Blog do Daniel Brito

Paga-se R$ 1,7 mil a quem achar um ouro roubado de atleta campeã da Rio-16
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Daniel Brito

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Christiane Reppe foi campeã de handbike na Rio-2016

Christiane Reppe, 29, foi furtada no mês passado. Tiraram-lhe a medalha de ouro conquistada na prova de ciclismo nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. Agora, ela oferece uma recompensa de 500 euros (cerca de R$ 1,700) para quem a devolver.

O curioso da história é que o furto não foi no Rio, como parte da imprensa internacional e até das delegações estrangeiras temiam que pudesse ocorrer, mas na capital da Alemanha, Berlim. Pior: em algum lugar de acesso restrito dentro da estrutura montada para a famosa Maratona de Berlim.

Ao blog, ela relatou como percebeu que tomaram-lhe o seu ouro:

“A medalha estava dentro da minha bolsa. Em nenhum momento tirei a medalha dali. Fui à sala de coletivas de imprensa, ninguém ali sabia que a medalha estava dentro da bolsa. Deixei a bolsa próxima a uma pessoa que conheço e fui ao pódio da Maratona de Berlim. Depois da coletiva de imprensa, não abri a bolsa e fui direto ao hotel. Só comecei a procurar na segunda-feira, quando me dei conta que não estava mais com a medalha. Eu e meu amigo procuramos em todos os lugares, passamos por todos os pontos em que estivemos nos dias anteriores e tentamos repassar na memória todos os minutos para lembrar onde poderia ter caído ou deixado. Nada. Ligamos no hotel, fomos à polícia. Não estava em lugar algum. Desesperada, decidi compartilhar na minha página pessoal no Facebook”.

O post de Christiane viralizou. Atingiu mais de 200 mil visualizações, segundo as métricas de sua página. A imprensa alemã publicou a história, mas tampouco conseguiu na busca.

No Brasil, a ciclista paraolímpica paranaense Jady Malevazzi ajudou a difundir a publicação da alemã. As duas são amigas, competiram uma contra a outra nos Jogos Paraolímpicos Rio-2016 na prova de estrada de handbike. Jady terminou na 10ª colocação, após acidentar-se no decorrer do trajeto, enquanto que Christiane ficou com o ouro.

Foi sua primeira medalha paraolímpica no ciclismo. Até então fora atleta da natação paraolímpica e já tinha dois bronzes de Atenas-2004. Christiane Reppe é amputada da perna direita acima do joelho, em decorrência de um tumor, ainda aos cinco anos de idade.

Neste caso do furto do ouro, Jady ajudou a alemã a entrar em contato com o Comitê Organizador do Rio-2016. Agora, o Comitê Paraolímpico Alemão vai fazer o pedido formal para que envie uma nova medalha para Christiane. “Eu fiquei tão triste, tão chocada com essa história. Não digo nem com raiva, a palavra é triste. Como alguém pode querer roubar uma medalha de ouro de outra pessoa? Por sorte, o Comitê Organizador do Rio-2016 ofereceu toda ajuda e acho que posso ter uma nova medalha. Espero”, disse, em conversa pela internet, ao blog. Mesmo que venha uma nova medalha, a recompensa financeira pelo ouro original conquistado no Rio ainda está mantida.

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Deputado, diretor da CBF, se cala sobre prisão de Cunha, seu maior aliado
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Daniel Brito

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Desde que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi preso, o blog tenta contato com o deputado federal Marcelo Aro (PHS-MG). Ele acumula o cargo com o de diretor de ''Ética e Transparência'' da CBF e é um dos maiores aliados de Cunha. Porém, desde que começou a derrocada de Cunha em Brasília, quando teve o mandato cassado, em setembro, Aro tirou o time de campo.

Aro tinha no ex-presidente da Câmara uma espécie de irmão mais velho. Sempre o acionava em brigas e desavenças nas comissões. Quando ainda era vereador em Belo Horizonte, Aro concedeu título de cidadão honorário de Belo Horizonte ao carioca, que agora está em vias de perdê-lo.

Cunha deu uma sala na Câmara à liderança do nanico PHS, do qual o mineiro foi líder no início do mandato. Frequentemente, Aro puxava coro do plenário: “Olê olê olê olá Cunha Cunha”. O jornal “O Estado de Minas” aponta influência de Cunha na indicação do mineiro para o corpo diretivo da CBF. Parentes de Aro já foram alvo da CPI do Futebol, no Senado, em 2001. A família dele ficou à frente da FMF (Federação Mineira de Futebol) de meados de 1960 até os anos 1990.

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Aro notabilizou-se durante o processo de admissibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff ao ir às sessões com uma miniatura do boneco do ex-presidente Lula em traje de presidiário, popularmente chamado de Pixuleco

Não compareceu à sessão que votou pela cassação de Cunha. Em sua página no Facebook disse com todos as letras: “A cassação é uma medida excessiva”.

E sobre a prisão de Cunha?

Bom, o blog não obteve retorno do deputado federal Marcelo Aro desde que o ex-parlamentar do PMDB do Rio trocou o terno e gravata de Brasília pelo uniforme de presidiário, em Curitiba.


Ela é recordista olímpica e faz campanha em prol das armas para Trump
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Daniel Brito

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A californiana Kim Rhode entrou para a história ao conquistar sua sexta medalha olímpica consecutiva durante a Rio-2016. Ela foi bronze no skeet, completando vinte anos de frequência em pódios dos Jogos. O feito inédito, no entanto, foi o assunto menos comentado na coletiva de imprensa após a cerimônia das medalhas em Deodoro, onde foram realizadas as provas de tiro esportivo. O assunto ali foi as eleições presidenciais nos Estados Unidos e a liberação da venda de armas no país.

Kim aproveitou para deixar bem claro seu posicionamento. “Eu sou totalmente a favor de Donald Trump”, disse no início da coletiva. Deu o gancho que os jornalistas precisavam para falar menos de Olimpíada e mais de política. “Seria incrível ter uma mulher como presidente dos Estados Unidos, mas que não seja Hilary”, disse, disparando uma gargalhada solitária na sala de imprensa.

Kimberly Susan Rhode, 37, é do sul da Califórnia, região repleta de imigrantes mexicanos. Os mesmos que Trump, seu candidato, quer ver fora do país. Mas não é a questão da imigração que une o controverso republicano à atiradora. “É uma lista de itens que faz você aderir a um candidato, mas para mim é basicamente a defesa da segunda emenda da constituição”, atribuiu.

O porte de armas está no centro do debate da política americana desde que Trump acusou a candidata democrata, Hilary Clinton, de ''querer essencialmente abolir'' a Segunda Emenda da Constituição, que se refere ao direito de porte de armas. “A segunda emenda é algo grande para mim, porque é a maneira como levo a vida e é algo apaixonante e importante para minha família há muitas gerações”, defendeu Kim na coletiva, durante a Rio-16. Na mesma ocasião, contou aos repórteres que seu filho de três anos já toma aula de tiros com rifle. Um jornalista francês ficou chocado na coletiva com essa informação.

Ela é frequentemente convidada para debates na TV sobre porte de armas, especialmente após massacres em escolas, shoppings ou outros locais públicos. Kim sempre tem um discurso pronto em favor do porte de arma e da liberação na venda.

Após conquistar a medalha de bronze na Rio-16, ela pediu para participar mais ativamente da campanha de Trump. Foi atendida. Recentemente, gravou seu segundo vídeo de 35 segundos que a campanha republicana pretende viralizar, com as propostas do candidato sobre porte de armas.

Sites e blogs republicanos apontaram discriminação da cobertura da imprensa do recorde batido por Kim na Rio-16, exatamente por ser pró-Trump. Segundo esses veículos, a notícia era muito importante e teve pouco destaque devido ao boicoite aos atletas que apoiam o candidato.

No final de semana que passou, Kim Rhode voltou a triunfar no cenário internacional: foi ouro na etapa da Copa do Mundo, em Roma. E isso, a imprensa dos Estados Unidos ignorou…


COB indica ex-diretor para Tribunal Único Antidopagem
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Daniel Brito

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) indicou um ex-diretor-executivo, Marcus Vinicius Freire, para o Tribunal Único Antidopagem, que está em fase inicial de instalação. Ele trabalhou durante 18 anos no COB, sendo os últimos oito em função executiva. A sugestão foi dada ao Ministério do Esporte na última reunião do Conselho Nacional de Esporte (CNE), há uma semana.

O Tribunal representa um dos mais importantes pontos na nova estrutura de controle e combate ao doping no esporte no Brasil, exigida pela Wada (Agência Mundial Antidoping). Ele será mantido pelo Ministério do Esporte, mas deve prioritariamente conservar uma autonomia das entidades esportivas, sejam confederações, agremiações ou comitê olímpico e paraolímpico.

Com a sua criação, ficam extintos os julgamentos de casos de doping nas federações e confederações. Todos os episódios serão julgados no Tribunal Único Antidopagem, daí a origem do nome. Nele, haverá duplo grau de jurisdição: uma turma revisará o julgamento de outra. O trabalho será feito de acordo com a demanda de exames produzidas pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem).

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Marcus Vinicius Freire foi diretor do COB nos últimos oito anos

Críticas ao controle de dopagem
Marcus Vinícius Freire deixou o cargo no COB em setembro, anunciando que seguiria “novos rumos”. Foi o chefe da missão brasileira, auto-intitulada de Time Brasil pelo comitê, no Rio-2016. Na reta final da preparação para os Jogos Olímpicos, Marcus Vinícius criticou o excesso de exames antidoping ao qual os atletas brasileira vinham sendo submetidos pela ABCD, grande parceria do Tribunal. “Minha maior preocupação são as faltas. É a ABCD ir fazer o teste e não encontrar nosso atleta. Se ele leva três punições por falta, é considerado positivo. É matemático. Quanto mais testes você faz, mais faltas acontecem”, analisou, em março deste ano Freire.

O discurso para a imprensa casou com sua atuação nos bastidores. Foi o que acusou o médico português Luís Horta, ex-integrante da ABCD, em reportagem do diário Lance!, nos primeiros dias de agosto.

“A ABCD sempre desejou ter como objetivo primordial que as medalhas fossem muitas, mas limpas. Este objetivo, viemos a descobrir, não era partilhado por todos os interlocutores, pois alguns desejam apenas que fossem muitas medalhas, independentemente de serem limpas ou não. Tudo ficou muito claro quando o COB, através do seu diretor executivo [Marcus Vinicius Freire], começou a pressionar a ABCD, expressando a sua insatisfação relativa à quantidade excessiva de controles de dopagem fora de competição realizados pela ABCD nos brasileiros e à forma rigorosa como a ABCD estava a realizar a gestão das falhas relativas ao sistema de localização”.

Freire rebateu: “Trabalhei por seis anos em órgãos que combatem o doping. Nunca reclamamos por ter que realizar exames, mas sim pela quantidade exagerada a que os principais atletas eram submetidos pela agência durante a preparação. Em menos de um mês tiveram que fazer 10 testes, isso atrapalhava a preparação“.

Critérios para escolha
O prazo para instalação do Tribunal Único Antidopagem é fevereiro de 2017. O órgão será composto por membros indicados por representantes de entidades de administração do desporto, da Comissão Nacional de Atletas e do Ministério do Esporte. Os nomes serão apresentados na próxima reunião do Conselho Nacional do Esporte (CNE), marcada para o fim de novembro, e a escolha será realizada pelo próprio CNE, ao qual caberá a análise dos perfis técnicos dos indicados.


Ginasta ganha BMW de prêmio pela Rio-16 mas pede para trocar por dinheiro
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Daniel Brito

karmakar_bmw_4_1476268056A ginasta Dipa Karmakar ganhou uma BMW por sua participação nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. O modelo 320D, com o qual fora contemplada, pode custar mais de R$ 160 mil. Porém, a atleta avisou que está retornando o veículo a quem a presenteou. E os motivos são inquestionáveis: falta de dinheiro para manutenção e péssima condição das estradas e ruas de seu país. Além de tudo, ela não sabe dirigir.

Dipa é indiana de Agartala, a dois quilômetros da fronteira com Bangladesh, terminou na quarta colocação no salto sobre o cavalo. É a primeira mulher do país a disputar uma edição de Jogos Olímpicos. O pódio lhe escapou porque falhou na aterrissagem de um movimento conhecido como o “salto da morte”, que leva o nome da ginasta russa Yelena Produnova. Este salto é a especialidade de Dipa. Com ele, a indiana esperava levar a bandeira de seu país ao pódio nos Jogos do Rio-2016, mas a execução não saiu como o esperado.

A quarta colocação, contudo, foi muito celebrada na Índia e Dipa Karmakar foi presenteada pelo astro indiano do críquete Sachin Tendulkar com uma BMW. Outras duas atletas olímpicas do país também foram contempladas: PV Sindhu, do badminton, e Sakshi Malik, do wrestling. Elas, diferentemente da ginasta, conquistaram medalha na Rio-2016.

Todo desempenho feminino em competições esportivas tende a ser celebrado com muita propaganda na Índia, porque o país ainda sofre com o machismo e a violência de gênero, e o esporte serve como catalisador para mudanças neste sentido. Dipa Karmakar posou para fotos, fez discurso e deu entrevistas quando recebeu a BMW, há dois meses.

Na semana passada, no entanto, anunciou nas redes sociais que não ficaria com o carro. “Não foi uma decisão dela, foi da família”, justificou Bisheswar Nandi, técnico da ginasta, ao jornal Times of India. “Não há centro de atendimento e manutenção da BMW em Agartala [onde Dipa mora] e as ruas e estradas da cidade são terríveis para andar com um carro desses”, completou o treinador.

A ginasta já avisou à BMW que vai devolver o veículo e que, se possível, pudesse transferir para ela o valor do carro em dinheiro como prêmio pela participação olímpica. “Se não puder ser o valor do carro, qualquer quantia para nós já está excelente”, disse Nandi.


Férias
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Daniel Brito

O autor do blog entra em férias a partir da segunda-feira, 26.

As atividades neste espaço serão retomadas em 17 de outubro.

Até lá.

 

 


Punição à Rússia causa constrangimento entre paraolímpicos e COI
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Daniel Brito

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Ferve em fogo brando a longa relação entre COI (Comitê Olímpico Internacional) e IPC (Comitê Paraolímpico Internacional, na sigla em inglês), desde que as duas entidades deram destinos diferentes à Rússia, acusada de manter um largo esquema de doping com apoio do governo. Enquanto os olímpicos terceirizaram a responsabilidade para as federações internacionais decidirem sobre a  participação de russos nas Olimpíadas-2016, os paraolímpicos baniram completamente da Rio-16 a delegação do país. E mais: os excluíram dos Jogos de inverno de PyeongChang-2018.

Aos olhos da crítica internacional, ficou clara uma posição de antagonismo dos dois parcerios. O COI afrouxou as rédeas que o IPC manteve curta no relacionamento com a Rússia, uma potência não só esportiva como geopolítica. Os elogios foram para o IPC e as críticas, ao COI.

Criou-se um constrangimento

Em vez de apagar a fogueira da vaidade, o COI borrifou o fogo com querosene: anunciou que o alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, não virá ao Rio para a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos. Desde Seul-1988, o presidente do COI prestigia a inauguração das Paraolimpíadas.

A justificativa de Bach é de que participará do funeral de Walter Scheel, que morreu aos 97 anos em 24 de agosto – portanto, há duas semanas -, em Berlim. Scheel foi presidente da Alemanha Oriental de 1974 a 1979. Em substituição a Bach virá o sul-africano Sam Ramsamy, membro do COI há 21 anos.

“Lamentamos que o presidente [Thomas Bach] não possa vir, mas entendemos que houve um imprevisto na Europa. Estivemos em contato com ele desde que os Jogos Olímpicos terminaram e esperamos vê-lo no Brasil o mais cedo”, disse Mario Andrada, diretor de comunicação do Comitê Rio 2016.

Craig Spence, diretor de comunicação do IPC, garantiu em entrevista ao blog que não há atrito polítivo entre as organizações, e que a decisão da entidade para qual atua foi avalizada pelo TAS (Tribunal Arbitral do Esporte). “O TAS disse que, embora as duas entidades tratem de esporte, é compreensível a decisão de cada uma delas, porque atendem às suas respectivas particularidades. Não há  conflito algum em nossas decisões”, disse Spence ao blog.

O desgaste políticos entre ambas as partes chega em um momento importante do relacionamento entre COI e IPC. Em junho, antes de toda a polêmica, as duas entidades deram início a um acordo para que Jogos Olímpicos e Paraolímpicos continuem sendo realizados na mesma cidade, como ocorre desde Seul-1988, com um evento seguido do outro. Atualmente, o contrato entre eles está confirmado somente até Tóquio-2020. Em junho, foi assinado um memorando de entendimento que define os princípios para um novo acordo de longo prazo entre as organizações até os Jogos de 2032. Mas pouco está decidido.

É improvável que, por causa da Rússia, as duas partes venham a desfazer negócio, contudo, novas bases desse acordo serão feitas sob o som das críticas contra o COI. E isso pode causar alguns prejuízos, principalmente financeiro, aos Jogos Paraolímpicos, que não têm a mesma força comercial dos Olímpicos, para as edições posteriores a Tóquio-2020.


Mais de 70% dos atletas paraolímpicos dizem ter sofrido com preconceito
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Daniel Brito

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Flavio Reitz é amputado da perna esquerda e disputa salto em altura (Marcio Rodrigues/MPIX/CPB)

Uma pesquisa inédita mostrou que 71% dos atletas paraolímpicos do Brasil já sentiram-se alvo de preconceito social. E grande parte ocorre nas ruas. Mulheres de 20 a 29 anos nas regiões Norte e Centro-Oeste foram as que mais se queixaram de rejeição. O resultado dessa consulta vem a público às vésperas do maior evento esportivo para pessoa com deficiência já realizado na América Latina. Em 7 de setembro será realizada a cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016, no Maracanã.

A apuração foi realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o gabinete do senador Romário (PSB-RJ), relator do Estatuto da Pessoa com Deficiência no Senado, e apoio do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro).

O DataSenado entrevistou por telefone 888 paratletas de todo o país. A margem de erro da pesquisa é de 3%, e o nível de confiança, 95%. A base de dados com o cadastro dos paratletas foi cedida pelo CPB, parceiro na iniciativa da pesquisa Entre os consultados, 12% participarão dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016.

Preconceito é um tema recorrente na promoção do evento que se inicia nesta quarta-feira, 7. Em 2015, o Comitê Organizador lançou uma campanha em que atletas com alguma deficiência eram gravados praticando exercícios em academias de ginástica do país entre pessoas que não possuem deficiência. A reação dessas pessoas, que não sabiam que estavam sendo filmadas, é de espanto com a capacidade física e o porte atlético dos paraolímpicos.

Preconceito dos brasileiros

No início de 2016, ante à baixa procura de ingressos pelo torcedor brasileiro para os Jogos, o diretor de comunicação do Comitê, Mario Andrada, atribuiu a “algum preconceito” da população brasileira a atleta com deficiência. Em maio deste ano, eu conversei com o presidente do IPC, Sir Philip Craven sobre o tema. Que ponderou: “Antes dos Jogos de Londres-2012, uma pesquisa do Comitê Organizador local registrou que havia uma apreensão quanto aos Jogos Paraolímpicos porque muitos não estavam familiarizados com pessoas com deficiência praticando esporte. O Comitê de Londres-12 fez um grande trabalho de transformar esta negatividade em algo positivo. Eles usaram o esporte como uma ferramenta para mudar a percepção sobre o que uma pessoa com deficiência pode alcançar. Por este motivo os Jogos Paraolímpicos são o maior evento esportivo no mundo para inclusão social”.

Os nadadores Daniel Dias e André Brasil, que juntos acumularam 17 medalhas de ouro em Jogos Paraolímpicos, incluem com frequência em suas entrevistas discursos sobre o preconceito. “A pessoa com deficiência pode ser um campeão na vida, independentemente do caminho que ele escolher, seja o esporte ou fora dele”, costuma dizer Daniel.

Recomendações à imprensa

A pesquisa do DataSenado mostra que apenas 2% dos atletas paraolímpicos relataram sofrer discriminação em ambiente esportivo. E 7% apontaram os veículos de comunicação como responsáveis.

No material que distribui à imprensa que cobre os eventos paraolímpicos, o CPB faz recomendações aos jornalistas de como abordar atletas com algum tipo de deficiência. Como, por exemplo, não hesitar em perguntar sobre como o atleta se tornou deficiente, e que o esporte paraolímpico é de alto rendimento para pessoas com deficiência.

A maioria dos pesquisados (44%) considerou que a realização da Paraolimpíada no Rio fez aumentar os investimentos no esporte paraolímpico no Brasil. Em contrapartida, também 44% avaliaram que, passado o evento, os investimentos vão diminuir. Além da queixa de pouco espaço na mídia, falta de investimentos, dificuldade de patrocínio, número insuficiente de técnicos e de ginásios devidamente apropriados foram as principais dificuldades apontadas pelos paratletas.


Parte de delegação paraolímpica do Brasil é vítima de violência no trânsito
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Daniel Brito

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Alexandre Giuriato, do rúgbi, sofreu dois acidentes de trânsito

Cinquenta atletas da delegação brasileira paraolímpica carregam em sua história de vida um capítulo de um grave problema social do país. Eles foram vítimas de acidente de trânsito, seja batida de carro ou ônibus, ocorrência com motocicleta ou até mesmo atropelamento. Isso representa mais de 17% do time nacional que disputará os Jogos do Rio-2016 a partir desta quarta-feira, dia 7. O Brasil conta com 283 atletas nas Paraolimpíadas.

A delegação paraolímpica nacional tem 17 vítimas de acidentes com carros ou ônibus, 14 de atropelamento e 19 de moto. Nenhum outro tipo de acidente, seja de trabalho ou com armas de fogo, ou até mesmo vítimas de assalto, possui tamanha representatividade na equipe brasileira na Rio-2016.

Casos como o da pernambucana Natália Mayara, 22, que foi atropelada por um ônibus que subiu a calçada em alta velocidade e ainda a arrastou por alguns metros. Ela tinha apenas dois anos e precisou amputar as duas pernas. Hoje é um talento do tênis em cadeira de rodas do Brasil. Há também o do campineiro Alexandre Giuriato, 34, que foi vítima de dois acidentes de trânsito que causaram lesões graves na medula e no braço esquerdo. Em 2015, ele foi eleito o melhor jogador de rúgbi em cadeira de rodas do Brasil. Também estará na Rio-16.

No vôlei sentado, por exemplo, o capitão da equipe masculina, Renato Leite, era motoboy até 2002 quando foi abalroado por um carro. Passou um mês internado no hospital em São Paulo e precisou amputar a perna direita. Descobriu o esporte como forma de reabilitação física e motora. Hoje, acumula duas medalhas de ouro nos Jogos Parapan-Americanos (Rio-07 e Toronto-15) e uma prata do Mundial em 2014. Porém, ganhou notoriedade em recente polêmica na qual “emprestou” sua prótese para que o ator Paulo Vilhena posasse para uma foto-montagem em uma revista de moda com o intuito de divulgar o esporte paraolímpico.

No time de vôlei sentado, dos 24 convocados, 16 foram vítimas de acidente automobilístico. É a modalidade com maior quantidade de registro desta natureza na delegação verde e amarela.

De acordo com relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em outubro do ano passado, apenas em 2013, mais de 41 mil pessoas perderam a vida nas estradas e ruas brasileiras. Desde 2009, o número de acidentes de trânsito no país deu um salto de 19 por grupo de 100 mil habitantes para 23,4 por 100 mil habitantes, o maior registro na América do Sul.


Por que o revezamento da tocha paraolímpica não vai ao encontro do povo?
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Daniel Brito

A chama paraolímpica começa a circular hoje em Brasília, a partir das 9h30. Até o revezamento da tocha desembarcar no Rio em 6 de setembro, véspera da cerimônia de abertura, o fogo paraolímpico terá cruzado com muito menos gente do que o olímpico. E isso não tem relação com distâncias percorridas. Mas pelos locais por onde passará.

O Comitê Organizador dos Jogos-2016 tomou a decisão de concentrar o revezamento da tocha em centros de reabilitação e/ou entidades que assistem a pessoas com algum grau de deficiência. No Distrito Federal, por exemplo, ponto de partida da chama, o governo local anunciou: “O Parque da Cidade é o local mais indicado para quem quer ver de perto o revezamento, já que a maior parte dos outros locais continuará com as atividades ocorrendo normalmente”.

Festa em estacionamento do parque

Não haverá desfile nas ruas, não haverá contato com a população, que poderia até servir como uma forma de divulgação dos Jogos Paraolímpicos, que ainda se esforça para bater a meta de vender pelo menos dois milhões de ingressos para as disputas a partir de 7 de setembro, no Rio. A única oportunidade de proximidade entre andantes ou videntes com a tocha paraolímpica será no ponto de partida do revezamento, que no caso de Brasília, será em um estacionamento do Parque da Cidade.

Bem diferente da tocha olímpica, que desceu de rapel, canoa havaiana, até cadeira de rodas dentro de uma piscina de água natural, percorrendo intermináveis 130 quilômetros dentro do quadrilátero federativo, em 3 de maio.

Ou seja, em vez de levar a tocha paraolímpica a pontos turísticos, até como uma prova de que há um mínimo de acessibilidade para que as pessoas com deficiência possam usufruir de todos os espaços da cidade, o Comitê Rio-2016 levou a chama para locais nos quais a maioria já tem alguma relação com o paraolimpismo e o esporte para pessoas com deficiência, que são as instituições de atendimento a esta parcela da sociedade e aos centros de reabilitação.

Evitando pontos turísticos em todas as cidades

Além do Distrito Federal, o símbolo dos Jogos Paraolímpicos vai passar por Belém do Pará, Natal, no Rio Grande do Norte, Joinville, Santa Catarina, São Paulo, e, por fim, Rio de Janeiro, quando, aí sim, circulará pelos pontos mais famosos da cidade. As demais cidades sedes do revezamento têm roteiros semelhantes aos de Brasília – evitando pontos turísticos

Na quarta-feira, 31, a Folha de S.Paulo publicou o manifesto com críticas ao trajeto. ''Nossa preocupação é com o fortalecimento do conceito de inclusão, que se contrapõe a essa ideia do revezamento interno em instituições de atendimento –o que causaria associação direta da imagem de 9 milhões de paulistas com algum tipo de deficiência à doença e ao assistencialismo''. A carta é assinada por representantes da secretaria Estadual de Direito às Pessoa com Deficiência e do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

O Rio-2016 reconhece que há poucas oportunidades nos trajetos do revezamento paraolímpico para passagens em locais turísticos, ou icônicos, como citou Mario Andrada, diretor de comunicação dos Jogos-2016. Muito pelo período do ano em que será realizado o evento, parte, também, pelo formato. “Neste época já não há a mesma flexibilidade de promover alterações no trânsito. Além disso, a tocha paraolímpica tem uma pegada um pouco mais formal. Mas em Belém, Natal e São Paulo, nós estamos tentando criar alternativas para levar a tocha a locais icônicos para termos oportunidade de fotos”, explicou Andrada.

Questionado se o percurso do revezamento evita o contato com o público nas ruas por motivos de segurança, o diretor da Rio-2016 disse que não há qualquer relação com este fato, e o esquema de escolta e proteção da tocha e dos condutores mantém-se tal qual ocorrera no revezamento olímpico.

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Yohansson Nascimento acendeu a tocha há uma semana (Tomás Faquini/CPB/Divulgação)