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Ingrid passava noites apagando xingamentos no celular, revela coach
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Daniel Brito

A saltadora Ingrid Oliveira passou noites em claro, em seu apartamento na Vila dos Atletas, junto ao celular, tentando conter a avalanche de críticas, xingamentos e comentários maldosos dos quais foi vítima durante os Jogos Olímpicos do Rio-2016. E ocorreu nas noites que antecederam sua apresentação na plataforma de 10m. E é exatamente nesse período pré-competição que o repouso e as boas noites de sono são essenciais para um atleta ter uma boa performance em uma Olimpíada. Ingrid não teve.

“Ela foi muito atacada, foi duro. Até eu fui atacada nas minhas redes sociais. Mas comigo tudo bem, com Ingrid foi difícil, porque ela passava noites e noites apagando cada mensagem”, relata Nell Salgado, profissional do coach esportivo, que trabalhou aspectos psicológicos da preparação de Ingrid antes e durante os Jogos-2016. E a parceria entre as duas continua para o ciclo que se inicia rumo a Tóquio-2020.

“Ingrid não me dizia que estava fazendo isso à noite. Ela apagava as mensagens porque não queria aquilo nas suas páginas pessoais, não queria que as pessoas vissem ali nos posts dela. Eu só fiquei sabendo depois. Ela tinha que ter me contado. Nas nossas conversas,  ela dizia que estava bem, mas eu sabia que estava doendo”, contou Nell.

Romance na Vila
Ingrid foi uma das protagonistas do Time Brasil na Rio-2016. A jovem atleta dos saltos ornamentais nascida há 20 anos no Rio de Janeiro, levou para seu quarto na Vila o canoísta Pedro Gonçalves, 23, o Pepê, o que configurou-se uma quebra de regra no apartamento. Causou desentendimento com a parceira de quarto e da prova do salto sincronizado, Giovanna Pedroso, e um tremendo mal estar dentro do Time Brasil. “Na época da Olimpíada eu não podia falar, mas agora posso: se estavam distribuindo camisinhas dentro da Vila dos Atletas, é óbvio o que poderia acontecer com isso”, disse Nell.

A dupla do salto sincronizado foi desfeita após ficar em 8º no salto sincronizado da plataforma, e Giovanna voltou para casa, pois não tinha mais compromissos nos Jogos. Ingrid permaneceu na Vila, mas com uma forte blindagem feita pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), para poder ter a tranquilidade para competir na prova individual da plataforma de 10m – sua especialidade. Foi nesse período que Nell Salgado intensificou o trabalho de coaching com Ingrid.

Fama repentina
Elas já trabalhavam juntas desde dezembro de 2015, meses após o Pan de Toronto-2015. Na época, a saltadora experimentava o início da fama pelo mesmo motivo que a fez perder noites de sono durante a Rio-2016: comentários maldosos em uma foto em seu perfil no Instagram na qual ela aparece de costas, com um maiô cavado.

Nell tem experiência bem sucedida em lidar com situações traumáticas vividas por atletas olímpicos. Em 2012, começou um trabalho com a judoca Rafaela Silva, que fora atacada na internet com ofensas racistas após ser eliminada dos Jogos de Londres-2012. As duas iniciaram o trabalho do zero logo após aquela Olimpíada e o resultado, como se viu, foi a medalha de ouro de Rafaela na Rio-2016. A judoca, desde então, não perde a oportunidade de agradecer a Nell pelos dias que passaram juntas.

“Meu trabalho é de reprogramação mental. Eu não sento para ouvir historinha triste, o coaching esportivo é ‘tiro, porrada e bomba’. Claro que cada atleta tem sua particularidade, mas a gente não fala do passado. E foi assim que trabalhamos com a Ingrid. Dar a tranquilidade, enaltecer os pontos fortes e repassar mentalmente os saltos que faria na sua prova individual na plataforma de 10m”, explicou Nell.

Salto traumático
Em meio a toda essa confusão na Vila, Ingrid tinha que se preparar para enfrentar um salto traumático na Rio-2016: duplo e meio mortal de costas carpado. Tem grau de dificuldade 2.9, numa escala na qual o movimento mais complexo (que rende maior nota, caso executado com perfeição) é de 3.8. Em Toronto-2015, Ingrid caíra de costas e tirara nota zero. Talentosa e perseverante, Ingrid decidiu incluir este movimento na sua série na Rio-2016.

“No último treino antes da competição, ela cravou as três vezes que executou este salto. Fizemos trabalho em conjunto lá na plataforma, ela vinha treinando bem. Mas na hora não foi como o planejado”, relembra Nell.

Ingrid fazia uma boa apresentação na plataforma de 10m, estava na 9ª colocação entre 28 participantes, até seu quarto (e penúltimo) salto. Aquele que falhara em Toronto-15 e que tanto treinara e temia. Só que mais uma vez o duplo e meio mortal de costas carpado saiu errado. Não tanto como no Pan do ano anterior, mas não o executara bem. Sua maior nota foi um 2.5. Um dos sete juízes deu-lhe nota 1.0 (de um total de 10, para a nota máxima). Ela terminou a competição na 22ª colocação. Saiu da piscina, entrou na banheira dos atletas usam na pérgola e caiu no choro. Tudo isso foi transmitido ao vivo para o mundo inteiro.

Processo de  maturação
“Era um choro de frustração por aquele salto. Ingrid é muito talentosa, está em processo de maturação para se tornar uma excelente atleta. E vai conseguir. Ela sabe que vai”, aposta Nell.

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“Tem mais mosquito onde moro do que no Brasil”, diz canadense dos saltos
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Daniel Brito

Canadense Mitch Geller em Brasília: "Já estivemos na Índia e tantos outros lugares. A mídia faz muito barulho" (Divulgação/Ministério do Esporte)

Canadense Mitch Geller: “Já fomos à Índia e tantos lugares. A mídia faz muito barulho” (Divulgação/Ministério do Esporte)

É uma cena até engraçada. A atleta canadense tenta se concentrar na ponta do trampolim de três metros, mas é constantemente incomodada por mosquitos. Abana as mãos na frente do rosto para espantá-los e só aí consegue executar seu salto. Situação corriqueira por esses dias no centro de excelência em saltos ornamentais da UnB, em Brasília.

Não há quem garanta que algum daqueles mosquitos que atrapalhava a atleta era o temido aedes aegypti, transmissor da dengue, do vírus zika e da febre chikungunya. Mesmo que fosse, os visitantes parecem não se preocupar.

“É infestados de mosquitos lá onde moro, na província de Ontário, no Canadá. E aqui no Brasil eu quase não vi mosquitos. Fico mais preocupado com o que se passa com nossos atletas no trampolim, na plataforma e na água. Mas, claro, não deixamos de colocar repelente”, disse ao blog Mitch Geller, técnico da seleção canadense de saltos.

Canadá é um dos sete países que aclimataram-se no Distrito Federal antes de disputar a etapa da Copa do Mundo da modalidade que servirá como evento-teste para os Jogos do Rio-2016, a partir desta quarta-feira.

No Centro Aquático Maria Lenk, a competição é realizada ao ar livre, o que não ocorria desde Barcelona-1992. Aumenta, portanto, o tempo de exposição do atleta aos mosquitos. Ainda assim, não há motivo para pânico, segundo Geller.

“Nós viajamos o mundo todo competindo. Já estivemos na Índia e tantos outros lugares. Mas a mídia faz muito barulho com isso. Antes de qualquer edição dos Jogos Olímpicos, a mídia bate bem forte em qualquer situação ou problema no país-sede. Dizem que não vão estar prontos. Eu ja li que as pessoas do país não apoiam o evento. Agora tem essa questão do vírus, que vai ser perigoso, vai ter isso ou aquilo. Essa será minha setima edição dos Jogos. Claro que tomarei todas as precauções, mas tenho certeza que quando chegar o momento dos Jogos Olímpicos, vai ser tudo especial, como sempre foi”, disse o treinador.

O Canadá é uma força emergente nos saltos ornamentais. No Mundial de Desportos Aquáticos do ano passado, em Kazan, na Rússia, conquistou quatro medalhas. Uma das responsáveis foi Pamela Ware, prata no salto sincronizado do trampolim de três metros. Ela replica o discurso do treinador e diz não temer o zika vírus.

“Estou aqui no Brasil há algum tempo e ainda não fui picada por mosquito algum. Uso repelente com frequência. Mas não me preocupo, porque temos muitos mosquitos no Canadá também”, afirmou a saltadora, de 23 anos.


Ingrid, depois do Pan, tem um desafio: o salto mais difícil da carreira
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Daniel Brito

Ingrid Oliveira, 19, parecia meio chateada no dia que recebeu este blogueiro para conversar. “Um pouco de dor de cabeça”, disse, desculpando-se, após uma dúzia de respostas monossilábicas. O laconismo e a dor de cabeça podem ser explicados por alguns fatores.

Era hora do almoço e ela terminara mais uma puxada sessão de treinamentos no Centro de Excelência de saltos ornamentais, na UnB (Universidade de Brasília), em um sábado de outubro. Outro motivo: ela já demonstra um certo enfado em falar sobre o Pan e toda aquela história de exposição pelas redes sociais. Quer olhar para frente e falar da carreira.

E aí entra a terceira e principal justificativa para dor de cabeça. A saltadora, prata no sincronizado da plataforma no Pan de Toronto, está em um momento decisivo na carreira. Prepara-se para dar o salto que ninguém da equipe feminina do Brasil executa atualmente: triplo mortal e meio de costas. “Todas as meninas contra quem eu compito fazem, quero fazer também”, explicou.

Trata-se de um movimento ainda mais complicado do que aquele que ela tentou e falhou durante a competição individual no Pan de Toronto. No Canadá ela tentou o duplo mortal e meio de costas, mas caiu de costas na água. Abriu mão de repeti-lo tanto no evento continental quanto no Mundial, em Kazan, em agosto, em que terminou na 27ª posição entre 35.

A comissão técnica da seleção brasileira de saltos demonstra muita confiança em Ingrid e seu novo salto, a partir do que vem apresentando nos treinamentos. “Ela é uma atleta muito forte e tem totais condições de executar este triplo e meio de costas”, afirmou Ricardo Moreira, coordenador dos saltos na CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).

“Meu objetivo é que esteja pronto até fevereiro do ano que vem, em tempo de me garantir minha vaga nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Ele já está 70% pronto”, estimou.

A primeira tentativa de apresentar o novo movimento em competição será na Taça Brasil, em dezembro, também em Brasília. Em seguida, ela partirá para a Copa do Mundo da modalidade,no Rio, que servirá como evento teste, no Maria Lenk. Com este salto, Ingrid acredita que possa ficar entre as 12 melhores e assegurar participação no Rio-2016.

E ela já prometeu que se atingir o objetivo olímpico, fará uma tatuagem dos aros olímpicos. E certamente a publicará nas suas redes sociais.


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