Casal que detonou esquema russo de doping depende de ‘vaquinha’ para viver
Daniel Brito
Uma campanha internacional de crowdfunding (financiamento coletivo) para Yulia e Vitaly Stepanov já arrecadou aproximadamente R$ 80 mil em cinco dias. Eles formam o casal que detonou todo o esquema de fraude de doping bancado e ocultado pelo governo russo. O episódio veio à tona após denúncia feita a emissora de TV da Alemanha chamada ARD, em 2014.
Desde então, os Stepanovs vivem com medo. Temem ser vítimas de queima de arquivo. Perambularam às escondidas por Alemanha, Suíça e hoje estão em algum lugar dos Estados Unidos. Na semana passada, os dois concederam entrevista à Comissão de Ética do COI (Comitê Olímpico Internacional) sobre o caso. Reforçaram as denúncias que tornaram públicas à TV alemã há dois anos.
Esperava-se que o COI fosse banir todos os atletas russos dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Havia, inclusive, a expectativa de que o COI fosse dar a vaga olímpica a Stepanova na prova dos 800m do atletismo, na qual é especialista. Seria um prêmio pela delação bombástica e que muda a história do combate ao doping no esporte..
O COI, contudo, nem baniu a Rússia e nem muito menos autorizou Stepanova a disputar a Rio-16. O que foi encarado como um sinal de desencorajamento a futuras delações de atletas, treinadores ou agentes do controle de doping..
Vitaly, por exemplo, era funcionário da Rusada, a agência russa de combate ao doping. Participou do esquema por um determinado período. Até que ele e Yulia decidiram gravar conversas com atletas e treinadores em que confirmavam todo o esquema profissional de doping.
Agora, obviamente, está sem o emprego, e desde 2013, o casal tem a companhia do pequeno Robert, filho de Vitaly e Yulia. Mas a família foi abandonada pelos amigos russos, os parentes dos Stepanovs evitam contato. Eles são tidos como traidores da pátria.
A política de investimento em esporte na Rússia passa diretamente pelo Kremlin. Basta dizer que Vitaly Mutko, ministro do Esporte, é suspeito de estar diretamente envolvido no caso de ocultação e financiamento de doping. É uma figura tão controversa que também está no epicentro do escândalo de corrupção da Fifa para eleição da sede do Mundial-18.
Durante os Jogos Olímpicos de inverno, na ensolarada Sochi, há dois anos, a Rússia bateu recorde de medalhas, fazendo uso desse esquema de doping, segundo investigações da Wada (Agência Mundial Antidoping). e a popularidade de Vladimir Putin, presidente do país, bateu na casa dos 80% – muito desse percentual se deve, é verdade, à investida da Rússia na guerra contra a Ucrânia, para tomar a região da Criméia.
Como a Rússia ainda carrega aquela herança soviética de que é possível mostrar toda a força e poderio da nação por intermédio da performance esportiva, o casal Stepanov caiu em desgraça popular no Cáucaso.
Agora, eles buscam sobreviver nos Estados Unidos e o crowdfunding, apoiado por membros da comissão de atletas da Wada, tem o intuito de arrecadar cerca de R$ 265 mil para o casal. Em cinco dias, um quarto deste valor já foi angariado.
Os interessados em contribuir podem fazê-lo neste link.