Banimentos e desistências dão clima de anos 1980 aos Jogos Rio-2016
Daniel Brito
Saiu com pouco destaque na imprensa brasileira o banimento da equipe da Bulgária de levantamento de peso dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Decisão tomada após 11 atletas, sendo oito homens da delegação do país, testarem positivo para o anabolizante estanozolol, o mesmo do velocista canandense Ben Johnson.
Evitou o constrangimento pelo qual os búlgaros passaram em Sydney-2000, quando a equipe foi flagrada durante os Jogos, teve de devolver as medalhas e foi mandada de volta para casa.
Também passou despercebido no noticiário a sanção do COI (Comitê Olímpico Internacional) ao Kuwait, por interferência governamental na estrutura esportiva do país. Pode até haver kuwaitianos disputando os Jogos-2016 mas não sob a bandeira de seu país, banido do Rio.
Nas últimas duas semanas, os Jogos do Rio-2016 sofreu importante baixa no atletismo. A suspensão à Rússia, por fraudar exames e resultados de controle de dopagem. O Quênia, uma potência, também pode ser sancionada por motivo semelhante.
Afora esses casos, há as frequentes desistências de astros do esporte mundial, como Stephen Curry e até mesmo Messi. Um ciclista americano, um boxeador russo, um tenista australiano, um futebolista sueco, quase metade do Dream Team de basquete, os principais golfistas do circuito mundial, um basquetebolista lituano, um tenista espanhol…E quantos outros atletas anônimos.
E os motivos são diversos: desde o já conhecido discurso de “descanso”, lesão até as especificidades dos Jogos do Rio-2016, como preocupação com segurança, doenças tropicais como zika vírus e dengue ou mesmo insatisfação com o regulamento – que é o caso do boxe.
Havia muito não se noticiava tantas ausências em uma só edição olímpica.
Talvez seja o caso de rememorar os Jogos de mais de três décadas atrás. Lembrar de Moscou-80 e Los Angeles-84, época em que a geopolítica mundial era polarizada. A decisão dede participar ou não era política e não esportiva.
Tanto é verdade que muitos atletas olímpicos americanos tentaram se voltar contra a decisão unilateral do então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, de proibir a participação do país em Moscou-80. Obviamente, faltou-lhes força política para bater de frente com Carter. Sessenta e cinco países abriram mão de competir na capital da então União Soviética, há 36 anos.
Quatro anos mais tarde foi a vez do bloco soviético adotar a política da reciprocidade. Angariou 15 aliados, que recusaram-se a enviar competidores a Los Angeles-84.
A partir de Seul-88 até Londres-2012, Jogos Olímpicos foram sinônimos de celebração e excelência esportiva. Em geral, o período que antecede aos Jogos é repleto de ansiedade por parte das estrelas olímpicas e dos potenciais medalhistas. Eles são tomados por aquela inquietação de quem se considera pronto para vencer.
E que difere um pouco do clima instaurado no Brasil nesta reta final antes da Rio-16. A inquietação agora é outra.
É claro que as proporções dos boicotes da década de 1980 são muito maiores do que os casos de desistências ou suspensões que pipocam aqui e acolá em frequência diária. Mas é inevitável sentir o sabor agridoce de receber o maior evento esportivo do planeta sem necessariamente contar com alguns dos maiores da atualidade.
A propósito, enquanto este texto estava sendo escrito, mais um atleta anunciou desistência: o golfista norte-irlandês Rory McIlroy, numero 1 do ranking mundial, temendo contrair o vírus zika no Rio.
Quem será o próximo a desistir? Ou os próximos banidos?