Está sendo gasto dinheiro público no revezamento da tocha?
Daniel Brito
A resposta para a pergunta que dá título a esta nota é “sim, há dinheiro público no revezamento da tocha”. E a quantia deve superar os R$ 10 milhões, somando todas as fontes pagadoras: especialmente governo federal e prefeituras municipais. O evento é de propriedade da iniciativa privada, que tem na Nissan, Coca-Cola e Bradesco seus financiadores. Os custos da operação das três empresas no revezamento é mantido em sigilo.
Mas da parte do dinheiro público, só o governo federal bancou pelo menos R$ 3.5 milhões. O restante saiu do caixa das prefeituras, após rápida pesquisa do blog nas páginas oficiais de 25 executivos municipais de sete unidades da Federação (cerca de R$1.8 milhão). Soma-se a isso os R$ 4.3 milhões gastos somente pelo Distrito Federal, primeira parada da tocha no Brasil, em maio. Aí chegamos a R$ 9.6 milhões. É natural que a conta aumente, dado que mais de 300 cidades serão visitadas no país até 5 de agosto, data da abertura dos Jogos-2016.
Foram contemplados com verba da União além de Brasília, 14 capitais (ES, BA, AL, RN, PI, TO, MA, AP, RR, AC, RS, SC, SP e MA). Foi repassado pelo MinC (Ministério da Cultura) a cada uma dessas cidades um limite máximo de R$ 250 mil.
De acordo com a assessoria de imprensa da pasta, entre 50% e 75% do valor total do projeto deveria ser destinado para custeio dos cachês dos artistas, grupos e bandas “reconhecidos como expoentes da cultura local e com trabalho de repercussão local e regional”. O restante deveria ser alocado em infraestrutura, recursos humanos e comunicação.
“O programa de celebração das cidades do revezamento da tocha prevê o apoio para a implementação de programação cultural durante a passagem da chama olímpica com apresentações artísticas, além da realização de feira de cultura alimentar, gastronômica e artesanato”, informou o MinC.
Justiça ainda faz as contas
Os ministérios do Esporte e da Justiça também contribuíram com o custeio do revezamento. O Esporte não informou o valor dos gastos, já a Justiça, por intermédio da SESGE (Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos), ainda não fechou a conta. Mas explicou que um total 29 mil agentes de segurança serão empregados ao longo dos mais de 20 mil quilômetros que serão percoridos pela chama olímpica no Brasil. “Contamos, também, com equipes de inteligência e monitoramento nas mais diversas mídias e redes sociais”, informou a SESGE, por meio da assessoria de imprensa.
Brasília ganhou dobrado
O Ministério do Turismo contribuiu com R$ 250 mil ao Distrito Federal, ponto de partida do revezamento. Aliás, a capital federal ganhou duas vezes da União, com um total aproximado de R$ 500 mil, somando os aportes do Turismo e do MinC.
Um dia de passagem da tocha pelo DF custou R$ 4.3 milhões aos cofres públicos. O GDF anunciou que pouco mais de R$ 3.8 milhões foram de recursos próprios, dos quais R$ 2 milhões foram só em publicidade e promção do evento.
Jaú-SP fará de graça. Patos-MG por R$ 300 mil
A menos de 30 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, todos os Estados já receberam a tocha. O blog pesquisou no portal da transparência de diversas prefeituras e outras páginas oficiais sobre o investimento de cada município para receber o evento. Obteve informação em 25 delas. Acumulando um total de R$ 1.8 milhão. É sempre bom relembrar que este valor não vai para os patrocinadores ou para o Comitê Organizador: ele deve ser alocado na estrutura e promoção do revezamento.
Há, por exemplo, o caso de Jaú, São Paulo, em que o chefe do executivo local garantiu publicamente que a cidade não gastará um tostão para sediar o evento. Ipatinga, Minas Gerais, e Goiana, Pernambuco, desistiramde receber a chama considerando ser alto o investimento para a dimensão do acontecimento na cidade.
Em diversas localidades, a tocha não passa mais que uma manhã. São mais de 300 cidades a serem visitadas, e o comboio tem que passar sem perder tempo. Por isso, a estrutura do local deve ser fornecida pelas autoridades municipais.
Em Patos, Minas Gerais, o Ministério Público abriu inquérito para apurar o gasto de R$ 300 mil, dos quais R$ 133 mil seriam para grades de proteção. Porto Seguro, Bahia, também anunciou gasto semelhante. Já em Ijuí, Rio Grande do Sul, terra do ex-técnico da seleção, Dunga, a prefeitura anunciou investimento de R$ 10 mil.
Em junho, meu amigo e companheiro de UOL Esporte, Adriano Wilkson, revelou que o governo do Pará desembolsou R$ 21 mil para que o lutador Lyoto Machida carregasse a tocha em Belém.
O jornal Gazeta, do Espírito Santo, compilou o investimento de todas as cidades que receberam o evento no Estado e chegou-se a um total de R$ 197 mil distribuídos em seis municípios.
Ainda restam cinco Estados e mais de 100 cidades até o fim do revezamento.