Doping em família: mãe e filho são flagrados com EPO em provas de rua
Daniel Brito
O comunicado oficial da CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo) publicado há uma semana era frio, como devem ser as notas oficiais de doping. Anunciava suspensão preventiva de três atletas flagrados com substâncias proibidas em importantes competições. O primeiro nome da lista era de Sueli Pereira Silva. No pé da nota, estava Ronald Moraes da Silva.
Ambos testaram positivo para EPO (eritropoetina) na Corrida de Reis, em Cuiabá, na primeira quinzena de janeiro. Sueli também foi flagrada com a mesma substância na São Silvestre, em 31 de dezembro, em caso divulgado em primeira mão pelo meu colega de UOL Esporte e parceiro de cobertura olímpica, Eduardo Ohata.
Com a nota oficial, de 12 de fevereiro, Sueli e Ronald entraram para a história do esporte brasileiro como primeiro caso de mãe e filho flagrados no doping.
Nunca antes na história deste país…
O esporte brasileiro já viu, recentemente, outros episódios de dopagem em família. Basta lembrar do capítulo que a família Fernandes já escreveu no ciclismo nacional. Três desportistas da mesma linhagem já tiveram a carreira maculada por resultados positivos em testes de doping e punições rigorosas. Hoje elas são militares e representam as Forças Armadas do país em competições internacionais.
Mas mãe e filho flagrados é, de fato, caso raro. Até em escala internacional.
EPO dentro de casa?
Sueli e Ronald são (ou eram) treinados pelo mesmo técnico, Ronaldo de Moraes, popularmente chamado de Trovão, casado com Sueli e pai de Ronald. Embora haja suspeita, jamais comprovada, de que o EPO pode ter vindo de dentro da casa da família, Trovão não foi punido e nem sequer está sob investigação. “Estamos confiantes no julgamento”, disse o treinador ao repórter Rafael Xavier, do jornal O Popular, de Goiânia, Goiás.
Veredictos severos
Os dois atletas estão temporariamente suspensos pela CBAT até que haja o julgamento no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da modalidade. Mas os veredictos para atletas apanhados com EPO na urina costumam ser rígidos, podendo chegar até a quatro anos de gancho. Para Sueli, por exemplo, seria o fim da carreira no alto rendimento, já que está com 37 anos, e perdeu a oportunidade de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.
Ela já foi cortada da equipe do Cruzeiro, de Belo Horizonte, Minas Gerais, por causa do doping. Ronald, que também integrava o time, fora dispensado antes mesmo da São Silvestre, motivo pelo qual não correra a tradicional prova de rua do dia 31 de dezembro em São Paulo.
Os testes que comprometeram esta família de corredores foram feitos pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), um órgão do Ministério do Esporte, no LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem), o antigo Ladetec, na UFRJ.