“Crise no Brasil não afetará Paraolimpíadas no Rio”, diz presidente do IPC
Daniel Brito
Sir Philip Craven, 65, é inglês da cidade de Bolton e está para o esporte paraolímpico assim como o alemão Thomas Bach está para o olímpico. É o presidente do IPC (sigla em inglês para Comitê Paraolímpico Internacional) desde 2001. Ele desembarcou no Brasil nesta semana para participar das festas que marcam a contagem regressiva de um ano até os Jogos Paraolímpicos do Rio-2016.
Cadeirante desde os 16 anos, após acidentar-se durante uma escalada, Craven tornou-se jogador de basquete em cadeira de rodas e defendeu a Inglaterra em cinco edições de Jogos Paraolímpicos. Carrega o título de “Sir” desde 2005, concedido pela Rainha Elizabeth II pelos serviços prestados ao movimento paraolímpico.
Sir Craven está em seu último mandato, que se encerra em 2017. Antes, porém, engrossa o coro segundo o qual Rio-2016 verá a maior paraolimpíada de todos os tempos. E nem mesmo a grave crise pela qual atravessa o Brasil terá influência nos Jogos-2016.
Em entrevista por e-mail ao blog, Sir Craven falou sobre como o IPC está trabalhando ante a crise, a busca por um novo garoto-propaganda para substituir Oscar Pistorius, o problema da despoluição da Baía de Guanabara.
Leia a entrevista abaixo.
BLOG DO BRITO: O Brasil está passando por um grave crise econômica e política. Quais informações o IPC tem a respeito? Teme que isso afete a realização dos Jogos Paraolímpicos?
SIR PHILIP CRAVEN: O IPC está ciente dos problemas no Brasil, mas nós temos muita confiança de que não afetará a preparação para os Jogos Paraolímpicos do Rio, no próximo ano. Estamos a um ano dos Jogos e as coisas estão parecendo muito boas. No próximo mês de setembro estará tudo pronto para a maior edição dos Jogos Paraolímpicos, com 4.350 atletas de 170 países em 22 modalidades. Estamos também muito confiantes que será quebrado o recorde de ingressos vendidos com 3.3 milhões à disposição e uma audiência global acumulada de 4 bilhões de espectadores.
O movimento paraolímpico internacional busca um novo garoto-propaganda para substituir Oscar Pistorius?
O movimento paraolímpico nunca promoveu apenas um atleta e eu acho que isso ficou bem claro nos Jogos de Londres-2012. Depois daqueles Jogos, um terço da população do Reino Unido poderia citar cinco atletas paraolímpicos. Eu acho que no momento nós não temos um atleta com aquele perfil que Oscar tinha, mas há um conhecimento muito maior dos demais atletas que estão aí competindo, muitos dos quais já bastante conhecidos nos seus respectivos países.
De que maneira o IPC está acompanhando a polêmica em torno da despoluição da Baía de Guanabara e o problema das algas da Lagoa Rodrigo de Freitas?
Estamos trabalhando juntos com COI [Comitê Olímpico Internacional], com a OMS [Organização Mundial de Saúde] e as autoridades do Rio de Janeiro, porque saúde e bem estar dos atletas são nossas maiores prioridades. Até o momento, os resultados dos testes mostraram que a água, segundo os padrões da OMS, está apta para sediar eventos esportivos. E de hoje até os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, muito mais será feito para limpar a Baía de Guanabara e deixá-la pronta para atividades esportivas.
Você poderia dar uma nota para a preparação do Rio de Janeiro para receber os Jogos Paraolímpicos em 2016?
Acho que a preparação está muito boa, mas ainda há muito a fazer nos próximos 365 dias. O trabalho duro começa agora, com diversos eventos-chave vindo por aí. Terei um quadro mais detalhado daqui uma semana, porque vou visitar todos os locais de competição. As coisas parecem estar indo bem e dois fatos novos me deixaram bastante confiantes para o Rio-2016. Os brasileiros foram muito bem nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto-2015, confirmando que eles são fortes postulantes a ficar entre os cinco maiores no Rio-2016. E um recente vídeo divulgado pelo Rio-2016 mostrando a reação do público com as habilidades apresentadas pelos atletas paraolímpicos praticando atividades esportivas em uma academia. O fato de milhões de pessoas terem visto isso em um período curto de tempo mostra que há um desejo grande por mais esportes para pessoas com deficiência.
Foto: Marcio Rodrigues/CPB/MPIX