Blog do Daniel Brito

Liga Indiana que teve Zico e Elano é um showbol com grife

Daniel Brito

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Marketing agressivo: Liga pagou para ser capa do ''Times of India'' de domingo (Daniel Brito/UOL)

NOVA DELHI – A final da Indian Super League (ISL) foi estampada na capa do jornal ''The Times of India'' no domingo, 20. O jogo entre Goa FC, treinado por Zico e com Lúcio na zaga, contra o Chennaiyin, que conta com Elano do time comandado pelo italiano Marco Matterazzi, ganhou destaque nem tanto pelo interesse dos indianos, mas por uma agressiva campanha de publicidade. Um esforço para tentar atrair a atenção do fã do esporte na Índia.

E a competição conta com características peculiares. Senão, vejamos.

Não tem segunda divisão, logo, não rebaixa ninguém, mas também não classifica para nenhum torneio regional, nacional ou continental. É organizado, realizado e promovido por um grupo de marketing esportivo da Índia que é dono do canal de TV a cabo, responsável pela transmissão e distribuição do sinal para outros países. A competição só dura 11 semanas e tem 61 jogos. O último foi ontem, com triunfo do time de Elano e Materazzi por 3 a 2, só voltará a ser realizada em outubro de 2016.

Os principais jogadores que encontraram o caminho para a Índia já dobraram o cabo da boa esperança na carreira, como Lúcio, com 37 anos, Reinaldo, 36, e Elano, 34, para citar apenas alguns brasileiros.

Esses são alguns elementos que aproximam a ISL ao simpático torneio de showbol transmitido pelo Sportv, cuja última edição foi realizada em 2014. Mas há, claro, algumas diferenças: o showbol acontece em uma quadra de futebol society e com ex-jogadores defendendo as cores dos clubes da primeira divisão do Campeonato Nacional.

A ISL foi criada em 2014 e, com ela, todos os clubes. O campeão Chenaiyin, por exemplo, formou-se dois meses antes do início do certame de estreia, no ano passado. A Indian Super League não é correspondente ao Campeonato Nacional da primeira divisão do país. Nem os árbitros são indianos.  A decisão do domingo foi arbitrada por um japonês. Aliás, nenhum dos participantes da Super League disputa o que eles chamam de I-League (Liga Indiana). Essa, sim, tem possibilidade de rebaixamento e alguma relação com torneios internacionais da Federação Asiática de Futebol.

Ou seja, a Índia vive a pitoresca situação de contar com duas ligas de futebol profissional da ''primeira divisão'': uma da TV, cheia de astros internacionais, e outra da federação de futebol do país. E as duas co-existem sem se tocarem.

Sorteio de brindes no intervalo
A transmissão do canal Star é bastante curiosa. Na escalação, os jogadores indianos são identificados com uma bandeira do país ao lado do nome, dando uma forcinha para o público conhecer quem são os atletas locais.

Em seguida, os times entram em campo, mas a TV chama o intervalo comercial. Ao retornar do break, com a transmissão “em definitivo”, inicia-se uma contagem regressiva  para o apito do árbitro. Quando ocorre, fogos de artifícios são lançados da cobertura do estádio. Com a bola rolando, o narrador repete frequentemente que o jogo está “eletrizante”, mesmo que isso não corresponda com a realidade.

O diretor de TV, responsável pelos cortes nas imagens da transmissão, insiste em mostrar os treinadores à beira do gramado mesmo que estejam apenas de braços cruzados. Mas, principalmente, os donos dos times e seus familiares no que parece ser um camarote no estádio, ganham destaque frequente. O close na torcida mostra torcedores enfadados e perdidos a olharem para o campo. Lances violentos ou polêmicos merecem muito menos atenção na transmissão do que os dirigentes.

Na final de ontem, o intervalo teve quase 25 minutos de duração para que fossem sorteados brindes como aparelhos televisores e até automóveis de uma grande marca japonesa. Tudo isso no gramado de jogo, transmitido ao vivo.

É desta maneira que a ISL quer fazer o futebol tornar-se popular na Índia. E, de uma certa maneira, coneguiu. Porque a liga comemorou ontem o fim da temporada com uma média de público de 27 mil espectadores. Em um país com 1,2 bilhão de habitantes, qualquer recorte percentual que se faça vai incluir um número impressionante de pessoas.

Em tempo: no caderno de esportes do Times of India, já sem a influência da publicidade, o noticiário da final do futebol ficou no pé da página, abaixo das informações sobre cricket e wrestling.

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Elano, capitão do Chennaiyin, recebeu a taça da CEO da Indian Super League (Divulgação)