Etíope que protestou na Rio-16 faz prova com final eletrizante nos EUA
Daniel Brito
<!– fim: modflash —>O etíope Feyisa Lilesa, 26, e o Leonard Korir, 30, queniano naturalizado americano, chegaram a trocar empurrões a menos de cinco metros da linha de chegada da meia-maratona de Houston, realizada no último domingo, dia 15.
Um final eletrizante após os 21 quilômetros, que culminou com o ouro de Korir e a prata de Lilesa. Ambos cumpriram a distância em 1h01min14s, a diferença foi de centésimos, o que, em uma meia-maratona é algo incomum.
Lilesa, que lideoru boa parte da prova, poderia ter suportado a pressão de Korir, mas, ao ser ultrapassado a poucos metros do fim, preferiu diminuir o ritmo e cruzar a linha final com um gesto que ficou famoso na maratona olímpica na Rio-2016: cruzou os punhos, cerrados, em frente à testa.
É um protesto contra o governo da Etiópia, que persegue a etnia Oromo, da qual Lilesa e outros 38 milhões de etíopes fazem parte. O grupo, de maioria cristã, é um povo agrícola e semi-nômade, cuja história é marcada por problemas políticos com o governo. Com 38 milhões de pessoas, constituem cerca de 40% da população do país.
De acordo com a ONG Human Rights Watch, a Etiópia vive, desde o final de 2015, uma série de protestos contra a desapropriação de terras do povo Oromo como parte de um plano nacional de desenvolvimento. Em uma das ações do governo contra os Oromo, mais de 100 pessoas foram mortas, segundo relatos de organismos internacionais que atuam na Etiópia.
O caso ganhou as manchetes após Lilesa concluir a maratona olímpica da Rio-16 cruzando os punhos cerrados sobre a cabeça, na segunda colocação. Foi tão marcante que ele é mais lembrado do que Eliud Kipchoge, queniano que ficou com o ouro.
“Não me arrependo do que fiz no Rio”, disse, há pouco mais de 10 dias, Lilesa à BBC.
Após o fim dos Jogos Olímpicos, o etíope recusou-se a embarcar de volta para seu país, alegando correr risco de ser assassinado pelo governo. Ele garante que sua mulher e os dois filhos só não foram mortos por causa da repercussão de seu gesto. “É muito duro estar longe deles, mas mais difícil ainda é a situação dos Oromo”, afirmou.
Semanas após a Rio-16, Lilesa conseguiu um visto especial por habilidade para viver por um período determinado nos Estados Unidos. A Embaixada norte-americana em Brasília o ajudou na tarefa, de acordo com o Guardian,Já correu a maratona de Honolulu, no Havaí, e terminou em quarto. Agora, ficou com a prata na meia-maratona de Houston, no Texas.
“Minha família só não morreu porque meu caso ganhou muito destaque na imprensa internacional”, disse Lilesa. O visto americano venceria em janeiro, se não renovar, ele terá de voltar à Etiópia, ou tentar viver e treinar para maratonas em outro país. “Enquanto o meu visto americano estiver valendo, eu fico aqui. Vou tentar renová-lo”, afirmou à BBC.