Blog do Daniel Brito

“Indignos”: Forças Armadas expulsam ciclistas flagrados em exame antidoping

Daniel Brito

FLORENCE, ITALY - SEPTEMBER 28: Uenia Fernandes Da Souza of Brazil in action during the Elite Women's Road Race on September 28, 2013 in Florence, Italy. (Photo by Bryn Lennon/Getty Images)

Uênia Fernandes demorou nove meses para ser punida pela Aeronáutica pelo doping (Bryn Lennon/Getty)

Os sargentos Uênia Fernandes e Alex Arseno foram expulsos das Forças Armadas do Brasil por terem sido suspensos por doping. Eles são ciclistas e eram beneficiários do programa Forças no Esporte, que contrata, por meio de chamada pública, atletas de alto rendimento para representar uma das três forças militares do país. Alex e Uênia tinham a função de terceiro sargento da Aeronáutica, recebiam mensalmente R$ 3,774 de salário para treinar e competir.

Eles foram flagrados com EPO (eritropoetina) em setembro do  passado. O exame foi feito fora do período de competição em Goiânia, Goiás, antes dos Jogos Mundiais Militares, realizados na Coreia do Sul, em outubro-15. Eles foram suspensos pela CBC (Confederação Brasileira de Ciclismo) no final de 2015 por quatro anos.

”Os atletas em questão foram excluídos do serviço ativo da Força Aérea Brasileira, ex officio, em 9 de agosto de 2016, pela prática de ato contra a moral pública, pundonor militar ou falta grave, que caracterize o autor como indigno de pertencer às Forças Armadas, de acordo com o Estatuto dos Militares e a Lei do Serviço Militar, combinado com o Regulamento da Lei do Serviço Militar e o Regulamento da Reserva da Aeronáutica”, informou a Aeronáutica, por meio da assessoria de imprensa.

Nem tudo é o que parece
Na letra fria da lei pode parecer que a Aeronáutica foi rígida com os infratores. Expulsão e a pecha de “indignos” são gestos fortes para qualquer um. Porém, esta é uma história que o blog acompanha desde o primeiro dia do anúncio do doping de Uênia e Alex, e que mostra a morosidade das Forças Armadas em lidar com atletas suspensos por ingerir substâncias proibidas.

Neste final de semana completa-se um ano desde que os resultados dos exames de sangue dos ciclistas acusaram a presença de EPO. Eles foram suspensos preventivamente antes do julgamento final no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da CBC, ocorrido em dezembro de 2015.

No caso de Alex Arseno, ele admitiu em textão publicado em sua página numa rede social o uso de EPO e anunciou o fim da carreira – ele é reincidente em exames positivo para substâncias proibidas.

Casos de família
Uênia Fernandes foi julgada e absolvida pelo tribunal da CBC. A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) protestou e em novo julgamento, a atleta tomou o gancho de quatro anos. Curiosamente, a família Fernandes tem uma história maculada pelo doping no ciclismo. Além de Uênia, sua prima, Clemilda, já cumpriu suspensão por dois anos (de 2009 a 2011) também por EPO. Márcia Fernandes, irmã de Clemilda, acabou de concluir uma suspensão de dois anos pelo mesmíssimo motivo da prima Uênia e da irmã Clemilda.

A Aeronáutica demorou exatamente nove meses para aplicar um gancho em Uênia e em Alex. Em junho, a assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira informou ao blog que a punição já estava em ponto de ser publicada. Tardou ainda dois meses para que pudesse ser confirmada. Neste intervalo, os dois ciclistas continuaram a receber salários integrais e mais: férias e até 13º salário.

A Aeronáutica não informou se vai pedir restituição deste dinheiro aos atletas-sargentos expulsos.