Ela ganhou o ouro na Rio-16 mesmo estando grávida. E não sabia
Daniel Brito
Agora que a poeira já baixou, a adrenalina já foi gasta, no conforto de casa, Silvânia Costa, 29, garante que não teria disputado os Jogos Paraolímpicos do Rio-2016 se soubesse que estava grávida. E ela não sabia, mas naqueles dias de setembro já carregava no útero João Guilherme, seu segundo filho, que deve nascer em março próximo.
Por sorte, ela não só participou da Paraolimpíada como deu uma medalha de ouro para o Brasil no salto em distância na classe entre atletas totalmente cegos. Pódio inédito para o país, um dos 14 que ajudaram os anfitriões a chegar ao 8º lugar no quadro na Rio-16.
“Na época dos Jogos Paraolímpicos, eu não sentia nada. Não tinha enjoo, que é comum no início da gravidez, não tinha aumento de peso, pelo contrário, estava até mais magra”, conta ao blog Silvânia.
Ela relata que seus ciclos menstruais são irregulares, por isso não tinha pista que havia pouco mais de um mês gestava um filho – o segundo, já que há 11 anos é mãe da Leticia Gabriella. “Tinha planos de ter um segundo filho após as Paraolimpíadas. Se eu soubesse antes da competição que estava grávida, não teria disputado, não arriscaria”, garante.
A gravidez só foi notada mais de 15 dias após o fim da competição, nas curtas férias que desfrutou em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, cidade de 100 mil habitantes a 860 quilômetros da capital, Campo Grande. “Comecei a perceber meus seios maiores e me assustei. Fiz o teste e não deu outra. Estava grávida mesmo, fiquei assustada pensando nas datas, se algo poderia ter acontecido com o bebê pelo esforço que fiz durante a Rio-16”.
Silvânia tem uma enfermidade chamada Doença de Stargardt, na qual a visão vai regredindo com o passar dos anos. Seu irmão mais velho, Ricardo, também tem a mesma doença e, coincidentemente, foi campeão paraolímpico no Rio-16 também na classe entre atletas totalmente cegos no salto em distância. Os dois começaram a participar de atividades esportivas em Três Lagoas ainda na adolescência, em um projeto social.
Silvânia está realizando todos os exames pré-natal e João Guilherme está saudável. Competir grávida não causou dano algum à saúde nem da mãe e nem do bebê. Ela até brinca e diz que o pequeno já nascerá campeão paraolímpico. Em dezembro, foi eleita a atleta do ano em premiação realizada pelo CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro).
E ela ainda acredita que poderá disputar o Mundial de atletismo paraolímpico, em julho em Londres, no mesmo estádio que recebeu os Jogos-2012, no norte da capital inglesa. “E o João Guilherme vai comigo, quem sabe?”, provoca.