Por que o revezamento da tocha paraolímpica não vai ao encontro do povo?
Daniel Brito
A chama paraolímpica começa a circular hoje em Brasília, a partir das 9h30. Até o revezamento da tocha desembarcar no Rio em 6 de setembro, véspera da cerimônia de abertura, o fogo paraolímpico terá cruzado com muito menos gente do que o olímpico. E isso não tem relação com distâncias percorridas. Mas pelos locais por onde passará.
O Comitê Organizador dos Jogos-2016 tomou a decisão de concentrar o revezamento da tocha em centros de reabilitação e/ou entidades que assistem a pessoas com algum grau de deficiência. No Distrito Federal, por exemplo, ponto de partida da chama, o governo local anunciou: “O Parque da Cidade é o local mais indicado para quem quer ver de perto o revezamento, já que a maior parte dos outros locais continuará com as atividades ocorrendo normalmente”.
Festa em estacionamento do parque
Não haverá desfile nas ruas, não haverá contato com a população, que poderia até servir como uma forma de divulgação dos Jogos Paraolímpicos, que ainda se esforça para bater a meta de vender pelo menos dois milhões de ingressos para as disputas a partir de 7 de setembro, no Rio. A única oportunidade de proximidade entre andantes ou videntes com a tocha paraolímpica será no ponto de partida do revezamento, que no caso de Brasília, será em um estacionamento do Parque da Cidade.
Bem diferente da tocha olímpica, que desceu de rapel, canoa havaiana, até cadeira de rodas dentro de uma piscina de água natural, percorrendo intermináveis 130 quilômetros dentro do quadrilátero federativo, em 3 de maio.
Ou seja, em vez de levar a tocha paraolímpica a pontos turísticos, até como uma prova de que há um mínimo de acessibilidade para que as pessoas com deficiência possam usufruir de todos os espaços da cidade, o Comitê Rio-2016 levou a chama para locais nos quais a maioria já tem alguma relação com o paraolimpismo e o esporte para pessoas com deficiência, que são as instituições de atendimento a esta parcela da sociedade e aos centros de reabilitação.
Evitando pontos turísticos em todas as cidades
Além do Distrito Federal, o símbolo dos Jogos Paraolímpicos vai passar por Belém do Pará, Natal, no Rio Grande do Norte, Joinville, Santa Catarina, São Paulo, e, por fim, Rio de Janeiro, quando, aí sim, circulará pelos pontos mais famosos da cidade. As demais cidades sedes do revezamento têm roteiros semelhantes aos de Brasília – evitando pontos turísticos
Na quarta-feira, 31, a Folha de S.Paulo publicou o manifesto com críticas ao trajeto. ''Nossa preocupação é com o fortalecimento do conceito de inclusão, que se contrapõe a essa ideia do revezamento interno em instituições de atendimento –o que causaria associação direta da imagem de 9 milhões de paulistas com algum tipo de deficiência à doença e ao assistencialismo''. A carta é assinada por representantes da secretaria Estadual de Direito às Pessoa com Deficiência e do Comitê Paraolímpico Brasileiro.
O Rio-2016 reconhece que há poucas oportunidades nos trajetos do revezamento paraolímpico para passagens em locais turísticos, ou icônicos, como citou Mario Andrada, diretor de comunicação dos Jogos-2016. Muito pelo período do ano em que será realizado o evento, parte, também, pelo formato. “Neste época já não há a mesma flexibilidade de promover alterações no trânsito. Além disso, a tocha paraolímpica tem uma pegada um pouco mais formal. Mas em Belém, Natal e São Paulo, nós estamos tentando criar alternativas para levar a tocha a locais icônicos para termos oportunidade de fotos”, explicou Andrada.
Questionado se o percurso do revezamento evita o contato com o público nas ruas por motivos de segurança, o diretor da Rio-2016 disse que não há qualquer relação com este fato, e o esquema de escolta e proteção da tocha e dos condutores mantém-se tal qual ocorrera no revezamento olímpico.