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Suíços doam R$ 40 mil para brasileiro tentar vaga no Rio-2016
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Daniel Brito

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Saga de Hiestand foi destaque no Sonntagszeitung

Surgiu de um bate-papo informal, às margens do Lago Zurique, com um amigo remador suíço a ideia de Steve Hiestand de tentar disputar os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Desde então, ele abriu mão das ocupações na empresa que administra, de treinamento esportivo personalizado, para tentar compor a seleção brasileira de remo no próximo ano.

Apesar do nome e do sobrenome estrangeiros, Hiestand é brasileiro, nascido em São Paulo há 31 anos, filho de pai suíço com mãe baiana. Mas mora na bucólica Wädenswill, patrimônio mundial da humanidade tombado pela Unesco, banhada pelo lago Zurique.

Ele sempre foi adepto de esportes. Praticou ciclismo, natação, corrida, escalada, triatlo, esqui cross country (na neve) e, principalmente, remo. Já integrou a seleção da Suíça em uma competição para remadores de até 18 anos.

Formado em educação física, dá aulas como personal para diversos atletas do alto rendimento. “Testando esses caras [átletas do alto rendimento], vi que meu condicionamento estava quase igual ao deles, apesar de minha função ser muito mais de acompanhar os atletas do que de praticar exercício. Mas vi pelos resultados físicos dos outros que ainda tinha condições de competir no alto rendimento”, contou Hiestand ao blog.

Depois de um difícil começo…
O processo iniciou-se em 2013. Voltou a treinar forte no remo no Lago Zurique e outras regiões vizinhas, sempre no single skiff. Largou a Suíça, veio ao Brasil em 2014, e visitou o Rio de Janeiro pela primeira vez em mais de duas décadas. Sofreu com o idioma e com a rejeição dos remadores brasileiros por tentar “tomar a vaga” de atletas que moram no país. Não conseguiu bons resultados na primeira temporada.

Voltou para a Suíça e organizou uma campanha para angariar fundos para levar seu próprio barco até o Brasil. A vaquinha suíça amealhou mais de 10 mil francos suíços (R$ 37 mil), ele garante. Pediu contribuição argumentando que mora no país europeu desde sempre mas queria mesmo era representar o Brasil. “O crowd funding [financiamento coletivo] era não para que os suíços bancassem um suíço a disputar o Rio-2016. Era para o brasileiro que mora na Suíça representar seu país, o Brasil, nos Jogos. E a resposta foi incrível”, explicou Hiestand, em entrevista via Skype.

Conseguiu treinar na Europa com o forte time da Nova Zelândia, garantiu um bronze na Regata Internacional de Bled, na Eslovênia, em maio, e ainda trouxe seu barco para o Brasil, onde garantiu vaga para disputar o Mundial de remo, em agosto, em Aiguebelette, na França.

Reação psicossomática na França
A participação no Mundial, no entanto, foi frustrante. Terminou apenas em 6º na final C (18º no geral), mas, ao final da competição, recebeu a visita de Edson Altino, presidente da CBRemo (Confederação Brasileira de Remo), em   Wädenswill, que lhe prometeu mais apoio da confederação na preparação para o Rio-2016.

“Sofri com uma crise alérgica psicológica muito grave lá em Aiguebelette, fiquei sem dormir. Foi difícil, por tudo que enfrentei para disputar esse Mundial, daria para escrever um livro para cada dia que vivi até chegar ali. Daí veio o resultado ruim”, justificou Hiestand. Garante que pode melhorar e os primeiros meses de 2016 são decisivos.

Dura vida de atleta no Brasil
Aumentou a campanha da vaquinha entre os suíços, foi contemplado pelo bolsa atleta do Ministério do Esporte. Conheceu a burocracia brasileira para abrir uma conta na Caixa, mesmo morando na Suíça, na qual recebe os cerca de R$ 900 mensais (240 francos suíços) do governo brasileiro. Contou com a ajuda de Roque Zimmerman, do Clube Náutico América, para aperfeiçoar o português, embora ainda fale com sotaque alemão, e conhecer as percalços da vida de atleta de alto rendimento no Brasil.

Espera voltar a arrecadar pelo menos outros 10 mil francos suíços para garantir a vaga nos Jogos, na seletiva no Rio em fevereiro, e, em seguida, outra no Chile, em março. Se obtiver êxito, realizará o sonho que começou num bate-papo informal com um amigo às margens do Lago Zurique. “Meu pai queria que eu trabalhasse na indústria, minha mãe queria que eu estudasse mais, mas eu dificilmente fiz o que eles esperavam de mim. E duvidaram quando eu avisei que representaria o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio. Eu vou conseguir, vou provar para eles que posso representar meu país na olimpíada em casa’, disse Hiestand, chamando o Brasil de casa, apesar de estar longe daqui desde os três anos de idade.

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Steve Hiestand, de regata amarela, foi campeão no Brasileiro de 2014, em SP (Divulgação/CBR)


Remo brasileiro naufraga em crise crônica às vésperas dos Jogos-2016
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Daniel Brito

Daniel Scelza/ABI/Folhapress

Provas de remo na Rio-2016 serão na Lagoa Rodrigo de Freitas

Os Jogos Olímpicos do Rio-2016, veja só, tornaram-se um problema para o remo brasileiro. Por causa das obras na Lagoa Rodrigo de Freitas, onde serão realizadas as provas da modalidade no próximo ano, a seleção nacional perdeu seu local de treinamento. A observação é de Edson Altino Pereira Júnior, presidente da CBR (Confederação Brasileira de Remo).

“Tivemos que sair da nossa área de treinamento para reforma do estádio e da raia de competição que serão utilizados nos Jogos do Rio-2016. Por isso, temos que tirar a seleção de seu local de treinamento e isso é uma dificuldade a mais. Acho que é o único esporte que teve que sair do seu local para dar espaço para os Jogos”, lamentou Altino durante sessão da Comissão de Esporte na Câmara dos Deputados.

Do modo que fala, o dirigente parece ter sido pego de surpresa pela realização dos Jogos, apesar de a escolha da Lagoa como uma dos locais de competição da olimpíada ter ocorrido há mais de seis anos. Mas o discurso de Altino demonstra um problema ainda maior no remo nacional.

É grave a crise na modalidade às vésperas do Rio-2016.

Boicote ao Campeonato Brasileiro
Na semana passada, Fabiana Beltrame, talvez a única remadora de destaque no país, publicou um desabafo nas redes sociais contra as decisões da CBR. A mais recente, que incentivou um boicote de Flamengo, Vasco e Botafogo, alterou para o final de outubro um campeonato brasileiro em Brasília, quando para esta mesma data já estava agendado o campeonato do Rio de Janeiro.

“Há falta de organização, mudanças de planejamento e guerra entre entidades que supostamente deveriam trabalhar em conjunto, os clubes, federações e confederação”, postou Fabiana, que representa o Vasco.

Segundo Altino, sobre este problema só os clubes do Rio reclamaram. “Toda essa polêmica se dá pelo fato de a sede da confederação ser no Rio de Janeiro, vizinho de Flamengo e Botafogo. A história do remo sempre foi da CBR apoiando os clubes do Rio. E quando este apoio deixa de ser como eles estão acostumados, há a crítica”.

Tem dinheiro, falta resultado
Altino tem uma posição interessante sobre os remadores brasileiros. “Os atletas do remo no país são os mais apoiados do mundo inteiro. Eles têm mais suporte financeiro do que os outros atletas”, aponta. O Remo tem o patrocínio do Bradesco, por intermédio da lei de incentivo ao esporte, e foi contemplado com R$ 2.8 milhões da Lei Piva pelo COB no último ano.

Mas pelas contas apresentadas pelo dirigente na Câmara, cerca de 70% desse montante vai para os atletas nas equipes permanentes, comissões técnicas, equipe de manutenção dos barcos, além de apoio para participar de competições e treinamentos. “O atleta só precisa chegar com a vontade, o resto é por nossa conta”, afirmou o presidente da CBR. Os outros 30% servem para manutenção da entidade e cursos de formação, segundo Altino.

O remo poderia até contar com mais recursos. Não há um único projeto de convênio celebrado com o Ministério do Esporte. O que torna a CBR uma das poucas confederações que não apresentou proposta, apesar do interesse da pasta.

Os resultados dos brasileiros estão longe de ser expressivos nas competições internacionais neste ciclo olímpico. No Mundial realizado na França, no início do mês, o destaque ficou por conta do quarto lugar de Fabiana Beltrame no single skiff peso leve, prova em que fora campeã mundial na Eslovênia, em 2011. Na categoria “Dois sem” masculino, Vinicius Delazeri e Victor Ruzicki ficaram em 23º entre 26 concorrentes.

No skiff masculino, a CBR apoiou o brasileiro de nascimento mas radicado há décadas na Suíça, Steve Hiestand, que terminou em 6º na final C (18º no geral). Altino disse que após o Mundial visitou o atleta na Suíça e prometeu mais apoio da confederação na preparação para o Rio-2016.

Quem se encarrega em renovar?
Aliás, Fabiana Beltrame, 33, sozinha, sustenta o remo no noticiário esportivo, com sua performance. Ela está no cenário desde antes dos Jogos Olímpicos de Atenas-2004.

Questionado pelo blogueiro pela ausência de jovens talentos neste ciclo olímpico, Altino atribuiu a falta de renovação aos clubes. “Fabiana é um talento que se destaca, grande parte do nosso retorno de mídia está relacionado a ela. Mas a renovação da equipe deve partir dos clubes, porque muitas vezes a confederação é apontado como culpada pela não renovação, mas isso é de responsabilidade dos clubes. A confederação não tem escolinha de remo, não capta os atletas na escola de ensino e leva para competição internacional, o atleta precisa chegar a um nível mínimo para estar na seleção brasileira”, justificou.

Futuro é duvidoso
Os atletas do alto rendimento do remo nacional ainda não têm certeza se participarão do próximo Campeonato Brasileiro, marcado para Brasília. E, caso participem e atinjam um bom nível para chegar à seleção, não sabe onde vão treinar, já que a raia da seleção estará “ocupada” por um bom tempo…


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