Blog do Daniel Brito

Arquivo : Doping

Polêmica do City aumenta histórico de Guardiola com suspeita de doping
Comentários Comente

Daniel Brito

A Associação Inglesa de Futebol (FA, na sigla em inglês) deu o prazo até esta sexta-feira, dia 27, para o Manchester City justificar as infrações no controle de dopagem cometidas por seus jogadores já nesta temporada 2016-2017. O clube deixou de passar a informação precisa sobre o local onde alguns jogadores estariam para os coletores de urina (ou sangue) que seriam submetidos a testes antidoping.

No vocabulário da Wada (Agência Mundial de antidoping), se chama wherebaout: ou seja, dar o paradeiro dos atletas que serão testados. O City falhou três vezes ao informar locais de treinamento ou endereços de localização dos atletas. Falta grave. O City pode ser multado 25 mil libras esterlinas (cerca de R$ 100 mil) se não apresentar justificativa plausível até amanhã.

A falta é grave, porém, até certo ponto comum. Por isso, seria mais um caso de infração de “whereabout” não fosse pelo fato de o clube, atualmente, ter como treinador o espanhol Pep Guardiola. O treinador tido como vanguardista e revolucionário, especialmente pela época em que comandou o Barcelona de Messi (2009-2012), tem o currículo maculado pelo doping. E vem de há muito.

MANCHESTER, ENGLAND - DECEMBER 03: Josep Guardiola, Manager of Manchester City gestures during the Premier League match between Manchester City and Chelsea at Etihad Stadium on December 3, 2016 in Manchester, England. (Photo by Laurence Griffiths/Getty Images)

(Laurence Griffiths/Getty Images)

Remonta dos tempos de Pep no modesto Brescia, da Itália. Em 2001, ainda quando era jogador, ele foi flagrado em exame antidoping com uma substância proibida chamada nandrolona. A nandrolona é um esteróide anabolizante que ajuda na recuperação física, entre outras muitas coisas.

O curioso é que Pep fora flagrado em exame após seu time levar uma goleada de 5 a 0 da Lazio. Foi suspenso por quatro meses pelo Comitê Olímpico Italiano, que geria os julgamentos às violações de doping no país à época. Chegou até a ser condenado a prisão, decisão que nunca foi levada a cabo.

É que a Itália estava numa luta intensa contra o doping e o fato de ser flagrado em exame já era possível de sanção penal. O processo arrastou-se por anos, até que em 2009 Guardiola foi declarado inocente, embora o exame comprovasse a presençapresença de nandrolona em seu organismo. O ex-volante alegou que seu corpo produzia naturalmente a substância e isso seria o motivo do flagrante. A corte italiana reabriu o caso, mas não foi adiante.

Anos depois daquele exame em que foi encontrado nandrolona em seu organismo, Pep treinava o Barcelona de Messi, com Xavi e Iniesta voando baixo, e o ataque com Eto’o, Messi e Ibrahimovic, quando começaram a surgir os primeiros casos de falha de “whereabout”. O Barcelona pagou multa de 30 mil euros (R$ 102 mil em valores atuais) à UEFA. Uma rádio  de Madrid acusou o Barcelona de doping, mas nunca conseguiu comprovar com fatos.

Ao se transferir para o Bayern de Munique, em 2013, Guardiola chegou com toda a pompa e toda a circunstância, mas não faltaram suspeitas. A TV pública MDR lembrou dos casos de doping. As suspeitas aumentaram quando o treinador dispensou o médico que atuava no clube havia mais de três décadas, numa tentativa de ter o controle do que os atletas consumiam, principalmente durante período em que estavam contundidos. Porém, nenhuma violação grave foi notificada durante a gestão do técnico na agremiação.

Até que veio o caso dos “whereabout” do City.

O diário esportivo As, de Madrid, lembrou o caso de outros atletas, especialmente os olímpicos que testaram positivo para nandrolona e foram suspensos por anos e não meses como Pep. Lembrou ainda de casos de problemas de whereabout punidos severamente por entidades do esporte olímpico.

Como dizem os céticos sobre doping no futebol, o consumo de substâncias proibidas para melhorar a performance na modalidade não fará o jogador acertar mais passes ou chutes a gol, diferentemente do desempenho em esportes de força e/ou resistência. Por isso que a violação do Manchester City de Pep Guardiola passou tão timidamente pelo noticiário futebolístico neste início de 2017.


“Indignos”: Forças Armadas expulsam ciclistas flagrados em exame antidoping
Comentários Comente

Daniel Brito

FLORENCE, ITALY - SEPTEMBER 28: Uenia Fernandes Da Souza of Brazil in action during the Elite Women's Road Race on September 28, 2013 in Florence, Italy. (Photo by Bryn Lennon/Getty Images)

Uênia Fernandes demorou nove meses para ser punida pela Aeronáutica pelo doping (Bryn Lennon/Getty)

Os sargentos Uênia Fernandes e Alex Arseno foram expulsos das Forças Armadas do Brasil por terem sido suspensos por doping. Eles são ciclistas e eram beneficiários do programa Forças no Esporte, que contrata, por meio de chamada pública, atletas de alto rendimento para representar uma das três forças militares do país. Alex e Uênia tinham a função de terceiro sargento da Aeronáutica, recebiam mensalmente R$ 3,774 de salário para treinar e competir.

Eles foram flagrados com EPO (eritropoetina) em setembro do  passado. O exame foi feito fora do período de competição em Goiânia, Goiás, antes dos Jogos Mundiais Militares, realizados na Coreia do Sul, em outubro-15. Eles foram suspensos pela CBC (Confederação Brasileira de Ciclismo) no final de 2015 por quatro anos.

”Os atletas em questão foram excluídos do serviço ativo da Força Aérea Brasileira, ex officio, em 9 de agosto de 2016, pela prática de ato contra a moral pública, pundonor militar ou falta grave, que caracterize o autor como indigno de pertencer às Forças Armadas, de acordo com o Estatuto dos Militares e a Lei do Serviço Militar, combinado com o Regulamento da Lei do Serviço Militar e o Regulamento da Reserva da Aeronáutica”, informou a Aeronáutica, por meio da assessoria de imprensa.

Nem tudo é o que parece
Na letra fria da lei pode parecer que a Aeronáutica foi rígida com os infratores. Expulsão e a pecha de “indignos” são gestos fortes para qualquer um. Porém, esta é uma história que o blog acompanha desde o primeiro dia do anúncio do doping de Uênia e Alex, e que mostra a morosidade das Forças Armadas em lidar com atletas suspensos por ingerir substâncias proibidas.

Neste final de semana completa-se um ano desde que os resultados dos exames de sangue dos ciclistas acusaram a presença de EPO. Eles foram suspensos preventivamente antes do julgamento final no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da CBC, ocorrido em dezembro de 2015.

No caso de Alex Arseno, ele admitiu em textão publicado em sua página numa rede social o uso de EPO e anunciou o fim da carreira – ele é reincidente em exames positivo para substâncias proibidas.

Casos de família
Uênia Fernandes foi julgada e absolvida pelo tribunal da CBC. A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) protestou e em novo julgamento, a atleta tomou o gancho de quatro anos. Curiosamente, a família Fernandes tem uma história maculada pelo doping no ciclismo. Além de Uênia, sua prima, Clemilda, já cumpriu suspensão por dois anos (de 2009 a 2011) também por EPO. Márcia Fernandes, irmã de Clemilda, acabou de concluir uma suspensão de dois anos pelo mesmíssimo motivo da prima Uênia e da irmã Clemilda.

A Aeronáutica demorou exatamente nove meses para aplicar um gancho em Uênia e em Alex. Em junho, a assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira informou ao blog que a punição já estava em ponto de ser publicada. Tardou ainda dois meses para que pudesse ser confirmada. Neste intervalo, os dois ciclistas continuaram a receber salários integrais e mais: férias e até 13º salário.

A Aeronáutica não informou se vai pedir restituição deste dinheiro aos atletas-sargentos expulsos.


O mais antigo recorde do atletismo faz 33 anos. E a história é polêmica
Comentários Comente

Daniel Brito

Czech athlete Jarmila Kratochvilova wins the 800 m event in a time of 1:54.68 at the 1983 World Championships in Athletics, Helsinki, August 1983. (Photo by Steve Powell/Getty Images)

Jarmila Kratochvilová celebra o titulo mundial dos 800m em 1983 (Steve Powell/Getty Images)

Jarmila Kratochvilová é a corredora de atletismo da imagem acima, em registro fotográfico que, neste mês, completa 33 anos. Foi em julho de 1983 que a atleta da então Tchecoslováquia quebrou o recorde mundial dos 800m com o tempo que nenhuma outra corredora conseguiu chegar perto desde então.

Kratochvilová cumpriu a distância em 1min53s28 e as condições em que atingiu a marca enchem de suspeitas esta efeméride.

Kratochvilová tinha 33 anos, nunca havia feito parte da elite do atletismo, e essa idade dificilmente representou o apogeu de um competidor de 800m. O recorde foi em 26 de julho de 1983, em Munique, às vésperas do Mundial de Atletismo, em Helsinque, na Finlândia. Recaía sobre os países do Leste Europeu uma enorme dúvida quanto ao doping sistêmico em seus atletas, como uma forma de mostrar pujança esportiva da Cortina de Ferro.

Chegou-se até a suspeitar de que pudesse se ser o caso de  hiperandrogenia, quando o corpo produz hormônios masculino acima da média das demais de modo natural. Kratochvilová tinha corpo de lutador de wrestling, com ombros largos, músculos bem definidos, atípicos para atletas daquela geração, e até o hábito de manter os pelos nas axilas. Ela fez o teste de feminilidade na época e nada ficou comprovado. O exame hormonal, tal qual é realizado hoje em testes de dopagem, só começou a ser adotado dois anos após o recorde de Kratochvilová.

A imprensa dos Estados Unidos, ainda movida pela polarização da Guerra Fria, incentivou uma pequena campanha contra Kratochvilová. Foram ouvidos médicos, treinadores, atletas, todos a contestar a tcheca. Ela, no entanto, jamais foi flagrada em exame antidoping. Sua carreira também foi fugaz. Começou para valer ali por 1977, aos 27 anos, e em 1985 já não estava nas principais competições.

Não disputou os Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984 porque a Tchecoslováquia acompanhou o boicote liderado pela então União Soviética. Já estava em casa, aposentada com as láureas do recorde mundial quando o mundo viu surgir uma das grandes meio-fundistas de todos os tempos, Maria Mutola, moçambicana, três vezes campeã mundial e campeã olímpica.

Nem Mutola conseguiu se aproximar dos 1min53s de Kratochvilová. Sua melhor marca foi, arredondando, 1min55s. O recorde dos 800m no feminino havia sido quebrado 20 vezes desde a II Guerra Mundial, jamais foi ameaçado de 1983 para cá. No ano passado, a queniana Eunice Sun foi a melhor do mundo na distância, com 1min56s.

LONDON - AUGUST 21 : Jarmila Kratochvilova #183 of Czechoslovakia heads towards the finishing line in the 800 metres during the 1983 Europa Cup Final at the Crystal Palace National Sports Centre on August 21, 1983 in London, England. (Photo by Trevor Jones /Getty Images)

Kratochvilová atingiu o ápica da carreira de meio-fundista aos 33 anos, idade incomum (Trevor Jones /Getty)

A prova dos 800m obteve bastante destaque no feminino com algumas atletas de histórico curioso, como a sul-africana Caster Semenya, esta sim hiperandrogênica, que bateu na casa dos 1min55s há sete anos. E Maria Savinova, russa envolvida em escândalo de ocultação de doping, campeã mundial em 2011 em Daegu, na Coreia do Sul, e olímpica em Londres-2012. O melhor tempo da vida dela, hoje banida do esporte por doping, é 1min56s19.

Há cerca de 10 anos, um jornal tcheco publicou denúncias de que Kratochvilová dopava-se e isso teria dado a ela condição para atingir o recorde. As afirmações nunca foram comprovadas e a marca de Kratochvilová permanece válida e, aparentemente, inalcançável.

Em entrevistas, ela gosta de repetir que não ganhou mais que 3 mil coroas tchecas pelo recorde, o equivalente hoje a R$ 400. “Se fosse hoje, teria faturado US$100 mil [R$ 330 mil]”, lamenta frequentemente.

Hoje ela leva a vida de forma saudável aos 65 anos como treinadora de atletismo na República Tcheca.

kratochvilova_jarmila


Militares flagrados no doping serão excluídos com cinco meses de atraso
Comentários Comente

Daniel Brito

Os sargentos Alex Arseno e Uênia Fernandes serão excluídos das Forças Armadas do Brasil nos próximos dias por uso de doping. Eles são ciclistas e integram o programa de alto rendimento da Aeronáutica. Testaram positivo para EPO e, conforme prevê o edital que os selecionou para entrar para a caserna, devem ser desligados da instituição.

Tudo muito bem não fosse pelo fato de que os dois estão sem competir desde janeiro, quando receberam o gancho pelo doping na última instância da corte esportiva brasileira. De lá para cá, mantiveram-se nos quadros da Aeronáutica recebendo religiosamente seus R$ 3.2 mil mensais da União – este é o salário para o atleta-militar do programa de alto rendimento.

São, portanto, cinco meses recebendo sem trabalhar – sim porque eles só estão nas Forças Armadas porque são atletas e deveriam representar a instituição em competições e, quem sabe, chegar até aos Jogos Olímpicos. Suspensos, não podem exercer a atividade para a qual foram admitidos na Aeronáutica.

De onde depreendemos que ainda não chegou ao programa de esportes para atletas olímpicos das Forças Armadas a famosa rigidez na conduta tão respeitada pelos militares.

Basta lembrar do caso do nadador João Gomes Jr., que ficou suspenso por seis meses no início de 2015, mas não foi excluído do programa.

Na semana passada, perguntei à cúpula da CDMB (Comissão Desportiva Militar do Brasil), que participava de audiência pública na comissão de esporte da Câmara dos Deputados, sobre a demora na resolução do caso de Alex Arseno e Uênia Fernandes. O vice-almirante Paulo Martino Zuccaro, recém-empossado no cargo de diretor do departamento de desporto militar, pregou cautela nos julgamentos de caso de doping para “evitar injustiças”.

É que as Forças Armadas promovem outro arbítrio após o atleta-militar ser punido por sua confederação em caso de doping. Ou seja, ele pode ser punido esportivamente, mas na esfera militar ainda existe a possibilidade de se livrar de alguma sanção.

No caso de Alex Arseno, ele admitiu em textão publicado em sua página numa rede social o uso de EPO e anunciou o fim da carreira – ele é reincidente em exames positivo para substâncias proibidas. Ainda assim, ele foi mantido nos quadros da Aeronáutica. Não por muito tempo.

Já Uênia foi campeã na prova de estrada por equipe nos Jogos Mundiais Militares, na Coreia do Sul. A competição foi em outubro do ano passado, um mês após o teste em que foi flagrada com EPO no organismo – o resultado ainda não havia saído. O Brasil deve perder esta medalha de ouro.

O blog foi informado pela assessoria das Forças Armadas na terça-feira e na quinta-feira que os dois devem ser excluídos da corporação “ainda nesta semana”.

A saber se eles terão de devolver os salários que receberam enquanto estiveram impedidos de competir.


Italiano consegue a proeza de ser pego no doping com 11 substâncias ilegais
Comentários Comente

Daniel Brito

01_26110929_7cfcc0_2763256a

Foram encontrados 10 anabolizantes e uma substância de uso feminino no sangue de Vasta (reprodução/Twitter)

O italiano Davide Vasta, jogador de rúgbi do Amatori Catania, da terceira divisão italiana, entrou para a história como o que pode ser considerado o atleta mais dopado de todos os tempos. Em teste realizado fora de competição, foram encontradas onze (onze!) substâncias proibidas no sangue. Eram dez anabolizantes e um para combater o aumento dos seios, de uso exclusivamente feminino.

Não há registro confiável de algum outro atleta profissional que tenha ingerido tantos produtos e sido flagrado em controle de dopagem. O caso chocou a agência de combate ao doping da Itália. O clube de Vasta emitiu uma nota, horrorizado, informando tratar-se de um caso estritamente pessoal e alheio à agremiação.

Junto com Vasta, outro companheiro de clube também testou positivo, mas “apenas” para quatro substâncias.
À agência de notícias italiana Ansa, Davide Vasta pediu desculpas. “Cometi um erro, fiz por pura ignorância. Há um ano participei de um concurso de fisioculturismo e tomei substâncias que não sabiam que eram proibidas”, justificou-se.

No sangue do jogador de rúgbi foram encontrados: testosterona, boldenona metabólica,  drostanolona, mesterolona, methandienone, methasterona (popularmente chamada de Superdroll),  Methyl-D (methyldienolone), stenbolone metabólica, clomiphene, 19-noretiocholanolone e, (ufa!) 19-norandrosterona.

Um médico ouvido pelo jornal italiano Gazzetta dello Sport afirmou que é impossível que tamanha combinação permaneça no organismo de uma pessoa por um ano. E afirmou que a ingestão de tais substâncias pode fazer com que Davide Vasta corre o risco de se tornar infértil, sofrer com psicose ou até mesmo morrer por infarto.
Ele está suspenso preventivamente. Ainda não houve o julgamento do caso.


Você sabia? Brasil vive um surto de doping por EPO
Comentários Comente

Daniel Brito

Uênia Fernandes, ciclista e militar, amarga um gancho de quatro por uso de EPO (divulgação)

Uênia Fernandes, ciclista e militar, amarga um gancho de quatro anos por uso de EPO (divulgação)

Um grande atleta olímpico brasileiro costumava dizer, em rodinha entre amigos de confiança, que o atleta brasileiro mal sabe se dopar. É um chiste politicamente incorreto para exemplificar a falta de profissionalismo no chamado “esporte amador” brasileiro. Pois esta frase vai perdendo sentido aos poucos no país.

Porque, sim, os brasileiros estão seguindo os métodos de dopagem mais sofisticados no exterior para tentar melhorar o desempenho nas competições internacionais. Basta observar que do final de 2014 ao início de 2016 foram registrados seis casos positivos de EPO (eritropoetina).

Se tomarmos como parâmetro o relatório mais recente da Wada (Agência Mundial Antidopagem, na sigla em inglês), com estatísticas apenas da temporada 2014, os casos positivos no Brasil representariam quase 10% das ocorrências no mundo inteiro – Wada confirmou 57 atletas flagrados no período.

O número significativo de brasileiros se deve ao trabalho da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), que passou a investir em exames fora de competição e promover testes de sangue no recentemente erguido LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem), antigo Ladetec, na UFRJ.

Antes do advento do LBCD, o Brasil via um ou dois atletas por temporada serem flagrados por EPO. A maioria das punições ocorriam aos que eram flagrados com estimulante, como aqueles que se vendem em farmácias com relativa facilidade. Daí o motivo da tirada infame de um certo grande atleta olímpico brasileiro, que mencionei no início deste texto.

O EPO é um hormônio produzido pelo rim que regula os glóbulos vermelhos (oxigênio) no sangue. Quando injetado em atletas, pode melhorar a performance esportiva em até 30%. É muito utilizado nas provas de endurance, como ciclismo e atletismo. Pode causar grave dano à saúde, por aumentar a viscosidade do sangue.

A ABCD não divulgou o nome dos seis desportistas que testaram positivo para EPO entre o fim de 2014 e o início de 2016.

Pelo andar da carruagem, é provável que mais brasileiros engrossem o sangue com EPO até os Jogos Olímpicos do Rio-2016 e ampliem o surto de doping por esta substância no país.


Brasília está em chamas, mas Dilma ainda precisa tratar sobre doping*
Comentários Comente

Daniel Brito

novo-laboratorio-brasileiro-de-controle-de-dopagem-que-deve-ser-recredenciado-em-maio-pela-wada-1430537177289_615x300

Laboratório preparada para os Jogos-16 pode ficar sem uso (divulgação)

*Atualizada às 12h30

É, no mínimo, curioso que uma operação chamada Lava Jato tenha incendiado Brasília nos últimos dias. E que, em meio às chamas da destruição, haja um decreto em cima da mesa da presidente Dilma Rousseff, à espera de assinatura, que pode livrar o Brasil de um vexame internacional na esfera esportiva.

Encerra-se amanhã, sexta-feira, 18, o prazo dado pela Wada (sigla em inglês para Agência Mundial Anti-doping) para que o país regularize sua legislação esportiva e canalize em um único tribunal todos os julgamentos de casos de doping no Brasil. Ou faz isso, ou é descredenciado pela Wada.

O Brasil sabe dessa condição desde novembro último. O melhor cenário seria apresentar uma proposta de emenda constitucional na Câmara dos Deputados, em Brasília, e fazê-la vencer todos os trâmites no legislativo. Mas o calendário pesou contra. Primeiro, porque o Congresso Nacional está em ebulição sob a gestão Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal). Depois, dezembro só houve expediente na primeira quinzena, e em ritmo lento, janeiro e início de fevereiro houve o recesso parlamentar. Da segunda quinzena de fevereiro até este dia 18 de março não haveria tempo hábil para debater e aprovar uma PEC na Câmara no cenário atual.

Entraram em cena Casa Civil e AGU (Advocacia Geral da União). Entendeu-se, portanto, que era melhor um decreto presidencial. No início de março foi divulgado que algum dia entre 15 e 18 de março a presidente Dilma assinaria o decreto.

Nele, os casos de doping que hoje são julgados nos tribunais de cada confederação esportiva iriam direto para uma espécie de STF do doping, com a diferença de ser a primeira e única instância nos julgamentos no país. Cairia de 60 para 21 dias o limite para julgamento de sanções disciplinares, em consonância com regulamentação da Wada de 2013.

Como se vê, Brasília está em chamas. A presidente envolta em crise que parece longe do fim. Nem mesmo o ministro do Esporte, George Hilton (PRB-MG), sabe até que dia (ou melhor, até que horas) vai ter o direito de ocupar a sala que utiliza no alto do Bloco A da Esplanada dos Ministérios. Na ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) há um otimismo insofismável quanto à assinatura, apesar da conjuntura. Até porque, é tudo o que o Brasil precisa para levar à Wada: a assinatura e não a instalação imediata do tal STF do doping.

Mas se o decreto não sair até sexta-feira, o Brasil perde o credenciamento da Wada no ano dos Jogos Olímpicos no país. Não que isto já não tenha ocorrido. Em 2014, a Copa do Mundo Fifa foi realizada sem o credenciamento do país para analisar exames antidopagem. A diferença é que agora, o Brasil tem um laboratório de controle de doping novinho, no qual foram empreendidos quase R$ 190 milhões pensando nos Jogos-2016. E sem o decreto presidencial, sem a assinatura em meio ao caos, este laboratório ficará sem uso durante a Rio-2016.

Amanhã é o último dia.

Atualização: Foi publicado na edição desta quinta-feira, 17, no Diário Oficial da União a portaria que cria o Código Brasileiro Antidopagem, em que estabelece normas e diretrizes para o controle de dopagem no país. O Tribunal Antidopagem é citado na portaria, mas sua criação ainda não foi oficializada, que é esperada para ainda esta quinta-feira, 17. “Hoje uma edição extra do Diário Oficial completa o conjunto de medidas que atendem todas as exigências da Wada-AMA. Portanto, o Brasil manterá a sua conformidade com o Código Mundial Antidopagem. Hoje foi dado um enorme passo na luta contra a dopagem no esporte no Brasil e fica assegurado o LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem) como o laboratório dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016”, afirmou o secretário nacional para a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), Maurco Aurelio Klein.


Substância de Sharapova vira chamariz turístico na Letônia
Comentários Comente

Daniel Brito

Nils Usakovs, 39, é prefeito da bela e fria Riga, capital da Letônia, no norte da Europa. Nesta terça-feira, 15, o político causou polêmica no Twitter ao postar o que ele chamou de “publicidade urbana” da cidade. É um poster com desenho de quatro mulheres, duas loiras e duas ruivas, no estilo anos 1940-1950 dos Estados Unidos, com os dizeres em inglês: “Bem-vindo a Riga, a cidade natal do Meldonium”.

Meldonium é a substância proibida pela Wada (Agência Mundial Anti-doping) com a qual foi flagrada a tenista russa Maria Sharapova e outros 99 atletas de diversas modalidades – nenhum brasileiro, por enquanto.

A substância foi criada na Letônia e comercializada pela empresa do país chamada Grindeks. É recomendada para pacientes com doenças cardíacas e de circulação crônicas, aqueles que se recuperam de doença ou lesão e pessoas que sofrem com “reduzida capacidade de trabalho, sobrecarga física e psico-emocional”.

O cientista letão Ivars Kelvins inventou a droga em meados dos anos 1970, quando a Letônia ainda era uma república soviética. Tinha como propósito aumentar a resistência dos membros das tropas soviéticas nos combates no Afeganistão.

Hoje, não é permitida a comercialização do meldonium no Brasil e nem nos Estados Unidos. Mas na Rússia pode ser adquirida desde que com prescrição médica.

Há uma comoção na Letônia pelo banimento da substância, que é motivo de orgulho nacional. “É triste que a droga tenha sido proibida”, disse Andrejs Vaivars, porta-voz do primeiro-ministro Maris Kucinskis. “Especialmente tendo em conta que é uma das realizações mais significativas de cientistas da Letônia.”

Daí o motivo de o prefeito de Riga, Nils Usokovs publicar o poster turístico no Twitter em sua página pessoal. Mas não sem antes alertar, em letão, que trata-se de uma “publicidade informal”.


Doping em família: mãe e filho são flagrados com EPO em provas de rua
Comentários Comente

Daniel Brito

O comunicado oficial da CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo) publicado há uma semana era frio, como devem ser as notas oficiais de doping. Anunciava suspensão preventiva de três atletas flagrados com substâncias proibidas em importantes competições. O primeiro nome da lista era de Sueli Pereira Silva. No pé da nota, estava Ronald Moraes da Silva.

Ambos testaram positivo para EPO (eritropoetina) na Corrida de Reis, em Cuiabá, na primeira quinzena de janeiro. Sueli também foi flagrada com a mesma substância na São Silvestre, em 31 de dezembro, em caso divulgado em primeira mão pelo meu colega de UOL Esporte e parceiro de cobertura olímpica, Eduardo Ohata.

Com a nota oficial, de 12 de fevereiro, Sueli e Ronald entraram para a história do esporte brasileiro como primeiro caso de mãe e filho flagrados no doping.

Nunca antes na história deste país…
O esporte brasileiro já viu, recentemente, outros episódios de dopagem em família. Basta lembrar do capítulo que a família Fernandes já escreveu no ciclismo nacional. Três desportistas da mesma linhagem já tiveram a carreira maculada por resultados positivos em testes de doping e punições rigorosas. Hoje elas são militares e representam as Forças Armadas do país em competições internacionais.

Mas mãe e filho flagrados é, de fato, caso raro. Até em escala internacional.

EPO dentro de casa?
Sueli e Ronald são (ou eram) treinados pelo mesmo técnico, Ronaldo de Moraes, popularmente chamado de Trovão, casado com Sueli e pai de Ronald. Embora haja suspeita, jamais comprovada, de que o EPO pode ter vindo de dentro da casa da família, Trovão não foi punido e nem sequer está sob investigação. “Estamos confiantes no julgamento”, disse o treinador ao repórter Rafael Xavier, do jornal O Popular, de Goiânia, Goiás.

Veredictos severos
Os dois atletas estão temporariamente suspensos pela CBAT até que haja o julgamento no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da modalidade. Mas os veredictos para atletas apanhados com EPO na urina costumam ser rígidos, podendo chegar até a quatro anos de gancho. Para Sueli, por exemplo, seria o fim da carreira no alto rendimento, já que está com 37 anos, e perdeu a oportunidade de representar o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

Ela já foi cortada da equipe do Cruzeiro, de Belo Horizonte, Minas Gerais, por causa do doping. Ronald, que também integrava o time, fora dispensado antes mesmo da São Silvestre, motivo pelo qual não correra a tradicional prova de rua do dia 31 de dezembro em São Paulo.

Os testes que comprometeram esta família de corredores foram feitos pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), um órgão do Ministério do Esporte, no LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem), o antigo Ladetec, na UFRJ.

dopados


Ministério promete ir ao TAS contra ciclista militar absolvida do doping
Comentários Comente

Daniel Brito

medalha

Uênia (terceira, da esq. para dir.) foi campeã por equipes no Mundial Militar (Divulgação)

A ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem) entrou com pedido de anulação da decisão da Confederação Brasileira de Ciclismo de absolver a ciclista matogrossense Uênia Fernandes, 31, do doping por EPO (eritropoietina). O órgão, vinculado ao Ministério do Esporte, promete levar o caso até o Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, na Suíça.

É raro, quase inédito, um atleta ser flagrado em exame de dopagem com EPO e ainda ser absolvido. Uênia alegou que a equipe da ABCD que realizou a coleta da urina em teste surpresa em setembro foi feita de forma errada e sofreu contaminação. A defesa da ciclista disse que ela não pôde se hidratar, ficou por horas submetida aos exames, e a coleta da urina do ciclista Alex Arseno, também flagrado com EPO no mesmo dia, conspurcou o frasco em que estava a urina de Uênia.

No julgamento da Comissão Disciplinar do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) do ciclismo, em 10 de dezembro, a ABCD foi citada nominalmente como responsável pela resultado positivo de doping. Porém, a entidade não foi convocada para dar sua versão, o que vai contra o CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva). Ainda assim, a comissão julgou procedente a defesa de Uênia e a absolveu.

“Mesmo que não tivesse sido citada na defesa da atleta, a ABCD tem que ser intimada a participar do julgamento, mas nem isso ocorreu”, explicou o chefe do órgão, Marco Aurélio Klein. “A decisão do STJD do ciclismo foi uma afronta à Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem. Foi dada uma sentença a um julgamento feito de forma irregular. Não questiono o resultado, mas o fato de o CBJD não ter sido obedecido. Nós vamos até ao TAS para que este julgamento seja revisto”, acrescentou.

Histórico de doping na família
Uênia é 3º sargento da Força Áerea Brasileira e é beneficiária do programa de alto rendimento das Forças Armadas. Representou o país na prova de estrada nos Jogos Militares, na cidade sul-coreana de Mungyeong, e conquistou o ouro por equipes na prova de estrada, ao lado das primas Clemilda e Janildes. Flávia Oliveira também compôs o time, mas sobre esta não recai nenhuma suspeita de doping.

Curiosamente, a família Fernandes tem uma história maculada pelo doping no ciclismo. Além de Clemilda, e Uênia, há registro de utilização de substância proibida por parte de Márcia, irmã de Clemilda e Janildes. Mais curioso ainda, todas foram flagradas utilizando-se da mesma substância: EPO.

“Não há hipótese de um atleta flagrado com EPO ser absolvido. Observa-se que há uma concentração de casos neste núcleo, mas não podemos julgar a Uênia pela Clemilda e nem por ninguém, a não ser por ela mesma”, opinou Klein.