Blog do Daniel Brito

Arquivo : Toronto-2015

Ingrid passava noites apagando xingamentos no celular, revela coach
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Daniel Brito

A saltadora Ingrid Oliveira passou noites em claro, em seu apartamento na Vila dos Atletas, junto ao celular, tentando conter a avalanche de críticas, xingamentos e comentários maldosos dos quais foi vítima durante os Jogos Olímpicos do Rio-2016. E ocorreu nas noites que antecederam sua apresentação na plataforma de 10m. E é exatamente nesse período pré-competição que o repouso e as boas noites de sono são essenciais para um atleta ter uma boa performance em uma Olimpíada. Ingrid não teve.

“Ela foi muito atacada, foi duro. Até eu fui atacada nas minhas redes sociais. Mas comigo tudo bem, com Ingrid foi difícil, porque ela passava noites e noites apagando cada mensagem”, relata Nell Salgado, profissional do coach esportivo, que trabalhou aspectos psicológicos da preparação de Ingrid antes e durante os Jogos-2016. E a parceria entre as duas continua para o ciclo que se inicia rumo a Tóquio-2020.

“Ingrid não me dizia que estava fazendo isso à noite. Ela apagava as mensagens porque não queria aquilo nas suas páginas pessoais, não queria que as pessoas vissem ali nos posts dela. Eu só fiquei sabendo depois. Ela tinha que ter me contado. Nas nossas conversas,  ela dizia que estava bem, mas eu sabia que estava doendo”, contou Nell.

Romance na Vila
Ingrid foi uma das protagonistas do Time Brasil na Rio-2016. A jovem atleta dos saltos ornamentais nascida há 20 anos no Rio de Janeiro, levou para seu quarto na Vila o canoísta Pedro Gonçalves, 23, o Pepê, o que configurou-se uma quebra de regra no apartamento. Causou desentendimento com a parceira de quarto e da prova do salto sincronizado, Giovanna Pedroso, e um tremendo mal estar dentro do Time Brasil. “Na época da Olimpíada eu não podia falar, mas agora posso: se estavam distribuindo camisinhas dentro da Vila dos Atletas, é óbvio o que poderia acontecer com isso”, disse Nell.

A dupla do salto sincronizado foi desfeita após ficar em 8º no salto sincronizado da plataforma, e Giovanna voltou para casa, pois não tinha mais compromissos nos Jogos. Ingrid permaneceu na Vila, mas com uma forte blindagem feita pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), para poder ter a tranquilidade para competir na prova individual da plataforma de 10m – sua especialidade. Foi nesse período que Nell Salgado intensificou o trabalho de coaching com Ingrid.

Fama repentina
Elas já trabalhavam juntas desde dezembro de 2015, meses após o Pan de Toronto-2015. Na época, a saltadora experimentava o início da fama pelo mesmo motivo que a fez perder noites de sono durante a Rio-2016: comentários maldosos em uma foto em seu perfil no Instagram na qual ela aparece de costas, com um maiô cavado.

Nell tem experiência bem sucedida em lidar com situações traumáticas vividas por atletas olímpicos. Em 2012, começou um trabalho com a judoca Rafaela Silva, que fora atacada na internet com ofensas racistas após ser eliminada dos Jogos de Londres-2012. As duas iniciaram o trabalho do zero logo após aquela Olimpíada e o resultado, como se viu, foi a medalha de ouro de Rafaela na Rio-2016. A judoca, desde então, não perde a oportunidade de agradecer a Nell pelos dias que passaram juntas.

“Meu trabalho é de reprogramação mental. Eu não sento para ouvir historinha triste, o coaching esportivo é ‘tiro, porrada e bomba’. Claro que cada atleta tem sua particularidade, mas a gente não fala do passado. E foi assim que trabalhamos com a Ingrid. Dar a tranquilidade, enaltecer os pontos fortes e repassar mentalmente os saltos que faria na sua prova individual na plataforma de 10m”, explicou Nell.

Salto traumático
Em meio a toda essa confusão na Vila, Ingrid tinha que se preparar para enfrentar um salto traumático na Rio-2016: duplo e meio mortal de costas carpado. Tem grau de dificuldade 2.9, numa escala na qual o movimento mais complexo (que rende maior nota, caso executado com perfeição) é de 3.8. Em Toronto-2015, Ingrid caíra de costas e tirara nota zero. Talentosa e perseverante, Ingrid decidiu incluir este movimento na sua série na Rio-2016.

“No último treino antes da competição, ela cravou as três vezes que executou este salto. Fizemos trabalho em conjunto lá na plataforma, ela vinha treinando bem. Mas na hora não foi como o planejado”, relembra Nell.

Ingrid fazia uma boa apresentação na plataforma de 10m, estava na 9ª colocação entre 28 participantes, até seu quarto (e penúltimo) salto. Aquele que falhara em Toronto-15 e que tanto treinara e temia. Só que mais uma vez o duplo e meio mortal de costas carpado saiu errado. Não tanto como no Pan do ano anterior, mas não o executara bem. Sua maior nota foi um 2.5. Um dos sete juízes deu-lhe nota 1.0 (de um total de 10, para a nota máxima). Ela terminou a competição na 22ª colocação. Saiu da piscina, entrou na banheira dos atletas usam na pérgola e caiu no choro. Tudo isso foi transmitido ao vivo para o mundo inteiro.

Processo de  maturação
“Era um choro de frustração por aquele salto. Ingrid é muito talentosa, está em processo de maturação para se tornar uma excelente atleta. E vai conseguir. Ela sabe que vai”, aposta Nell.

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Lutador do Amapá recusa mudança para o Rio e tenta “exportar” sparrings
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Daniel Brito

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Venilton quer ser o segundo amapaense em uma Olimpíada (Crédito: Reprodução)

Venilton Teixeira, 20, tem a ambição de tornar-se o segundo atleta da história a representar o Estado do Amapá em uma edição dos Jogos Olímpicos. O primeiro foi o nadador Jader Souza, em Atenas-2004. Agora, a esperança amapaense de marcar presença nos Jogos no Brasil está depositada neste atleta de taekwondo, de 1,77m de altura e 54kg.

Assim como Souza, no entanto, Venilton tem dificuldades de manter-se treinando em alto nível em Macapá. O nadador, na preparação para Atenas, teve de deixar o Norte e mudou-se para Brasília, onde treinou na AABB. Venilton pensa diferente. Recusou uma proposta para trocar Macapá pelo Rio de Janeiro, onde estaria mais perto dos melhores do Brasil. Preferiu ficar junto da família e dos amigos, além da comissão técnica que o acompanha desde o início da carreira.

Agora, procura sete lutadores de outras partes do Brasil na sua faixa de peso (até 58 quilos) para servirem como sparring na preparação para o Rio-2016. “Já tentaram me levar para morar no Rio, mas eu recusei porque lá em Macapá estou perto da minha família, está dando tudo certo do jeito que está. Tenho uma estrutura grande, preparador físico, nutricionista, tudo que um atleta olímpico precisa. Falta só sparring mesmo”, disse.

Antes de entrar para a história como segundo atleta olímpico da história do Amapá, no entanto, terá de superar duas seletivas, em janeiro e, em seguida, em fevereiro. Por isso, mobiliza patrocinadores e o governo do Estado para financiar a ida de sparrings. “Tem atletas na minha academia lá em Macapá que são do meu peso ou mais leve, eles são bons, gente da seleção brasileira juvenil, tem uns moleques bons para treinar, mas estamos precisando de mais gente. É para passar uns 20 dias treinando comigo lá. Tem que ser do meu peso mesmo. Estamos tentando patrocínio do governo do Estado e os meus patrocinadores locais. São sete pessoas para treinar, ficar uns dias, e voltar”, explicou.

Mesmo sem sparrings à altura, Venilton acumulou só na temporada 2015 o bronze no Mundial de Chelyabinsk, na Rússia, e o ouro no US Open, nos Estados Unidos. No Pan de Toronto, em julho, contudo, ficou fora do pódio, ao cair na semifinal para o mexicano Carlos Navarro, que ficaria com o ouro. Na disputa pelo bronze, o amapaense perdeu para o argentino Lucas Guzmán.

Venilton é oficial da Marinha do Brasil, é um dos integrantes do programa das Forças Armadas no esporte de alto rendimento. Em outubro, sagrou-se campeão dos Jogos Mundiais Militares na categoria até 54 quilos (que não faz parte do programa olímpico), vencendo o iraniano Mahdi Eshaghi, atual campeão dos Jogos Olímpicos da Juventude.

“Nível dos Jogos Mundiais Militares estava bastante forte. Minhas três primeiras foram meio que fáceis, mas a final foi embaçada. Consegui vencer no finalzinho da luta. Acredito que os Jogos do Rio serão do mesmo jeito”, opinou a este blogueiro após cerimônia com atletas militares no Palácio do Planalto, há uma semana.


Após sucesso no Pan, Forças Armadas investem no esporte paraolímpico
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Daniel Brito

As Forças Armadas do Brasil darão início, a partir dos Jogos Mundiais Militares, na Coreia do Sul, no próximo mês a investir nos atletas paraolímpicos. O projeto ainda está no estágio inicial, mas quatro atletas, militares da reserva, farão participação inédita na competição no atletismo e tiro com arco.

Os militares já investem maciçamente no alto rendimento olímpico e com desempenho exemplar. Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em julho, 48% das medalhas brasileiras vieram de competidores que mantêm vínculo com as Forças Armadas. A expectativa, explicou o  brigadeiro Carlos Amaral, diretor do DDM (Departamento de Desporto Militar) do Ministério da Defesa. era de 40% dos pódios.

Agora, as Forças Armadas desenvolvem o projeto para também se inserir no movimento paraolímpico. O projeto está no estágio inicial, porque foi criado em abril. “A ideia inicial é integrar socialmente o militar das Forças Armadas que sofreu alguma lesão grave novamente, o alto rendimento ainda não é a prioridade”, explicou o brigadeiro Amaral.

Ele contou que se reuniu com integrantes do Comitê Paraolímpico Brasileiro e recebeu a informação de que já há militares integrados ao desporto para pessoa com deficiência, mas sem vínculo esportivo com as Forças Armadas.

Na equipe que irá à cidade sul-coreana de Mungyeong para os Jogos Mundiais Militares há 286 competidores, entre os quais o paulista André Rocha. Ele é cadeirante e policial militar inativo. Conquistou duas medalhas de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto, em agosto, no lançamento do disco e arremesso do peso.

Com esta iniciativa, o Brasil se junta a países que possuem política semelhante de apoio aos militares vítima de lesões graves. Os Estados Unidos promovem uma ampla campanha para integrar ex-combatentes de guerra com algum tipo de amputação ou lesão cervical para iniciar a prática esportiva e, em seguida, aderir ao movimento paraolímpico. Na Colômbia, membros do exército que combateram as Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e entraram para a inatividade foram incitivados a praticar esportes, algums deles disputaram o Parapan de Toronto.


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