Blog do Daniel Brito

Arquivo : Confederação Brasileira de Ciclismo

Ciclistas recebem salário das Forças Armadas mesmo punidos por doping
Comentários Comente

Daniel Brito

medalha

Uênia (a terceira da esq. para dir.) no pódio do Mundial Militar, na Coreia do Sul (Divulgação)

Os ciclistas Uênia Fernandes e Alex Arseno estão suspensos de competições esportivas pelos próximos quatro anos após terem sido flagrados em exame antidoping realizado em setembro. Alex e Uênia também são terceiro sargento da Aeronáutica, recebem mensalmente R$ 3,774 de salário.

Eles tornaram-se militares pelo programa de alto rendimento das Forças Armadas do Brasil, que seleciona atletas com potencial olímpico para ingressar no Exército, Aeronáutica ou Marinha. Mesmo punidos na esfera esportiva pelo uso de substâncias proibidas, Alex e Uênia permanecem normalmente como terceiro sargento das Forças Armadas, inclusive recebendo salário, segundo informou a assessoria da FAB (Força Aérea Brasileira).

A FAB explica que não excluiu Alex e Uênia de seus quadros porque não recebeu notificação oficial da CBC (Confederação Brasileira de Ciclismo) informando da suspensão da dupla. A CBC, no entanto, informou que não precisa noticiar a FAB sobre o resultado do julgamento, uma vez que a informação está publicada na página da confederação na internet.

Assim, Alex e Uênia vivem uma situação pitoresca. São membros das Forças Armadas do Brasil somente porque se enquadraram no perfil de esportista que os militares querem em suas fileiras, contudo, estão proibidos de competir porque foram punidos por uso de doping.

Falha de comunicação
Não é a primeira vez que caso desse tipo acontece. O arguto repórter do UOL Esporte, meu amigo Fábio Aleixo, mostrou em agosto do ano passado o caso do nadador João Gomes Jr. Ele é terceiro sargento da Marinha e foi suspenso por doping em fevereiro de 2015. Ficou seis meses impedido de competir, ainda assim manteve-se nas Forças Armadas, onde permanece até hoje.

O edital público para o qual Alex, Uênia e até João Gomes Júnior aplicaram para se tornar miliatares é bem claro quanto aos casos de desportistas punidos por doping: exclusão do programa de alto rendimento das Forças Armadas. Falta, como se vê, uma maior comunicação neste aspecto entre os militares e as confederações esportivas.

Porque, Alex Arseno, por exemplo, não só admitiu que fez uso de substância que melhora a performance esportiva como anunciou publicamente o fim da carreira como atleta. Uênia, por sua vez, foi julgada duas vezes pelo STJD da CBC. Na primeira, foi estranhamente absolvida, no que seria um raro caso de inocetar um atleta flagrado com taxa alterada de EPO (eritropoetina) no organismo. Foi preciso a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) intervir e identificar falhas no julgamento, para que houvesse novo arbitrio e, aí sim, Uênia levou um gancho de quatro anos.

O caminho da burocracia
Os casos já foram encerrados na justiça desportiva no Brasil. Se quiserem recorrer, Uênia e Alex terão de ir ao TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), na Suíça. O que não ocorreu até o momento. É importante lembrar, também, que Uênia vem de uma familia com casos frequentes de doping.

Entre o exame que a flagrou com EPO e a punição, ela representou o país na prova de estrada nos Jogos Militares, na cidade sul-coreana de Mungyeong, e conquistou o ouro por equipes na prova de estrada, ao lado das primas Clemilda e Janildes.

Segundo a assessoria da CBC, este resultado deve ser invalidado, e aí a suspensão deve chegar naturalmente à FAB. Basta que a UCI (União Ciclística Internacional) registre em seu site a punição a Uênia. Em seguida, O CISM (Conselho Internacional de Esportes Militares) será notificado, e só ai as Forças Armadas do Brasil poderão ser oficialmente informadas do caso.

Nas últimas duas semanas, o blog vem contatando a assessoria de imprensa da FAB para saber se havia alguma novidade sobre o caso. Em todas as ocasiões foi sempre muito bem atendido e ouviu que os atletas permanecem normalmente na Força Aérea até que receba uma notificação da confederação, aí eles serão desligados pela Aeronáutica, conforme previsto no edital de convocação.

O último contato foi na tarde da sexta-feira, 26.


Ministério promete ir ao TAS contra ciclista militar absolvida do doping
Comentários Comente

Daniel Brito

medalha

Uênia (terceira, da esq. para dir.) foi campeã por equipes no Mundial Militar (Divulgação)

A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) entrou com pedido de anulação da decisão da Confederação Brasileira de Ciclismo de absolver a ciclista matogrossense Uênia Fernandes, 31, do doping por EPO (eritropoietina). O órgão, vinculado ao Ministério do Esporte, promete levar o caso até o Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, na Suíça.

É raro, quase inédito, um atleta ser flagrado em exame de dopagem com EPO e ainda ser absolvido. Uênia alegou que a equipe da ABCD que realizou a coleta da urina em teste surpresa em setembro foi feita de forma errada e sofreu contaminação. A defesa da ciclista disse que ela não pôde se hidratar, ficou por horas submetida aos exames, e a coleta da urina do ciclista Alex Arseno, também flagrado com EPO no mesmo dia, conspurcou o frasco em que estava a urina de Uênia.

No julgamento da Comissão Disciplinar do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) do ciclismo, em 10 de dezembro, a ABCD foi citada nominalmente como responsável pela resultado positivo de doping. Porém, a entidade não foi convocada para dar sua versão, o que vai contra o CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva). Ainda assim, a comissão julgou procedente a defesa de Uênia e a absolveu.

“Mesmo que não tivesse sido citada na defesa da atleta, a ABCD tem que ser intimada a participar do julgamento, mas nem isso ocorreu”, explicou o chefe do órgão, Marco Aurélio Klein. “A decisão do STJD do ciclismo foi uma afronta à Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem. Foi dada uma sentença a um julgamento feito de forma irregular. Não questiono o resultado, mas o fato de o CBJD não ter sido obedecido. Nós vamos até ao TAS para que este julgamento seja revisto”, acrescentou.

Histórico de doping na família
Uênia é 3º sargento da Força Áerea Brasileira e é beneficiária do programa de alto rendimento das Forças Armadas. Representou o país na prova de estrada nos Jogos Militares, na cidade sul-coreana de Mungyeong, e conquistou o ouro por equipes na prova de estrada, ao lado das primas Clemilda e Janildes. Flávia Oliveira também compôs o time, mas sobre esta não recai nenhuma suspeita de doping.

Curiosamente, a família Fernandes tem uma história maculada pelo doping no ciclismo. Além de Clemilda, e Uênia, há registro de utilização de substância proibida por parte de Márcia, irmã de Clemilda e Janildes. Mais curioso ainda, todas foram flagradas utilizando-se da mesma substância: EPO.

“Não há hipótese de um atleta flagrado com EPO ser absolvido. Observa-se que há uma concentração de casos neste núcleo, mas não podemos julgar a Uênia pela Clemilda e nem por ninguém, a não ser por ela mesma”, opinou Klein.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>