Palco da estreia da seleção na Rio-16 abandona energia solar, sem dinheiro
Daniel Brito
Não saiu do papel o projeto de alimentar o Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, com energia solar. Duas empresas do GDF (Governo do Distrito Federal) rescindiram, de forma amigável, o contrato para obra, estimada em R$ 12,2 milhões e com previsão de ficar pronta para os Jogos Olímpicos do Rio-2016.
O motivo: falta de dinheiro.
O Nacional foi contemplado com 10 partidas de futebol nos Jogos do Rio-2016 em um período de oito dias, de 4 a 12 de agosto. Os holofotes que vão por luz na seleção brasileira masculina a partir das 16h do dia 4, ante a África do Sul, na estreia do time de Rogério Micale na Olimpíada, serão alimentados por redes de alta tensão vindas das usinas hidroelétricas de Corumbá III e Corumbá IV, em Goiás.
Não era essa a promessa feita no início de 2014. O compromiso oficializado à época era que 75% da cobertura do Nacional pudessem ser utilizados para abrigar os painéis de captação de energia solar fabricados com silício cristalino. Seria ali a Usina Fotovoltáica (USF), nome técnico para produção desta matriz energética. De acordo com a CEB (Companhia Energética de Brasília) atenderia uma demanda da Fifa que gostaria de fazer uma ''Copa sustentável”.
Em abril deste ano, contudo, o DODF (Diário Oficial do Distrito Federal) publicou o balanço da CEB no qual constava a informação da rescisão amigável entre a companhia e a Terracap, agência de desenvolvimento do DF, igualmente uma empresa pública do governo local. A Terracap era a responsável pelo consórcio que tocaria a obra.
“A Terracap solicitou inicialmente a suspensão do convênio e realização de estudos de viabilidade do empreendimento. Depois, a Gerência de Engenharia da Terracap sugeriu a rescisão contratual. Dentre os motivos elencados está a conjuntura econômica/financeira em que a Terracap se encontrava, sem recursos disponíveis, visto que essa despesa não foi contemplada na proposta orçamentária de 2015”, informou a Terracap, por meio da assessoria de imprensa.
A empresa também informou que a obra nem sequer foi iniciada e não há outra alternativa, a não ser continuar alimentando o Estádio Nacional com as linhas de Corumbá III e IV.
E eu com isso?
A arena brasiliense, reerguida ao custo estimado de RF$ 1,9 bilhão, ganhou duas sub-estações de energia cujas redes de alta tensão estão sendo fornecidas pelo SIN-Furnas (Sistema Interligado Nacional) e das usinas de Corumbá III e IV, responsáveis por abastecer todo o DF, que custaram R$ 23 milhões, segundo anunciou o GDF, em 2013. Além dessa, haveria a tal usina fotovoltáica no valor de R$ 12 milhões, que nunca saiu do papel.
A energia solar é limpa e renovável, embora mais cara que a hidroelétrica. Brasília reúne características especiais para aderir a esta matriz energética, uma vez que possui uma estação seca que se estende por quase seis meses no ano em média.
Se a usina fotovoltáica do Nacional tivesse saído do papel, ela substituiria de alguma maneira o consumo da energia da hidroelétrica. As redes de alta tensão de Corumbá poderiam, assim, ter uma destinação muito mais útil para o cotidiano da capital. Por exemplo, contribuindo para diminuir a incidência de apagões na região central da capital do país, onde estão localizadas diversas autarquias, ministérios, tribunais superiores e sede de bancos públicos.
Além de amenizar a diminuição do nível dos reservatórios no Estado de Goiás, que nesta época do ano começa a preocupar as autoridades, em razão do minguado índice pluviométrico registrado até agora em 2016 na região.