COL fez repasses milionários para exterior; CPI cita caixa dois na CBF
Daniel Brito
A sessão da CPI do Futebol desta terça-feira, 22, revelou detalhes da investigação nas contas da CBF e do COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo-2014. A reunião, que contou com a presença de seis senadores, discutiu o conteúdo de documentos, até então mantidos em sigilo, obtidos com autorização da Justiça de São Paulo.
Um deles tratava do repasse de recursos do COL para contas fora do país.
Em dezembro de 2013, foram transferidos do COL para uma conta a uma agência do Itaú nos Estados Unidos no valor de R$ 23,7 milhões. Em 2014, o COL repassou R$ 51 mil para uma conta nas Ilhas Canárias, um paraíso fiscal no Atlântico. A informação foi dada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), uma das vozes mais ativas contra a CBF no Senado. “Até onde sabíamos, o COL só possuía contas no Brasil, agora descobrimos duas no exterior”, apontou Randolfe. Em todas as quebras de sigilo bancário e fiscal, a CPI jamais havia encontrado registro dessas duas contas fora do país, cujos donos não estão identificados.
Ele também informou que a Fifa repassou ao COL no Brasil mais de R$ 1 bilhão no período de 2012 a 2015. No ano da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, o COL transferiu para Fifa aproximadamente R$ 43 milhões.
“A Fifa teve isenção fiscal no Brasil e há indícios aqui que precisam ser investigados. Isenção fiscal é recurso público, e aqui a gente tem indícios de que recurso público foi utilizado indevidamente pelo esquema CBF-Fifa”, declarou Randolfe.
Suspeita de caixa dois para vice da CBF
Outro documento tornado público na sessão desta terça-feira é uma troca de e-mails de Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF para a Região Nordeste, e atual prefeito da cidade de Boca da Mata, Alagoas. É datado de julho de 2012, e o cartola parabeniza Marco Polo pela eleição na CBF (assumira como vice de José Maria Marin) e pede que a entidade transfira valores para sua campanha na eleição municipal de 2012.
“Quando estive na CBF, ainda sobre (sic) a presidência do Dr. Ricardo [Teixeira], falei com ele sobre a intenção do pleito de 2012, naquela data fiou acordado que a participação da casa seria 30% do valor total do orçamento”, diz Feijó em seu email a Marco Polo. “Até o presente momento, já recebi 300 e outra cota de 50, venho solicitar do amigo uma atenção especial para a liberação dos 250 que falta(sic)”.
O email segue com Feijó passando informações sobre o orçamento da campanha eleitoral e sobre o otimismo em sair-se vitorioso. Ele discrimina os gastos, como R$ 900 mil a vereadores e R$ 100 mil em combustível, outros R$ 72 mil para funcionários.
Marco Polo, que trata Feijó no e-mail como “amigo e irmão”, concorda com o pedido do cartola alagoano e ainda pede para que o diretor financeiro da CBF, Antonio Osório, providencie o pagamento a cada 20 dias em parcelas de R$ 50 mil “para manter o nosso fluxo de caixa”.
À Justiça Eleitoral, Gustavo Dantas Feijó declarou receita total de R$ 130 mil de sua campanha à prefeitura. Nem a CBF e nem a Federação Alagona de Futebol aparecem como doadores da campanha, de acordo com a prestação de contas disponível na página na internet do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Marco Polo e Feijó na CPI
Randolfe defende a convocação de Feijó para explicar as suspeitas de caixa dois na campanha eleitoral financiado pela CBF e também uma nova intimação para Marco Polo Del Nero, para explicar a relação com Feijó assim como os do COL para contas bancárias no exterior.
A próxima sessão será na terça-feira, 29, em reunião secreta, para apreciação de novos documentos sigilosos.
Procurada pelo UOL Esporte para comentar sobre a sessão desta terça-feira, 22, da CPI, Feijó e a assessoria da CBF não foram encontradas.