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Zimbábue dá W.O. e mesmo assim consegue vaga olímpica no futebol feminino
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Daniel Brito

Guerreiras Poderosas do Zimbábue comemoram feito inédito no estádio em Harare (Crédito: divulgação)

Guerreiras Poderosas do Zimbábue comemoram feito inédito no estádio em Harare (divulgação)

Elas se auto-intitulam “Mighty Warriors”, as Guerreiras Poderosas do Zimbábue. E entraram para a história do futebol feminino neste final de semana ao se classificarem para os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Venceram Camarões, em Harare, capital zimbabuana, por 1 a 0 e carimbaram o passaporte. Trata-se da primeira equipe na história do Zimbábue a garantir vaga, na bola, em uma edição dos Jogos.

Até então, o país havia sido representado uma única vez em esportes coletivos em olimpíadas: com o hóquei na grama feminino em Moscou-1980. Foram como convidadas e incrivelmente sagraram-se campeãs olímpicas, em uma edição marcada pelo boicote de países alinhados aos Estados Unidos.

Resta saber como e, principalmente, se as Guerreiras Poderosas do sudeste africano conseguirão desembarcar no Rio em agosto próximo.

Zimbábue é uma das nações mais pobres do mundo. Ocupa o 156º na lista do IDH ([Índice de Desenvolvimento Humano) entre 187 – o Brasil ocupa o 79º posto. Desde 1980, é presidida por Robert Mugabe, o mais longevo dos ditadores vivos. A moeda oficial tem valor irrisório. Para se ter uma ideia, US$ 1 equivale, aproximadamente, 35 quatrilhões (sim, quatrilhões) de dólares locais.

Calotes em série
A seleção de futebol feminino teve dificuldades para completar a campanha pré-olímpica. Em julho, por exemplo, as Guerreiras Poderosas faltaram ao compromisso contra a Costa do Marfim, pela terceira fase do Eliminatória para o Rio-2016. Motivo? Falta de dinheiro.

A história recente do país no futebol é toda marcada pelos calotes e falta de dinheiro. O time sub-20 deixou de comparecer a uma rodada da Copa Africana da faixa etária em Angola e foi suspenso por três anos. O mesmo ocorreu com a seleção sub-17, que não foi ao Congo Brazzaville, em 2012.

Zimbábue está fora das Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia-2018 por causa do cano que deu no técnico brasileiro Valinhos, que treinou a equipe de 2008 a 2010. Ele não atingiu o objetivo exigido por Mugabe, de classificar o país para a Copa do Mundo-2010 e/ou para a Copa Africana de Nações-2010, em Angola.Valinhos, então, acionou a Fifa e obrigou a Zifa (sigla em inglês para Associação de Futebol do Zimbábue) a quitar o débito, caso contrário, seria excluída das Eliminatórias-2018.

E foi o que ocorreu.

Os zimbabuanos não disputam vaga para Rússia-2018.

W.O. ainda dá a classificação
As Guerreiras perderam de W.O. para Costa do Marfim porque promoveram um boicote contra a Zifa. Elas combravam cerca de US$ 500 (R$ 2 mil) )pela vítória sobre Zâmbia na fase anterior, mas, depois de muito protesto, os cartolas da Zifa deram apenas US$ 100 (R$ 400). O time masculino também aderiu ao movimento.

Mesmo perdendo por W.O., a CAF (Confederação Africana de Futebol) pôs as zimbabuanas na última fase do pré-olímpico, porque as marfinenses declararam-se sem recursos financeiros para seguir adiante na disputa.

Assim, as Guerreiras Poderosas ficaram com a vaga da Costa do Marfim e mobilizaram a imprensa para arrecadar dinheiro. O objetivo era atravessar o continente e tentar a vaga para o Rio-2016 contra a temida Camarões. No jogo de ida, em Yaounde, capital camaronesa, vitória das anfitriãs por 2 a 1. Na volta, nesse final de semana que passou, vitória das “Mighty Warriors” por 1 a 0. Classificação histórica por causa do gol fora de casa.

Os jornais zimbabuanos exaltam o triunfo. Foi apenas a segunda vitória da seleção contra Camarões na história do futebol do país em qualquer categoria.

Dube é acusado de desviar dinheiro do sistema de saúde pública do Zimbábue: era presidente da Zifa havia 4 anos

Dube é acusado de desviar dinheiro da saúde pública do Zimbábue: presidia a Zifa havia 4 anos (divulgação)

Cartola do ditador renuncia
Para completar a boa onda do futebol local, Cuthbert Dube, presidente da Zifa, anunciou renúncia do cargo. Ele permaneceu por quatro anos na gestão da confederação, que no Zimbábue está diretamente relacionada ao governo Mugabe. Os cartolas ocupam cargos de confiança e são indicados pelo ditador.

Dube sai do posto alegando ter investido mais de US$ 1 milhão do próprio bolso no esporte local. A oposição alega que este dinheiro é proveniente da serviço público de saúde, do qual Dube saiu para exercer a presidência na Zifa.

O fato é que ele, diferentemente das Guerreiras Poderosas, não estará no Rio-2016. Não como presidente da federação de futebol do Zimbábue.


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