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Arquivo : Silvio Torres

Deputados batem boca em sessão que derruba projeto polêmico contra CBF
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Daniel Brito

A CBF venceu uma batalha importante na Câmara dos Deputados e impediu que a seleção brasileira fosse considerada patrimônio cultural. Na prática, se este projeto passasse, faria com que todas as transações de patrocínio  ou até direitos de transmissão pudessem ser acompanhados pelo Ministério Público. É um projeto de lei do deputado Silvio Torres (PSDB-SP), que tramita na Câmara desde 2007 e é frequentemente derrubado pela bancada da CBF.

Na tarde desta quarta-feira, 23, a proposta, que é uma maneira de dar transparência às negociações envolvendo o nome da seleção brasileira, perdeu por nove votos a cinco, após tumultuada sessão na Comissão de Esporte da Câmara dos Deputados.

A reunião teve quase duas horas de duração e contou com quase toda a bancada da CBF. A começar pelos deputados que acumulam cargo na confederação, como o diretor de assuntos internacionais da entidade, Vicente Cãndido (PT-SP), o diretor de ética e transparência, Marcelo Aro (PHS-MG). Além de José Rocha (PR-BA), que declarou em campanhas eleitorais passadas ter recebido doações em dinheiro da CBF; Roberto Góes, presidente da Federação Amapaense de Futebol desde 2011; Andres Sanchez (PT-SP), ex-presidente do Corinthians; Deley (PTB-RJ), ex-jogador do Fluminense; e Rogerio Marinho (PSDB-RN), indicado a um cargo na Conmebol pela CBF.

Aro, que não é membro da comissão, logo, não tem direito a voto, protagonizou um dos momentos mais tensos da reunião ao discutir com João Derly, relator do projeto. Derly é a favor da transformação da seleção brasileira em patrimônio cultural e pediu que os deputados Vicente Cândido, Marcelo Aro e Roberto Góes se declarassem impedidos de votar, por terem vínculo com a CBF, diretamente interessada na pauta.

Góes defendeu-se dizendo que era presidente da federação de seu Estado antes mesmo de tornar-se deputado federal. Cândido disse que não haveria motivo para não votar. E Aro resolveu partir para o confronto.

“O deputado João Derly sabe que não há incompatibilidade, primeiramente. Segundo lugar, nós entramos aqui [na Câmara] pela mesma porta, os votos dos eleitores não valem mais que os meus, e nem os meus valem mais que os dele. Sobretudo, nem sequer eu faço parte desta comissão, o deputado João Derly mostra desconhecimento do regimento interno e da comissão da qual faz parte. Então, peço que ele cuide do mandato dele, das pessoas que ele representa e não do meu mandato. Pode ter certeza que eu sei cuidar do meu mandato, sempre o tratei com maior respeito, mas se Derly quer ir para um debate baixo, eu não me furto ao debate. Estarei aqui pronto para fazer o debate, porque eu nenhuma matéria do judô eu pedi para o senhor não votar”.

Derly desculpou-se pelo equívoco de incluir Aro como um dos votantes e disse que não teve a intenção de atacar a ninguém. Mas o deputado de Minas Gerais, que é um dos fieis escudeiros do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, hoje preso em Curitiba, continuou. “Não foi a primeira vez [que fui atacado]”, emendou Aro. Ele prosseguiu vociferando contra Derly fora dos microfones, que não deu continuidade à conversa.

Ao final da sessão, venceu a bancada da CBF.

O projeto perde o caráter conclusivo, volta para votação no plenário, sem data ainda. “Posso perder hoje, mas colocarei este projeto na pauta de novo no próximo ano e quantas vezes puder”, disse Silvio Torres.

Votaram contra o projeto de Silvio Torres os seguintes deputados:
Cesar Halum (PRB-TO)
José Rocha  (PR-BA)
Andres Sanchez (PT-SP)
Roberto Alves (PRB-SP)
Roberto Goes (PDT-AP)
Rogério Marinho (PSDB-RN)
Marcelo Mattos (PHS-RJ)
Vicente Cândido (PT-SP)
Goulart (PSD-SP)

Votaram a favor do projeto:
João Derly (Rede-RS)
Edinho Bez (PMDB-SC)
Fabio Mitidieri (PSD-SE)
Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE)
Arnaldo Jordy (PPS-PA)


Amizade com Teixeira evitou propina na CBF, diz Kleber Leite em CPI
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Daniel Brito

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Kleber Leite depôs na CPI da Máfia do Futebol nesta terça, 7 (Daniel Brito/UOL)

Em depoimento à CPI da Máfia do Futebol, na Cãmara dos Deputados, nesta terça-feira, 7, o empresário Kleber Leite, dono da empresa Klefer, negou que tenha pagado propina para cartolas da CBF e afirmou que o empresário J.Hawilla não está em “pleno gozo da sanidade mental”.

Foi a primeira exposição pública de Kleber Leite desde que eclodiu o escândalo de corrupção na FIfa, em maio do ano passado. Em diversos momentos, o empresário citou o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de forma elogiosa. Até chegou a ensaiar um choro ainda no início da sessão de quase três horas de duração.

“Ricardo Teixeira é meu amigo, sou padrinho da filha dele, me sensibilizo com o momento que ele vem passando agora, nossa relação é afetiva, nunca houve interesse em um mísero centavo na minha relação com Ricardo Teixeira”, disse. O empresário também defendeu Teixeira da acusação de ter recebido propina. “O Ricardo Teixeira me garantiu que nunca recebeu um centavo nos contratos com J. Hawilla. Isso eu posso garantir”.

Quando, já no fim da sessão, o deputado Silvio Torres (PSDB-SP) perguntou sobre os contratos com a CBF, Leite afirmou que o vínculo pessoal com Teixeira o impediu de pagar propina. A Klefer detém os direitos de comercialização da Copa do Brasil (de clubes) até 2022.

Veja como foi o diálogo entre os dois:

SILVIO TORRES (PSDB-SP) – Eu tenho a convicção de que todos os contratos que Ricardo Teixeira ele teve algum tipo de benefício
KLEBER LEITE – Desculpe, com o nosso não houve.
SILVIO TORRES – Eu ia perguntar justamente isso. Por que o senhor foi escolhido para o contrato da Copa do Brasil e não outra empresa do ramo? E se essa escolha foi por sua proximidade e afetividade e amizade com ele?
KLEBER LEITE – Deputado, não posso negar que isso [amizade] não tenha feito parte. seria hipocrisia. Claro que quando se tem afeto e carinho, se aproxima a relação. (…) Pouquíssimas empresas estavam estruturadas para essa operação [da Copa do Brasil].
SILVIO TORRES – O senhor foi escolhido pela amizade?
KLEBER LEITE – Mas minha empresa não foi escolhida pela amizade que temos, e sim pela competência da empresa.
(…)
SILVIO TORRES -O senhor está dizendo, obviamente, que não deu propina para ninguém, que o senhor foi reconhecido como capaz e escolhido pela amizade.
KLEBER LEITE -Exatamente. E dentro de uma situação de ordem financeira absolutamente interessante para a CBF.

Teste de sanidade em Hawilla

J. Hawilla é dono da Traffic, e um dos protagonistas do escândalo de corrupção envolvendo dirigentes de futebol do Brasil e de países do continente. Em um de seus depoimentos à Justiça dos Estados Unidos, Hawilla declarou que a empresa Klefer pagou propina para adquirir os direitos de comercialização da Copa do Brasil de 2015.

Por este motivo, quando as prisões dos cartolas foram efetuadas no hotel Bar-au-Lac, em Zurique, na Suíça, em maio do ano passado, Ministério Público no Rio de Janeiro e da Polícia Federal promoveram busca de documentos e computadores na sede da Klefer, no Rio. “Eu pediria um teste de sanidade mental no senhor J. Hawilla. Duvido que ele esteja em pleno gozo de sanidade mental. Até entendo, porque ele teve um problema de saúde recentemente e eu cheguei a dizer que isso deve ter afetado a saúde dele. Porque é inadmissível o que eu ouvi dizer o que ele tinha feito”, começou Leite “Hawilla é uma pessoa de dupla personalidade: existe um cara amigável, doce, gentil, amável. Mas quando tem dinheiro envolvido ele é o ser mais materialista que existe. Impressionante. Ele se transforma em outra pessoa”, continuou.

Kleber Leite explicou em seu depoimento que, por determinação da Conmebol, Ricardo Teixeira deixou de firmar contratos com a Traffic de Hawilla. E, por opção de Teixeira, a Klefer firmou contrato para comercializar a COpa do Brasil. Em razão desta substituição, segundo disse Leite na CPI, Hawilla incluiu a Klefer em seu depoimento.

“Hawilla não se conformou com isso. Ele tem a ideia de que eu passei a perna nele. Mas eu não fiz nada que não estivesse dentro de um plano ético. Ele não perdoa por ter perdido a Copa do Brasil nesse contrato com a CBF”, comentou o empresário,

O deputado Major Olímpio (SD-SP) foi incisivo no questionamento a Kleber Leite. No debate, o empresário confirmou que já realizou diversos projetos em conjunto com a Traffic, de Hawilla, ao que o parlamentar questionou:

MAJOR OLÍMPIO (SD-SP) – Durante esses projetos ele [Hawilla] nunca foi declarado insano? Vocês sempre foram parceiros firmes?
KLEBER LEITE – Não, não, não. Parceiro firme fomos nós, leais. Quem acreditou na dignidade dele fomos nós, porque eram projetos desenvolvidos pela Traffic, que era uma empresa mais forte que a Klefer, e sempre acreditamos na palavfra dele.
MAJOR OLÍMPIO – Ele disse que sempre pagou propina. Ele nunca pagou propina na sua relação com ele?
KLEBER LEITE – Nunca. A nossa relação era só desenvolver o projeto. Ganhamos a concorrência do Maracanã, Mineirão, Morumbi. Então, competia à Klefer a publicidade em cada pedaço do estádio. Se J.Hawilla afirma que pagou propina, quem sou eu para desmenti-lo, ate porque não compactuamos com esse tipo de prática.,


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