Blog do Daniel Brito

Arquivo : Philip Craven

Punição à Rússia causa constrangimento entre paraolímpicos e COI
Comentários Comente

Daniel Brito

image

Ferve em fogo brando a longa relação entre COI (Comitê Olímpico Internacional) e IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês), desde que as duas entidades deram destinos diferentes à Rússia, acusada de manter um largo esquema de doping com apoio do governo. Enquanto os olímpicos terceirizaram a responsabilidade para as federações internacionais decidirem sobre a  participação de russos nas Olimpíadas-2016, os paraolímpicos baniram completamente da Rio-16 a delegação do país. E mais: os excluíram dos Jogos de inverno de PyeongChang-2018.

Aos olhos da crítica internacional, ficou clara uma posição de antagonismo dos dois parcerios. O COI afrouxou as rédeas que o IPC manteve curta no relacionamento com a Rússia, uma potência não só esportiva como geopolítica. Os elogios foram para o IPC e as críticas, ao COI.

Criou-se um constrangimento

Em vez de apagar a fogueira da vaidade, o COI borrifou o fogo com querosene: anunciou que o alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, não virá ao Rio para a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos. Desde Seul-1988, o presidente do COI prestigia a inauguração das Paraolimpíadas.

A justificativa de Bach é de que participará do funeral de Walter Scheel, que morreu aos 97 anos em 24 de agosto – portanto, há duas semanas -, em Berlim. Scheel foi presidente da Alemanha Oriental de 1974 a 1979. Em substituição a Bach virá o sul-africano Sam Ramsamy, membro do COI há 21 anos.

“Lamentamos que o presidente [Thomas Bach] não possa vir, mas entendemos que houve um imprevisto na Europa. Estivemos em contato com ele desde que os Jogos Olímpicos terminaram e esperamos vê-lo no Brasil o mais cedo”, disse Mario Andrada, diretor de comunicação do Comitê Rio 2016.

Craig Spence, diretor de comunicação do IPC, garantiu em entrevista ao blog que não há atrito polítivo entre as organizações, e que a decisão da entidade para qual atua foi avalizada pelo TAS (Tribunal Arbitral do Esporte). “O TAS disse que, embora as duas entidades tratem de esporte, é compreensível a decisão de cada uma delas, porque atendem às suas respectivas particularidades. Não há  conflito algum em nossas decisões”, disse Spence ao blog.

O desgaste políticos entre ambas as partes chega em um momento importante do relacionamento entre COI e IPC. Em junho, antes de toda a polêmica, as duas entidades deram início a um acordo para que Jogos Olímpicos e Paraolímpicos continuem sendo realizados na mesma cidade, como ocorre desde Seul-1988, com um evento seguido do outro. Atualmente, o contrato entre eles está confirmado somente até Tóquio-2020. Em junho, foi assinado um memorando de entendimento que define os princípios para um novo acordo de longo prazo entre as organizações até os Jogos de 2032. Mas pouco está decidido.

É improvável que, por causa da Rússia, as duas partes venham a desfazer negócio, contudo, novas bases desse acordo serão feitas sob o som das críticas contra o COI. E isso pode causar alguns prejuízos, principalmente financeiro, aos Jogos Paraolímpicos, que não têm a mesma força comercial dos Olímpicos, para as edições posteriores a Tóquio-2020.


Mais de 70% dos atletas paraolímpicos dizem ter sofrido com preconceito
Comentários Comente

Daniel Brito

22391407375_bf71d77864_z

Flavio Reitz é amputado da perna esquerda e disputa salto em altura (Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Uma pesquisa inédita mostrou que 71% dos atletas paraolímpicos do Brasil já sentiram-se alvo de preconceito social. E grande parte ocorre nas ruas. Mulheres de 20 a 29 anos nas regiões Norte e Centro-Oeste foram as que mais se queixaram de rejeição. O resultado dessa consulta vem a público às vésperas do maior evento esportivo para pessoa com deficiência já realizado na América Latina. Em 7 de setembro será realizada a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016, no Maracanã.

A apuração foi realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o gabinete do senador Romário (PSB-RJ), relator do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Senado, e apoio do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro).

O DataSenado entrevistou por telefone 888 paratletas de todo o país. A margem de erro da pesquisa é de 3%, e o nível de confiança, 95%. A base de dados com o cadastro dos paratletas foi cedida pelo CPB, parceiro na iniciativa da pesquisa Entre os consultados, 12% participarão dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016.

Preconceito é um tema recorrente na promoção do evento que se inicia nesta quarta-feira, 7. Em 2015, o Comitê Organizador lançou uma campanha em que atletas com alguma deficiência eram gravados praticando exercícios em academias de ginástica do país entre pessoas que não possuem deficiência. A reação dessas pessoas, que não sabiam que estavam sendo filmadas, é de espanto com a capacidade física e o porte atlético dos paraolímpicos.

Preconceito dos brasileiros

No início de 2016, ante à baixa procura de ingressos pelo torcedor brasileiro para os Jogos, o diretor de comunicação do Comitê, Mario Andrada, atribuiu a “algum preconceito” da população brasileira a atleta com deficiência. Em maio deste ano, eu conversei com o presidente do IPC, Sir Philip Craven sobre o tema. Que ponderou: “Antes dos Jogos de Londres-2012, uma pesquisa do Comitê Organizador local registrou que havia uma apreensão quanto aos Jogos Paraolímpicos porque muitos não estavam familiarizados com pessoas com deficiência praticando esporte. O Comitê de Londres-12 fez um grande trabalho de transformar esta negatividade em algo positivo. Eles usaram o esporte como uma ferramenta para mudar a percepção sobre o que uma pessoa com deficiência pode alcançar. Por este motivo os Jogos Paraolímpicos são o maior evento esportivo no mundo para inclusão social”.

Os nadadores Daniel Dias e André Brasil, que juntos acumularam 17 medalhas de ouro em Jogos Paraolímpicos, incluem com frequência em suas entrevistas discursos sobre o preconceito. “A pessoa com deficiência pode ser um campeão na vida, independentemente do caminho que ele escolher, seja o esporte ou fora dele”, costuma dizer Daniel.

Recomendações à imprensa

A pesquisa do DataSenado mostra que apenas 2% dos atletas paraolímpicos relataram sofrer discriminação em ambiente esportivo. E 7% apontaram os veículos de comunicação como responsáveis.

No material que distribui à imprensa que cobre os eventos paraolímpicos, o CPB faz recomendações aos jornalistas de como abordar atletas com algum tipo de deficiência. Como, por exemplo, não hesitar em perguntar sobre como o atleta se tornou deficiente, e que o esporte paraolímpico é de alto rendimento para pessoas com deficiência.

A maioria dos pesquisados (44%) considerou que a realização da Paraolimpíada no Rio fez aumentar os investimentos no esporte paraolímpico no Brasil. Em contrapartida, também 44% avaliaram que, passado o evento, os investimentos vão diminuir. Além da queixa de pouco espaço na mídia, falta de investimentos, dificuldade de patrocínio, número insuficiente de técnicos e de ginásios devidamente apropriados foram as principais dificuldades apontadas pelos paratletas.


Inglês pede que Brasil troque preconceito por aceitação aos paraolímpicos
Comentários Comente

Daniel Brito

Daniel Zappe/MPIX/CPB

Sir Craven jogou basquete em cadeira de rodas e é presidente do IPC (Daniel Zappe/MPIX/CPB)

O presidente do IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês), Sir Philip Craven, espera que o Comitê Organizador dos Jogos do Rio-2016 transforme o preconceito contra o esporte entre pessoas com deficiência em aceitação. A declaração foi dada em entrevista ao blog, quando faltam 100 dias para 7 de setembro – data da abertura do evento.

Ela foi motivada pelo posicionamento do Comitê Organizador do Rio-2016 sobre a venda de ingressos para os Jogos Paraolímpicos. O diretor de comunicação do Comitê, Mario Andrada, disse, no início do ano, que a procura do pública estava muito baixa talvez pela percepção do público em relação ao evento.

“O esporte paraolímpico é feito de histórias emocionantes, embora alguns ainda fiquem um pouco reticentes em acompanhar as competições, até por conta de algum preconceito em relação aos atletas, quando na prática é justamente o contrário”, dissera Andrada, em janeiro, em encontro com a imprensa.

“O IPC está totalmente a par do que foi dito na oportunidade e achamos que precisa ser colocado dentro de um contexto”, disse Sir Philip Craven, por e-mail.

Confira, abaixo, a entrevista completa.

BLOG DO BRITO – Em janeiro, o diretor de comunicação do Comitê Organizador dos Jogos disse que um dos motivos pela baixa procura de ingressos para os Jogos Paraolímpicos pode ser “algum preconceito” do brasileiro contra atletas com alguma deficiência. Como o IPC recebeu esta declaração?
SIR PHILIP CRAVEN – O IPC está totalmente a par do que foi dito e achamos que deve ser colocado dentro de um contexto. Antes dos Jogos de Londres-2012, uma pesquisa do Comitê Organizador local registrou que havia uma apreensão quanto aos Jogos Paraolímpicos porque muitos jamais tinham assistido e não estavam familiarizados com pessoas com deficiência praticando esporte. O Comitê de Londres-12 fez um grande trabalho de transformar esta negatividade em algo positivo. Eles usaram o esporte como uma ferramenta para mudar a percepção sobre o que uma pessoa com deficiência pode alcançar. Por este motivo os Jogos Paraolímpicos são o maior evento esportivo no mundo para inclusão social. Eu espero que o Comitê Organizador do Rio-2016 veja neste próximos 100 dias a oportunidade de transformar este dito “preconceito” em “aceitação” ao esporte paraolímpico, que trata de alta performance envolvendo alguns dos maiores atletas do mundo. Eles precisam se concentrar na habilidade dos atletas em vez da deficiência.

Na última vez que nos falamos, você espera que não houvesse interferência da crise política e econômica no Brasil na organização dos Jogos. Isso foi em setembro do ano passado. Desde então, muita coisa mudou, inclusive a Presidência da República. A posição do IPC sobre o Rio-16 mudou também?
Nós, claramente, preferiríamos que as coisas estivessem mais estáveis, no entanto o impacto global da crise nos Jogos não é tão grande. Mas em circunstâncias difíceis, únicas para qualquer edição anterior dos Jogos, o Comitê Organizador lidou muito bem. Os Jogos Paraolímpicos de setembro serão realizados como o planejado e a equipe brasileira, com muitos dos melhores atletas do mundo, vai apontar para terminar entre os cinco primeiros no quadro de medalhas. Acredito que agora as coisas parecem ter se resolvido um pouco, a população brasileira pode alternar a atenção do momento político para os Jogos-16, que eu realmente acredito que podem transformar o Brasil para sempre. Aqueles que assistirem aos Jogos Paraolímpicos nas arenas ou pela TV vão sentir um enorme orgulho no Brasil.

Está preocupado com a baixa procura pelos ingressos?
O Comitê Organizador do Rio-16 pode passar o cenário exato da venda de ingressos no momento. Claramente, gostaríamos de ter vendido mais ingressos até aqui, porque quanto mais cedo vendermos todos os ingressos em todas as arenas, melhor. Mas nós temos que aceitar que o Brasil é um mercado em que se compra ingressos em cima da hora e o país está atravessando um momento muito desafiador. Mas estamos confiantes que as vendas vão engrenar, assim como eles fizeram com os Jogos Olímpicos agora que o revezamento da tocha olímpica está em curso. Com dois milhões de ingressos custando R$ 10, está bastante acessível para os brasileiros fazerem parte da história. O IPC estava no Rio há 10 dias para a revisão final do projeto, e juntamente com o Comitê Organizador, a prefeitura e Comitê Paraolímpico Brasileiro, não vamos deixar pedra sobre pedra para envolvermos o público brasileiro naqueles que serão os melhores Jogos Paraolímpicos em performance esportiva.

Um dos mais conhecidos atletas paraolímpicos do país, o canoísta Fernando Fernandes, alega falhas no processo de classificação de categorias por nível de deficiência e, por este motivo, ele perdeu a vaga nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. O IPC entende que há problemas na classificação dos atletas por deficiência?
Sobre a classificação na canoagem, você deve falar com a federação internacional sobre este assunto específico. No entanto, o que eu diria que as pessoas precisam entender que a classificação não se baseia em atletas com a mesma deficiência reunidos na mesma categoria, classificação do atleta é baseada em qual é o impacto dessa deficiência na capacidade de o atleta praticar aquele determinado esporte. Como resultado, você vai ver às vezes atletas com diferentes deficiências competindo na mesma classe. Por que é isso? É porque a deficiência tem um impacto semelhante na sua capacidade de praticar o desporto.


“Crise no Brasil não afetará Paraolimpíadas no Rio”, diz presidente do IPC
Comentários Comente

Daniel Brito

Marcio Rodrigues/CPB/MPIX

Dirigente jogou basquete no Rio, no 7 de setembro

Sir Philip Craven, 65, é inglês da cidade de Bolton e está para o esporte paraolímpico assim como o alemão Thomas Bach está para o olímpico. É o presidente do IPC (sigla em inglês para Comitê Paraolímpico Internacional) desde 2001. Ele desembarcou no Brasil nesta semana para participar das festas que marcam a contagem regressiva de um ano até os Jogos Paraolímpicos do Rio-2016.

Cadeirante desde os 16 anos, após acidentar-se durante uma escalada, Craven tornou-se jogador de basquete em cadeira de rodas e defendeu a Inglaterra em cinco edições de Jogos Paraolímpicos. Carrega o título de “Sir” desde 2005, concedido pela Rainha Elizabeth II pelos serviços prestados ao movimento paraolímpico.

Sir Craven está em seu último mandato, que se encerra em 2017. Antes, porém, engrossa o coro segundo o qual Rio-2016 verá a maior paraolimpíada de todos os tempos. E nem mesmo a grave crise pela qual atravessa o Brasil terá influência nos Jogos-2016.

Em entrevista por e-mail ao blog, Sir Craven falou sobre como o IPC está trabalhando ante a crise, a busca por um novo garoto-propaganda para substituir Oscar Pistorius, o problema da despoluição da Baía de Guanabara.
Leia a entrevista abaixo.

BLOG DO BRITO: O Brasil está passando por um grave crise econômica e política. Quais informações o IPC tem a respeito? Teme que isso afete a realização dos Jogos Paraolímpicos?
SIR PHILIP CRAVEN: O IPC está ciente dos problemas no Brasil, mas nós temos muita confiança de que não afetará a preparação para os Jogos Paraolímpicos do Rio, no próximo ano. Estamos a um ano dos Jogos e as coisas estão parecendo muito boas. No próximo mês de setembro estará tudo pronto para a maior edição dos Jogos Paraolímpicos, com 4.350 atletas de 170 países em 22 modalidades. Estamos também muito confiantes que será quebrado o recorde de ingressos vendidos com 3.3 milhões à disposição e uma audiência global acumulada de 4 bilhões de espectadores.

O movimento paraolímpico internacional busca um novo garoto-propaganda  para substituir Oscar Pistorius?
O movimento paraolímpico nunca promoveu apenas um atleta e eu acho que isso ficou bem claro nos Jogos de Londres-2012. Depois daqueles Jogos, um terço da população do Reino Unido poderia citar cinco atletas paraolímpicos. Eu acho que no momento nós não temos um atleta com aquele perfil que Oscar tinha, mas há um conhecimento muito maior dos demais atletas que estão aí competindo, muitos dos quais já bastante conhecidos nos seus respectivos países.

De que maneira o IPC está acompanhando a polêmica em torno da despoluição da Baía de Guanabara e o problema das algas da Lagoa Rodrigo de Freitas?
Estamos trabalhando juntos com COI [Comitê Olímpico Internacional], com a OMS [Organização Mundial de Saúde] e as autoridades do Rio de Janeiro, porque saúde e bem estar dos atletas são nossas maiores prioridades. Até o momento, os resultados dos testes mostraram que a água, segundo os padrões da OMS, está apta para sediar eventos esportivos. E de hoje até os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, muito mais será feito para limpar a Baía de Guanabara e deixá-la pronta para atividades esportivas.

Você poderia dar uma nota para a preparação do Rio de Janeiro para receber os Jogos Paraolímpicos em 2016?
Acho que a preparação está muito boa, mas ainda há muito a fazer nos próximos 365 dias. O trabalho duro começa agora, com diversos eventos-chave vindo por aí. Terei um quadro mais detalhado daqui uma semana, porque vou visitar todos os locais de competição. As coisas parecem estar indo bem e dois fatos novos me deixaram bastante confiantes para o Rio-2016. Os brasileiros foram muito bem nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto-2015, confirmando que eles são fortes postulantes a ficar entre os cinco maiores no Rio-2016. E um recente vídeo divulgado pelo Rio-2016 mostrando a reação do público com as habilidades apresentadas pelos atletas paraolímpicos praticando atividades esportivas em uma academia. O fato de milhões de pessoas terem visto isso em um período curto de tempo mostra que há um desejo grande por mais esportes para pessoas com deficiência.

Foto: Marcio Rodrigues/CPB/MPIX


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>