Blog do Daniel Brito

Arquivo : Caio Bonfim

Marcha escapa da rota da cusparada ao trocar Aterro pela Zona Oeste
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Daniel Brito

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(Alex Ferro/Rio-2016)

O evento teste da marcha atlética trouxe bastante desconforto aos participantes, no domingo que passou, Foi no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro, e o calor superou os 37ºC cedo da manhã. Se serve como compensação, os atletas se livraram de um problema inconveniente competindo na orla, no mesmo percurso que receberá a prova nos Jogos Rio-2016, e não no Aterro do Flamengo: as cusparadas do público.

Bom, esse foi um problema que assolou os marchadores no último grande evento da modalidade na capital fluminense. No Pan-2007, as provas de marcha atlética foram no Aterro e os competidores tiveram a desagradável companhia de “torcedores” que, do alto das passarelas que atravessam a via expressa da zona sul, cuspiam na direção dos atletas na pista. E não era só isso.

Cisiane Lopes, pernambucana, está classificada para os 20km no Rio-2016 e estava naquele Pan-07. Se lembra bem do que passou. “É que a gente fica concentrada na prova, mas dava para saber que tinha gente na passarela ali em cima cuspindo. Pelo menos não me acertaram. E teve outra: em um ponto do percurso no Aterro tinha um bar, e toda vez que os atletas passavam, os bêbados gritavam um monte de coisa. No caso do homem chamava de homossexual, mas para mulher era pesado mesmo, muito difícil”, relembrou Cisiane.

“Achei foi bom a prova de marcha da Olimpíada ser no Recreio. O percurso é bom, a pista é boa e o lugar é ótimo”, vibrou a marchadora, que foi campeã da Copa Brasil de marcha, que serviu de evento teste da modalidade para os Jogos Olímpicos-2016.

Já o brasiliense Caio Bonfim também comemorou. Primeiro pelo fato de não ter de passar pelo aperto que seus colegas enfrentaram desviando de cuspes no Pan-07. Ele tinha só 16 anos à época e estava dando os primeiros passos na marcha. E depois, porque no evento teste do domingo, no Rio, ele sagrou-se pentacampeão brasileiro nos 20km.
“Pessoal conta as histórias daquele Pan. Melhor coisa que aconteceu foi ter as provas da marcha no Recreio. Tenho certeza que nada parecido ao que ocorreu em 2007 vai acontecer no Rio-2016”, afirmou.

A IAAF (sigla em inglês para Associação Internacional das Federações de Atletismo) também aprovou o Recreio como sede da marcha. “Vai ser o lugar mais bonito em que serão realizadas as provas da modalidade desde Barcelona-1992, quando comecei a trabalhar com Jogos Olímpicos”, disse Luis Saladie, delegado técnico da IAAF, presente ao evento teste no domingo passado.


Brasileiro celebra punição a russos: “Perdi dinheiro por causa de drogados”
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Daniel Brito

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Caio foi bronze no Pan-2015 nos 20kms

Por azar, ou vai ver foi sorte, o marchador brasiliense Caio Bonfim, 24, compete contra a maioria dos atletas russos que foram flagrados em exames antidoping. Foram mais de 25 “drogados”, aspas para Caio, que falharam em testes. E agora a WADA (Agência Mundial Antidoping) declarou guerra aberta contra a Rússia, pedindo a suspensão do país de todas as competições de atletismo.

O azar de Caio é que marchar contra quem usa substâncias proibidas o tirou de pódios importantes. Isso o fez perder a oportunidade de ganhar a bolsa pódio, investimento do governo federal que pode pagar até R$ 15 mil por mês ao atleta, de acordo com o ranking mundial.

Caio foi o quarto colocado no Mundial juvenil de 2010, atrás de dois russos, um deles suspenso por doping. O outro abandonou o esporte. Depois esteve no Mundial da modalidade em 2012 e 2014, além do Mundial de atletismo em Daegu-2011, na Coreia do Sul, em que foi superado por russos, quase todos sancionados anos mais tarde.

“O Mundial de 2011 eu terminei em 21º, mas ganhei três posições depois que acabou, por causa das punições aos russos”, conta Caio. Entre os flagrados, um foi suspenso por dois anos, outro por oito, e o terceiro, Vladimir Kanayakin, banido do esporte, por ser reincidente.

“Não consegui me tornar elegível para receber o bolsa pódio porque em 2014 não obtive o resultado necessário, competindo contra esses russos drogados”, queixa-se o brasiliense. “Então, quer dizer, um atleta olímpico em preparação para os Jogos em casa não pôde contar com investimento federal por conta dos erros e das drogas que os caras tomavam lá na Rússia. É brincadeira?”, conclui Caio.

Suspeitou desde o princípio
Se somarmos os pódios olímpicos da Rússia e da União Soviética na marcha atlética, chegamos à incrível marca de 25 medalhas, oito das quais de ouro. Eles sempre foram o “Dream Team” deste esporte. “A gente já foi muito fã desses russos, porque eles dominam a técnica. A parte psicológica e a dedicação aos treinamentos eram impressionantes”, conta Caio.

De Daegu-2011 para cá, no entanto, a admiração perdeu espaço para a suspeição. Os russos se insurgiram quando a IAAF (sigla em inglês para Federação das Associações Internacionais de Atletismo) determinou que todo competidor que fizesse check in na vila dos atletas teria de se submeter a um exame de sangue, para teste de doping. “Eles adiaram a entrada na vila, só chegaram lá 24 horas antes do início da competição, que é um procedimento fora de todos os padrões”, relembra o brasileiro.

Em Moscou-2013, em casa, os marchadores locais eram minoria, as investigações corriam em segredo para a comunidade internacional, mas já devassavam os atletas russos. “Nós, atletas, suspeitávamos que alguma coisa estava acontecendo, mas eu particularmente nunca soube de nada, claro. E quando você está ali na competição, não dá mais para pensar nisso, é só concentração na prova mesmo. Mas hoje já vejo as coisas fazerem sentido”, diz Caio.

Sorte ou azar
Caio é especialista na prova dos 20km, e conversou com este blogueiro após o treino da tarde quente e seca de segunda-feira, em Sobradinho, Distrito Federal. Acompanhou pela internet o noticiário sobre a possível suspensão da Rússia de todas as competições de atletismo. Inclusive do Rio-2016. E comemorou.

“Tem gente que fica triste que isso esteja acontecendo na marcha atlética, mas eu acho é bom, porque limpa o esporte”, opinou.

E é aí que mora a sorte de Caio Bonfim por viver este momento do atletismo mundial. Sem os russos, suas perspectivas são maiores ainda. Ele foi sexto colocado no Mundial de Pequim, em agosto, e só não foi o melhor brasileiro na competição porque Fabiana Murer pegou a prata no salto com vara. Faturou o bronze no Pan de Toronto-2015, uma das poucas medalhas da seleção nacional da modalidade no Canadá. Nos prognósticos do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), ele é um dos quatro desportistas do país com chance de ir ao pódio no atletismo no Rio-2016. Sem os russos, as chances aumentam.

“Desde a saída dos russos, houve uma diversificada nos países vencedores das principais competições. No Mundial de Pequim foi um espanhol, por exemplo. Melhor para quem compete de forma honesta, como eu, e tantos outros”, comemorou.


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