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É grave a crise: esportes olímpicos já perderam R$ 40 milhões de estatais
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Daniel Brito

O esporte olímpico nacional amarga a fuga de capitais de seus maiores mecenas: as empresas estatais. Só de duas grandes patrocinadoras, já há uma queda superior a R$ 40 milhões no investimento nas modalidades, algumas delas responsáveis por ouros do Brasil na Rio-2016.

A renovação de patrocínios do Banco do Brasil e dos Correios com quatro confederações caiu em R$ 40 milhões neste ano em relação ao injetado em contratos anteriores.

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Manoel Luiz, presidente da CBHb, foi reeleito para mais quatro anos, porém com menos recursos dos Correios

Na semana que passou, por exemplo, a CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) viu sua verba dos Correios minguar de R$ 6,3 milhões para R$ 1,6 milhão para 2017 (serão R$ 3.2 milhões por dois anos). Os Correios são o patrocinador mais antigo da modalidade – investem desde 2012.

A empresa também fez um corte drástico na verba para a CBT (Confederação Brasileira de Tênis). Reduziu em 75% o valor do patrocínio e dará somente R$ 4 milhões pelos próximos 24 meses. Para se ter uma ideia, em 2015, um ano antes da Rio-2016, a confederação recebeu R$ 8,6 milhões.

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Jorge Lacerda, do tênis, perdeu 75% do patrocínio dos Correios

Além dos R$ 11 milhões das confederações de handebol e tênis, os Correios, empresa pública que enfrenta grave crise financeira, também fizeram um corte drástico em outra confederação que é um dos carro-chefes do Brasil em competições pan-americanas e olímpicas.

A empresa estatal retirou R$ 13 milhões do novo acordo com a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Até o ano passado, a confederação recebeu R$ 18 milhões em patrocínio dos Correios. Agora, fecharam patrocínio pelos próximos dois anos (2017 e 2018) no valor total de R$ 11,4 milhões, o que dá R$ 5,35 milhões por exercício.

Não perca as contas, já se vão R$ 24 milhões.

Já é um indicativo de que o discurso oficial, segundo o qual os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016 seriam catalisadores do investimento e massificação das mais variadas modalidades esportivas além do futebol, não saiu do papel. Está sendo exatamente o contrário, seis meses após o fim da Rio-16, o apoio ao esporte diminui.

O Banco do Brasil, por exemplo, renovou com a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) por R$ 218 milhões até os Jogos de Tóquio-2020. Dá uma média de R$ 54 milhões anuais. É o maior patrocínio entre confederações e estatais, mas ainda assim representa R$ 16 milhões a menos por ano do que o banco pagava à confederação.  Aí fecha-se a conta dos R$ 40 milhões retirados dos esportes olímpicos neste período pós-Rio-16.

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Pitombo, da CBV: modalidade com dois ouros na Rio-16 ganhará R$ 16 milhões a menos do Banco do Brasil

E olha que a CBV foi responsável por duas das sete medalhas de ouro olímpicas em 2016: vôlei de quadra e vôlei de praia, ambos no masculino. O curioso é que a dupla formada por Bruno Schmidt e Alison, ouro em Copacabana, foi contemplada com um aumento no patrocínio individual do Banco do Brasil. Alison receberá quase R$ 80 mil a mais neste ano, enquanto que Schmidt terá um incremento de 60% nos ganhos advindos do patrocinador.

Sorte diferente teve o iatista Robert Scheidt, dono de dois ouros olímpicos (Atlanta-1996 e Atenas-04). Ainda em 2013, seu acordo com o banco foi superior a R$ 3 milhões pelo ciclo completo da Rio-2016. Dava uma média de R$ 63 mil por mês pelo quadriênio. No início de fevereiro, a instituição financeira renovou por apenas 12 meses no valor de R$ 760 mil e um detalhe: “Patrocínio para o atleta Robert Scheidt e seu parceiro”. Ou seja, isso é tudo o que o banco dará para o velejador e seu parceiro, atualmente Gabriel Borges, que disputam agora a classe 49er.

A Petrobras, outra estatal que investiu forte na preparação para os Jogos de 2016, ainda não divulgou a renovação de seus patrocínios com modalidades olímpicas. A Caixa informou que novos acordos devem ocorrer entre este mês e o próximo. A tendência é de que a queda nos investimentos seja bem superior aos atuais R$ 40 milhões.


Ele saiu frustrado da Olimpíada do Rio, mas agora é bicampeão do Super Bowl
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Daniel Brito

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Nate Ebner é o primeiro atleta da NFL em atividade a disputar uma Olimpíada

Nate Ebner, 28, experimentou a emoção de ser um atleta olímpico e campeão do Super Bowl, a grande final da NFL, em um espaço de seis meses. Ele atuou como safety do New England Patriots na temporada de futebol americano que se encerrou de forma eletrizante na madrugada de domingo para segunda-feira. Antes, em agosto, entrou para a história como primeiro atleta em atividade na NFL a disputar uma olimpíada – ele estava no time de rúgbi  dos Estados Unidos na Rio-2016.

Seu feito foi comemorado no USOC (sigla em inglês para Comitê Olímpicos dos Estados Unidos): “Ninguém teve seis meses como Nate Ebner”, publicou em sua página na internet o USOC.

A NFL ja teve diversos representantes em Jogos Olímpicos, mas então esses atuaram antes ou após a carreira na liga norte-americana de football. É o caso, por exemplo, de Bob Hayes, campeão olímpico nos 100m rasos em Tóquio-1964 e, sete anos mais tarde, campeão do Super Bowl-71 como wide receiver do Dallas Cowboys.

Nate não teve a mesma sorte de Hayes. Os Estados Unidos caíram no grupo do do Brasil e aplicaram duas vitórias acachapantes. Porém, não foi o suficiente para fazer sua seleção, que se auto-intitula Eagles (aguias), a conseguir uma colocação melhor que o nono lugar entre 12 – o Brasil foi o 12º.

Para disputar a Rio-2016, Ebner teve que ser dispensado dos treinamentos de pré-temporada do New England Patriots. Nos dias em que atuou pelos Eagles, Ebner contou com a torcida de seus companheiros de Patriots. A comissão técnica do time da NFL deu folga à noite para assistir ao rúgbi olímpico.

O esporte entrou na vida deste americano de Ohio antes mesmo do futebol americano. Ele compôs as seleções dos Estados Unidos de rúgbi na base até o sub-20, e somente após dois anos na faculdade, decidiu entrar para o football. Logo destacou-se e, em 2012, foi a sexta escolha do draft da NFL. Quando chegou para a disputar a Rio-2016, Ebner já carregava na mala o anel de campeão do Super Bowl, em 2015 o Patriots derrotou o Seattle Seahawks.

Hoje, Nate Ebner tem um salário de US$ 1,2 milhão por temporada (R$ 3,7 milhões), foi coadjuvante nas duas finais de Super Bowl que disputou e está muito longe dos US$ 21 milhões (R$ 65 milhões)  por ano do quarterback e astro dos Patriots, Tom Brady. Mas pode orgulhar-se de dizer que já realizou o sonho de disputar uma Olimpíada – o que Brady provavelmente não vai conseguir na carreira.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 09: Nate Ebner of the United States beats Felipe Claro of Brazil to score a try during the Men's Rugby Sevens Pool A match between the United States and Brazil on Day 4 of the Rio 2016 Olympic Games at Deodoro Stadium on August 9, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by David Rogers/Getty Images)

Nate Ebner passou pela Rio-16 com discrição, assim como o time dos EUA no rúgbi (Getty)


Ela sofreu uma queda feia na Rio-16, agora usa o acidente como motivação
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Daniel Brito

GEELONG, AUSTRALIA - JANUARY 28: Annemiek Van Vleuten of Orica Scott and the Netherlands crosses the line to win the Elite Women's race during the 2017 Cadel Evans Great Ocean Road Race on January 28, 2017 in Geelong, Australia. (Photo by Robert Cianflone/Getty Images for 2016 Cadel Evans Great Ocean Road)

Van Vleuten liderava a Rio-16 faltando 12km para o fim, quando sofreu um acidente feio (Robert Cianflone/Getty)

A holandesa Annemiek van Vleuten , 34, entrou para a história dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 após uma grave queda durante a prova de ciclismo de estrada, logo no segundo dia de competições, em agosto passado.

Ela liderava a prova, restavam 12 quilômetros para a linha de chegada. Por algum motivo estranho, ela perdeu a tangência em uma curva, que nem era tão acentuada, e escapou da pista. A holandesa caiu de cabeça em uma vala de cimento à margem da estrada, e permaneceu imóvel no local da queda.

As cenas são chocantes e foram transmitidas para o mundo inteiro. Van Vleuten sofreu uma concussão e três fraturas menores na espinha lombar. Teve de ser internada em uma UTI, mas manteve-se consciente e não passou pelo risco de sofrer sequelas.

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Reprodução da transmissão oficial de TV do momento da queda

Deu sorte.

Neste mesmo percurso, mas em outro ponto, 45 dias mais tarde, no último dia de competições dos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016, o ciclista iraniano Bahman Golbarnezhad bateu a cabeça numa pedra na descida de Grumari, um dos locais mais rápidos do circuito montado pelos organizadores. Ele era ex-combatente da guerra entre Irã e Iraque, amputado de uma perna, não sobreviveu à queda e morreu no Rio de Janeiro.

Exatamente um mês depois do acidente, a holandesa Van Vleuten já estava competindo. “Eu não me lembro exatamente da queda, só me lembro da descida e de pensar em não assumir muitos riscos para manter a liderança e conquistar o ouro olímpico”, relembrou Van Vleuten à revista australiana The Advertiser.

“Não quero exatamente que a memória daquele dia desapareça. Porque eu fazia até ali a melhor prova da minha vida, não posso nunca me esquecer disso -a não ser pelo final da prova [a queda]”, afirmou à imprensa australiana antes de uma prova no final de semana passado.

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Reprodução da transmissão da TV momentos antes de Van Vleuten ser socorrida: atendimento chegou rápido ao local

Van Vleuten (se pronuncia : Van Vluiten) é a 12ª colocada no ranking mundial da UCI (União Ciclística Internacional), carrega no currículo um título da Volta da Bélgica e um Campeonato Mundial, ambos em 2011. No Rio-2016, ela considera que estava na melhor forma, e pronta para o ouro.

“Para ser sincera, passei uma semana pensando em como pude perder o ouro olímpico, mas depois parei. Não ajudaria muito ficar remoendo isso”, afirmou.

Uma semana após deixar o Rio, Van Vleuten exilou-se voluntariamente nas montanhas da Itália para pensar na vida e matar o tempo até que pudesse voltar a pedalar. “Houve um período em que eu estava sem poder pedalar, nem falar ao telefone eu podia, por causa das lesões na cabeça. Minha mãe cuidou de mim”, relatou.

Em setembro de 2016, a holandesa já estava treinando normalmente. Em seguida, retornou o ritmo de competição. Mesmo sem considerar estar na melhor forma, foi campeã de uma prova com o top 100 do mundo próximo a Melbourne, com um sprint incrível na reta de chegada. Após a vitória, revelou surpresa pelo resultado. E voltou a falar de sua passagem pelo Rio-2016:

“Se quiserem falar comigo sobre a corrida inteira, tudo bem. Espero que falem sobre isso, não apenas do acidente. Foi uma grande prova de ciclismo entre mulheres, foi lindo de assistir. Para mim, teve um final triste, mas foi bom poder mostrar ao público que minha performance  me inspirou para seguir nesta temporada atual”.

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Van Vleuten postou esta selfie em seu Twitter antes de deixa ro Rio, em agosto-16


Correios cortam R$ 13 milhões de patrocínio de esportes aquáticos
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Daniel Brito

Os Correios vão cortar nada menos que R$ 13 milhões do patrocínio à CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), que gere as modalidades de natação, maratona aquática, nado sincronizado, saltos ornamentais, polo aquático. Trata-se de um corte drástico, que pode agravar ainda mais a crise que cerca da CBDA.

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Coaracy Nunes, presidente desde 1988, deixa o cargo e não trabalhará com orçamento apertado

Até o ano passado, a confederação recebeu R$ 18 milhões em patrocínio dos Correios. Acumulou quase R$ 50 milhões da estatal no triênio 2014-2016. Mas a empresa atravessa grave crise financeira e o corte era previsto.

No final das contas, os Correios fecharam patrocínio pelos próximos dois anos (2016 e 2017) no valor total de R$ 11,4 milhões, o que dá R$ 5,35 milhões por exercício. Numa conta por mês, os Correios passariam cerca de R$ 475 mil a cada 30 dias à CBDA.

Em outubro último passado, os repórteres Fábio Aleixo e Guilherme Costa, meus companheiros de UOL Esporte, contaram que o processo de renovação de patrocínio envolvia uma diminuição nos valores.

Em novembro, você leu aqui no blog que os Correios suspenderam as tratativas de negociação para renovação com a CBDA, numa consequência direta de uma decisão judicial que afastou parte da diretoria da instituição esportiva, incluindo o presidente Coaracy Nunes, que ocupa o cargo desde 1988.

Nunes reassumiu o posto posteriormente, retomou as negociações, mas não conseguiu evitar o talho em no orçamento. Coincidência ou não, ele está impedido a concorrer à reeleição neste ano. Logo, não terá que trabalhar com orçamento tão afetado pela crise.


O que o Japão tem contra tatuagens e o que isso tem a ver com Tóquio-2020?
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Daniel Brito

LONDON, ENGLAND - AUGUST 10: Phara Anacharsis of France prepares to compete during the Women's 4 x 400m Relay Round 1 heats on Day 14 of the London 2012 Olympic Games at Olympic Stadium on August 10, 2012 in London, England. (Photo by Jamie Squire/Getty Images)

Tatuagens são comuns entre atletas, mas mal vistas no Japão (Jamie Squire/Getty Images)

Para os ocidentais, é mais um conceito de beleza e até de moda. Mas para os japoneses, é sinal de ofensa. A tatuagem vai ser um dilema durante os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio-2020. E não é pelos motivos que o Comitê Paraolímpico Internacional apresentou nos últimos anos. Ainda se fosse, seria fácil de se resolver.

A polêmica toda gira em torno do estigma que tatuagens têm para o japonês. É uma história tão complexa quanto antiga. Basta lembrar que lá pelo século oito depois de Cristo, criminosos eram tatuados como forma de punição. Adiantando muito a história, trazendo para um passado mais recente, tatuagem era utilizada apenas por membros da Yakuza, a famosa máfia japonesa, ou pessoas ligadas a grupos criminosos.

Isso alimentou o imaginário popular por décadas, de tal modo que ainda hoje ainda há restrições em clubes, ginásios, academias e lugares públicos. Um repórter da renomada revista inglesa “The Economist”  relatou que, em 2015, ficou constrangido por exibir uma tatuagem nas costas de apenas oito centímetros em uma piscina pública.

Na revista digital ''Japan Style'' há um depoimento de um americano que foi impedido de matricular-se em um clube desportivo porque, no formulário de inscrição, assinalou a opção “sim” quando perguntado se possuía alguma tatuagem. Em 2012, o prefeito de Osaka promoveu uma campanha para que todos os servidores públicos da cidade cobrissem suas tatuagens.

SHIZUOKA - JUNE 21: David Beckham (left) of England and Ronaldo (right) of Brazil shake hands before the England v Brazil World Cup Quarter Final match played at the Shizuoka Stadium Ecopa in Shizuoka, Japan on June 21, 2002. Brazil won the match 2-1. (Photo by Stu Forster/Getty Images)

No verão japonês, Beckham optou por jogar de manga longa o Mundial-02 para não expor tatuagens (Stu Forster/Getty )

Até o astro inglês David Beckham cobriu-se nos jogos da Inglaterra na Copa do Mundo Fifa-2002 no Japão. Ele pediu à Umbro, fornecedora do English Team, camisetas de manga longa, assim, “escondia” a tatuagem em hindi com o nome de Victoria, mãe de seus filhos, cujos nomes também estavam marcados nos braços.

Não há uma lei específica, mas uma regra não escrita que condena as tatuagens aparentes. O que curioso porque o Japão tem um traço cultural muito forte nas tatuagens de corpo inteiro, chamadas de irezumi. Muitas delas trazem motivos de guerra, sangue, animais, florestas e mulheres.

Aos poucos, a cultura da tatuagem vai sendo difundida no país. Há, aproximadamente, cerca de três mil estúdios legalizados no país, muitos dos quais trabalham só com irezumi. Vinte e sete anos atrás, eram 300.

Os japoneses foram entendendo que tatuagem para os ocidentais não tinha a ver com a yakuza ou com gangsters, mas uma questão de estilo, às vezes até de etnia (como o caso dos maori, da Nova Zelândia). É improvável que os atletas sejam recomendados a esconder suas tatuagens durante Tóquio-2020.

E este pode ser mais um grande legado dos Jogos Olímpicos no próximo país sede: mudar o status das tattoos no Japão.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 16: Fernando Saraiva Reis of Brazil competes during the Men's +105kg Weightlifting contest on Day 11 of the Rio 2016 Olympic Games at Riocentro - Pavilion 2 on August 16, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Matthias Hangst/Getty Images)

(Matthias Hangst/Getty)


Congresso volta aos trabalhos com projetos para “domar” torcedores violentos
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Daniel Brito

O ano de 2017 começa só agora, nesta primeira semana de fevereiro, para senadores e deputados federais no Congresso Nacional, com a eleição da mesa diretora das duas casas. Além de uma grave e crônica crise política, os parlamentares têm na pauta deste ano projetos sobre futebol apresentados no ano passado (ou retrasado) que não conseguiram uma brecha na agenda parlamentar.

Muitos dos quais dizem respeito à violência nos estádios. Alguns são pertinentes, outros, burocráticos ou até mesmo estapafúrdios. Em quase todos, a CBF passa ao largo das cobranças por mudanças.

Entre os mais estrambólicos está a proposta que exige relatório de viagem aos motoristas de ônibus que transportarem exclusivamente torcedores. Já foi aprovada na comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, tramita, de forma conclusiva, ainda por mais três comissões na Câmara. A proposta é do deputado federal Rômulo Gouveia (PSD-PB).

Outro parlamentar paraibano, Wilson Filho (PTB-PB) quer alterar o estatuto do torcedor ao propor que o torcedor que promover tumulto ou praticar violência em estádios só terá direito à liberdade provisória após pagar fiança equivalente a 1% da renda bruta do jogo. É chover no molhado, porque o estatuto já prevê esse tipo de sanção para quem comete tais crimes, só não há um valor estipulado. Ademais, identificar todos os torcedores em caso de confronto generalizado nas dependências do estádio é pouco comum. A lei determina ainda que o acusado pode pegar pena de reclusão de um a dois anos.

Casa de ferreiro. Espeto de pau
O projeto do deputado Andre Moura (PSC-SE) determina punições para atos praticados por torcidas organizadas mesmo quando não houver partidas em disputa e aumenta de três para cinco anos o tempo de afastamento do condenado por atos violentos relacionados a eventos esportivos.

Esta proposta, aprovada na Câmara, já está no Senado. O curioso é que este mesmo Senado recebeu em uma audiência pública com juristas, em novembro, André Azevedo, presidente da torcida Dragões da Real e réu por invadir o CT do São Paulo em agosto, para protestar contra a má fase do clube no Brasileiro-2016. Em outubro, o blog Bastidores F.C., do globoesporte.com, informou que ele foi um dos 12 torcedores denunciados pelo Ministério Público pela invasão, todos proibidos de frequentarem partidas do clube, Azevedo precisou pedir autorização à Justiça para poder viajar a Brasília.

Sem detector não tem evento
Em novembro passado, a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado aprovou projeto que obriga a instalação de detectores de metais nas portarias de todos os estádios, ginásios e construções onde são realizadas competições esportivas no País. Os que não se enquadrarem em um prazo de 360 dias, terão a concessão revogada ou não concedida.

O projeto é de Dâmina Pereira (PMN-MG), e data de 2015, quando ainda estavam em obras as arenas utilizadas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016. Por padrões internacionais de segurança, todos os locais de competição da Rio-16 contavam com detectores de metal na entrada.

Quem quer falar de futebol com Brasília em chamas?
Quase todos os projetos ainda têm um caminho relativamente longo até concluir os trâmites no Congresso e ser sancionado. Basta tomar como exemplo a proposta do deputado Ivan Valente (PSOL-SP), segundo a qual está garantido o livre exercício de manifestação e a liberdade de expressão aos torcedores nos locais onde são realizados os eventos desportivos.

Entrou na pauta ainda durante os Jogos Olímpicos-2016, quando diversos torcedores nas arenas foram impedidos de se manifestar, especialmente de forma política, com mensagens como “Fora, Temer”. O projeto foi aprovado sem alterações na Comissão de Esportes e aguarda análise na Constituição e Justiça e de Cidadania. Ou seja, para resolver um problema agudo ainda em agosto, a Câmara demorou quase seis meses.

Imagine quanto tempo levará até que todas essas propostas sejam postas em pauta, ainda mais em um cenário político de completo caos em que se encontra a Brasília de 2017?


Em plena crise hídrica, DF estima gastar meio milhão em água no estádio
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Daniel Brito

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Mané Garrincha em jogo do campeonato do DF de 2016: R$ 1,7 de água por dia (Daniel Brito/UOL)

O Governo do Distrito Federal empenhou R$ 634 mil para pagar as despesas no Estádio Nacional Mané Garrincha com água e esgoto. O gigante de 72 mil lugares erguido para a Copa do Mundo Fifa-14 no coração de Brasília vai consumir R$ 1,7 mil de água e esgoto por dia ao longo de 2017.

Estaria dentro da média dos grandes estádios do Brasil, como o Maracanã nos bons tempos (com jogos toda semana) não fosse o fato de o Distrito Federal atravessar uma inédita crise hídrica. As cidades mais populosas da capital estão com fornecimento restrito por até três dias na semana, sendo um desses dias sem um pingo d'àgua na torneira.

Em pleno período de chuvas, o nível do reservatório de Santo Antônio do Descoberto, na divisa com Goiás, está em 19%, quando em anos anteriores estava próximo de 100%. A partir de maio começa a temporada de seca, que dura quatro a cinco meses e o risco de que o racionamento se assevere por falta de água é iminente.

Já no Plano Piloto, onde está situado o Estádio Nacional, ainda não se iniciou o racionamento, porque o reservatório de Santa Maria, dentro do Parque Nacional de Brasília, que abastece a região, está em 40%. Porém, a pressão da água nas torneiras foi reduzida, numa tentativa de economizar antes da seca.

Em comparação com 2016, este empenho para o estádio é inferior em 9%. O GDF contingenciou R$ 700 mil no ano passadoporém utilizou R$ 559 mil. A informação é do secretário adjunto do Turismo no DF, Jaime Recena. É sua pasta quem faz a gestão do estádio.

A CAESB (Companhia de Água e Esgoto de Brasília) não fornece informações sobre consumo dos clientes.

Recena explicou que o empenho é apenas uma previsão do gasto, baseado no histórico do ano anterior e que não necessariamente deve ser executado o valor total do contrato (R$ 634 mil para 2017). Além disso, ele afirmou que o estádio tem em pleno funcionamento um sistema de armazenamento e reuso da água chuva – justamente o que está faltando em Brasília e o que provocou a crise hídrica.

“A captação da água da chuva permite que ela seja usada na irrigação do gramado, nos banheiros, na lavagem da piso. Além disso, substituímos o uso da mangueira por baldes, que gera uma economia maior”, explicou Recena.
No estádio, além dos jogos de futebol, funcionam quatro secretárias de governo, o que o GDF considera como uma economia, já que evita pagar aluguel para alojar seus servidores.

Se mantiver a média de R$ 1,7 mil por dia de água, o Mané Garrincha pagará R$ 52 mil mensais, isso representa 7% do custo mensal do gigante, que gira em torno de R$ 700 mil.

O GDF prometeu fazer no ano passado uma chamamento público para atrair empresas para gerir o estádio em uma parceria público-privada. O edital deve ser lançado nas próximas semanas. Enquanto isso, o governo da capital comemora o fato de ter confirmado com o Flamengo a realização de pelo menos seis partidas no Mané Garrincha na temporada 2017.

“A expectativa é de fecharmos mais jogos de outras equipes”, afirmou Recena. “Assim, mantivemos a média de um evento por semana no estádio, por isso é errado dizer que o Estádio de Brasília é um elefante branco. Pode ser um elefante, mas de outra cor, porque branco ele não é. Está em pleno funcionamento”, completou o secretário adjunto.

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Palco da Copa-14 e Olimpíadas-16 ainda serve como terminal de ônibus nas horas vagas (Daniel Brito/UOL)


Como Eike foi peça fundamental para o Rio receber os Jogos Olímpicos-2016
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Daniel Brito

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Eike e Cabral riem em evento de 2009, muito antes da Lava Jato (AP /Ricardo Moraes)

Impossível não associar Eike Batista aos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Ele teve atuação direta na campanha vitoriosa para sediar o evento, ainda em 2009, e deixou muitas promessas não cumpridas para a cidade. Ele é procurado até pela Interpol por ser alvo de um mandado de prisão preventiva expedidos pela 7ª Vara da Justiça Criminal do Rio pela operação Eficiência, segunda fase da operação Calicute – braço da operação Lava Jato no Rio de Janeiro.

Nos meses que antecederam a eleição da sede dos Jogos-2016, ainda em outubro de 2009, Eike contribuiu com uma doação de R$ 23 milhões para a campanha brasileira. Isto representa cerca de 16% do valor da candidatura, estimada em R$ 138 milhões (em valores de 2009). Ainda emprestou seu jatinho para o então governador Sérgio Cabral, atualmente detido em Bangu, também alvo da operação Calicute, para se deslocar até a capital dinamarquesa.

Uma de suas empresas, a MGX adquiriu a concessão da Marina da Glória em setembro de 2009. À época, o custo da compra também não foi revelado, porém, entre aquisição e investimentos, Eike desembolsaria R$ 150 milhões. Ele pretendia revitalizar, abrir restaurantes, lojas e casa de shows. Segundo informou a Folha de S.Paulo, em 2014.

O local era ponto das embarcações que disputaram as provas de vela nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos-2016. Eram necessárias adequações para atender às exigências da competição. Em 2013, com seu império já em começando a desmoronar, Eike repassou a administração da Marina à BR Marinas, em negócio aprovado pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)..

Pertinho dali, havia o Hotel Glória, o mítico prédio que o empresário adquiriu com a promessa de restaurar e reabrir para receber turistas na Copa do Mundo Fifa-2014 e Jogos Olímpicos e Paraolímpicos-2016. Seu projeto foi um fiasco. O Hotel Glória foi adquirido em 2008 pela REX, braço imobiliário do grupo de Eike, por R$ 80 milhões. A Folha de S.Paulo noticiou em fevereiro de 2014 que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) liberou R$ 50 milhões em financiamento. Paredes foram quebradas e a obra até começou, mas não terminou.

Em 2014, Eike vendeu por R$ 200 milhões o hotel a um grupo suíço.

A coleção de insucessos de Eike conta ainda com uma aventura no vôlei. Ele montou um time e contratou algumas estrelas da seleção brasileira, como o levantador Bruninho. Porém, atrasou os salários e Bruninho deixou a agremiação antes do fim da Superliga 2013-2014.

Eike também contratou atores para emplacar um macaco como mascote dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio-2016. Camila Pitanga, Marcos Pasquim, até Chico Buarque e o chef Claude Troigros entraram na campanha de uma das empresas de Eike.

Não logrou êxito, como se sabe.

Em 2012, os jornais O Globo e Folha de S.Paulo noticiaram que a IMX, empresa de Eike responsável pelo estudo de viabilidade econômica do Complexo Esportivo do Maracanã, receberia R$ 2,4 milhões apenas para realizar o estudo.

No futebol, ele associou-se à Odebrecht quando da concessão do Maracanã, em 2013. Dois anos mais tarde, com o império em ruínas, Eike abriu mão de sua participação (5%) na administração do estádio.


Polêmica do City aumenta histórico de Guardiola com suspeita de doping
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Daniel Brito

A Associação Inglesa de Futebol (FA, na sigla em inglês) deu o prazo até esta sexta-feira, dia 27, para o Manchester City justificar as infrações no controle de dopagem cometidas por seus jogadores já nesta temporada 2016-2017. O clube deixou de passar a informação precisa sobre o local onde alguns jogadores estariam para os coletores de urina (ou sangue) que seriam submetidos a testes antidoping.

No vocabulário da Wada (Agência Mundial de antidoping), se chama wherebaout: ou seja, dar o paradeiro dos atletas que serão testados. O City falhou três vezes ao informar locais de treinamento ou endereços de localização dos atletas. Falta grave. O City pode ser multado 25 mil libras esterlinas (cerca de R$ 100 mil) se não apresentar justificativa plausível até amanhã.

A falta é grave, porém, até certo ponto comum. Por isso, seria mais um caso de infração de “whereabout” não fosse pelo fato de o clube, atualmente, ter como treinador o espanhol Pep Guardiola. O treinador tido como vanguardista e revolucionário, especialmente pela época em que comandou o Barcelona de Messi (2009-2012), tem o currículo maculado pelo doping. E vem de há muito.

MANCHESTER, ENGLAND - DECEMBER 03: Josep Guardiola, Manager of Manchester City gestures during the Premier League match between Manchester City and Chelsea at Etihad Stadium on December 3, 2016 in Manchester, England. (Photo by Laurence Griffiths/Getty Images)

(Laurence Griffiths/Getty Images)

Remonta dos tempos de Pep no modesto Brescia, da Itália. Em 2001, ainda quando era jogador, ele foi flagrado em exame antidoping com uma substância proibida chamada nandrolona. A nandrolona é um esteróide anabolizante que ajuda na recuperação física, entre outras muitas coisas.

O curioso é que Pep fora flagrado em exame após seu time levar uma goleada de 5 a 0 da Lazio. Foi suspenso por quatro meses pelo Comitê Olímpico Italiano, que geria os julgamentos às violações de doping no país à época. Chegou até a ser condenado a prisão, decisão que nunca foi levada a cabo.

É que a Itália estava numa luta intensa contra o doping e o fato de ser flagrado em exame já era possível de sanção penal. O processo arrastou-se por anos, até que em 2009 Guardiola foi declarado inocente, embora o exame comprovasse a presençapresença de nandrolona em seu organismo. O ex-volante alegou que seu corpo produzia naturalmente a substância e isso seria o motivo do flagrante. A corte italiana reabriu o caso, mas não foi adiante.

Anos depois daquele exame em que foi encontrado nandrolona em seu organismo, Pep treinava o Barcelona de Messi, com Xavi e Iniesta voando baixo, e o ataque com Eto’o, Messi e Ibrahimovic, quando começaram a surgir os primeiros casos de falha de “whereabout”. O Barcelona pagou multa de 30 mil euros (R$ 102 mil em valores atuais) à UEFA. Uma rádio  de Madrid acusou o Barcelona de doping, mas nunca conseguiu comprovar com fatos.

Ao se transferir para o Bayern de Munique, em 2013, Guardiola chegou com toda a pompa e toda a circunstância, mas não faltaram suspeitas. A TV pública MDR lembrou dos casos de doping. As suspeitas aumentaram quando o treinador dispensou o médico que atuava no clube havia mais de três décadas, numa tentativa de ter o controle do que os atletas consumiam, principalmente durante período em que estavam contundidos. Porém, nenhuma violação grave foi notificada durante a gestão do técnico na agremiação.

Até que veio o caso dos “whereabout” do City.

O diário esportivo As, de Madrid, lembrou o caso de outros atletas, especialmente os olímpicos que testaram positivo para nandrolona e foram suspensos por anos e não meses como Pep. Lembrou ainda de casos de problemas de whereabout punidos severamente por entidades do esporte olímpico.

Como dizem os céticos sobre doping no futebol, o consumo de substâncias proibidas para melhorar a performance na modalidade não fará o jogador acertar mais passes ou chutes a gol, diferentemente do desempenho em esportes de força e/ou resistência. Por isso que a violação do Manchester City de Pep Guardiola passou tão timidamente pelo noticiário futebolístico neste início de 2017.


Banco turbina patrocínio de dupla do vôlei de praia após ouro na Rio-16
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Daniel Brito

A dupla de vôlei de praia formada pelo capixaba Alison Cerutti e Bruno Schmidt foi contemplada com um aumento no valor do patrocínio do Banco do Brasil, o maior investidor da modalidade. Os dois vão embolsar ao longo de 2017 pouco mais de R$ 400  mil. É um aumento superior a 40% em relação ao apoio dado pela instituição financeira em 2016, ano dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - AUGUST 18: Gold medalists Alison Cerutti and Bruno Schmidt Oscar of Brazil stand on the podium during the medal ceremony for the Men's Beachvolleyball contest at the Beach Volleyball Arena on Day 13 of the 2016 Rio Olympic Games on August 18, 2016 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Quinn Rooney/Getty Images)

Enquanto a CBV amarga corte no patrocínio do BB, Alison (dir.) e Bruno receberam aumento (Quinn Rooney/Getty)

Agora na condição de campeão olímpico, Alison vai receber R$ 282 mil por um contrato de ‘12 meses. Dá uma média de R$ 23,5 mil a cada 30 dias. Em 2016, seu patrocínio girava na casa dos R$ 204 mil. Antes deste aumento, o capixaba era “apenas” medalhista de prata em Londres-2012.

Ele vai ganhar mais que o dobro que seu parceiro, Bruno Schmidt. O atleta nascido em Brasília estreou em Jogos Olímpicos na Rio-16 e até o ano passado seu patrocínio era de R$ 74 mil por ano. Agora, saltou para R$ 118,8 mil por 12 meses. Um salto de 60% nos rendimentos.

O curioso nesta história é que esse o Banco do Brasil também patrocina a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e, a partir de 2017, decidiu cortar em R$ 16 milhões anuais o investimento direto na confederação.