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Saiba por que o Brasil não liberou visto para turistas chineses na Rio-2016
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Daniel Brito

MEI 52701459 Argentina v China Brasília International Tournament BRASILIA, BRAZIL - DECEMBER 14 Argentina v China at Mane Garrincha Stadium on December 14, 2014 in Brasilia, Brazil (Photo by Celso Junior/Getty Images)

Chineses em jogo de futebol no DF: fluxo migratório barrou liberação de visto (Celso Junior/Getty)

Correu, timidamente, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei para incluir a China entre os países beneficiados pela liberação de visto de entrada para turistas no Brasil durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016. Apenas quatro países foram contemplados com a isenção de vistos: Japão, Canadá, Estados Unidos e Austrália.

A China conta com quase 110 milhões de cidadãos a viajar pelo mundo anualmente e são, estatisticamente comprovado, os mais perdulários. Em 2015, deixaram no exterior US$ 215 bilhões (R$ 715 bilhões). Mas ficaram de fora dos planos do governo federal de incrementar o faturamento com turismo dos chineses. Na contramão, inclusive, do movimento do governo em atrair chineses ao Brasil.

Basta lembrar que em fevereiro deste ano, a então presidente em exercício Dilma Rousseff abriu uma conta no Weibo, o Twitter da China, e gravou uma mensagem aos usuários desta plataforma convidando-os ao Brasil durante os Jogos do Rio-2016. Concluiu sua gravação de pouco mais de 30 segundos com um sorriso e uma saudação em mandarim: “Zai chen” (até logo).

Quatro critérios definiram os países beneficiados com a suspensão temporária do visto. Em três deles a China mostrava-se apta: gastos no exterior, tradição olímpica, fluxo de turistas no Brasil. Foi o quarto quesito que excluiu a China dessa lista: risco migratório.

Em 2014 e 2015, a China foi o país fora das Américas com maior quantidade de vistos de permanência ou de trabalho emitidos pela Polícia Federal, com quase 12 mil autorizações. Mais até que os Estados Unidos, empatado com a Argentina.

Não há, contudo, registros atualizados de imigrantes ilegais da China no Brasil.

O que o Brasil quer evitar não é o aumento do fluxo de imigrantes legais e qualificados profissionalmente, mas de ilegais, que entram em território nacional em grande parte pelo Paraguai, e se instalam nas grandes cidades, em condições precárias, tendo que levar a vida como vendedores ambulantes de mercadoria falsificada, em trabalho, muitas vezes, análogo à escravidão.

O blog tentou contato com a Embaixada da China no Brasil, mas não obteve resposta. Conversei com um jornalista chinês que trabalha como correspondente no Brasil e na América Latina há mais de uma década, e ele me deu um panorama diferente do risco migratório de seu país atualmente.

Ele me contou que grande parte deste tipo de imigrante vem da cidade de Cantão, terceira maior do país, também conhecida como Guangzhou. Segundo o jornalista, com a crescente atividade econômica e financeira de Cantão, caiu sensivelmente o deslocamento para o Brasil de cidadãos daquela região no sul da China. O lugar é chamado pejorativamente de “o paraíso da pirataria”, o que explica muito sobre a atividade na qual os imigrantes ilegais são obrigados a exercer quando estão por aqui.

O tal projeto de lei que pede a liberação de visto para os chineses na Câmara dos Deputados, em Brasília, não deve ser colocado em votação, porque não há tempo hábil para apreciação e votação em plenário. O autor da proposta é William Woo (PV-SP), suplente de deputado, que já nem está mais no cargo – devolveu-o para Roberto de Lucena (PV-SP), às vésperas da votação do impeachment, em abril.

Longe de Brasília, Woo vibra com o fato de o projeto não ter ido adiante. “Do jeito que esta Olimpíada está, tenho medo até que os chineses venham e aconteça alguma coisa de ruim com eles aqui”, disse, entre risadas.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - JUNE 09: Tourists take photos of the view by the Christ Redeemer Statue on June 9, 2014 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Julian Finney/Getty Images)

Rio de Janeiro durante a Copa-14: sem grandes incidentes envolvendo turistas (Julian Finney/Getty)


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