de retribuir ao delator pela coragem de desmantelar os trapaceiros no atletismo russo.

Antes desses casos, contudo, veio a gênese de todas as falcatruas. Quando se fala em fraude, quadrilha e corrupção em esporte está cada vez mais difícil deixar de citar o futebol, a Fifa, a CBF, Conmebol, com todos os acontecimentos de maio de 2015 até hoje. A investigação do FBI, a CPI do Futebol no Senado, a prisão de dirigentes, o jogo de esconde-esconde da cartolagem brasileira…

São só três exemplos mais recentes de monstros que parasitavam e corroíam internamente algumas das modalidades mais populares do mundo. E eles só foram descortinados graças à apuração jornalística, com apoio dos órgãos fiscalizadores, quando já estavam tão grandes que não mais cabiam dentro deles.

E o Brasil?
O Brasil também tem seus mau exemplos.

Só para citar alguns casos mais recentes, basta lembrar as diversas irregularidades encontradas pela CGU (Controladoria Geral da União) na gestão Ary Graça à frente da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei). O caso, que quase provocou a perda de um patrocínio anual de R$ 70 milhões à confederação, foi revelado pelo jornalista Lúcio de Castro no site da ESPN Brasil em 2014 e 2015. O mesmo Castro também trouxe à luz no UOL Esporte, em novembro passado, as trapalhadas de Carlos Nunes, presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basquete), na gestão de recursos públicos oriundos de patrocínio da Eletrobras.

Meu amigo e ex-companheiro de Correio Braziliense e UOL Esporte, José Cruz milita há décadas na cobertura da política esportiva em Brasília e coleciona casos de desonestidade com dinheiro público nas mais diversas modalidades, como tênis, taekwondo, ciclismo, esgrima…

É claro que há indícios de outras irregularidades, principalmente porque o esporte de alto rendimento é financiado pelo poder público. O “Relatório de Levantamento de Auditoria” do TCU (Tribunal de Contas da União), do final de 2015, relatado pelo ministro Augusto Nardes e aprovado em plenário, alerta que “há risco de desvio de recursos públicos destinados ao esporte”.

E por que tudo isso acontece? Porque o esporte tornou-se espetáculo, negócio milionário, e, no Brasil, a maior parte dos investimentos vem dos órgãos do governo que, por sua vez, não têm estrutura para o controle dos gastos, como alerta o próprio Tribunal de Contas.

Por isso é importante entender que esporte não é “só notícia boa”, como discursou o executivo da comunicação no lançamento da cobertura jornalística da sua empresa antes dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008.


FIESP escala medalhistas olímpicos para criticar ajuste fiscal do governo
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Daniel Brito

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Reprodução do vídeo em que Murilo e Jaqueline criticam o governo

A FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) escalou dois atletas olímpicos para atacar o ajuste fiscal anunciado pelo governo em setembro. O casal Murilo Endres e Jaqueline Carvalho gravaram um vídeo em que criticam a proposta de “aumento dos impostos” para cobrir o déficit previsto para o orçamento da União de 2016.

“Se a gente não protestar, o governo vai aumentar os impostos ainda mais”, começa dizendo Murilo na gravação. Eles pedem o engajamento do público para assinar um manifesto que a FIESP pretende entregar no Congresso Nacional com 1 milhão de assinaturas.

Murilo e Jaqueline são atletas do Sesi, equipe de vôlei mantida pela FIESP. Ele talvez seja o mais combativo e politizado desportista da modalidade no país. Quando a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) se viu envolta em uma grave crise por causa de mal feitos atribuídos – e comprovados pela CGU – durante a gestão de Ary Graça, Murilo foi o primeiro atleta a se levantar e protestar contra o dirigente. E contou com o apoio de toda a classe.

E agora, a instituição que representa pode ser diretamente afetada pelas medidas do pacote do governo. A União apresentou proposta para reter 30% do que é arrecadado pelo Sistema S (Sesc, Senai, Sebrae e Senac) para cobrir o rombo no orçamento. Este percentual corresponde a aproximadamente R$ 6 bilhões a menos para o Sistema S no próximo ano. O que afetaria diretamente, entre outras coisas, as atividades esportivas do Sesi, pelos quais jogam Murilo e Jaqueline.

O Sesi investe em alto rendimento na equipe de polo aquático, e em atletas da maratona aquática, atletismo paraolímpico e luta olímpica. Não há nada definido ainda sobre cortes no apoio ao esporte.

O departamento de comunicação da FIESP informou que os atletas não foram obrigados a participar da campanha, apenas convidados. Por enquanto, só atletas do vôlei se engajaram publicamente.


Ex-braço direito de Blatter no Brasil agora comanda o vôlei de praia
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Daniel Brito

Fulvio Danilas foi diretor do escritório da Fifa no Brasil: hoje está na CBV

Fulvio Danilas foi diretor do escritório da Fifa no Brasil: hoje está na CBV

Fulvio Danilas foi o número 1 da Fifa no Brasil enquanto a entidade manteve seu escritório ativo por aqui. Respondia sobre a Copa do Mundo no país. Comandava o time da entidade na organização do evento no ano passado. Amigo do francês Jerome Valcke, que o indicou ao cargo, formado em economia e relações internacionais na USC (Universidade do Sul da Califórnia), hoje é diretor do departamento de vôlei de praia da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).

Inverteu, agora, os papéis com outro partícipe da organização da Copa no Brasil, Ricardo Trade. Conhecido como Baca, Trade é o CEO da CBV desde fevereiro e chefiava o Comitê Organizador do Mundial no país, que respondia à Fifa. Foi ele quem convidou Danilas a se juntar à confederação de vôlei neste ano.

“A CBV é um exemplo de organização. Tudo é feito sob a orientação do presidente, mas tem uma nova gestão, que é do Ricardo Trade. A ideia é sempre aprimorar. Em pouco tempo que estou lá, pude acompanhar a evolução na gestão, com a transparência, com todos os números publicados. Temos um comitê de apoio que já atua, com jogadores e ex-jogadores, treinadores”, elogiou Danilas.

Ele conversou com o blog há pouco mais de 10 dias, durante etapa do Circuito Nacional de Vôlei de Praia, realizada, coincidentemente, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Arena reerguida para a Copa do Mundo no valor de R$ 1,6 bilhão, recebeu apenas cinco partidas oficiais em 2015. O atual dirigente da CBV considera importante a construção do estádio.

“Este estádio é um equipamento fantástico, incrível, comparável aos melhores do mundo. Agora, cabe aos administradores da cidade fazer bom uso dele. É sabido que Brasília tem um público ávido por eventos esportivos, por isso é um privilégio da cidade contar com esta arena”, opinou.

“Escândalos” na Fifa
Este não é o único assunto que ele relativiza quando a pauta diz respeito à Fifa. Perguntado sobre “os recentes escândalos de corrupção envolvendo a entidade, Danilas disse: “Pessoalmente, tenho uma percepção de que a Fifa foi envolvida mas não participou. Entidades filiadas à Fifa, pessoas, mas não funcionários da Fifa, estão envolvidas. Não foram irregularidades encontradas em competições da Fifa”, disse.

“Para uma entidade tão grande como a Fifa, que tem eventos no mundo inteiro, que envolvem tanta gente, tanto dinheiro, controlar tudo o que acontece no futebol é praticamente impossível praticamente. Não estou aqui defendendo a Fifa, mas esse “escândalo” envolve pessoas ligadas à entidade, e não tem relação com a Fifa, mas sim com a Copa América, Copa do Brasil”, explicou, puxando no ar os dedos indicador e médio quando citou a palavra escândalo.

Retorno às origens
Fulvio Danilas não é um estranho no vôlei de praia. Ele atua na modalidade desde muito antes de ela ingressar no programa dos Jogos Olímpicos. O dirigente promoveu campeonatos desde a época em que ainda eram realizados nas areias de Ipanema – hoje, o Maracanã do vôlei de praia é Copacabana -, e tinha patrocínio de marca de cigarro. “Estamos falando aí de 1987, 88”, estima.

Seu envolvimento com o vôlei vem de muito antes. No início dos anos 1980, ele foi meio de rede do time montado pela extinta companhia aérea Transbrasil, em São Paulo. E, como o mundo dá muitas voltas, tinha como preparador físico ninguém menos que o Baca, hoje seu chefe na CBV.

“Meu ingresso na CBV foi um retorno para casa. Sempre atuei no vôlei de praia. Agora, estou reencontrando gente daquela época, que era jogador e hoje é treinador ou mantém-se envolvido com a modalidade até hoje. Isso é muito bacana, mostra que deu certo”, relata.

Koch Tavares
Depois que parou de jogar, Danilas formou-se nos Estados Unidos e voltou para o Brasil para trabalhar na promoção de eventos com a Koch Tavares. A empresa realizou diversos torneios de vôlei de praia no país e fora, entre outras modalidades. Mas foi por intermédio do futebol de areia que Danilas chegou à Fifa.

Após a promoção de uma série de competições pelo mundo, ele relata, chegou ao departamento de “Beach Soccer” da Fifa em 2005. Lá, conheceu Jerome Valcke, então diretor de marketing da entidade (hoje secretário geral), de quem mantém-se amigo até hoje.

O brasileiro acredita em mudanças na Fifa depois dos recentes “escândalos”. “Minha relação com eles [Blatter e Valcke] sempre foi muito boa. Desejo sorte ao Blatter nesta missão de fazer a transição na Fifa, para que a credibilidade seja restabelecida. Eu estive lá dentro e posso testemunhar que é uma entidade que trabalha com alta competência, com organização de altíssimo nível no mundo inteiro, e que a imagem da Fifa seja restabelecida para o bem do futebol. Para o bem do esporte”, desejou.


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