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Arquivo : Rio-2016

A emoção de ser escolhido em cima da hora para acender a pira olímpica
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Daniel Brito

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 05: Former athlete Vanderlei de Lima carries the Olympic Torch during the Opening Ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at Maracana Stadium on August 5, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Clive Mason/Getty Images)

Vanderlei Cordeiro de Lima minutos antes de acender a pira no Maracanã (Clive Mason/Getty)

Vanderlei Cordeiro de Lima, 47, saiu do quarto em que estava hospedado no Rio de Janeiro, no final da manhã do 5 de agosto, com a missão de ser mais um dos centenas de porta-bandeiras que participariam da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos-2016. Mais de 12 horas depois estava de volta ao seu quarto como protagonista daquela noite histórica no Maracanã, sem que nem ele mesmo esperasse por isso. Vanderlei relatou os acontecimentos neste pedaço de tempo ao blog na última quarta-feira, 9, em Brasília.

E são, realmente, incríveis.

“Rapaz, contando ninguém acredita”, começou a relatar Vanderlei, usando da força de expressão com seu sotaque característico do interior do Paraná.

Ele seria um dos porta-bandeira, ao lado do iatista paulista Robert Scheidt, no momento do juramento do atleta. “Eu estava pronto para isso, saí de ‘casa’ certo disso. Saímos por volta de meio-dia para o Maracanã. Chegando lá, mudou tudo”.

Vanderlei foi abordado por diretores do Comitê Organizador Rio-2016 por volta das 14h, quando estava concentrado para sua missão de porta-bandeira. “Os caras lá me disseram que eu acenderia a pira, eu disse que tudo bem. Daí foi uma correria, pra encontrar tênis do meu tamanho, bermuda, camisa, a roupa toda. Porque eu percebi que eu não seria a pessoa inicialmente escolhida para acender a pira olímpica do Maracanã”.

De fato, o primeiro nome na lista era o de Pelé. Embora tenha zero ligação com o movimento olímpico, Pelé é o maior esportista ainda vivo no Brasil e a homenagem era esperada. Problemas de saúde, contudo, fizeram com que o próprio Rei declinasse do convite.

“Tinham uns quatro ou cinco nomes que poderiam acender a pira. Acho que um deles poderia ser eu. Mas confesso que estava sem expectativa nenhuma. Eu estava lá, quietinho no meu lugar, vieram falar comigo. Quando me contaram, fiquei normal. Eu disse: ‘tá, tudo bem’. Aí, rapaz, vai passando 30 minutos, uma hora, vai caindo a ficha. Só aí que eu fui tomando conhecimento da dimensão da coisa. Um frio na barriga que nossa senhora. Uma hora lá eu me peguei pensando: “Será que sou eu mesmo?”, relembrou Vanderlei.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 05: The Olympic Cauldron is lit by the final torch bearer and former marathon runner Vanderlei Cordeiro de Lima during the Opening Ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at Maracana Stadium on August 5, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by David Rogers/Getty Images)

Vanderlei ensaiou o acendimento da pria disfarçado horas antes da cerimônia (David Rogers/Getty)

O maratonista, medalha de bronze em Atenas-2004, condecorado com a medalha Barão Pierre de Coubertin do COI (Comitê Olímpico Internacional), esteve fora de cogitação na bolsa de apostas informal sobre quem acenderia a pira na ausência de Pelé. O Comitê-2016 avisara que aqueles atletas que haviam conduzido a tocha durante o longo (e sinuoso) revezamento pelo Brasil estavam descartados. A alegação – que caiu por terra mais tarde – era de que só seria permitido carregar o fogo olímpico uma única vez. Vanderlei o fizera, em momento de grande emoção, dentro da belíssima Catedral Metropolitana de Brasília, desenhada pelo ateu Oscar Niemeyer, em 3 de maio, data do desembarque da chama no Brasil, vinda da Grécia, após escala na Suíça.

O nome mais cotado para protagonizar a cena no 5 de agosto era o do tricampeão de Roland Garros, Gustavo Kuerten. “Quem me escolheu para acender a pira foi o Comitê Olímpico Internacional, não foi o Comitê Rio-2016. Sabe como que eu fiquei sabendo? Fui percebendo, ouvindo aqui e ali, vendo o movimento do povo para organizar tudo”, disse Vanderlei, dando um passo adiante em minha direção, quase que dando um tom de confidência.

“No meu ponto de vista, posso até estar errado, aconteceu o seguinte: o COB [Comitê Organizador Rio-2016] escolheu o Guga. Tudo bem, ele merece, gente boa, grande atleta, nosso campeão. Mas aí veio lá o Comitê Olímpico Internacional e disse: ‘Ó’”, emendou o maratonista, apontando para si. “Sabe por quê? Porque Guga levou a esposa, o filho, família toda para o Maracanã, tudinho lá para ver ele acendendo a pira. Mas essa questão da minha roupa também, sabe? Não tinha nada, nada [preparado]. Eu deveria ter sido um porta-bandeira do juramento do atleta, junto com Scheidt. Saí do meu quarto de manhã para para fazer isso à noite, uai.”

Há um outro indicativo de que Vanderlei havia sido escolha de última hora. Antes de o Maracanã abrir para o público, no meio da tarde do 5 de agosto, ele foi levado ao estádio. Cobriram-lhe da cabeça aos pés para não ser identificado por quem trabalhava nos outros setores da montagem da cerimônia de abertura, e fizeram um mini-ensaio de acendimento da pira. Nos dias anteriores, não era ele a figura que ensaiara este gesto, o ponto alto do evento. “Faltavam umas duas horas para a abertura dos portões. Não tinha ninguém lá dentro, mas me cobriram todinho, e eu todo camuflado ensaiando lá.”

Seis horas mais tarde, lá estava Vanderlei Cordeiro de Lima recebendo a tocha olímpica de Hortência e subindo os degraus até a pira, tal qual treinara escondido no meio da tarde. “Eu queria curtir ao máximo. Na hora que você vê toda a vibração, aquela comoção geral…nossa senhora. Ali eu fiquei pensando: ‘Rapaz, eu não estou representando só um esporte, eu estou por uma nação inteira agora’. Vou te falar, viu, uma hora lá eu sentia toda o Maracanã pulsando. Que momento, rapaz, gratificante demais”, relatou Vanderlei.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 05: Former athlete Vanderlei de Lima reacts after lighting the Olympic Cauldron during the Opening Ceremony of the Rio 2016 Olympic Games at Maracana Stadium on August 5, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Paul Gilham/Getty Images)

Vanderlei Cordeiro de Lima: “Senti o Maracanã pulsando” (Paul Gilham/Getty)

Epílogo
Vanderlei havia recebido a promessa de guardar e levar para casa a tocha  utilizada para acender a pira no Maracanã. Mas tão logo saiu de cena na cerimônia de abertura, lhe tomaram da mão.  “Quando terminou a abertura, tiraram a tocha de mim alegando que tinham que acender a pira lá no Boulevard Olímpico. Na verdade, poderia ser outra tocha e não aquela que eu acendi no Maracanã. Mas uma pessoa da Rio-16 me disse: ‘Fica tranquilo, Vanderlei, que a tocha vai, mas volta para suas mãos’. Nunca voltou, mas não vem ao caso, deixa para lá”, tentou desconversar. Uma outra tocha estava nas mãos do jovem atleta da Mangueira que acendeu a pira no Boulevard, próximo à Candelária, no Centro do Rio.

Mas isso não foi o suficiente para o maratonista receber de volta seu exemplar histórico.

A tocha utilizada por Vanderlei Cordeiro de Lima para acender a pira no Maracanã foi arrematada por mais de R$ 300 mil no leilão oficial da Rio-2016 para um colecionador chinês. “Disseram-me que a minha tocha iria para leilão da Rio-2016, tudo bem, esquece isso, eu abracei a causa”, contou, resignado.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - SEPTEMBER 18: The flame is lowered prior to being extinguished during the closing ceremony of the Rio 2016 Paralympic Games at Maracana Stadium on September 18, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Atsushi Tomura/Getty Images for Tokyo 2020)

(Atsushi Tomura/Getty Images for Tokyo 2020)


Onde foi parar o pódio do ouro do futebol olímpico da Rio-2016?
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Daniel Brito

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O pódio mede 12 metros e é dividido em cinco partes

O empresário Sérgio Santos enfrentou uma disputa mais longa que o torneio de futebol nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 para conquistar o pódio que recebeu os jogadores da seleção medalha de ouro. Ele participou do leilão oficial para adquirir o tablado no qual o time comandado por Rogério Micale foi premiado no penúltimo dia da Olimpíada no Brasil.

O pregão se iniciou em 13 de setembro. O pódio tem 12 metros e foi dividido em cinco partes que se encaixam, como num grande quebra-cabeça. As partes das pontas já haviam sido arrematadas por um chinês e um europeu. Restavam as três peças centrais. O pedaço de pódio mais cobiçado era o do meio, em que estão os cinco aros olímpicos, exatamente onde pisaram Neymar, Gabriel Jesus, Gabigol, Luan.

O leilão só se encerrou em outubro, com o lance de Sergio para encerrar a disputa. O valor? “Não posso revelar. Questão de segurança”, diz o empresário do ramo de tecnologia da informação.

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Empresário Sérgio Santos (à esq.) ganhou o leilão do pódio do futebol

Portanto, desde o mês passado o solo sagrado no qual parte da seleção brasileira pisou para receber a inédita medalha de ouro olímpica está no interior de São Paulo, em São José dos Campos, onde o empresário vive. A contar pela concorrência das demais peças postas em leilão promovido pela Rio-16, o pódio teve valor de obra de arte. Para efeito de comparação, a tocha  utilizada pelo ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima para cender a pira olímpica no Maracanã foi comprada por um chinês por mais de R$ 300 mil.

Vanderlei deixou outras 10 tochas autografadas e postas em leilão. O empresário Sérgio Santos também arrematou uma delas. E mais: as duas bandeiras da Grécia hasteadas na cerimônia de abertura e na de encerramento, além de bolas. Ele conta ter tentado comprar a bicicleta que conduziu a delegação brasileira no desfile de abertura, mas não obteve êxito.

“Não podemos deixar que a memória da olimpíada realizada no Brasil vá embora daqui. O intuito é de manter pedaços da história olímpica aqui no nosso país, e não ir para a Europa, Estados Unidos, China”, explicou Sérgio.

O pódio está em exposição em um shopping de São José, gratuitamente. Sérgio explica que aceita convites para expor o item em outras cidades sem cobrar pelo serviço. “Faço o transporte do pódio até o local que quiser expô-lo”,

A expectativa do empresário agora é pelas duas partes do pódio que não conseguiu adquirir no leilão. “Se os compradores da Europa e da China não derem sinal de vida, eu vou dar um lance para completar o pódio com as duas peças que restam”, avisou.

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Centro pódio protegida em uma estrutua de acrílico e exposta em São José dos Campos


Governo libera R$ 2,9 bi para cobrir gastos com segurança na Rio-2016
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Daniel Brito

O Diário Oficial da União, em sua edição desta quarta-feira, 26, trouxe a publicação da lei que liberou $ 2,9 bilhões dos cofres da União para cobrir as despesas do Estado do Rio de Janeiro com segurança durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos-2016.  De acordo com o texto, o dinheiro foi repassado em parcela única ao governo do Estado do Rio.

O governo federal autorizou o repasse ainda em junho, quando restavam 50 dias para a abertura da Rio-2016, por meio de uma medida provisória. O Congresso Nacional transformou a MP em lei e o recurso já foi destinado ao Estado.

O governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles (PP), havia decretado estado de calamidade pública em junho, justificando a medida pela “grave crise econômica” no Estado. Segundo ele, a situação estaria impedindo o Rio de “honrar seus compromissos” para a realização dos Jogos Olímpicos.


Nuzman diz que não fará mais eventos esportivos: “Cheguei ao meu limite”
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Daniel Brito

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Nuzman fez palestra aos servidores do Senado, em Brasília (Jefferson Rudy/Agência Senado)

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, 74, disse que não irá organizar mais eventos esportivos. A afirmação ocorreu na tarde de terça-feira, 25, no Senado, em palestra voltada apenas para servidores da casa. Em pouco mais de uma hora, Nuzman falou sobre os resultados dos Jogos Olímpicos e comentou sobre seus próximos passos.

“É muito importante vivermos de desafios. Eu adoro. Saindo aí de 15 anos organizando grandes eventos: Jogos Sul-Americanos-2002, Pan-Americanos-2007, Jogos Olímpicos-2016, é natural que eu tenha me questionado sobre os próximos desafios. Bom, em breve eles virão, mas eu não vou organizar mais eventos. Chega. Cheguei ao meu limite ao terminar os Jogos Olímpicos”.

Como já é sabido, Nuzman conquistou o direito de passar mais quatro anos à frente do Comitê Olímpico Brasileiro. Se este for seu último mandato, como se crê, deixará a entidade em 2020, após os Jogos de Tóquio, com 25 anos de presidência. Cogitou-se a possibilidade de ele candidatar-se à presidência da ODEPA (Organização Desportiva Pan-Americana), responsável pela organização do Pan e dos Jogos Sul-Americanos.

Após o fim da palestra, questionei Nuzman sobre esta afirmação. O diálogo transcorreu da seguinte forma.

– Blog do Brito: Em sua apresentação, você disse que não fará mais eventos esportivos, porque chegou ao seu limite. Quais são seus próximos planos?
Carlos Arthur Nuzman: Por enquanto não tem nada. Quando houver, anunciarei.
– Mas a Odepa é um horizonte?
Não tenho nenhuma decisão a respeito. 
– Vitor de Moraes (repórter do Correio Braziliense): Existe a possibilidade de você se afastar do COB para concorrer à presidência da Odepa?
Eu me afastar? Primeiro, não precisaria. Segundo, eu não decidi sobre isso.

Também perguntei sobre sua sucessão no COB e o novo vice-presidente da entidade, Paulo Wanderley, advindo da Confederação Brasileira de Judô. “O André Richer [vice de Nuzman no COB até então] foi durante muito tempo meu vice, mas ele já não queria mais continuar. Então escolhi o Paulo Wanderley, pelo excepcional trabalho que faz no judô. Agora, sobre sucessão, quem trata são as confederações, não sou eu”.

Antes de Tóquio-2020, bem antes, Nuzman afirma querer lançar dois livros e um filme sobre os Jogos Olímpicos do Rio-2016, do qual era presidente do Comitê Organizador. Os livros serão sobre a candidatura do Rio para receber a Olimpíada e outro sobre os Jogos em si. Já o filme, será como um documentário do evento. “Até o final do ano fica pronto, Aí a gente traz aqui [no Senado] e convida os senadores. Vamos dar essa colher de chá para eles”.


Paga-se R$ 1,7 mil a quem achar um ouro roubado de atleta campeã da Rio-16
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Daniel Brito

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Christiane Reppe foi campeã de handbike na Rio-2016

Christiane Reppe, 29, foi furtada no mês passado. Tiraram-lhe a medalha de ouro conquistada na prova de ciclismo nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. Agora, ela oferece uma recompensa de 500 euros (cerca de R$ 1,700) para quem a devolver.

O curioso da história é que o furto não foi no Rio, como parte da imprensa internacional e até das delegações estrangeiras temiam que pudesse ocorrer, mas na capital da Alemanha, Berlim. Pior: em algum lugar de acesso restrito dentro da estrutura montada para a famosa Maratona de Berlim.

Ao blog, ela relatou como percebeu que tomaram-lhe o seu ouro:

“A medalha estava dentro da minha bolsa. Em nenhum momento tirei a medalha dali. Fui à sala de coletivas de imprensa, ninguém ali sabia que a medalha estava dentro da bolsa. Deixei a bolsa próxima a uma pessoa que conheço e fui ao pódio da Maratona de Berlim. Depois da coletiva de imprensa, não abri a bolsa e fui direto ao hotel. Só comecei a procurar na segunda-feira, quando me dei conta que não estava mais com a medalha. Eu e meu amigo procuramos em todos os lugares, passamos por todos os pontos em que estivemos nos dias anteriores e tentamos repassar na memória todos os minutos para lembrar onde poderia ter caído ou deixado. Nada. Ligamos no hotel, fomos à polícia. Não estava em lugar algum. Desesperada, decidi compartilhar na minha página pessoal no Facebook”.

O post de Christiane viralizou. Atingiu mais de 200 mil visualizações, segundo as métricas de sua página. A imprensa alemã publicou a história, mas tampouco conseguiu na busca.

No Brasil, a ciclista paraolímpica paranaense Jady Malevazzi ajudou a difundir a publicação da alemã. As duas são amigas, competiram uma contra a outra nos Jogos Paraolímpicos Rio-2016 na prova de estrada de handbike. Jady terminou na 10ª colocação, após acidentar-se no decorrer do trajeto, enquanto que Christiane ficou com o ouro.

Foi sua primeira medalha paraolímpica no ciclismo. Até então fora atleta da natação paraolímpica e já tinha dois bronzes de Atenas-2004. Christiane Reppe é amputada da perna direita acima do joelho, em decorrência de um tumor, ainda aos cinco anos de idade.

Neste caso do furto do ouro, Jady ajudou a alemã a entrar em contato com o Comitê Organizador do Rio-2016. Agora, o Comitê Paraolímpico Alemão vai fazer o pedido formal para que envie uma nova medalha para Christiane. “Eu fiquei tão triste, tão chocada com essa história. Não digo nem com raiva, a palavra é triste. Como alguém pode querer roubar uma medalha de ouro de outra pessoa? Por sorte, o Comitê Organizador do Rio-2016 ofereceu toda ajuda e acho que posso ter uma nova medalha. Espero”, disse, em conversa pela internet, ao blog. Mesmo que venha uma nova medalha, a recompensa financeira pelo ouro original conquistado no Rio ainda está mantida.

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Ela é recordista olímpica e faz campanha em prol das armas para Trump
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Daniel Brito

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A californiana Kim Rhode entrou para a história ao conquistar sua sexta medalha olímpica consecutiva durante a Rio-2016. Ela foi bronze no skeet, completando vinte anos de frequência em pódios dos Jogos. O feito inédito, no entanto, foi o assunto menos comentado na coletiva de imprensa após a cerimônia das medalhas em Deodoro, onde foram realizadas as provas de tiro esportivo. O assunto ali foi as eleições presidenciais nos Estados Unidos e a liberação da venda de armas no país.

Kim aproveitou para deixar bem claro seu posicionamento. “Eu sou totalmente a favor de Donald Trump”, disse no início da coletiva. Deu o gancho que os jornalistas precisavam para falar menos de Olimpíada e mais de política. “Seria incrível ter uma mulher como presidente dos Estados Unidos, mas que não seja Hilary”, disse, disparando uma gargalhada solitária na sala de imprensa.

Kimberly Susan Rhode, 37, é do sul da Califórnia, região repleta de imigrantes mexicanos. Os mesmos que Trump, seu candidato, quer ver fora do país. Mas não é a questão da imigração que une o controverso republicano à atiradora. “É uma lista de itens que faz você aderir a um candidato, mas para mim é basicamente a defesa da segunda emenda da constituição”, atribuiu.

O porte de armas está no centro do debate da política americana desde que Trump acusou a candidata democrata, Hilary Clinton, de “querer essencialmente abolir” a Segunda Emenda da Constituição, que se refere ao direito de porte de armas. “A segunda emenda é algo grande para mim, porque é a maneira como levo a vida e é algo apaixonante e importante para minha família há muitas gerações”, defendeu Kim na coletiva, durante a Rio-16. Na mesma ocasião, contou aos repórteres que seu filho de três anos já toma aula de tiros com rifle. Um jornalista francês ficou chocado na coletiva com essa informação.

Ela é frequentemente convidada para debates na TV sobre porte de armas, especialmente após massacres em escolas, shoppings ou outros locais públicos. Kim sempre tem um discurso pronto em favor do porte de arma e da liberação na venda.

Após conquistar a medalha de bronze na Rio-16, ela pediu para participar mais ativamente da campanha de Trump. Foi atendida. Recentemente, gravou seu segundo vídeo de 35 segundos que a campanha republicana pretende viralizar, com as propostas do candidato sobre porte de armas.

Sites e blogs republicanos apontaram discriminação da cobertura da imprensa do recorde batido por Kim na Rio-16, exatamente por ser pró-Trump. Segundo esses veículos, a notícia era muito importante e teve pouco destaque devido ao boicoite aos atletas que apoiam o candidato.

No final de semana que passou, Kim Rhode voltou a triunfar no cenário internacional: foi ouro na etapa da Copa do Mundo, em Roma. E isso, a imprensa dos Estados Unidos ignorou…


Ginasta ganha BMW de prêmio pela Rio-16 mas pede para trocar por dinheiro
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Daniel Brito

karmakar_bmw_4_1476268056A ginasta Dipa Karmakar ganhou uma BMW por sua participação nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. O modelo 320D, com o qual fora contemplada, pode custar mais de R$ 160 mil. Porém, a atleta avisou que está retornando o veículo a quem a presenteou. E os motivos são inquestionáveis: falta de dinheiro para manutenção e péssima condição das estradas e ruas de seu país. Além de tudo, ela não sabe dirigir.

Dipa é indiana de Agartala, a dois quilômetros da fronteira com Bangladesh, terminou na quarta colocação no salto sobre o cavalo. É a primeira mulher do país a disputar uma edição de Jogos Olímpicos. O pódio lhe escapou porque falhou na aterrissagem de um movimento conhecido como o “salto da morte”, que leva o nome da ginasta russa Yelena Produnova. Este salto é a especialidade de Dipa. Com ele, a indiana esperava levar a bandeira de seu país ao pódio nos Jogos do Rio-2016, mas a execução não saiu como o esperado.

A quarta colocação, contudo, foi muito celebrada na Índia e Dipa Karmakar foi presenteada pelo astro indiano do críquete Sachin Tendulkar com uma BMW. Outras duas atletas olímpicas do país também foram contempladas: PV Sindhu, do badminton, e Sakshi Malik, do wrestling. Elas, diferentemente da ginasta, conquistaram medalha na Rio-2016.

Todo desempenho feminino em competições esportivas tende a ser celebrado com muita propaganda na Índia, porque o país ainda sofre com o machismo e a violência de gênero, e o esporte serve como catalisador para mudanças neste sentido. Dipa Karmakar posou para fotos, fez discurso e deu entrevistas quando recebeu a BMW, há dois meses.

Na semana passada, no entanto, anunciou nas redes sociais que não ficaria com o carro. “Não foi uma decisão dela, foi da família”, justificou Bisheswar Nandi, técnico da ginasta, ao jornal Times of India. “Não há centro de atendimento e manutenção da BMW em Agartala [onde Dipa mora] e as ruas e estradas da cidade são terríveis para andar com um carro desses”, completou o treinador.

A ginasta já avisou à BMW que vai devolver o veículo e que, se possível, pudesse transferir para ela o valor do carro em dinheiro como prêmio pela participação olímpica. “Se não puder ser o valor do carro, qualquer quantia para nós já está excelente”, disse Nandi.


Mais de 70% dos atletas paraolímpicos dizem ter sofrido com preconceito
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Daniel Brito

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Flavio Reitz é amputado da perna esquerda e disputa salto em altura (Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Uma pesquisa inédita mostrou que 71% dos atletas paraolímpicos do Brasil já sentiram-se alvo de preconceito social. E grande parte ocorre nas ruas. Mulheres de 20 a 29 anos nas regiões Norte e Centro-Oeste foram as que mais se queixaram de rejeição. O resultado dessa consulta vem a público às vésperas do maior evento esportivo para pessoa com deficiência já realizado na América Latina. Em 7 de setembro será realizada a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016, no Maracanã.

A apuração foi realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o gabinete do senador Romário (PSB-RJ), relator do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Senado, e apoio do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro).

O DataSenado entrevistou por telefone 888 paratletas de todo o país. A margem de erro da pesquisa é de 3%, e o nível de confiança, 95%. A base de dados com o cadastro dos paratletas foi cedida pelo CPB, parceiro na iniciativa da pesquisa Entre os consultados, 12% participarão dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016.

Preconceito é um tema recorrente na promoção do evento que se inicia nesta quarta-feira, 7. Em 2015, o Comitê Organizador lançou uma campanha em que atletas com alguma deficiência eram gravados praticando exercícios em academias de ginástica do país entre pessoas que não possuem deficiência. A reação dessas pessoas, que não sabiam que estavam sendo filmadas, é de espanto com a capacidade física e o porte atlético dos paraolímpicos.

Preconceito dos brasileiros

No início de 2016, ante à baixa procura de ingressos pelo torcedor brasileiro para os Jogos, o diretor de comunicação do Comitê, Mario Andrada, atribuiu a “algum preconceito” da população brasileira a atleta com deficiência. Em maio deste ano, eu conversei com o presidente do IPC, Sir Philip Craven sobre o tema. Que ponderou: “Antes dos Jogos de Londres-2012, uma pesquisa do Comitê Organizador local registrou que havia uma apreensão quanto aos Jogos Paraolímpicos porque muitos não estavam familiarizados com pessoas com deficiência praticando esporte. O Comitê de Londres-12 fez um grande trabalho de transformar esta negatividade em algo positivo. Eles usaram o esporte como uma ferramenta para mudar a percepção sobre o que uma pessoa com deficiência pode alcançar. Por este motivo os Jogos Paraolímpicos são o maior evento esportivo no mundo para inclusão social”.

Os nadadores Daniel Dias e André Brasil, que juntos acumularam 17 medalhas de ouro em Jogos Paraolímpicos, incluem com frequência em suas entrevistas discursos sobre o preconceito. “A pessoa com deficiência pode ser um campeão na vida, independentemente do caminho que ele escolher, seja o esporte ou fora dele”, costuma dizer Daniel.

Recomendações à imprensa

A pesquisa do DataSenado mostra que apenas 2% dos atletas paraolímpicos relataram sofrer discriminação em ambiente esportivo. E 7% apontaram os veículos de comunicação como responsáveis.

No material que distribui à imprensa que cobre os eventos paraolímpicos, o CPB faz recomendações aos jornalistas de como abordar atletas com algum tipo de deficiência. Como, por exemplo, não hesitar em perguntar sobre como o atleta se tornou deficiente, e que o esporte paraolímpico é de alto rendimento para pessoas com deficiência.

A maioria dos pesquisados (44%) considerou que a realização da Paraolimpíada no Rio fez aumentar os investimentos no esporte paraolímpico no Brasil. Em contrapartida, também 44% avaliaram que, passado o evento, os investimentos vão diminuir. Além da queixa de pouco espaço na mídia, falta de investimentos, dificuldade de patrocínio, número insuficiente de técnicos e de ginásios devidamente apropriados foram as principais dificuldades apontadas pelos paratletas.


Parte de delegação paraolímpica do Brasil é vítima de violência no trânsito
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Daniel Brito

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Alexandre Giuriato, do rúgbi, sofreu dois acidentes de trânsito

Cinquenta atletas da delegação brasileira paraolímpica carregam em sua história de vida um capítulo de um grave problema social do país. Eles foram vítimas de acidente de trânsito, seja batida de carro ou ônibus, ocorrência com motocicleta ou até mesmo atropelamento. Isso representa mais de 17% do time nacional que disputará os Jogos do Rio-2016 a partir desta quarta-feira, dia 7. O Brasil conta com 283 atletas nas Paraolimpíadas.

A delegação paraolímpica nacional tem 17 vítimas de acidentes com carros ou ônibus, 14 de atropelamento e 19 de moto. Nenhum outro tipo de acidente, seja de trabalho ou com armas de fogo, ou até mesmo vítimas de assalto, possui tamanha representatividade na equipe brasileira na Rio-2016.

Casos como o da pernambucana Natália Mayara, 22, que foi atropelada por um ônibus que subiu a calçada em alta velocidade e ainda a arrastou por alguns metros. Ela tinha apenas dois anos e precisou amputar as duas pernas. Hoje é um talento do tênis em cadeira de rodas do Brasil. Há também o do campineiro Alexandre Giuriato, 34, que foi vítima de dois acidentes de trânsito que causaram lesões graves na medula e no braço esquerdo. Em 2015, ele foi eleito o melhor jogador de rúgbi em cadeira de rodas do Brasil. Também estará na Rio-16.

No vôlei sentado, por exemplo, o capitão da equipe masculina, Renato Leite, era motoboy até 2002 quando foi abalroado por um carro. Passou um mês internado no hospital em São Paulo e precisou amputar a perna direita. Descobriu o esporte como forma de reabilitação física e motora. Hoje, acumula duas medalhas de ouro nos Jogos Parapan-Americanos (Rio-07 e Toronto-15) e uma prata do Mundial em 2014. Porém, ganhou notoriedade em recente polêmica na qual “emprestou” sua prótese para que o ator Paulo Vilhena posasse para uma foto-montagem em uma revista de moda com o intuito de divulgar o esporte paraolímpico.

No time de vôlei sentado, dos 24 convocados, 16 foram vítimas de acidente automobilístico. É a modalidade com maior quantidade de registro desta natureza na delegação verde e amarela.

De acordo com relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em outubro do ano passado, apenas em 2013, mais de 41 mil pessoas perderam a vida nas estradas e ruas brasileiras. Desde 2009, o número de acidentes de trânsito no país deu um salto de 19 por grupo de 100 mil habitantes para 23,4 por 100 mil habitantes, o maior registro na América do Sul.


Por que o revezamento da tocha paraolímpica não vai ao encontro do povo?
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Daniel Brito

A chama paraolímpica começa a circular hoje em Brasília, a partir das 9h30. Até o revezamento da tocha desembarcar no Rio em 6 de setembro, véspera da cerimônia de abertura, o fogo paraolímpico terá cruzado com muito menos gente do que o olímpico. E isso não tem relação com distâncias percorridas. Mas pelos locais por onde passará.

O Comitê Organizador dos Jogos-2016 tomou a decisão de concentrar o revezamento da tocha em centros de reabilitação e/ou entidades que assistem a pessoas com algum grau de deficiência. No Distrito Federal, por exemplo, ponto de partida da chama, o governo local anunciou: “O Parque da Cidade é o local mais indicado para quem quer ver de perto o revezamento, já que a maior parte dos outros locais continuará com as atividades ocorrendo normalmente”.

Festa em estacionamento do parque

Não haverá desfile nas ruas, não haverá contato com a população, que poderia até servir como uma forma de divulgação dos Jogos Paraolímpicos, que ainda se esforça para bater a meta de vender pelo menos dois milhões de ingressos para as disputas a partir de 7 de setembro, no Rio. A única oportunidade de proximidade entre andantes ou videntes com a tocha paraolímpica será no ponto de partida do revezamento, que no caso de Brasília, será em um estacionamento do Parque da Cidade.

Bem diferente da tocha olímpica, que desceu de rapel, canoa havaiana, até cadeira de rodas dentro de uma piscina de água natural, percorrendo intermináveis 130 quilômetros dentro do quadrilátero federativo, em 3 de maio.

Ou seja, em vez de levar a tocha paraolímpica a pontos turísticos, até como uma prova de que há um mínimo de acessibilidade para que as pessoas com deficiência possam usufruir de todos os espaços da cidade, o Comitê Rio-2016 levou a chama para locais nos quais a maioria já tem alguma relação com o paraolimpismo e o esporte para pessoas com deficiência, que são as instituições de atendimento a esta parcela da sociedade e aos centros de reabilitação.

Evitando pontos turísticos em todas as cidades

Além do Distrito Federal, o símbolo dos Jogos Paraolímpicos vai passar por Belém do Pará, Natal, no Rio Grande do Norte, Joinville, Santa Catarina, São Paulo, e, por fim, Rio de Janeiro, quando, aí sim, circulará pelos pontos mais famosos da cidade. As demais cidades sedes do revezamento têm roteiros semelhantes aos de Brasília – evitando pontos turísticos

Na quarta-feira, 31, a Folha de S.Paulo publicou o manifesto com críticas ao trajeto. “Nossa preocupação é com o fortalecimento do conceito de inclusão, que se contrapõe a essa ideia do revezamento interno em instituições de atendimento –o que causaria associação direta da imagem de 9 milhões de paulistas com algum tipo de deficiência à doença e ao assistencialismo”. A carta é assinada por representantes da secretaria Estadual de Direito às Pessoa com Deficiência e do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

O Rio-2016 reconhece que há poucas oportunidades nos trajetos do revezamento paraolímpico para passagens em locais turísticos, ou icônicos, como citou Mario Andrada, diretor de comunicação dos Jogos-2016. Muito pelo período do ano em que será realizado o evento, parte, também, pelo formato. “Neste época já não há a mesma flexibilidade de promover alterações no trânsito. Além disso, a tocha paraolímpica tem uma pegada um pouco mais formal. Mas em Belém, Natal e São Paulo, nós estamos tentando criar alternativas para levar a tocha a locais icônicos para termos oportunidade de fotos”, explicou Andrada.

Questionado se o percurso do revezamento evita o contato com o público nas ruas por motivos de segurança, o diretor da Rio-2016 disse que não há qualquer relação com este fato, e o esquema de escolta e proteção da tocha e dos condutores mantém-se tal qual ocorrera no revezamento olímpico.

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Yohansson Nascimento acendeu a tocha há uma semana (Tomás Faquini/CPB/Divulgação)