Com resultados de Pequim, atletismo brasileiro perderia até para o sub-18
Daniel Brito
A delegação montada pelo Brasil para disputar o Mundial adulto de atletismo encerrado no domingo, 30, em Pequim teria dificuldades de se destacar até mesmo no Mundial Sub-18, realizado em julho passado, em Cali, na Colômbia. As marcas foram tão inexpressivas na China que nem contra jovens de 16 e 17 anos os brasileiros conseguiriam ser campeões.
É o caso, por exemplo, dos nossos dois representantes nos 400m. Hugo de Sousa, de 28 anos, e Hederson Stefani, 23, não conseguiriam ser mais rápido que o jamaicano Cristopher Taylor, que ainda vai completar 16 anos em outubro. O atleta do caribe foi campeão mundial na categoria menor com 45s27. Hederson foi nove centésimos mais lento que ele em Pequim, e Hugo, 15.
Nesta mesma prova, no feminino, Geisa Coutinho, 35, estaria fora do pódio do Mundial menor com seu 52s72. Ela foi 50 centésimos mais lenta que a medalhista de bronze em Cali, a britânica Catherine Reid, 17. A campeã entre os jovens foi a baremita Sawa Eid Naser, com 51s50.
Curioso caso dos 800m
Situação pitoresca envolve o desempenho do representante nacional nos 800m no Ninho do Pássaro, Cleiton Abrahão, que completará 26 anos daqui oito dias. Com o tempo de 1min49s79, ele cruzaria a linha de chegada mais de quatro segundos após o Willi Kiplimo Tarbei, nove anos mais jovem, e campeão mundial na Colômbia. O curioso é que o tempo de Abrahão é inferior ao que o brasileiro Luis Fernando Pires, também de 17 anos, fez para conquistar a medalha de bronze nesta competição em Cali.
Assim, o brasileiro que disputou o mundial adulto nos 800m foi mais lento que o atleta que representou o país no mundial sub-18. Mas este, não foi a Pequim.
E a diferença do nível técnico entre os adultos brasileiros e a elite juvenil mundial prossegue em provas como salto em distância e triplo masculino, nos 200m masculino e nas provas com barreiras (embora essas, entre os menores, seja mais baixa).
Poucas exceções
Os únicos brasileiros que não seriam superados por juvenis são aqueles mais experimentados, como Keila Costa, 32, que apesar da 12ª posição em Pequim, com 13m90, não teria problemas contra os menores. E Rosângela Santos, 24, que caiu nas semifinais dos 100m em Pequim com 11s07, marca suficiente para não ser derrotada pelas novatas. Mas nos 200m ela perderia o ouro para a americana Candance Hill, 16, por 44 centésimos.
A comparação dos resultados dos adultos brasileiros com os campeões do Mundial menor só pode ser feita para as provas de pista e nos saltos. Nos eventos realizados no campo, os mais jovens utilizam peso, dardo, martelo e disco com medidas menores que os adultos.
Sem novidade
Esta não é a primeira vez que nossos atletas voltam do Mundial com marcas inferiores aos mais jovens. Há cinco anos, a CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo) dava entrevistas confirmando a diferença do nível técnico e até com um certo tom de resignação.
E está difícil vislumbrar melhoria no nosso material humano até os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Veja qual era a posição da CBAT antes do Mundial de Pequim. “ ''É, sem dúvida, uma prévia para a Olimpíada do Rio'', comentou Antonio Carlos Gomes, superintendente de Alto Rendimento da CBAT.