Blog do Daniel Brito

Escândalo de doping pode consagrar africana que teve que provar ser mulher
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Daniel Brito

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Caster perdeu o ouro para Savinova (centro) em Londres-12

A sul-africana Caster Semenya, 24, pode herdar duas medalhas de ouro de uma só vez por causa do escândalo de doping envolvendo a equipe russa de atletismo. Ela foi medalhista de prata nos 800m no Mundial de Daegu-2011, na Coreia do Sul, e nos Jogos Olímpicos de Londres-2012. Em ambas as provas, foi superada por Mariya Savinova, 30.

Mas Savinova está enrolada até o último fio de cabelo com o escândalo de ocultação de resultados positivos de doping que ocorreu de forma sistemática com a anuência da agência russa de combate à dopagem e do ministério do esporte do país. Em relatório divulgado no início desta semana pela Wada (Agência Mundial Antidopagem), a campeã olímpica dos 800m merece um capítulo à parte.

A agência tem gravações telefônicas de Savinova admitindo o uso de substâncias para melhorar a performance nas competições e, ainda por cima, comprometendo o resto da delegação de atletismo do país. ‘Na Rússia, todos estão na ‘pharma’”, teria dito ela, referindo-se a laboratório que fornece suplementos proibidos pela Wada.

A agência, em seu relatório, recomenda que Savinova e a medalhista de bronze dos 800m em Londres, Ekaterina Poistogova, sejam banidas de forma perpétua do esporte e seus resultados sejam anulados.

Assim, Semenya ganharia dois ouros de uma vez só. À imprensa sul-africana, ela disse que ainda assim não se sentiria campeã. “Mesmo que venham esses ouros, eu ainda vou me considerar medalhista de prata”, afirmou após uma prova de rua na cidade de Tembisa.

Teste de femininidade
Ainda que o ouro olímpico chegue por vias tortas para Caster Semenya, a láurea coroaria uma longa jornada pela qual teve que passar para competir no cenário internacional.

O COI decidiu não permitir que mulheres com excesso de hormônio masculino, como a testosterona, competissem no feminino em Londres-2012. Ou seja, estariam excluídas as que sofrem de hiperandrogenismo, que é quando a mulher produz esses hormônios acima da média das demais de modo natural.

Os efeitos do androgênio (hormônio masculino) no corpo ajudam a explicar por que os homens têm performance superior às mulheres em vários esportes. Mulheres com hiperandroginismo geralmente têm atuação superior a outras atletas.

Este é o caso de Semenya, que nunca revelou por qual tipo de tratamento hormonal se submeteu (ou se submete ainda).

A atleta sul-africana ficou famosa no Mundial-2009, em Berlim, ao ser campeã mundial dos 800 m com mais de dois segundos à frente da segunda colocada, antes do controverso teste de gênero que precisou fazer. À época, levantaram-se suspeitas ao ponto de surgir o rumor de que a sul-africana seria hermafrodita. A IAAF (entidade máxima do atletismo) solicitou à federação sul-africana informações e exames da atleta.

A federação a defendeu, mas, em acordo com a IAAF, aceitou exames para comprovar o sexo de Semenya. Foram quase 11 meses de avaliações, período no qual Caster não pôde competir. Retornando apenas em 2011, para o Mundial de Daegu, no qual perdeu o ouro exatamente para Mariya Savinova.

Desde que surgiu naquele Mundial de Berlim-09 e foi alvo de tantas polêmicas, Caster Semenya nunca mais foi tão rápida.

Caster Semenya of South Africa celebrates after winning the women ´s 800 metres final during the world athletics championships at the Olympic stadium in Berlin August 19, 2009. REUTERS/Dominic Ebenbichler (GERMANY SPORT ATHLETICS. (Foto: DOMINIC EBENBICHLER/SCANPIX DANMARK 2009)

O título mundial de Caster Semenya em 2009 levantou suspeitas


Del Nero entra com habeas corpus para não ser preso na CPI do Futebol
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Daniel Brito

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, entrou com um pedido de habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal) para que não seja preso durante depoimento da CPI do Futebol no Senado. A medida já está na mesa do ministro Gilmar Mendes e chegou à secretaria da comissão parlamentar de inquérito nesta quinta-feira, 12.

Del Nero quer a garantia de que não será preso ou ameaçado de prisão durante seu depoimento. Ele também pede o direito de permanecer calado e de estar acompanhado de seu advogado na sessão, com quem pretende ter o direito de se comunicar durante o depoimento. O cartola também requereu o direito de não assinar o termo de compromisso de só falar a verdade na CPI.

Detalhe, Del Nero nem sequer foi convocado ainda para depor na CPI. Há, apenas, um proposta de convocação, apresentada no plano de trabalho, de agosto, pelo relator Romero Jucá (PMDB-RR). O habeas corpus foi confeccionado pelo escritório José Batochio Advogados Associados, de São Paulo.

E ele vai na contramão do discurso de Marco Polo à imprensa. Uma das justificativas para não acompanhar a seleção nos jogos fora do Brasil é de que está ocupado com a CPI do Futebol. Quando há a perspectiva de que participe, pede para manter-se calado e não se compromissar em dizer a verdade.

O habeas corpus chega à CPI um dia depois de fracassar a sessão secreta em que 23 requerimentos seriam colocados em votação, mas não foi realizada por falta de quórum.

Testemunha x Investigado
A justificativa de Del Nero para que entrasse com o habeas corpus antes mesmo da convocação por considerar que a CPI o trata como investigado e não como mais uma testemunha do objeto de investigação da comissão.

“É fato inequívoco que o Paciente [Marco Polo Del Nero]  não é – e nem nunca foi testemunha dos fatos […]. Ele está claramente sendo chamado de suspeito, segundo massivamente publicado na mídia e proclamado por alguns parlamentares. Tanto assim que [Del Nero] viu aprovada a quebra do seu sigilo fiscal e bancário.”

Outro motivo para entrar com a medida no STF é a postura do senador Romário (PSB-RJ), presidente da CPI, nas entrevistas, em que afirma que um dos objetivos da comissão é prender o presidente da CBF.


A história do atleta que tomou veneno para ser campeão olímpico. E foi!
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Daniel Brito

Thomas Hicks é o nome do britânico-americano que protagonizou uma das histórias mais inacreditáveis de todos os Jogos Olímpicos da história moderna. E, como estamos em meio a uma grande polêmica envolvendo doping, o capítulo da história dos Jogos dedicado a Hicks tem uma pitada, podemos dizer, quase fatal de drogas para melhorar a performance esportiva.

Seu ouro olímpico veio após consumir duas doses de estricnina, comumente usado como veneno de rato, mas que em algum momento foi usado como estimulante, por atuar no sistema nervoso central.

Fazia calor, estava muito úmido, o percurso contava com oito morros para serem vencidos pelos maratonistas, a largada ocorreu às 15h. Dos 32 competidores, 18 desistiram no meio do caminho. Um deles quase morreu com uma hemorragia no esôfago provocada pela poeira levantada pelos carros que acompanharam os atletas no trajeto até a linha de chegada. A pista era de terra batida. Só havia uma estação para hidratação ao longo dos 42 quilômetros.

O quarto colocado foi um carteiro cubano que simplesmente parou e tirou um rápido cochilo no meio da prova, porque quilômetros antes ele comera algumas maçãs podres que colhera no percurso.

O primeiro a completar a maratona foi o nova-iorquino Fred Lorz, mas não levou o ouro para casa. Descobriu-se, após a chegada de Lorz, que ele pegara uma carona com seu treinador após o 14º quilômetro, sob a alegação de estar exausto, e fizera boa parte da maratona de carro.

Assim, ele foi desqualificado.

Thomas Hicks, por sua vez, cumpriu os últimos metros carregado pelos ombros pelo treinador. Ele fez boa parte da prova caminhando, e sabia que Lorz já havia cruzado a linha de chegada em primeiro lugar. Para não desistir, recebeu duas doses estricnina que somadas, eram inferiores a 1g.

Para que o ''doping'' descesse melhor goela abaixo, ingeriu a estricnina com clara de ovos crus. Ainda tomou umas doses de brandy (uma forte bebida alcoólica) para recuperar o fôlego. O historiador George R. Matthews garante que uma terceira dose de estricnina, com clara de ovo, brandy ou qualquer outra coisa, ocasionaria a morte de Hicks.

Apesar dos estimulantes, não foi desclassificado, e com a exclusão de Lorz, que tomara uma carona no carro do treinador, Thomas Hicks sagrou-se um inacreditável campeão olímpico com o tempo de 3h28s53 – o pior tempo já registrado em todas as maratonas olímpicas.

Túnel do tempo
Importante lembrar que isso ocorreu na maratona olímpica de Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904. A prova mais surreal da história dos Jogos Olímpicos.

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Hicks, carregado, antes da chegada. E após o ouro olímpico em St. Louis-1904


Sessão secreta fracassa e senadores pedem prorrogação da CPI do Futebol
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Daniel Brito

Não houve quórum para a realização da sessão secreta da CPI do Futebol nesta quarta-feira, 11, no Senado. Apenas três senadores compareceram ao plenário que tinha como pauta 23 requerimentos para quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de diversas pessoas ligadas à CBF e Marco Polo Del Nero e José Maria Marin.

Segundo o presidente da CPI, Romário (PSB-RJ), não houve a quantidade mínima de parlamentares na reunião porque seis integrantes não tiveram acesso a toda a documentação que já está em poder da equipe que investiga as contas de Del Nero, Marin, Ricardo Teixeira e CBF.

Ficou acordado, então, que a sessão secreta para votação dos requerimentos será na próxima quarta-feira, 18. Será secreta porque 10 pedidos foram feitos principalmente por Romário e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) são originários dos documentos mantidos em sigilo na investigação da CPI.

Entre os que não acessaram as contas dos cartolas está o próprio relator da CPI, Romero Jucá (PMDB-RR), que nem sequer compareceu à sessão esta quarta-feira. João Alberto (PMDB-MA), David Alcolumbre (DEM-AP), Fernando Collor (PTB-AL) e Gladson Cameli (PP-AC) e Donizetti Nogueira (PT-TO) completam o grupo dos parlamentares que não viram os documentos da CPI até o momento.

“A impressão que tenho que com os documentos que já chegaram nós encontramos o fio da meada, do funcionamento do esquema criminoso que dirige o futebol brasileiro.”, apontou Rodrigues, um dos três senadores que compareceram à sessão.

“Posso garantir para vocês que o esquema é mais feio, mais pesado, ilegal e ilícito do que eu mesmo imaginava”, disse Romário aos repórteres, ao final da sessão.

É por este motivo que o ex-jogador e o senador pelo Amapá pedem a prorrogação por mais seis meses dos trabalhos da CPI. A comissão se expira em 22 de dezembro, mas Romário e Rodrigues já discursam pedindo mais 180 dias de trabalhos.  “Eu entendo e outros senadores também entendem que há a possibilidade de estender essa CPI por, no mínimo, seis meses. Será de grande importância e fundamental para que os trabalhos prossigam e para que a gente possa fazer os levantamentos que são objeto dessa CPI. ''Quando se encontra o fio, tem que puxar o restante do novelo, para isso vamos precisar de mais prazo'', reforçou Randolfe Rodrigues.

Além Romário e Randolfe Rodrigues, Paulo Bauer (PSDB-SC) também marcou presença na reunião desta quarta-feira.


Deputados aprovam projeto e Olimpíada deve custar R$ 25 milhões ao DF
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A Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou, na noite de terça-feira, 10, o projeto de lei que garante o estádio Mané Garrincha como uma das sedes para os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Por unanimidade (21 votos), os deputados distritais autorizaram o encaminhamento da proposta.

Não houve, no entanto, previsão orçamentária. À réporter Larissa Rodrigues, no portal Fato On Line, de Brasília, a secretária-adjunta de Esporte do Distrito Federal, Leila Barros, disse que os Jogos Olímpicos custará R$ 25 milhões aos cofres da capital.

A aprovação na Câmara coincidiu com o anúncio da Fifa de que o Mané Garrincha receberá os dois primeiros jogos da seleção brasileira masculina na primeira fase da Rio-2016.  A seleção anfitriã estará no Grupo A e estreará em Brasília, em 4 de agosto, às 16h. O segundo também acontecerá em Brasília, às 22h do dia 7 de agosto.

O DF receberá dez jogos, sendo três do feminino.

O Mané Garrincha corria o sério risco de ser excluído dos Jogos-2016 porque o GDF (Governo do Distrito Federal) perdeu os prazos para firmar compromissos com o Comitê Organizador do evento. A quase nove meses da abertura, o GDF não apresentou ao Rio-2016 o caderno de encargos, nem a matriz de responsabilidade.

Agora, o texto aprovado na Câmara Legislativa do Distrito Federal vai para a sanção do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e, em seguida, publicado no Diário Oficial do DF. A assessoria do Rio-2016 informou que o GDF procurou o Comitê Organizador ainda na noite de terça-feira para comunicar sobre a aprovação o projeto pelos distritais. Assim, o Rio-2016 tem uma garantia de que a cidade está se movimentando para confirmar logo sua participação nos Jogos. A organização da Olimpíada aguarda agora a chegada do caderno de encargos e a matriz de responsabilidade, o que deve ocorrer nos próximos dias.


Romário pede quebra de sigilo bancário e telefônico da ex de Del Nero
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Daniel Brito

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Carol Galan e Marco Polo no carnaval: doações na mira da CPI

A modelo Carolina Galan, ex-namorada de Marco Polo Del Nero, pode ter os sigilos fiscais, bancários, telefônicos e telemáticos (e-mails) quebrados pela CPI do Futebol no Senado. Após 15 dias sem sessão, a CPI do Futebol retoma os trabalhos nesta quarta-feira com a votação do requerimento feito por Romário (PSB-RJ), presidente da comissão.

Ela manteve um relacionamento estável com o atual presidente da CBF por quase cinco anos até meados de 2014, enquanto Del Nero era o mandatário da FPF (Federação Paulista de Futebol). Durante este período, foi apresentadora de um programa infantil de auditório em espaço na grade de programação da Rede Vida comprado pela FPF.

O substituto de Del Nero na entidade de São Paulo, Reinaldo Carneiro Bastos, demitiu a moça tão logo sentou na cadeira da presidência. Coincidentemente, Marco Polo já não mantinha mais relações com Carolina.

Há uma semana, o Blog do Juca, no UOL Esporte, trouxe informações importantes acerca do relacionamento entre o cartola e a modelo. “A título de doação, Nero contribuiu com R$ 1.140.000,00 para sua ex-namorada Carolina Santos Galan no mesmo ano [2014], assim como doou à ex-esposa R$ 85 mil reais”.

Romário quer a quebra do sigilo da modelo desde 1º de janeiro de 2013, quando Del Nero já era vice-presidente da CBF, até hoje.

Lupa nas contas da Copa-2014
A pauta da sessão desta quarta-feira está cheia, com 23 requerimentos. Se aprovados, promete esquentar os trabalhos da CPI, que até agora segue em fogo brando.

Os membros da comissão decidirão se pedem a transferência dos sigilos bancários e fiscais além dos demonstrativos de resultados e lucros do Comitê Organizador da Copa do Mundo Fifa-2014, desde janeiro de 2008 a março de 2015.

Pela primeira vez, o ex-presidente do Flamengo, Kléber Leite entrou na pauta. Serão postos em votação a apresentação do contrato social e a transferência das informações bancárias, fiscais, da Klefer Produções e Promoções LTDA, bem como a transferência dos sigilos telefônico e telemático vinculados aos seus dirigentes, de janeiro de 2010 a 27 de maio de 2015. Os sigilos bancários, fiscais e telefônicos de Leite também foi requerido.

Todos foram feitos por Romário, com quem Kléber Leite trabalhou quando foi presidente do Flamengo nos anos 1990.

O sigilo bancário e fiscal de Ricardo Teixeira permanece na pauta, já que não foi votado na última sessão, há quase 15 dias.

Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu a quebra dos sigilos telefônicos e telemático de Marco Polo Del Nero,  José Maria Marin, Wagner Abrahão e outras duas pessoas.

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Brasileiro celebra punição a russos: “Perdi dinheiro por causa de drogados”
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Daniel Brito

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Caio foi bronze no Pan-2015 nos 20kms

Por azar, ou vai ver foi sorte, o marchador brasiliense Caio Bonfim, 24, compete contra a maioria dos atletas russos que foram flagrados em exames antidoping. Foram mais de 25 “drogados”, aspas para Caio, que falharam em testes. E agora a WADA (Agência Mundial Antidoping) declarou guerra aberta contra a Rússia, pedindo a suspensão do país de todas as competições de atletismo.

O azar de Caio é que marchar contra quem usa substâncias proibidas o tirou de pódios importantes. Isso o fez perder a oportunidade de ganhar a bolsa pódio, investimento do governo federal que pode pagar até R$ 15 mil por mês ao atleta, de acordo com o ranking mundial.

Caio foi o quarto colocado no Mundial juvenil de 2010, atrás de dois russos, um deles suspenso por doping. O outro abandonou o esporte. Depois esteve no Mundial da modalidade em 2012 e 2014, além do Mundial de atletismo em Daegu-2011, na Coreia do Sul, em que foi superado por russos, quase todos sancionados anos mais tarde.

“O Mundial de 2011 eu terminei em 21º, mas ganhei três posições depois que acabou, por causa das punições aos russos”, conta Caio. Entre os flagrados, um foi suspenso por dois anos, outro por oito, e o terceiro, Vladimir Kanayakin, banido do esporte, por ser reincidente.

“Não consegui me tornar elegível para receber o bolsa pódio porque em 2014 não obtive o resultado necessário, competindo contra esses russos drogados”, queixa-se o brasiliense. “Então, quer dizer, um atleta olímpico em preparação para os Jogos em casa não pôde contar com investimento federal por conta dos erros e das drogas que os caras tomavam lá na Rússia. É brincadeira?”, conclui Caio.

Suspeitou desde o princípio
Se somarmos os pódios olímpicos da Rússia e da União Soviética na marcha atlética, chegamos à incrível marca de 25 medalhas, oito das quais de ouro. Eles sempre foram o “Dream Team” deste esporte. “A gente já foi muito fã desses russos, porque eles dominam a técnica. A parte psicológica e a dedicação aos treinamentos eram impressionantes”, conta Caio.

De Daegu-2011 para cá, no entanto, a admiração perdeu espaço para a suspeição. Os russos se insurgiram quando a IAAF (sigla em inglês para Federação das Associações Internacionais de Atletismo) determinou que todo competidor que fizesse check in na vila dos atletas teria de se submeter a um exame de sangue, para teste de doping. “Eles adiaram a entrada na vila, só chegaram lá 24 horas antes do início da competição, que é um procedimento fora de todos os padrões”, relembra o brasileiro.

Em Moscou-2013, em casa, os marchadores locais eram minoria, as investigações corriam em segredo para a comunidade internacional, mas já devassavam os atletas russos. “Nós, atletas, suspeitávamos que alguma coisa estava acontecendo, mas eu particularmente nunca soube de nada, claro. E quando você está ali na competição, não dá mais para pensar nisso, é só concentração na prova mesmo. Mas hoje já vejo as coisas fazerem sentido”, diz Caio.

Sorte ou azar
Caio é especialista na prova dos 20km, e conversou com este blogueiro após o treino da tarde quente e seca de segunda-feira, em Sobradinho, Distrito Federal. Acompanhou pela internet o noticiário sobre a possível suspensão da Rússia de todas as competições de atletismo. Inclusive do Rio-2016. E comemorou.

“Tem gente que fica triste que isso esteja acontecendo na marcha atlética, mas eu acho é bom, porque limpa o esporte”, opinou.

E é aí que mora a sorte de Caio Bonfim por viver este momento do atletismo mundial. Sem os russos, suas perspectivas são maiores ainda. Ele foi sexto colocado no Mundial de Pequim, em agosto, e só não foi o melhor brasileiro na competição porque Fabiana Murer pegou a prata no salto com vara. Faturou o bronze no Pan de Toronto-2015, uma das poucas medalhas da seleção nacional da modalidade no Canadá. Nos prognósticos do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), ele é um dos quatro desportistas do país com chance de ir ao pódio no atletismo no Rio-2016. Sem os russos, as chances aumentam.

“Desde a saída dos russos, houve uma diversificada nos países vencedores das principais competições. No Mundial de Pequim foi um espanhol, por exemplo. Melhor para quem compete de forma honesta, como eu, e tantos outros”, comemorou.


BM&F Bovespa recebe R$ 2 milhões da Caixa para clube de atletismo
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Daniel Brito

A Caixa Econômica Federal vai destinar R$ 2 milhões para a equipe de atletismo da BM&F Bovespa em forma de patrocínio, sem a necessidade de licitação. Assim, o banco completa quase R$ 25 milhões de investimento nos principais atletas do país nas provas de campo e pista.

A BM&F contribuiu com um terço dos atletas que compuseram a delegação nacional no Mundial da modalidade, em agosto, em Pequim, na China. Entre os quais, Fabiana Murer, vice-campeã do salto com vara. O restante da equipe brasileira decepcionou, marcando presença em apenas cinco finais.

A Caixa investe, anualmente, R$ 22,5 milhões à CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo). Este valor correspondeu a mais da metade da receita da entidade em 2014. Assim, a Caixa acaba por patrocinar duas vezes o núcleo duro da seleção brasileira de atletismo: por meio da BM&F e também pela CBAT.

Diferentemente da confederação, a BM&F pode contar com o apoio da iniciativa privada. Nike e Pão de Açúcar são os outros patrocinadores da sua equipe, sediada em São Caetano do Sul. A prefeitura da cidade do ABC Paulista completa o quarteto de investidores do clube de atletismo da Bolsa de Valores de São Paulo.

Agência Luz/BM&FBovespa

Juliana dos Santos (E) e Fabiana Murer em homenagem do diretor presidente da BM&F, Edemir Pinto (D)


Só o Flamengo alivia as contas do Mané Garrincha em 2015. Saiba como
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Daniel Brito

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Lanternas da segundona do DF jogam em Mané vazio (Crédito: Daniel Brito/UOL)

O Flamengo jogou apenas duas vezes no estádio Mané Garrincha em 2015 e rendeu ao GDF (Governo do Distrito Federal), que administra a arena, quase a metade do que foi arrecadado nesses últimos 10 meses. Todos os eventos e a arrecadação oficial do gigante de 72 mil lugares foram publicados no DODF (Diário Oficial do Distrito Federal), há uma semana.

O clube da gávea enfrentou em janeiro, ainda na pré-temporada, o Shakhtar Donetsk, que contemplou o GDF com pouco mais de R$ 290 mil, para um público anunciado de 26 mil pagantes. O Flamengo só voltou a se apresentar no Distrito Federal em setembro, contra o Coritiba, pelo Campeonato Nacional. Com o recorde de 68 mil espectadores, a arrecadação do dono do Mané Garrincha foi de R$ 268.273,00.

A soma dos dois eventos dá algo em torno R$ 558 mil. E isso é o suficiente para representar 45% do que o Mané angariou com eventos neste ano. Segundo o DODF, o estádio rendeu aos cofres públicos R$ 1.2 milhão em 2015 com taxa de ocupação.

Definições de elefante branco
Diz-se que um estádio é um elefante branco por não ter uso, servir para pouco (ou poucos) ou quase nada. Este é um dos conceitos da expressão tão usada desde a Copa do Mundo. Mas veja você que o Mané Garrincha, que recebeu sete jogos no Mundial-14, acumulou em sua agenda nada menos que 35 acontecimentos desde de 1º de janeiro até outubro.

Foram os mais variados tipos de eventos. Só de shows foram nove. Desde a banda de rock Kiss, em abril, até a gravação do DVD do cantor de música popular Wesley Safadão. Aconteceram também festas, circuito nacional de vôlei de praia, exposições, festivais de pets e de cerveja. Houve dez jogos de futebol, uma média de um por mês.

Mas isso aí tudo, somado, não chega a R$ 800 mil de arrecadação. Nesta conta aí, como se vê, não estão os dois jogos do Flamengo.

Acontece que o estádio é tão grande e é tão caro mantê-lo de pé e funcionando que nem esta quantidade de eventos é suficiente para bancar os custos do Mané Garrincha. De onde extraímos, portanto, mais uma definição de elefante branco: aquele espaço incapaz de produzir receita suficiente para pelo menos cobrir as despesas.

Quanto custa o Mané Garrincha?
O Tribunal de Contas do Distrito Federal calculou que R$1,6 bilhão dos cofres da capital federal foram utilizados para derrubar o antigo Mané Garrincha, aquele para 40 mil torcedores, construído em 1974, para levantar este gigante de concreto com 72 mil assentos, para a Copa do Mundo.

Passado o Mundial, o estádio agora tem o custo mensal de manutenção em torno de R$ 800 mil. Ou seja, com o que foi angariado com esses 35 eventos no dá para cobrir o que o Mané Garrincha consome de dinheiro público em dois meses.

Para evitar que o espaço fique ocioso, o GDF concede isenções aos que querem promover eventos no estádio. O Banco do Brasil, por exemplo, deveria pagar R$ 170 mil para realizar a etapa de Brasília do circuito de vôlei de praia. Mas o governo deu 99% de isenção e o banco só desembolsou R$ 1,7 mil.

O jogo entre Flamengo e Coritiba, em setembro, também ganhou desconto do governo. A taxa de ocupação foi de apenas 7% da bilheteria e não os usais 15%. O que fez com que o GDF recebesse menos que a FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio).

No último final de semana, do feriado de Finados, o último e o antepenúltimo colocados da segunda divisão do futebol do DF jogaram pela última rodada do certame, com igual promoção na taxa de ocupação (99% de desconto). Não foram vendidos mais do que 300 bilhetes na entrada.

Volta, Flamengo
Para alívio do GDF, há a previsão de que o time comandado por Oswaldo de Oliveira volte a jogar em Brasília em 22 de novembro, contra a Ponte Preta, pela 36ª rodada.


Campeã olímpica revela: tentou suicídio e treinador a impediu
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Daniel Brito

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Leisel Jones com o ouro de Pequim-2008: ''Queria soltar o cabelo, festejar'' (Divulgação)

“Vou começar pelas pernas, com as grandes veias da coxa. Depois, corto meus pulsos pálidos”

O relato é da ex-atleta Leisel Jones, 30, a maior nadadora da história da Austrália, dona de nove medalhas olímpicas, três das quais de ouro. Este era o plano dela para suicidar-se em 2011, abatida pela depressão e pela pressão pelos resultados.

Este é apenas um dos momentos dramáticos da autobiografia que lançou há pouco mais de um mês na Austrália chamada “Body Lenghts” (''Comprimento do corpo'', em tradução livre), sem previsão para ser lançada no Brasil.

Nele, ela relata o sofrimento que foi sua vida como atleta, a busca incessante pela perfeição, pelo corpo esguio, pela medalha. Um tormento cujos primeiros atos foram ainda aos 15 anos, nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000. Pressão semelhante a que muitos atletas brasileiros devem enfrentar no próximo ano, no Rio-2016.

Para Leisel, durou até Londres-2012, quando aposentou-se após faturar sua nona medalha. Nesses 12 anos desde os Jogos da Austrália até os da Inglaterra, ela se flagrou repetidas vezes fitando o nada de madrugada e praguejando contra a vida e a carreira.

“O que há de errado comigo? Eu consegui, ganhei o ouro olímpico, alcancei meu sonho, deveria estar na lua [de felicidade]. Mas eu não me sinto como eu esperava. […] Eu esperava que meus amigos fossem gostar mais de mim, meu noivo fosse me amar mais. E, quer saber o pior: eu pensava que eu mesma fosse gostar mais de mim”, relata no livro.

Ano sem chocolate
leisel-jones-atenasEsporte deixou de fazer sentido para ela. Ser uma grande atleta olímpica, dona de medalhas, invejada e admirada por todas as rivais não a satisfazia. Ela queria viver uma vida normal. Queria poder comer chocolate, tomar sorvete, dormir até tarde.

“O ano passado foi meu ‘Ano Sem Chocolate’, em que eu passei 12 meses sem comer um simples tablete de chocolate. Foi ideia minha, quase me matou, mas tenho certeza que serviu para manter uns quilinhos a menos. Eu também não bebo, não como queijo. Evito sorvete, batata frita, hambúrguer e sobremesas. Eu preciso da força de vontade de um santo quando estou longe do treinador, em casa ou com amigos. Mas eu sou forte e determinada”, relembrou em um trecho da autobiografia.

Após Pequim-2008, por exemplo, mal teve tempo de comemorar o ouro nos 100m peito, sua especialidade, precisava competir no revezamento. No dia seguinte, também não conseguiu desfrutar da festa de despedida da Vila. “Eu queria sair com as meninas do revezamento, soltar meu cabelo, eu queria festejar com as pessoas que estavam vivendo, provavelmente, os momentos mais emocionantes de suas vidas. Mas não, lá estava eu, em casa com meu noivo”.

Semelhança com Ian Thorpe
Leisel Jones é a segunda maior medalhista olímpica da forte natação australiana. Atrás apenas Ian Thorpe. Assim como a nadadora, ele contou em autobiografia, lançada há três anos, que atravessou uma depressão “incapacitante” pelos mesmos motivos de Leisel.

Confessou que entre 2002 e 2004, quando experimentava a glória olímpica, abusou do consumo de bebidas alcoólicas. “Usei o álcool como um modo de livrar a minha cabeça de pensamentos terríveis, como uma maneira de gerir as mudanças de humor'', revelou, apesar de garantir que não era alcoólatra.

Como roubar uma faca?
No dia que elaborou mentalmente o plano para matar-se em um hotel na Espanha, em 2011, Leisel Jones compunha a delegação australiana em uma etapa de treinamento na cidade espanhola de Sierra Nevada, a mais de 3 mil metros de altitude, onde o ar é rarefeito.

Certa tarde, ela sentou-se nos azulejos do banheiro do quarto em que estava hospedada com uma caixa de comprimidos para dormir e vislumbrou o suicídio com uma faca. Começando pelo fato de ter de “roubar” uma faca da cozinha do hotel. “Eu visualizava meu corpo voltando para a Austrália dentro de uma mala”, contou, já com certo bom humor, a um programa de TV de seu país, quando do lançamento do livro.

“Vou começar pelas pernas, com as grandes veias da coxa. Depois, corto meus pulsos pálidos”, calculava.

Ainda atordoada, ela recebeu uma mensagem no celular de um membro da comissão técnica, a chamando para um café. “O que? Eu estou aqui pensando em me matar e você me chama para um café?”, contou no livro. Minutos mais tarde, os delírios suicidas foram interrompidos por alguém batendo à  porta. Era seu técnico. Eis o desfecho da cena transcrito na autobiografia de Leisel Jones.

“Eu abro a porta e caio. O carpete do quarto parece-me quente e vivo, diferente do azulejo do banheiro onde estava. Eu não consigo conversar, eu só sento no chão aos berros. Meu treinador espera ao meu lado todo o tempo que é necessário. Ao final, tudo o que ele diz é: “Leisel, precisamos tomar um pouco de ar”.

Pódio de despedida
Leisel Jones ainda disputou Londres-2012, mas já carregando a pecha de gordinha, dada pela imprensa. Ela despediu-se da vida de atleta com a prata no revezamento 4 x 100m medley.

Em seguida, anunciou a aposentadoria informando que queria se dedicar à psicologia. Quando lançou o livro, em outubro, na Austrália, ela declarou: “Não fosse pelos psicólogos, não teria superado momentos tão difíceis”.

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