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Arquivo : Pelé

A emoção de ser escolhido em cima da hora para acender a pira olímpica
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Daniel Brito

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 05: Former athlete Vanderlei de Lima carries the Olympic Torch during the Opening Ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at Maracana Stadium on August 5, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Clive Mason/Getty Images)

Vanderlei Cordeiro de Lima minutos antes de acender a pira no Maracanã (Clive Mason/Getty)

Vanderlei Cordeiro de Lima, 47, saiu do quarto em que estava hospedado no Rio de Janeiro, no final da manhã do 5 de agosto, com a missão de ser mais um dos centenas de porta-bandeiras que participariam da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos-2016. Mais de 12 horas depois estava de volta ao seu quarto como protagonista daquela noite histórica no Maracanã, sem que nem ele mesmo esperasse por isso. Vanderlei relatou os acontecimentos neste pedaço de tempo ao blog na última quarta-feira, 9, em Brasília.

E são, realmente, incríveis.

“Rapaz, contando ninguém acredita”, começou a relatar Vanderlei, usando da força de expressão com seu sotaque característico do interior do Paraná.

Ele seria um dos porta-bandeira, ao lado do iatista paulista Robert Scheidt, no momento do juramento do atleta. “Eu estava pronto para isso, saí de ‘casa’ certo disso. Saímos por volta de meio-dia para o Maracanã. Chegando lá, mudou tudo”.

Vanderlei foi abordado por diretores do Comitê Organizador Rio-2016 por volta das 14h, quando estava concentrado para sua missão de porta-bandeira. “Os caras lá me disseram que eu acenderia a pira, eu disse que tudo bem. Daí foi uma correria, pra encontrar tênis do meu tamanho, bermuda, camisa, a roupa toda. Porque eu percebi que eu não seria a pessoa inicialmente escolhida para acender a pira olímpica do Maracanã”.

De fato, o primeiro nome na lista era o de Pelé. Embora tenha zero ligação com o movimento olímpico, Pelé é o maior esportista ainda vivo no Brasil e a homenagem era esperada. Problemas de saúde, contudo, fizeram com que o próprio Rei declinasse do convite.

“Tinham uns quatro ou cinco nomes que poderiam acender a pira. Acho que um deles poderia ser eu. Mas confesso que estava sem expectativa nenhuma. Eu estava lá, quietinho no meu lugar, vieram falar comigo. Quando me contaram, fiquei normal. Eu disse: ‘tá, tudo bem’. Aí, rapaz, vai passando 30 minutos, uma hora, vai caindo a ficha. Só aí que eu fui tomando conhecimento da dimensão da coisa. Um frio na barriga que nossa senhora. Uma hora lá eu me peguei pensando: “Será que sou eu mesmo?”, relembrou Vanderlei.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 05: The Olympic Cauldron is lit by the final torch bearer and former marathon runner Vanderlei Cordeiro de Lima during the Opening Ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at Maracana Stadium on August 5, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by David Rogers/Getty Images)

Vanderlei ensaiou o acendimento da pria disfarçado horas antes da cerimônia (David Rogers/Getty)

O maratonista, medalha de bronze em Atenas-2004, condecorado com a medalha Barão Pierre de Coubertin do COI (Comitê Olímpico Internacional), esteve fora de cogitação na bolsa de apostas informal sobre quem acenderia a pira na ausência de Pelé. O Comitê-2016 avisara que aqueles atletas que haviam conduzido a tocha durante o longo (e sinuoso) revezamento pelo Brasil estavam descartados. A alegação – que caiu por terra mais tarde – era de que só seria permitido carregar o fogo olímpico uma única vez. Vanderlei o fizera, em momento de grande emoção, dentro da belíssima Catedral Metropolitana de Brasília, desenhada pelo ateu Oscar Niemeyer, em 3 de maio, data do desembarque da chama no Brasil, vinda da Grécia, após escala na Suíça.

O nome mais cotado para protagonizar a cena no 5 de agosto era o do tricampeão de Roland Garros, Gustavo Kuerten. “Quem me escolheu para acender a pira foi o Comitê Olímpico Internacional, não foi o Comitê Rio-2016. Sabe como que eu fiquei sabendo? Fui percebendo, ouvindo aqui e ali, vendo o movimento do povo para organizar tudo”, disse Vanderlei, dando um passo adiante em minha direção, quase que dando um tom de confidência.

“No meu ponto de vista, posso até estar errado, aconteceu o seguinte: o COB [Comitê Organizador Rio-2016] escolheu o Guga. Tudo bem, ele merece, gente boa, grande atleta, nosso campeão. Mas aí veio lá o Comitê Olímpico Internacional e disse: ‘Ó’”, emendou o maratonista, apontando para si. “Sabe por quê? Porque Guga levou a esposa, o filho, família toda para o Maracanã, tudinho lá para ver ele acendendo a pira. Mas essa questão da minha roupa também, sabe? Não tinha nada, nada [preparado]. Eu deveria ter sido um porta-bandeira do juramento do atleta, junto com Scheidt. Saí do meu quarto de manhã para para fazer isso à noite, uai.”

Há um outro indicativo de que Vanderlei havia sido escolha de última hora. Antes de o Maracanã abrir para o público, no meio da tarde do 5 de agosto, ele foi levado ao estádio. Cobriram-lhe da cabeça aos pés para não ser identificado por quem trabalhava nos outros setores da montagem da cerimônia de abertura, e fizeram um mini-ensaio de acendimento da pira. Nos dias anteriores, não era ele a figura que ensaiara este gesto, o ponto alto do evento. “Faltavam umas duas horas para a abertura dos portões. Não tinha ninguém lá dentro, mas me cobriram todinho, e eu todo camuflado ensaiando lá.”

Seis horas mais tarde, lá estava Vanderlei Cordeiro de Lima recebendo a tocha olímpica de Hortência e subindo os degraus até a pira, tal qual treinara escondido no meio da tarde. “Eu queria curtir ao máximo. Na hora que você vê toda a vibração, aquela comoção geral…nossa senhora. Ali eu fiquei pensando: ‘Rapaz, eu não estou representando só um esporte, eu estou por uma nação inteira agora’. Vou te falar, viu, uma hora lá eu sentia toda o Maracanã pulsando. Que momento, rapaz, gratificante demais”, relatou Vanderlei.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 05: Former athlete Vanderlei de Lima reacts after lighting the Olympic Cauldron during the Opening Ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at Maracana Stadium on August 5, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Paul Gilham/Getty Images)

Vanderlei Cordeiro de Lima: “Senti o Maracanã pulsando” (Paul Gilham/Getty)

Epílogo
Vanderlei havia recebido a promessa de guardar e levar para casa a tocha  utilizada para acender a pira no Maracanã. Mas tão logo saiu de cena na cerimônia de abertura, lhe tomaram da mão.  “Quando terminou a abertura, tiraram a tocha de mim alegando que tinham que acender a pira lá no Boulevard Olímpico. Na verdade, poderia ser outra tocha e não aquela que eu acendi no Maracanã. Mas uma pessoa da Rio-16 me disse: ‘Fica tranquilo, Vanderlei, que a tocha vai, mas volta para suas mãos’. Nunca voltou, mas não vem ao caso, deixa para lá”, tentou desconversar. Uma outra tocha estava nas mãos do jovem atleta da Mangueira que acendeu a pira no Boulevard, próximo à Candelária, no Centro do Rio.

Mas isso não foi o suficiente para o maratonista receber de volta seu exemplar histórico.

A tocha utilizada por Vanderlei Cordeiro de Lima para acender a pira no Maracanã foi arrematada por mais de R$ 300 mil no leilão oficial da Rio-2016 para um colecionador chinês. “Disseram-me que a minha tocha iria para leilão da Rio-2016, tudo bem, esquece isso, eu abracei a causa”, contou, resignado.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - SEPTEMBER 18: The flame is lowered prior to being extinguished during the closing ceremony of the Rio 2016 Paralympic Games at Maracana Stadium on September 18, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Atsushi Tomura/Getty Images for Tokyo 2020)

(Atsushi Tomura/Getty Images for Tokyo 2020)


CPI do Futebol esquece Pelé e vota investigação da venda de direitos de TV
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Daniel Brito

Reprodução

Reprodução da página da Interpol na internet com informações sobre Margulies: “Procurado da polícia”

A CPI do Futebol no Senado pode entrar no rumo das investigações de compra e venda de direitos de transmissão de TV. Na sessão desta quarta-feira, 23, os parlamentares colocarão em votação o requerimento do presidente da Comissão, Romário (PSB-RJ), de quebrar o sigilo de José Margulies, também chamado de José Lázaro.

Ele é um dos 14 citados na investigação do FBI que ocasionou na prisão de sete dirigentes, entre os quais José Maria Marin, que está na cadeia em Zurique até hoje. Lázaro foi indiciado por quatro acusações: extorsão, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. As denúncias foram feitas com base nas alegações de que ele, como um executivo de TV, ajudou a organizar os pagamentos ilegais entre os executivos de marketing e oficiais de futebol.

Nesta entrevista, no início do mês, ele deu a entender que “facilitou” negociações para compra e venda de direitos de transmissão. Margulies é argentino de nascimento, mas cidadão brasileiro desde 1973, está no Brasil desde a eclosão da crise na Fifa, em maio, e frequentando seu escritório, em São Paulo.

Se o requerimento de Romário for aprovado, a CPI, finalmente, entra no tema, que esteve ao largo da pauta desde a instalação da comissão, em agosto. Foi por causa de negociação de direitos de transmissão que a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na Klefer Marketing Esportivo, de propriedade de Kléber Leite, ex-presidente do Flamengo, responsável por, entre outras coisas, negociar os direitos de transmissão da Copa do Brasil e das eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.

Há outros oito itens na pauta da CPI desta quarta-feira, entre eles o pedido de Paulo Bauer (PSDB-SC) para que a Comissão tenha acesso aos dados bancários e fiscais de José Maria Marin. Será votada também o pedido de convocação, feita por Romário, do atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero e o ex-presidente Ricardo Teixeira.

A pauta das duas semanas anteriores, uma audiência pública para ouvir Pelé e outros craques do passado, que nunca foi realizada, está sem previsão de remarcação.

Propina por direitos de transmissão
Em uma das conversas gravadas que fizeram parte da investigação do FBI no caso, o empresário J. Hawilla negocia com Marin, detido desde o final de maio em Zurique, a distribuição de R$ 2 milhões de propina relacionada aos direitos de transmissão da Copa do Brasil. Esse dinheiro seria um acordo de pagamento anual ao dirigente, segundo revelou a Justiça dos EUA.

O FBI divulgou o conteúdo da conversa, gravada pelo empresário. “Quando [Hawilla] perguntou se era realmente necessário continuar pagando propinas para seu antecessor na presidência da CBF, Marin disse: ‘Está na hora de vir na nossa direção. Verdade ou não?’.Hawilla concordou e disse: “Claro, claro. O dinheiro tinha de ser dado a você [ou vocês]’. Marin concordou: “É isso”.

Há a suspeita de que o autal presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente, Ricardo Teixeira, tenham recebido propina nesta participação, embora o processo não dê nome aos envolvidos que não estão presos como Marin. Del Nero nega que tenha embolsado qualquer quantia de suborno.

Os direitos de transmissão da Copa do Brasil pertencem à Globosat, uma das principais empresa das organizações Globo, da qual faz parte o canal a cabo Sportv. O grupo tem acordo com a TV Bandeirantes e a ESPN Brasil para exibição do certame, mas sobre nenhuma dessas há indícios de que possam ser investigadas.


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