Ex-braço direito de Blatter no Brasil agora comanda o vôlei de praia
Daniel Brito
Fulvio Danilas foi o número 1 da Fifa no Brasil enquanto a entidade manteve seu escritório ativo por aqui. Respondia sobre a Copa do Mundo no país. Comandava o time da entidade na organização do evento no ano passado. Amigo do francês Jerome Valcke, que o indicou ao cargo, formado em economia e relações internacionais na USC (Universidade do Sul da Califórnia), hoje é diretor do departamento de vôlei de praia da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).
Inverteu, agora, os papéis com outro partícipe da organização da Copa no Brasil, Ricardo Trade. Conhecido como Baca, Trade é o CEO da CBV desde fevereiro e chefiava o Comitê Organizador do Mundial no país, que respondia à Fifa. Foi ele quem convidou Danilas a se juntar à confederação de vôlei neste ano.
“A CBV é um exemplo de organização. Tudo é feito sob a orientação do presidente, mas tem uma nova gestão, que é do Ricardo Trade. A ideia é sempre aprimorar. Em pouco tempo que estou lá, pude acompanhar a evolução na gestão, com a transparência, com todos os números publicados. Temos um comitê de apoio que já atua, com jogadores e ex-jogadores, treinadores”, elogiou Danilas.
Ele conversou com o blog há pouco mais de 10 dias, durante etapa do Circuito Nacional de Vôlei de Praia, realizada, coincidentemente, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Arena reerguida para a Copa do Mundo no valor de R$ 1,6 bilhão, recebeu apenas cinco partidas oficiais em 2015. O atual dirigente da CBV considera importante a construção do estádio.
“Este estádio é um equipamento fantástico, incrível, comparável aos melhores do mundo. Agora, cabe aos administradores da cidade fazer bom uso dele. É sabido que Brasília tem um público ávido por eventos esportivos, por isso é um privilégio da cidade contar com esta arena”, opinou.
''Escândalos'' na Fifa
Este não é o único assunto que ele relativiza quando a pauta diz respeito à Fifa. Perguntado sobre ''os recentes escândalos de corrupção envolvendo a entidade, Danilas disse: “Pessoalmente, tenho uma percepção de que a Fifa foi envolvida mas não participou. Entidades filiadas à Fifa, pessoas, mas não funcionários da Fifa, estão envolvidas. Não foram irregularidades encontradas em competições da Fifa”, disse.
“Para uma entidade tão grande como a Fifa, que tem eventos no mundo inteiro, que envolvem tanta gente, tanto dinheiro, controlar tudo o que acontece no futebol é praticamente impossível praticamente. Não estou aqui defendendo a Fifa, mas esse “escândalo” envolve pessoas ligadas à entidade, e não tem relação com a Fifa, mas sim com a Copa América, Copa do Brasil”, explicou, puxando no ar os dedos indicador e médio quando citou a palavra escândalo.
Retorno às origens
Fulvio Danilas não é um estranho no vôlei de praia. Ele atua na modalidade desde muito antes de ela ingressar no programa dos Jogos Olímpicos. O dirigente promoveu campeonatos desde a época em que ainda eram realizados nas areias de Ipanema – hoje, o Maracanã do vôlei de praia é Copacabana -, e tinha patrocínio de marca de cigarro. “Estamos falando aí de 1987, 88”, estima.
Seu envolvimento com o vôlei vem de muito antes. No início dos anos 1980, ele foi meio de rede do time montado pela extinta companhia aérea Transbrasil, em São Paulo. E, como o mundo dá muitas voltas, tinha como preparador físico ninguém menos que o Baca, hoje seu chefe na CBV.
“Meu ingresso na CBV foi um retorno para casa. Sempre atuei no vôlei de praia. Agora, estou reencontrando gente daquela época, que era jogador e hoje é treinador ou mantém-se envolvido com a modalidade até hoje. Isso é muito bacana, mostra que deu certo”, relata.
Koch Tavares
Depois que parou de jogar, Danilas formou-se nos Estados Unidos e voltou para o Brasil para trabalhar na promoção de eventos com a Koch Tavares. A empresa realizou diversos torneios de vôlei de praia no país e fora, entre outras modalidades. Mas foi por intermédio do futebol de areia que Danilas chegou à Fifa.
Após a promoção de uma série de competições pelo mundo, ele relata, chegou ao departamento de “Beach Soccer” da Fifa em 2005. Lá, conheceu Jerome Valcke, então diretor de marketing da entidade (hoje secretário geral), de quem mantém-se amigo até hoje.
O brasileiro acredita em mudanças na Fifa depois dos recentes “escândalos”. “Minha relação com eles [Blatter e Valcke] sempre foi muito boa. Desejo sorte ao Blatter nesta missão de fazer a transição na Fifa, para que a credibilidade seja restabelecida. Eu estive lá dentro e posso testemunhar que é uma entidade que trabalha com alta competência, com organização de altíssimo nível no mundo inteiro, e que a imagem da Fifa seja restabelecida para o bem do futebol. Para o bem do esporte”, desejou.