Blog do Daniel Brito

Após debandada, brasileira tenta convencer golfistas a disputar a Rio-16
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Daniel Brito

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Victoria Lovelady é a 60ª colocada no ranking mundial (divulgação)

No finzinho da tarde de ontem a paulistana Victoria Lovelady,28, recebeu uma mensagem de uma amiga estrangeira. Um dia antes, ela concedera duas entrevistas de estúdio ao canal de TV dos Estados Unidos Golf Channel, da rede NBC. Sempre para tratar do mesmo assunto: a epidemia do vírus zika no Brasil.

Ante a debandada dos melhores golfistas do mundo dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 alegando temer o vírus transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, a comunidade do golfe internacional busca informações concretas sobre os riscos. E Victoria tornou-se referência, uma espécie de porta-voz informal do Rio-16 e defensora do Brasil para quem quer que a procure.

“Muita gente me pergunta muito sobre a situação do zika no Brasil. As jogadoras americanas, da Europa e australianas não estão acostumadas à realidade que a gente que vem de um país tropical”, contou ao blog. “Para todas elas e nas entrevistas ao Golf Channel e outros veículos de imprensa que o Brasil não vai parar por causa do vírus. Claro que todos estamos nos precavendo, mas a vida não para”.

Victoria é número 60 no ranking mundial. Se mantiver esta colocação até 11 de julho, estará garantida nos Jogos Olímpicos. A outra representante do Brasil é Mirian Nagl, 58ª no ranking, já classificada, que até 2013 competia pela Alemanha, país no qual foi criada.

“Se eu fosse uma golfista da Alemanha, da Finlândia ou sei lá, de algum outro país desenvolvido, eu também ficaria com medo. No mês passado, eu estava na Austrália e toda noite saíam notícias sobre o zika no Brasil. A quantidade de notícias da imprensa estrangeira é absurda”, contou.

Já foram 10 desistências de golfistas do torneio masculino, entre os quais o norte-irlandês Rory McIlroy e o número 1 do mundo, o australiano Jason Day. Ainda na quarta-feira, foi a vez da sul-africana Lee-Anne Pace anunciar sua saída do Rio-16 – ela é a primeira mulher a abrir mão da disputa. Os motivos são sempre o zika.

O mais curioso é que a doença pode ser muito mais danosa às mulheres do que aos homens, por causa do risco de microcefalia em bebês recém-nascido e até pela suspeita de que o vírus pode manter-se inoculado no organismo humano por seis meses. Ainda assim, as atletas do golfe com vaga nos Jogos Olímpicos não aderiram ao movimento dos homens.

Victoria Lovelady explica que isso se deve ao fato de as mulheres ainda batalharem para obter mais espaço e reconhecimento no cenário internacional. Basta observar que os grandes torneios do masculino chegam a premiar o campeão com US$ 1.5 milhão (R$ 4.8 milhões), mesmo valor distribuído a todas as participantes de um certame feminino. Para elas, o retorno do golfe ao programa olímpico, que não dá premiação em dinheiro, é parte do processo para valorizar o circuito feminino.

E o Rio-16 está estrategicamente agendado para uma semana entre dois grandes torneios: PGA Championship, em Nova Jersey, no finalzinho de julho, que distribuirá US$ 10 milhões (R$ 33 milhões) em prêmios  e o Deutsch Bank, em Boston, na semana seguinte ao fim dos Jogos Olímpico, que dá US$ 8,5 milhões (R$27 milhões).

“Se a gente comparar que a maioria das mulheres está se dedicando a disputar os Jogos Olímpicos, a gente pode deduzir que os homens estão priorizando os torneios deles em vez de representar o país deles no Rio-16”, raciocinou Victoria. “Esses caras não precisam dos Jogos Olímpicos para serem reconhecidos no mundo do golfe”, completou.


“Não haverá caça às bruxas”, diz campeão olímpico novo chefe do antidoping
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Daniel Brito

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O campeão olímpico Rogério Sampaio, 48, é o novo chefe da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), órgão do Ministério do Esporte que regular os exames antidoping no país. E, antes mesmo da nomeação ser publicada no Diário Oficial, avisou: “Não haverá caça às bruxas, tem que haver respeito aos atletas”, disse Sampaio ao blog, por telefone.

Ele substitui a Marco Aurelio Klein, que fundou e estruturou a ABCD em um trabalho iniciado em 2011, atendendo a exigências da WADA (Agência Mundial Antidoping). Ele nem sequer foi informado da trocapelo ministro Leonardo Picciani (PMDB-RJ), mas sua queda já estava programada desde o início da semana, quando ele se encontrou com Sampaio e ofereceu-lhe o cargo na ABCD. A informação foi publicada no blog de Fernando Rodrigues, no UOL, na manhã desta quarta-feira, 29.
Sampaio foi ouro no judô em Barcelona-1992 e acumula experiência de 11 anos na gestão pública nas secretárias de esporte da prefeitura de Santos e de São Paulo.

Um dos fatores que pode ter acarretado a substituição de Klein por Sampaio foi a suspensão do LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem), no Rio de Janeiro, pela Wada, por problemas técnicos.

Uma das primeiras atribuições do ex-judoca é acompanhar, na próxima semana, uma comissão da Wada que visitará o laboratório erguido ao custo estimado de R$ 180 milhões para realizar todo os exames antidopagem dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016.  Ele confia que o LBCD voltará a ser considerado apto a realizar os testes durante o evento.

“Enquanto a nomeação não sai, estou tomando conhecimento de todo o processo no Brasil. Vamos seguir todas as diretrizes e programação da Wada para controle de dopagem dos atletas brasileiros e estrangeiros. Vamos trabalhar em conjunto com as confederações brasileiras. Tem que haver o respeito ao atleta, não vai  ter perseguição e nem caça às bruxas”, avisou.

Na tarde desta quarta-feira, 29, a assessoria de imprensa do Ministério do Esporte divulgou nota informando que a saída de Klein não tem relação com a suspensão do LBCD. Confira a íntegra da nota, abaixo:

 

A troca no comando da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) se deu seguindo determinação do ministro do Esporte, Leonardo Picciani, já anunciada desde que tomou posse, de que faria alterações nas secretarias do ministério para ter como assessores próximos pessoas de sua confiança. A mudança não tem nada a ver com a suspensão do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD) pela Agência Mundial Antidopagem (Wada, na sigla em inglês). O ministro agradece Marco Aurelio Klein pelo trabalho realizado no período. Para sua vaga, o ministro convidou o ex-campeão olímpico Rogério Sampaio, que aceitou.


Quando o fator casa mais atrapalha do que ajuda na Rio-2016
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Daniel Brito

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Renato Portela, do tiro ao prato: ''Torcida não costuma ajudar'' (arquivo pessoal)

O goiano Renato Portela experimentará duas sensações jamais vividas até o próximo 12 de agosto. A primeira é  a de estrear nesse dia 12 em uma edição dos Jogos Olímpicos aos 53 anos de idade. A segunda: competir diante da torcida, especialmente, da família. Ele será o representante brasileiro na prova de skeet do tiro esportivo na Rio-16, modalidade na qual sagrou-se campeão nacional pela 11ª vez no final de semana que passou.

A idade não representa um problema neste esporte, dado que seis melhores em Londres-2012, três estavam tinham 40 anos ou mais. Atualmente, 20% dos top 30 do ranking mundo estão nesta faixa etária.

Já a presença da família é um obstáculo que Renato e os demais atiradores brasileiros terão de superar. Nenhum deles está acostumado a competir com torcida. O tiro é um esporte solitário e com raro apelo de público. Uma modalidade que tem dificuldades de se popularizar no Brasil, embora tenha sido dela o primeiro pódio olímpico do país na história moderna dos Jogos.

Desde que começou no skeet, há 18 anos, Portela disse que nunca participou de uma competição em que seus familiares estiveram presentes. Mas no Rio-16 não dá para não ir.

Estão com passagens para o Rio e ingressos comprados a mulher, a filha, a sogra, a irmã, duas sobrinhas e um cunhado.
“Não sai da minha memória uma competição que disputei no Peru. Um atirador da casa contava com o apoio da torcida e ele tinha um certo favoritismo na prova. Mas ficou tão nervoso que acabou decepcionando”, rememorou o goiano.

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Portela, 53, começou a praticar tiro ao prato há 18 anos (Arquivo pessoal)

Dirigentes do COB (Comitê Olímpico do Brasil) costumam repetir em entrevistas que competir em casa pode fazer diferença no resultado. A pressão da torcida pode influenciar o julgamento de um árbitro, fazer tremer a perna de um atleta rival ou dar um ânimo no brasileiro que precisa de um pouco mais apoio na hora da decisão.

E o fator psicológico caminha de mãos dadas com a técnica no skeet. Não basta ter reflexo apurado e bom de mira, é preciso ter controle emocional aguçado para obter uma boa performance. Portela prepare-se para os Jogos Olímpicos sem a ajuda de psicólogos. “Estou muito feliz de poder competir diante dos meus familiares, isso é motivo de orgulho para mim. Mas estou interiorizando desde agora que o Rio-16 será em condições bem diferentes das outras competições que já participei. Por isso, estou tranquilo, com os pés no chão, já ciente do que vou encarar”, avisou.

O que é skeet?

Skeet é uma das categorias do tiro esportivo. Nela, o atirador dispara em oito posições, em pratos de até 105g e 109mm de diâmetro. Eles são arremessados ao ar por máquinas situadas em casas altas e baixas e podem atingir uma velocidade de até 90km/h. No evento teste para a Rio-2016, houve uma queixa dos participantes estrangeiros quanto ao material com que foi feito o prato. Segundo o relato de Portela, muitos atiradores reclamaram que por ter sido produzido por um material diferente do habitual muitos deles não quebraram ao impacto da bala.

Uma curiosidade das provas de tiro ao prato é que nenhum dos integrantes da equipe brasileira pertence às Forças Armadas, que prefere investir nos atletas das provas de pistola e carabina.

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Portela é 11 vezes campeão nacional no skeet (Danilo Borges/ME)


Com metade dos visitantes da Copa, DF espera faturar R$ 150 mi com a Rio-16
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Daniel Brito

O GDF (Governo do Distrito Federal) acredita que vai ter um ganho aproximado de R$ 150 milhões com turismo durante os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Brasília receberá 10 partidas do torneio de futebol no Estádio Nacional Mané Garrincha, duas das quais da seleção brasileira masculina.

As contas são baseadas na experiência com a Copa do Mundo Fifa-2014.

De acordo com dados do Ministério do Turismo, passaram mais de 600 mil turistas pela capital federal durante o Mundial, há exatos dois anos. E o gasto médio de cada um com hospedagem, transporte, alimentação e diversão girou na casa de R$ 520. O GDF crê que os Jogos Olímpicos, que até agora não engajou a cidade, consiga atrair metade desse público em Brasília.

“Se estimarmos 300 mil diárias ao longo da realização dos Jogos Olímpicos, com o gasto médio de R$ 520 por dia, teremos R$ 150 milhões gastos na nossa cidade. Quando digo 300 mil diárias eu me refiro à possibilidade de recebermos 100 mil pessoas por, em média, três dias, ou 60 mil pessoas por cinco dias. Ou 300 mil pessoas passarem, em média, um dia. Se efetivamente tivermos 300 mil turistas com duas diárias poderíamos chegar a até 600 mil diárias. O que significaria um gasto de R$ 300 milhões”, calculou o governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

As contas, contudo, não levaram em consideração as importantes diferenças entre Copa e Jogos Olímpicos. O Mundial levou ao Distrito Federal sete partidas em 24 dias. Já para a Rio-16, Brasília foi contemplada com 10 partidas de futebol em um período de oito dias, de 4 a 12 de agosto.

Alguns dos maiores jogadores do planeta desfilaram no Nacional no evento da Fifa: Neymar, Cristiano Ronaldo, Messi, James Rodriguez, Yaya Tourè, Karim Benzema…

Para a Rio-16, Neymar é a estrela solitária confirmada para Brasília até agora. A venda de ingressos patina para pelejas como Coreia do Sul e México ou Dinamarca e África do Sul. Talvez por isso, a cidade parece alheia à realização dos Jogos Olímpicos.
Ainda assim, o GDF entende que faz uma previsão realista.

O fato é que em se confirmando a estimativa de Rollemberg, o Distrito Federal pode receber um retorno quase cinco vezes maior ao investimento que diz estar pronto para fazer para a Rio-16. Segundo o governador, as despesas chegarão na casa dos R$ 32 milhões, sendo R$ 13 milhões apenas para a segurança e R$ 7 milhões em estruturas temporárias.

E mesmo que a capital fature os R$ 150 milhões previstos, ficarão faltando R$ 1.7 bilhão para ao menos empatar com o custo da reconstrução do Estádio Mané Garrincha, orçado pelo TCDF (Tribunal de Contas do DDF) em R$ 1.9 bilhão.

BRASILIA, BRAZIL - JUNE 12: The National Stadium of Brazil is pictured ahead of the 2014 FIFA World Cup on June 12, 2014 in Brasilia, Brazil. (Photo by Phil Walter/Getty Images)

Reconstruído ao custo de R$ 1,9 bi, Estádio Nacional pode trazer R$ 150 mi ao DF na Rio-16 (Phil Walter/Getty)


Atleta que teve que provar ser mulher conquista vaga na Rio-16
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Daniel Brito

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Velocista indiana Dutee Chand após conquistar a vaga na Rio-16: ''Toda mágoa e toda dor desapareceram''

A indiana Dutee Chand, 20, tornou-se a primeira velocista de seu país a conquistar uma vaga nos Jogos Olímpicos desde Moscou-1980. Em um meeting internacional na cidade de Almaty, capital do Cazaquistão, ela foi medalha de prata nos 100m com 11s24. “É engraçado porque toda aquela dor, toda a mágoa e as lágrimas que derramei simplesmente desapareceram. É como se nunca tivesse acontecido”, disse Dutee ao ''Times of India'', o maior jornal em língua inglesa do país.

A dor e as lágrimas a que se refere são pelo longo e humilhante processo pelo qual foi submetida para poder competir. Dutee é hiperandrogênica, produz hormônios masculino acima da média das demais de modo natural. A IAAF (sigla em inglês para Federação Internacional de Atletismo) excluiu a indiana de competições em 2014.

Às vésperas de representar a Índia nos Jogos da Commomwealth em Glasgow-2014, ela foi submetida a um humilhante teste de femininidade pela própria federação indiana de atletismo e dispensada da delegação. Recebeu como recomendação que passasse por tratamento hormonal ou cirurgia para se adequar aos níveis de testosterona permitidos pela IAAF e pelo COI.

Dutee recebeu o apoio de um grupo de advogados australianos e canadenses especializados em questões de gênero e levou o caso até o TAS (Tribunal Arbitral do Esporte), na Suíça. Há um ano, a mais alta instância jurídica do esporte questionou a vantagem atlética dos níveis naturalmente elevados de testosterona e deu um prazo de dois anos até que se comprove cientificamente que níveis elevados de testosterona produzida naturalmente melhore o desempenho de uma atleta.

O tempo que Duttee Chand alcançou em Almaty no final de semana está longe de figurar entre os 50 melhores deste ano nos 100m. Se compararmos com o Brasil, os 11s24 empatariam com a marca alcançada por Rosângela Santos no início do mês, e que lidera o ranking nacional em 2016.

A classificação de Dutee para o Rio-16 é celebrado na Índia, nação dificilmente conhecida por seus feitos olímpicos, por ser a 100ª atleta a conquistar vaga em uma edição dos Jogos, número recorde. Mas é uma vitória maior ainda para as mulheres.

PORTLAND, OR - MARCH 19: (L-R) Anaszt¡zia Nguyen of Hungary, Jamile Samuel of the Netherlands and Dutee Chand of India compete in the Women's 60 Metres Heats during day three of the IAAF World Indoor Championships at Oregon Convention Center on March 19, 2016 in Portland, Oregon. (Photo by Christian Petersen/Getty Images for IAAF)

Dutee Chand, à dir, durante o Mundial indoor, em Portland, Estados Unidos (Christian Petersen/Getty )


Banimentos e desistências dão clima de anos 1980 aos Jogos Rio-2016
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at Madison Square Garden on January 12, 2016 in New York City.The New York Knicks defeated the Boston Celtics 120-114. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, User is consenting to the terms and conditions of the Getty Images License Agreement.

Jovem pivô lituano Kristaps Porzingis alegou lesão para não disputar a Rio-16 (Getty)

Saiu com pouco destaque na imprensa brasileira o banimento da equipe da Bulgária de levantamento de peso dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Decisão tomada após 11 atletas, sendo oito homens da delegação do país, testarem positivo para o anabolizante estanozolol, o mesmo do velocista canandense Ben Johnson.

Evitou o constrangimento pelo qual os búlgaros passaram em Sydney-2000, quando a equipe foi flagrada durante os Jogos, teve de devolver as medalhas e foi mandada de volta para casa.

Também passou despercebido no noticiário a sanção do COI (Comitê Olímpico Internacional) ao Kuwait, por interferência governamental na estrutura esportiva do país. Pode até haver kuwaitianos disputando os Jogos-2016 mas não sob a bandeira de seu país, banido do Rio.

Nas últimas duas semanas, os Jogos do Rio-2016 sofreu importante baixa no atletismo. A suspensão à Rússia, por fraudar exames e resultados de controle de dopagem. O Quênia, uma potência, também pode ser sancionada por motivo semelhante.

Afora esses casos, há as frequentes desistências de astros do esporte mundial, como Stephen Curry e até mesmo Messi. Um ciclista americano, um boxeador russo, um tenista australiano, um futebolista sueco, quase metade do Dream Team de basquete, os principais golfistas do circuito mundial, um basquetebolista lituano, um tenista espanhol…E quantos outros atletas anônimos.

E os motivos são diversos: desde o já conhecido discurso de “descanso”, lesão até as especificidades dos Jogos do Rio-2016, como preocupação com segurança, doenças tropicais como zika vírus e dengue ou mesmo insatisfação com o regulamento – que é o caso do boxe.

CHICAGO - NOVEMBER 3: Artur Beterbiev of Russia stands on the victory podium after his win over Abbos Atoev of Uzebekistan in the 81 kg division during the finals of the AIBA World Boxing Championships at the UIC Pavilion November 3, 2007 in Chicago, Illinois. (Photo by Matthew Stockman/Getty Images)

Boxeador russo Artur Beterbiev desistiu da Rio-16, que seria sua 3ª olimpíada (Matthew Stockman/Getty)

Havia muito não se noticiava tantas ausências em uma só edição olímpica.

Talvez seja o caso de rememorar os Jogos de mais de três décadas atrás. Lembrar de Moscou-80 e Los Angeles-84, época em que a geopolítica mundial era polarizada. A decisão dede participar ou não era política e não esportiva.

Tanto é verdade que muitos atletas olímpicos americanos tentaram se voltar contra a decisão unilateral do então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, de proibir a participação do país em Moscou-80. Obviamente, faltou-lhes força política para bater de frente com Carter. Sessenta e cinco países abriram mão de competir na capital da então União Soviética, há 36 anos.

Quatro anos mais tarde foi a vez do bloco soviético adotar a política da reciprocidade. Angariou 15 aliados, que recusaram-se a enviar competidores a Los Angeles-84.

A partir de Seul-88 até Londres-2012, Jogos Olímpicos foram sinônimos de celebração e excelência esportiva. Em geral, o período que antecede aos Jogos é repleto de ansiedade por parte das estrelas olímpicas e dos potenciais medalhistas. Eles são tomados por aquela inquietação de quem se considera pronto para vencer.

E que difere um pouco do clima instaurado no Brasil nesta reta final antes da Rio-16. A inquietação agora é outra.

É claro que as proporções dos boicotes da década de 1980 são muito maiores do que os casos de desistências ou suspensões que pipocam aqui e acolá em frequência diária. Mas é inevitável sentir o sabor agridoce de receber o maior evento esportivo do planeta sem necessariamente contar com alguns dos maiores da atualidade.

A propósito, enquanto este texto estava sendo escrito, mais um atleta anunciou desistência: o golfista norte-irlandês Rory McIlroy, numero 1 do ranking mundial,  temendo contrair o vírus zika no Rio.

Quem será o próximo a desistir? Ou os próximos banidos?

CHARLOTTE, NC - MAY 06: Adam Scott hits a shot out of the sand on the 15th hole during the second round of the 2016 Wells Fargo Championship at Quail Hollow Club on May 6, 2016 in Charlotte, North Carolina. (Photo by Streeter Lecka/Getty Images)

Australiano Adam Scott disse ter compromissos profissionais e pessoais e não virá ao Rio-16 (Getty)


Lewandowski: o que o presidente do STF tem a ver com o atacante polonês
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Daniel Brito

PARIS, FRANCE - JUNE 16: Robert Lewandowski of Poland reacts during the UEFA EURO 2016 Group C match between Germany and Poland at Stade de France on June 16, 2016 in Paris, France. (Photo by Shaun Botterill/Getty Images)

Robert Lewandowski tem foro privilegiado na seleção polonesa? (Shaun Botterill/Getty Images)

Difícil ver Robert Lewandowski em campo, hoje ele estará com a Polônia contra a Ucrânia, e não se perguntar: “Será que ele é parente do ministro do STF?”. A partir desta dúvida se prolifera uma montanha de trocadilhos e memes na internet envolvendo o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, 68, e o centroavante polonês, 40 anos mais jovem.

A dúvida é pertinente. Afinal, Lewandowski é um sobrenome incomum no Brasil. É difícil cruzar com alguém do lado de cá da linha do Equador cujo nome de família traga onze letras, só quatro vogais, duas vezes o W e um K de quebra.

Mas na Polônia é outra história. Lewandowski é o sétimo sobrenome mais popular do país. Mal comparando, seria como a família “Pereira” ou “Carvalho” no Brasil. Trata-se de um lugarejo na porção centro-norte da Polônia chamado Lowendów. Deriva do polonês antigo, da palavra Lewander que significa lavanda. Simples assim.

Mas não significa dizer que todas as pessoas de Lewandów compartilham do mesmo DNA. A mãe do ministro é da Suíça, e veio com o marido, Waclaw Marian, em meados dos anos 1940, para escapar da guerra. É de origem judaica, mas o presidente do Supremo é católico. Gosta de futebol, torce para o Palmeiras, mas dedicou-se mais ao polo sobre cavalo.

Robert é de Varsóvia, filho de um judoca com uma jogadora de vôlei. É um fervoroso católico. “Não tenho vergonha de Jesus”, disse em entrevista a um jornal polonês, em 2013. Ainda há outros dois futebolistas poloneses carregando o mesmo sobrenome, ambos com passagens pela seleção nacional, mas com zero relação entre as famílias.

Por causa da coincidência nos sobrenomes, muitas vezes o clipping de notícias diárias sobre os ministros do STF vem recheado de citações elogiosas a Lewanowski, geralmente é sobre o desempenho do jogador. Na sala de imprensa do Supremo há uma foto em que se vê dois jogadores do Borussia Dortmund (antigo time do polonês, hoje no Bayern de Munique) comemorando um gol. Um desses jogadores é Robert Lewandowski. E o outro é uma montagem do rosto do Ministro no corpo de um atleta.

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Esta montagem já foi vista na sala de imprensa do STF

As primeiras dúvidas quanto à relação entre o atleta e o presidente do STF surgiram exatamente em uma Eurocopa. Em 2012, quando a competição foi disputada na Polônia e na Ucrãnia, Robert Lewandowski começou a despontar como um jogador de nível internacional. O ministro, por sua vez, atuava no julgamento do caso do Mensalão do PT.

Certa oportunidade, após uma entrevista, um grupo de jornalista quis saber do atual presidente do Supremo se conhecia o jogador. “Acompanho a carreira dele [do polonês] de perto. Vai que é meu parente?”, fez troça o ministro, à época.

Portanto, sabe aquela dúvida que temos ao ver Lewandowski nos gramados da Europa? Então, até o presidente do Supremo Tribunal Federal também tem…

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Presidente do Supremo é filho de mãe suíça e é católico (TV UOL)


Dono de helicóptero apreendido com cocaína é nomeado para o Esporte
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Daniel Brito

O Diário Oficial da União, em sua edição desta sexta-feira, 17, publicou a nomeação de Gustavo Henrique Perrella Amaral Costa para o cargo de  Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte. Ele substitui a Ricardo Crachineski Gomyde, que ocupou o cargo até a semana passada, remanescente da gestão Dilma Rousseff na presidência da República.

Gustavo Perrella, 28, é filho do senador e ex-presidente do Cruzeiro de Belo Horizonte, Zezé Perrella (PTB-MG). Em novembro de 2013, uma operação da Polícia Federal apreendeu meia tonelada de cocaína no helicóptero de Gustavo Perrella em uma fazenda no município de Afonso Cláudio, interior do estado do Espírito Santo.

Após as investigações, a Justiça entendeu que não havia envolvimento dos Perrella. O helicóptero foi devolvido à família.
Este não é o único secretário nomeado pelo novo ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que leva um histórico polêmico à Esplanada.

O filho do cantor Wando, Vanderley Alves dos Reis Júnior, conhecido como Vandinho Pitbull, foi nomeado no início do mês como assessor especial do Ministério dos Esportes. Ele já foi condenado na Justiça do Rio de Janeiro por porte ilegal de armas, de drogas e dupla tentativa de homicídios, conforme mostrou meu colega de UOL aqui em Brasília, Leandro Prazeres.

O secretário executivo do Esporte, Fernando Avelino, é ex-diretor do Detran do Rio e ganhou destaque na imprensa por estacionar seu carro blindado em local proibido, em frente à sede do Detran —foi flagrado pelo jornal “O Dia'' cometendo a infração por dois dias seguidos. Numa das vezes, o motorista parou o carro no corredor exclusivo de ônibus. Na outra, o carro do presidente do Detran ficou embaixo da placa de proibido estacionar.

Em maio,  Leandro Cruz Froes da Silva tomou posse como secretário nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social. No currículo, carrega a mácula de ter sido preso em flagrante por porte ilegal de arma e desacato à autoridade.


História do Time Brasil do COB vira livro com R$ 450 mil da Lei Rouanet
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Daniel Brito

A história recente do esporte olímpico nacional deve virar livro a ser lançado até janeiro do próximo ano. Com o título provisório de “Time Brasil e a evolução do esporte no país” o projeto é do COB (Comitê Olímpico do Brasil), que acabou de ser contemplado com R$ 449.3 mil da Lei Rouanet, do MinC (Ministério da Cultura), para produzi-lo.

Com fotos, texto e entrevistas com os atletas, o livro, explicou o comitê, abordará não somente os maiores e mais importantes participantes dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, mas também o contexto histórico e cultural das Olimpíadas. A obra não é autoral, é um livro em que o redator escreve em nome do COB.

“Com um conteúdo editorial elaborado, o livro terá diversas imagens de atletas, instalações, equipes etc. Será dividido em quatro capítulos que contarão com, além de informações e contexto histórico dos Jogos Olímpicos, curiosidades sobre tecnologia e ciência esportiva, números interessantes sobre o processo de preparação dos atletas, depoimentos de atletas e pessoas relevantes do mundo dos esportes e conquistas para o esporte olímpico brasileiro”, explicou o COB.

O livro não será comercializado. Um terço dos exemplares será doado para bibliotecas e instituições em todo o país, sendo os 10% solicitados obrigatoriamente pelo MinC, e os outros 20% como contrapartida social do projeto. O restante será distribuído para as principais entidades esportivas do país e do mundo, e também para os atletas do Time Brasil.

Serão impressos 3.000 exemplares.

A Lei Rouanet, para quem não se lembra, é um programa do governo federal que permite que empresas e pessoas físicas descontem do Imposto de Renda valores diretamente repassados a iniciativas culturais, como produção de livros. Ou seja, em vez de pagar o imposto da totalidade, você reverte parte dele a um projeto cultural.

O COB informou que ainda está em busca de parceiros para o projeto.

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(Roberto Castro/ ME)


Pode vir do cinema um alento na venda de ingressos dos Jogos Paraolímpicos
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Daniel Brito

Ao terminar de assistir ao documentário Paratodos, que entra em cartaz em todo o país na próxima semana, lembrei-me de uma conversa que tive com um amigo jornalista que hoje é editor de política de um grande veículo de comunicação. Ele me perguntou, certa feita, após Londres-2012: “O que fazem os atletas paraolímpicos entre cada edição dos Jogos Paraolímpicos?”.

O filme de Marcelo Mesquita, mesmo diretor de “Cidade Cinza”, é um belo mosaico de personagens. São quase duas horas de histórias de pessoas que levam a vida como atleta. Em determinado momento da película, lá pelo minuto 50 ou 70, você se dá conta que tratam-se de pessoas com diversos graus de deficiência.

É disso que o filme Paratodos diz respeito. De esporte, da vida de atleta, do ganhar e perder de todo o dia, enfim, do caminho até o Rio-2016.

Meu colega de blog no UOL Esporte, Juca Kfouri, há duas semanas o descreveu da seguinte maneira: ''Não sei se é comovente porque é profundamente alegre ou se é alegre porque é profundamente comovente.''

Cá, de minha parte, digo que é alegre, comovente e intrigante. Porque nos mostra um lado esquecido do noticiário esportivo. E também nos apresenta atletas que acreditamos que só existam a cada quatro anos, mas estão ai, todos os dias, em sua árdua missão de fazer do esporte uma razão de viver.

Vão além da surrada máxima de que eles são heróis da superação ou “heróis nacionais”, como foi dito há um par de dias. Como elevar alguém a este status se não sabemos contra quem estão competindo? Qual é o nome de seus rivais? São argentinos, americanos, franceses, russos, chineses?

Nunca ouvimos falar. Por diversos motivos.

O filme Paratodos não me parece querer vender o lugar comum, o clichê, o pensamento fácil. Ele põe a refletir ante a um cenário multicores.

Somos bons, somos maus, somos falíveis, temos vida. Nossos atletas paraolímpicos triunfam, vacilam, como cada um de nós. E, olha que legal, eles têm alguma deficiência. Pode ser física ou pode ser visual. Isso já não faz a menor diferença em determinado momento do filme. São atletas e levam a vida a vencê-la.

E é aí que mora a esperança de ver os Jogos Paraolímpicos do Rio-2016 tão grande quanto foram os Jogos de Londres-2012, de arenas lotadas, popularidade altíssima e audiência na TV jamais vista no Reino Unido. Paratodos pode ser o incentivo que a organização tanto busca para incrementar a venda de ingressos para os Jogos Paraolímpicos – até aqui tem apenas a garantia da prefeitura de ter mais claque do que torcedor de verdade.

E, de quebra, Paratodos ajuda a responder à dúvida do meu amigo jornalista e de todas as outras pessoas que só assistem ao esporte paraolímpico a cada quatro anos.

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