Blog do Daniel Brito

Arquivo : Sportv

Como os EUA podem mudar a história dos Jogos Paraolímpicos
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Daniel Brito

Archer Matt Stutzman of the U.S. prepares to shoot in the London Paralympics. Born without arms, Stutzman uses a release trigger strapped to his shoulder to fire.

Matt Stutzman, nasceu sem os braços, estará na Rio-2016

Os Jogos do Rio-2016 estão sendo tratados como um dos momentos mais importantes da história do esporte para pessoas com deficiência. E, por enquanto, não tem a ver com o desempenho dos atletas, mas com a cobertura que a imprensa americana dará ao evento.

A rede de TV dos Estados Unidos NBC promete entregar 70 horas de exibição das disputas, que iniciam-se em 7 de setembro, no Rio. É um recorde de transmissão de esporte paraolímpico no país. A popularização do paraolimpismo nos Estados Unidos está diretamente ligada ao desenvolvimento e aumento da consciência das pessoas quanto ao movimento.

O Brasil é um bom exemplo de como a TV influenciou na formação e descobrimento de atletas. Um dos maiores medalhistas paraolímpicos do Brasil, o nadador Daniel Dias, dono de oito ouros em Jogos, só descobriu o esporte após assistir a transmissão do Sportv dos Jogos Paraolímpicos de Atenas-2004. Até então, sofria bullying na escola por ter má formação congênita dos quatro membros, pois não sabia que existia esporte de alto rendimento para pessoas com deficiência.

Em Londres-2012, enquanto os ingleses celebravam a maior edição de Jogos Paraolímpicos já realizados, com estádios tomado por 80 mil pessoas para assistir provas de atletismo, os Estados Unidos exibiram apenas cinco horas de competição. Os 12 dias de competição tiveram apenas cinco horas na NBC em 2012, somando todos os programas e compactos e reprises transmitidas neste período.

Não por acaso, o desempenho dos atletas americanos está abaixo do costuma ser nos Jogos Olímpicos. Eles terminaram na sexta colocação, com 31 medalhas de ouro, seguidos pelo Brasil, em sétimo, com 21 ouros. Desde Atlanta-1996, os Estados Unidos não terminam os Jogos Paraolímpicos no topo do quadro de medalhas.

Um acordo fechado entre NBC e IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês) para transmissão dos Jogos Paraolímpicos de Sochi-2014 e do Rio-2016 foi celebrado como um grande marco. Os valores do acordo, no entanto, foram mantidos em sigilo. Já nas Olimpíadas de inverno, de dois anos atrás, na Rússia, a NBC lançou ao ar mais de 55 horas de programas sobre os Jogos.

É claro que a rede de TV dos Estados Unidos ainda está bem longe de repetir a cobertura que faz dos esportes olímpicos. Sua programação inclui apenas um único programa de três horas de duração na TV aberta, no último dia de competição (18), e o restante será exibido no seu canal a cabo, que costuma exibir esportes como pescaria, hóquei no gelo e ciclismo. Porém, eles confiam na crescente audiência das transmissões em streaming (via internet). Por isso, o site do USOC (Comitê Olímpico dos Estados Unidos, na sigla em inglês), que gere o desporto paraolímpico nos EUA,deve disponibilizar as transmissões da NBC.

Com este acordo, o IPC espera bater o recorde de audiência dos Jogos de Londres-2012, quando acumulou 3.8 bilhões de espectadores.


Liga Indiana que teve Zico e Elano é um showbol com grife
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Daniel Brito

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Marketing agressivo: Liga pagou para ser capa do “Times of India” de domingo (Daniel Brito/UOL)

NOVA DELHI – A final da Indian Super League (ISL) foi estampada na capa do jornal “The Times of India” no domingo, 20. O jogo entre Goa FC, treinado por Zico e com Lúcio na zaga, contra o Chennaiyin, que conta com Elano do time comandado pelo italiano Marco Matterazzi, ganhou destaque nem tanto pelo interesse dos indianos, mas por uma agressiva campanha de publicidade. Um esforço para tentar atrair a atenção do fã do esporte na Índia.

E a competição conta com características peculiares. Senão, vejamos.

Não tem segunda divisão, logo, não rebaixa ninguém, mas também não classifica para nenhum torneio regional, nacional ou continental. É organizado, realizado e promovido por um grupo de marketing esportivo da Índia que é dono do canal de TV a cabo, responsável pela transmissão e distribuição do sinal para outros países. A competição só dura 11 semanas e tem 61 jogos. O último foi ontem, com triunfo do time de Elano e Materazzi por 3 a 2, só voltará a ser realizada em outubro de 2016.

Os principais jogadores que encontraram o caminho para a Índia já dobraram o cabo da boa esperança na carreira, como Lúcio, com 37 anos, Reinaldo, 36, e Elano, 34, para citar apenas alguns brasileiros.

Esses são alguns elementos que aproximam a ISL ao simpático torneio de showbol transmitido pelo Sportv, cuja última edição foi realizada em 2014. Mas há, claro, algumas diferenças: o showbol acontece em uma quadra de futebol society e com ex-jogadores defendendo as cores dos clubes da primeira divisão do Campeonato Nacional.

A ISL foi criada em 2014 e, com ela, todos os clubes. O campeão Chenaiyin, por exemplo, formou-se dois meses antes do início do certame de estreia, no ano passado. A Indian Super League não é correspondente ao Campeonato Nacional da primeira divisão do país. Nem os árbitros são indianos.  A decisão do domingo foi arbitrada por um japonês. Aliás, nenhum dos participantes da Super League disputa o que eles chamam de I-League (Liga Indiana). Essa, sim, tem possibilidade de rebaixamento e alguma relação com torneios internacionais da Federação Asiática de Futebol.

Ou seja, a Índia vive a pitoresca situação de contar com duas ligas de futebol profissional da “primeira divisão”: uma da TV, cheia de astros internacionais, e outra da federação de futebol do país. E as duas co-existem sem se tocarem.

Sorteio de brindes no intervalo
A transmissão do canal Star é bastante curiosa. Na escalação, os jogadores indianos são identificados com uma bandeira do país ao lado do nome, dando uma forcinha para o público conhecer quem são os atletas locais.

Em seguida, os times entram em campo, mas a TV chama o intervalo comercial. Ao retornar do break, com a transmissão “em definitivo”, inicia-se uma contagem regressiva  para o apito do árbitro. Quando ocorre, fogos de artifícios são lançados da cobertura do estádio. Com a bola rolando, o narrador repete frequentemente que o jogo está “eletrizante”, mesmo que isso não corresponda com a realidade.

O diretor de TV, responsável pelos cortes nas imagens da transmissão, insiste em mostrar os treinadores à beira do gramado mesmo que estejam apenas de braços cruzados. Mas, principalmente, os donos dos times e seus familiares no que parece ser um camarote no estádio, ganham destaque frequente. O close na torcida mostra torcedores enfadados e perdidos a olharem para o campo. Lances violentos ou polêmicos merecem muito menos atenção na transmissão do que os dirigentes.

Na final de ontem, o intervalo teve quase 25 minutos de duração para que fossem sorteados brindes como aparelhos televisores e até automóveis de uma grande marca japonesa. Tudo isso no gramado de jogo, transmitido ao vivo.

É desta maneira que a ISL quer fazer o futebol tornar-se popular na Índia. E, de uma certa maneira, coneguiu. Porque a liga comemorou ontem o fim da temporada com uma média de público de 27 mil espectadores. Em um país com 1,2 bilhão de habitantes, qualquer recorte percentual que se faça vai incluir um número impressionante de pessoas.

Em tempo: no caderno de esportes do Times of India, já sem a influência da publicidade, o noticiário da final do futebol ficou no pé da página, abaixo das informações sobre cricket e wrestling.

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Elano, capitão do Chennaiyin, recebeu a taça da CEO da Indian Super League (Divulgação)


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