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Arquivo : IAAF

Atleta que teve que provar ser mulher conquista vaga na Rio-16
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Daniel Brito

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Velocista indiana Dutee Chand após conquistar a vaga na Rio-16: “Toda mágoa e toda dor desapareceram”

A indiana Dutee Chand, 20, tornou-se a primeira velocista de seu país a conquistar uma vaga nos Jogos Olímpicos desde Moscou-1980. Em um meeting internacional na cidade de Almaty, capital do Cazaquistão, ela foi medalha de prata nos 100m com 11s24. “É engraçado porque toda aquela dor, toda a mágoa e as lágrimas que derramei simplesmente desapareceram. É como se nunca tivesse acontecido”, disse Dutee ao “Times of India“, o maior jornal em língua inglesa do país.

A dor e as lágrimas a que se refere são pelo longo e humilhante processo pelo qual foi submetida para poder competir. Dutee é hiperandrogênica, produz hormônios masculino acima da média das demais de modo natural. A IAAF (sigla em inglês para Federação Internacional de Atletismo) excluiu a indiana de competições em 2014.

Às vésperas de representar a Índia nos Jogos da Commomwealth em Glasgow-2014, ela foi submetida a um humilhante teste de femininidade pela própria federação indiana de atletismo e dispensada da delegação. Recebeu como recomendação que passasse por tratamento hormonal ou cirurgia para se adequar aos níveis de testosterona permitidos pela IAAF e pelo COI.

Dutee recebeu o apoio de um grupo de advogados australianos e canadenses especializados em questões de gênero e levou o caso até o TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), na Suíça. Há um ano, a mais alta instância jurídica do esporte questionou a vantagem atlética dos níveis naturalmente elevados de testosterona e deu um prazo de dois anos até que se comprove cientificamente que níveis elevados de testosterona produzida naturalmente melhore o desempenho de uma atleta.

O tempo que Duttee Chand alcançou em Almaty no final de semana está longe de figurar entre os 50 melhores deste ano nos 100m. Se compararmos com o Brasil, os 11s24 empatariam com a marca alcançada por Rosângela Santos no início do mês, e que lidera o ranking nacional em 2016.

A classificação de Dutee para o Rio-16 é celebrado na Índia, nação dificilmente conhecida por seus feitos olímpicos, por ser a 100ª atleta a conquistar vaga em uma edição dos Jogos, número recorde. Mas é uma vitória maior ainda para as mulheres.

PORTLAND, OR - MARCH 19: (L-R) Anaszt¡zia Nguyen of Hungary, Jamile Samuel of the Netherlands and Dutee Chand of India compete in the Women's 60 Metres Heats during day three of the IAAF World Indoor Championships at Oregon Convention Center on March 19, 2016 in Portland, Oregon. (Photo by Christian Petersen/Getty Images for IAAF)

Dutee Chand, à dir, durante o Mundial indoor, em Portland, Estados Unidos (Christian Petersen/Getty )


Mais uma da Rússia. Atleta diz que atropelamento na infância causou doping
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Daniel Brito

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A russa Irina Maracheva, 31, entrou para a história como mais uma atleta do país a ser flagrada no exame antidoping e, principalmente, por aumentar o inventário de justificativas para que seu teste de sangue detectasse alguma substância ilegal.

“Há muito estou tentando provar a inocência de Irina [Maracheva]. O fato é que quando ela era criança, sofreu um grave acidente, foi atingida por um carro, bateu a cabeça, sofreu uma concussão séria. Isso alterou os parâmetros do sangue dela”, disse à imprensa russa Zamira Zaytseva, ex-meio-fundista da União Soviética e treinadora de Maracheva.

A atleta, bronze nos 800m no Europeu de atletismo em 2012, na Finlândia, falhou no teste do passaporte biológico, que consiste em mapear individual o sangue de cada competidor. Por isso, foi suspensa por dois anos do esporte pelo Comitê Olímpico da Rússia.

“Não conseguimos provar 100% a relação entre o trauma da infância e a alteração no sangue, mas Irina já fez exames antidoping diversas vezes antes. Por que só agora deu resultado anormal? Porque foi feito apenas o teste de sangue, quando fazem exame de sangue e urina nunca dá positivo”, explicou à agência de notícias Tuss, da Rússia.

A cruzada contra o doping no atletismo russo é grande. O país ainda não está confirmado nos Jogos Olímpicos do Rio-2016, desde que foi revelado, na segunda metade de 2015, o caso de ocultação sistemática de doping envolvendo estrelas da modalidade na Rússia. O esquema envolvia os competidores de melhores resultados em competições internacionais e há a suspeita de que havia até a participação de membros do alto escalão do governo nacional. Até o antigo presidente da IAAF (sigla em inglês para Federação Internacional de Atletismo), o senegalês Lamine Diack, e seu filho, estão envolvidos. Recentemente, a Adidas anunciou a retirada do patrocínio milionário da entidade (cerca de R$ 123,6 milhões).


Escândalo de doping pode consagrar africana que teve que provar ser mulher
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Daniel Brito

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Caster perdeu o ouro para Savinova (centro) em Londres-12

A sul-africana Caster Semenya, 24, pode herdar duas medalhas de ouro de uma só vez por causa do escândalo de doping envolvendo a equipe russa de atletismo. Ela foi medalhista de prata nos 800m no Mundial de Daegu-2011, na Coreia do Sul, e nos Jogos Olímpicos de Londres-2012. Em ambas as provas, foi superada por Mariya Savinova, 30.

Mas Savinova está enrolada até o último fio de cabelo com o escândalo de ocultação de resultados positivos de doping que ocorreu de forma sistemática com a anuência da agência russa de combate à dopagem e do ministério do esporte do país. Em relatório divulgado no início desta semana pela Wada (Agência Mundial Antidopagem), a campeã olímpica dos 800m merece um capítulo à parte.

A agência tem gravações telefônicas de Savinova admitindo o uso de substâncias para melhorar a performance nas competições e, ainda por cima, comprometendo o resto da delegação de atletismo do país. ‘Na Rússia, todos estão na ‘pharma’”, teria dito ela, referindo-se a laboratório que fornece suplementos proibidos pela Wada.

A agência, em seu relatório, recomenda que Savinova e a medalhista de bronze dos 800m em Londres, Ekaterina Poistogova, sejam banidas de forma perpétua do esporte e seus resultados sejam anulados.

Assim, Semenya ganharia dois ouros de uma vez só. À imprensa sul-africana, ela disse que ainda assim não se sentiria campeã. “Mesmo que venham esses ouros, eu ainda vou me considerar medalhista de prata”, afirmou após uma prova de rua na cidade de Tembisa.

Teste de femininidade
Ainda que o ouro olímpico chegue por vias tortas para Caster Semenya, a láurea coroaria uma longa jornada pela qual teve que passar para competir no cenário internacional.

O COI decidiu não permitir que mulheres com excesso de hormônio masculino, como a testosterona, competissem no feminino em Londres-2012. Ou seja, estariam excluídas as que sofrem de hiperandrogenismo, que é quando a mulher produz esses hormônios acima da média das demais de modo natural.

Os efeitos do androgênio (hormônio masculino) no corpo ajudam a explicar por que os homens têm performance superior às mulheres em vários esportes. Mulheres com hiperandroginismo geralmente têm atuação superior a outras atletas.

Este é o caso de Semenya, que nunca revelou por qual tipo de tratamento hormonal se submeteu (ou se submete ainda).

A atleta sul-africana ficou famosa no Mundial-2009, em Berlim, ao ser campeã mundial dos 800 m com mais de dois segundos à frente da segunda colocada, antes do controverso teste de gênero que precisou fazer. À época, levantaram-se suspeitas ao ponto de surgir o rumor de que a sul-africana seria hermafrodita. A IAAF (entidade máxima do atletismo) solicitou à federação sul-africana informações e exames da atleta.

A federação a defendeu, mas, em acordo com a IAAF, aceitou exames para comprovar o sexo de Semenya. Foram quase 11 meses de avaliações, período no qual Caster não pôde competir. Retornando apenas em 2011, para o Mundial de Daegu, no qual perdeu o ouro exatamente para Mariya Savinova.

Desde que surgiu naquele Mundial de Berlim-09 e foi alvo de tantas polêmicas, Caster Semenya nunca mais foi tão rápida.

Caster Semenya of South Africa celebrates after winning the women ´s 800 metres final during the world athletics championships at the Olympic stadium in Berlin August 19, 2009. REUTERS/Dominic Ebenbichler (GERMANY SPORT ATHLETICS. (Foto: DOMINIC EBENBICHLER/SCANPIX DANMARK 2009)

O título mundial de Caster Semenya em 2009 levantou suspeitas


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