Inglês pede que Brasil troque preconceito por aceitação aos paraolímpicos
Daniel Brito
O presidente do IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês), Sir Philip Craven, espera que o Comitê Organizador dos Jogos do Rio-2016 transforme o preconceito contra o esporte entre pessoas com deficiência em aceitação. A declaração foi dada em entrevista ao blog, quando faltam 100 dias para 7 de setembro – data da abertura do evento.
Ela foi motivada pelo posicionamento do Comitê Organizador do Rio-2016 sobre a venda de ingressos para os Jogos Paraolímpicos. O diretor de comunicação do Comitê, Mario Andrada, disse, no início do ano, que a procura do pública estava muito baixa talvez pela percepção do público em relação ao evento.
“O esporte paraolímpico é feito de histórias emocionantes, embora alguns ainda fiquem um pouco reticentes em acompanhar as competições, até por conta de algum preconceito em relação aos atletas, quando na prática é justamente o contrário”, dissera Andrada, em janeiro, em encontro com a imprensa.
“O IPC está totalmente a par do que foi dito na oportunidade e achamos que precisa ser colocado dentro de um contexto”, disse Sir Philip Craven, por e-mail.
Confira, abaixo, a entrevista completa.
BLOG DO BRITO – Em janeiro, o diretor de comunicação do Comitê Organizador dos Jogos disse que um dos motivos pela baixa procura de ingressos para os Jogos Paraolímpicos pode ser “algum preconceito” do brasileiro contra atletas com alguma deficiência. Como o IPC recebeu esta declaração?
SIR PHILIP CRAVEN – O IPC está totalmente a par do que foi dito e achamos que deve ser colocado dentro de um contexto. Antes dos Jogos de Londres-2012, uma pesquisa do Comitê Organizador local registrou que havia uma apreensão quanto aos Jogos Paraolímpicos porque muitos jamais tinham assistido e não estavam familiarizados com pessoas com deficiência praticando esporte. O Comitê de Londres-12 fez um grande trabalho de transformar esta negatividade em algo positivo. Eles usaram o esporte como uma ferramenta para mudar a percepção sobre o que uma pessoa com deficiência pode alcançar. Por este motivo os Jogos Paraolímpicos são o maior evento esportivo no mundo para inclusão social. Eu espero que o Comitê Organizador do Rio-2016 veja neste próximos 100 dias a oportunidade de transformar este dito “preconceito” em “aceitação” ao esporte paraolímpico, que trata de alta performance envolvendo alguns dos maiores atletas do mundo. Eles precisam se concentrar na habilidade dos atletas em vez da deficiência.
Na última vez que nos falamos, você espera que não houvesse interferência da crise política e econômica no Brasil na organização dos Jogos. Isso foi em setembro do ano passado. Desde então, muita coisa mudou, inclusive a Presidência da República. A posição do IPC sobre o Rio-16 mudou também?
Nós, claramente, preferiríamos que as coisas estivessem mais estáveis, no entanto o impacto global da crise nos Jogos não é tão grande. Mas em circunstâncias difíceis, únicas para qualquer edição anterior dos Jogos, o Comitê Organizador lidou muito bem. Os Jogos Paraolímpicos de setembro serão realizados como o planejado e a equipe brasileira, com muitos dos melhores atletas do mundo, vai apontar para terminar entre os cinco primeiros no quadro de medalhas. Acredito que agora as coisas parecem ter se resolvido um pouco, a população brasileira pode alternar a atenção do momento político para os Jogos-16, que eu realmente acredito que podem transformar o Brasil para sempre. Aqueles que assistirem aos Jogos Paraolímpicos nas arenas ou pela TV vão sentir um enorme orgulho no Brasil.
Está preocupado com a baixa procura pelos ingressos?
O Comitê Organizador do Rio-16 pode passar o cenário exato da venda de ingressos no momento. Claramente, gostaríamos de ter vendido mais ingressos até aqui, porque quanto mais cedo vendermos todos os ingressos em todas as arenas, melhor. Mas nós temos que aceitar que o Brasil é um mercado em que se compra ingressos em cima da hora e o país está atravessando um momento muito desafiador. Mas estamos confiantes que as vendas vão engrenar, assim como eles fizeram com os Jogos Olímpicos agora que o revezamento da tocha olímpica está em curso. Com dois milhões de ingressos custando R$ 10, está bastante acessível para os brasileiros fazerem parte da história. O IPC estava no Rio há 10 dias para a revisão final do projeto, e juntamente com o Comitê Organizador, a prefeitura e Comitê Paraolímpico Brasileiro, não vamos deixar pedra sobre pedra para envolvermos o público brasileiro naqueles que serão os melhores Jogos Paraolímpicos em performance esportiva.
Um dos mais conhecidos atletas paraolímpicos do país, o canoísta Fernando Fernandes, alega falhas no processo de classificação de categorias por nível de deficiência e, por este motivo, ele perdeu a vaga nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. O IPC entende que há problemas na classificação dos atletas por deficiência?
Sobre a classificação na canoagem, você deve falar com a federação internacional sobre este assunto específico. No entanto, o que eu diria que as pessoas precisam entender que a classificação não se baseia em atletas com a mesma deficiência reunidos na mesma categoria, classificação do atleta é baseada em qual é o impacto dessa deficiência na capacidade de o atleta praticar aquele determinado esporte. Como resultado, você vai ver às vezes atletas com diferentes deficiências competindo na mesma classe. Por que é isso? É porque a deficiência tem um impacto semelhante na sua capacidade de praticar o desporto.