“Um pouco de diarreia vale uma medalha olímpica”, diz atleta dos EUA*
Daniel Brito
A ex-nadadora Rebeca Gusmão, hoje modelo fotográfica, gosta de repetir uma história que ouviu quando treinava natação nos Estados Unidos, lá pelos idos de 2006-2007. Segundo ela, às vésperas de Sydney-2000, foi feita uma pesquisa com os atletas na Vila Olímpica com a seguinte pergunta. “Se você pudesse tomar uma substância que o fizesse ganhar a medalha de ouro olímpica mas no dia seguinte você morresse sem ser flagrado no antidoping, ainda assim consumiria este produto?”. Segundo Rebeca, “mais de 80% dos atletas disseram que sim, que tomariam esse produto”.
Buscando na internet, nunca encontrei referências a respeito desta pesquisa, nem a origem, o embasamento científico, a metodologia, etc…
Mas, neste final de semana, após ler o que disse o nadador de maratona aquática dos Estados Unidos, Chip Peterson, sobre as águas de Do Rio de Janeiro, lembrei da tal pesquisa que Rebeca sempre cita em suas entrevistas.
Questionado sobre a preocupação dos atletas em competir em uma água que pudesse ocasionar doenças, em reportagem especial feita pela ESPN dos Estados Unidos, Peterson foi a mais sincera que já li e ouvi neste caminho até os Jogos do Rio-2016. Senão, vejamos:
“Eu acho que o consenso entre os atletas é que mesmo que eles contraiam alguma doença, provavelmente não será algo para mudar sua vida ou que lhe porá em risco de perder a vida. Um pouco de diarreia vale a medalha de ouro olímpica. É o que eu ouço dos atletas por aí”, afirmou Peterson em entrevista ao jornalista Tom Farrey.
Está bem claro que Peterson não é tão fatalista como a “pesquisa” lembrada por Rebeca Gusmão, que não parece que alguém queira morrer por uma medalha. Mas que o esforço e a coragem de encarar o mar do Rio e tudo o que há nele talvez sejam recompensados com o pódio olímpico.
Ele próprio, Chip Peterson, já sofreu com a poluição das águas cariocas. Após o Pan-2007, voltou para casa com a medalha de prata no peito na maratona de 10km, e uma colite ulcerosa, que provoca episódios intermitentes de dor abdominal, diarreia, febre e hemorragia. Recuperou-se após algumas semanas. ''Não dá para saber se foi contraída em outro lugar, mas acredito que o raio não cairá duas vezes no mesmo lugar'', disse à ESPN.
Mas sua companheira de delegação dos EUA naquele Pan, Kalyn Keller não teve a mesma sorte. Ela terminou na quarta posição na prova de 10 km e depois, segundo Bob Bowman, técnico dela à época, foi diagnosticada com a doença de Crohn, um problema inflamatório intestinal, o que precipitou o fim da carreira de Keller, no ano seguinte ao Pan do Rio.
Peterson já voltou ao Rio e a Copacabana após 2007. No final de 2015, por exemplo, ganhou a prova de dupla do “Rei e Rainha do Mar”. Neste mesmo ano, sagrou-se campeão do Pan de Toronto.
* Atualização: Como bem observou o Coach Alex Pussieldi no comentário, abaixo, Chip Peterson não tem vaga para disputar a maratona aquática no Rio-2016. Obrigado pela leitura e participação no blog, Coach.